No Limite do Amanhã

Dia infinito

Como eu amo literatura e cinema, fico super ansioso quando fazem a adaptação de algum livro que gostei. A maioria das vezes, infelizmente, o resultado não é bom, mas de vez em quando algumas adaptações ficam muito bem feitas. Foi uma grata surpresa assistir a ficção-científica “No Limite do Amanhã” (“Edge of Tomorrow”, EUA/CAN, 2014) e ver que no meu gênero favorito de filmes ainda se fazem produtos de qualidade.

Embora o tema invasão alienígena seja frequente, a história é apresentada como se um único dia fosse repetido sem cessar. Essa forma de construir a história já foi bastante utilizada no cinema, sendo o mais conhecido “Feitiço do Tempo” (“Groundhog Day”, EUA, 1993), estrelado por Bill Murray e Andie MacDowell.

A mesma fórmula foi repetida em “Meia Noite e Um” (“12:01”, EUA, 1993) “Labirinto do Tempo” (“Repeaters”, EUA, 2010), “Contra o Tempo” (“Source Code”, EUA, 2011), “Corra, Lola, Corra” (“Lola rennt”, ALE, 1998) e até nos nacionais “O Homem do Futuro” (BRA, 2011) e “A Grande Família: O Filme” (BRA, 2007). Por diferentes razões, o tempo se repete, embora os personagens busquem mudar os acontecimentos com diversos objetivos.

 Em “No Limite do Amanhã”, a Terra foi invadida por estranhos alienígenas aracnídeos, extremamente agressivos e dotados de uma tecnologia bastante avançada. Iniciando a invasão na Europa, em pouco tempo eles dominam o continente, matando ou expulsando todos os humanos de lá.

A história inicia com a chegada do Major William Cage (Tom Cruise) a Londres. Oficial da área de comunicações do exército americano, Cage vem unir-se ao esforço de guerra em Londres, onde os Aliados preparam uma grande operação de desembarque na Europa continental, para combater os invasores.

Mas, um desentendimento com o general Brigham (Brendan Gleeson) o faz ser detido e colocado como soldado raso em um esquadrão que participará do desembarque na França no dia seguinte, sob as ordens do sargento Farell (Bill Paxton).

Sem o mínimo treinamento, Cage vê-se perdido em plena zona de combate, em meio ao massacre dos colegas pelos alienígenas, muito superiores em número e armamentos. Quando ele mesmo é obrigado a enfrentar um inimigo, travam um combate mortal, onde ambos morrem.

Cage acorda no mesmo lugar onde 24 horas antes fora despertado pelo sargento Farell. Para sua surpresa, ele voltara no tempo, e todos os acontecimentos parecem repetir-se exatamente da mesma maneira, sem que ninguém se dê conta, a não ser ele.

Ao salvar a vida da famosa combatente Rita Vrataski (Emily Blunt), ela lhe dá uma estranha ordem: “Me procure amanhã, quando acordar”. Cage morre, mais uma vez, e o ciclo se repete.

Quando acorda, no dia seguinte, Cage procura Rita, e descobre que ela já passara pela mesma situação dele. Em outra ocasião, como ele, ela matara um tipo especial dos alienígenas chamado de Alfa, e fora atingida pelo sangue dele. Para proteger os Alfas, o líder dos invasores faz voltar o tempo, e como, tanto Rita como Cage foram contaminados com o sangue dos aliens, também voltam no tempo retendo a memória dos fatos acontecidos.

A partir daí, Rita e Cage trabalham juntos, com a ajuda de um desacreditado cientista, Carter (Noah Taylor), para encontrar uma maneira de destruir os alienígenas. Cage deve morrer centenas de vezes, repetindo o ciclo trágico dos acontecimentos, mas sempre melhorando suas habilidades de combate e procurando novas pistas que os levem ao líder dos invasores.

O filme é repleto de cenas de ação e efeitos especiais, bem integrados à história, que mantem o espectador sempre envolvido do começo ao fim. Mesmo em um ambiente doméstico, as imagens em alta definição e o som em DTS colocam o espectador no centro da ação, principalmente nas cenas iniciais do desembarque na França.

Esse desembarque parece acontecer no mesmo lugar do famoso Dia D, na Segunda Guerra Mundial, que marcou a reversão da dominação nazista na Europa. O filme, aliás, foi lançado no dia 06 de junho de 2014, no aniversário de 70 anos da mais famosa operação daquele conflito.

O filme é um produto típico para as novas gerações de espectadores, com ação incessante, sem grandes aprofundamentos intelectuais ou emocionais, embora alguns possam enxergar um paralelo às filosofias espírita ou budista, onde exige-se viver muitas vidas buscando a evolução para alcançar um estado de iluminação.

A história é baseada no livro “All you need is kill”, do escritor japonês Hiroshi Sakurazaka, ainda sem tradução para português. E para os que gostam de curiosidades nos filmes, o nome da personagem Rita foi uma homenagem à personagem vivida por Andie MacDowell em “O Feitiço do Tempo”.

“No Limite do Amanhã” pode ser assistido no serviço de streaming Netflix.