Gainsbourg, o Homem que Amava as Mulheres

Anjo provocador

 

Sempre que pensamos em alguém sedutor, imediatamente nos vem à mente a imagem da beleza. Mas, e se este sedutor tivesse orelhas enormes como um táxi de portas abertas, um nariz de fazer inveja a um tucano, que fumasse feito uma chaminé e bebesse como um Opala de seis cilindros movido a álcool? Esse homem existiu, e teve ao seu lado algumas das mulheres mais bonitas e desejadas do mundo, sendo brilhantemente retratado no filme “Gainsbourg, o Homem que Amava as Mulheres” (“Gainsbourg (vie héroïque)”, FRA, 2010), do diretor francês Joann Sfar.

Serge Gainsbourg – na verdade, Lucien Ginzburg – nasceu em Paris, filho de judeus russos que haviam emigrado para a França fugindo da Revolução de 1917. O pai era um grande pianista, de formação clássica, de quem Serge herdou o talento musical. Seus outros talentos, de cantor, compositor, ator, diretor e poeta e, principalmente, a imensa ousadia, não se sabe de quem herdou, mas foram a marca que perdurou até a sua morte.

Tudo na sua vida foi superlativo: a própria feiura, o imenso talento, a paixão sem limites pelo fumo, álcool, drogas e sexo, não necessariamente nesta ordem, e muitas, muitas mulheres, todas sempre belas.

A mudança de Lucien Ginzburg para Serge Gainsbourg aconteceu no final da década de 1950. Estreou em vinil em 1958 com “Du Chant à la Une!”. Sua carreira deslanchou em 1966, em meio à febre das Ye Ye Girls, quando passou a compor e empresariar a jovem cantora France Gall.

Em 1968, manteve um caso com a famosíssima atriz Brigitte Bardot, com a qual gravou canções memoráveis. Brigitte, nessa época era casada e já era considerada por muitos a mulher mais bonita do mundo. Juntos, eles compuseram inúmeras canções de sucesso, como Bonnie & Clyde, que aparece no filme.

Gainsbourg compôs uma ousada e estranha música, “Je t’aime moi non plus”, inicialmente pensando em Brigitte. A canção era um diálogo apaixonado entre dois amantes, com uma bela música ao fundo, e que sugeria uma relação sexual. Mesmo sendo considerada uma das atrizes mais ousadas do cinema mundial, recusou-se a gravá-la.

Nesse mesmo ano Serge conheceu a bela e jovem atriz inglesa Jane Birkin, nas filmagens de “Slogan” (FRA, 1969). Jane era uma estrela em plena ascensão e causara furor ao aparecer nua no filme “Blow Up – Depois Daquele Beijo” (“Blow-Up”, UK, 1966), de Michelangelo Antonioni. Tão ousada quanto Gainsbourg, Jane topou gravar em dueto com ele a orgástica canção “Je t’aime moi non plus” – que provocou uma repercussão imensa mundo a fora, chegando a ser proibida no Brasil, em Portugal, na Espanha e no Reino Unido, entre outros países.

Os dois assumiram o relacionamento e ainda cometeram muitas ousadias juntos, entre fotos, músicas, roupas, filmes, nudez, declarações e, principalmente, uma vida a dois muito polêmica. Juntos também tiveram duas filhas, sendo a mais velha a talentosíssima atriz e cantora francesa Charlotte Gainsbourg.

Gainsbourg dirigiu cinco filmes, inclusive “Paixão Selvagem” (“Je t’aime moi non plus”, FRA, 1976) estrelado por Jane Birkin, com um ousado roteiro sobre uma jovem que mantinha um relacionamento com um homem bissexual.

O filme de Joan Sfar não traz uma narrativa convencional, e embora acompanhe com bastante fidelidade a vida de Gainsbourg, traz uma visão onírica através de um personagem que parece ser o alterego do músico, um boneco imenso, com nariz e mãos enormes.

O elenco retrata com muita fidelidade os personagens reais, principalmente o próprio Gainsbourg, vivido na tela por Eric Elmosnino. Laetitia Casta e Lucy Gordon interpretam Brigitte Bardot e Jane Birkin. Lucy Gordon faleceu quando o filme estava em pós-produção, sendo o filme dedicado a ela.

Além de explorar a vida do excêntrico artista, o filme dá às novas gerações a oportunidade de conhecer um pouco da atmosfera dos anos 70, onde a rebeldia da juventude chocava-se com o conservadorismo político, expresso em um grande número de ditaduras de esquerda e de direita, mas, principalmente pela qualidade musical, que não encontra paralelo nos dias atuais.

A figura controvertida e ousada de Gainsbourg já foi tema de outros filmes, contudo este foi o primeiro a ter o apoio da família. “Gainsbourg, o Homem que Amava as Mulheres” pode ser encontrado na plataforma Globoplay.