Coluna Claquete – 30 de novembro de 2015
Cinerama, uma volta ao passado
Ontem tive a oportunidade de vivenciar uma experiência que uniu o avanço da tecnologia com a tradição da história do cinema. Estando em Seattle, cidade americana no estado Washington (não a capital, mas o estado do outro lado do país), fui assistir um filme em uma sala chamada Cinerama.
Bem, assistir um filme em um país que é a meca do cinema não parece ser grande coisa, mas, este cinema é especial por ser de uma tecnologia inovadora – no início da década de 1960! O primeiro filme exibido no Cinerama de Seattle foi “O Maravilhoso Mundo dos Irmãos Grimm”, em 1963. Os experimentos começaram ainda na década anterior, e quando a tecnologia foi consolidada, foi denominada Cinerama, uma fusão de cinema com panorama.
O Cinerama tinha como característica principal exibir seus filmes em uma gigantesca tela curva, utilizando nada menos do que três projetores! Hoje isso pode parecer fácil, mas imagine-se sincronizar três projetores de filmes analógicos em uma mesma exibição. Além disso, o som era reproduzido em sete canais estereofônicos – isso em uma época onde o estéreo em dois canais já era uma grande novidade.
Como aconteceu com a maioria dos cinemas de rua, o Cinerama quase fechou, devido à concorrência dos multiplex e o crescente mercado de vídeo doméstico, sendo salvo graças a um movimento de seus fãs e à ação do empresário Paul Allen, que promoveu uma restauração milionária.
Hoje o Cinerama permanece fiel às suas origens, com sua gigantesca tela recurva, mas o sistema de projeção foi substituído pelo moderníssimo sistema a laser Harkness Matt Plus screen, que impressiona mesmo olhos acostumados a boas resoluções como os meus. O som também mudou para o novíssimo padrão Dolby Atmos, que embora eu não saiba com detalhes do que se trata, é extremamente envolvente e percorre todas as escalas imagináveis.
Eu já perdera a oportunidade de oportunidade de conhecer o cinema em 2010, em passagem por Seattle, mas o título da época não era grande coisa, “Scott Pilgrim Contra o Mundo”. Desta vez a coisa era diferente, pois o filme em cartaz era nada menos que “007 Contra Spectre”.
Essa experiência foi realmente uma viagem no tempo – para o passado e para o futuro. Além do formato do cinema tradicional, ainda teve o abrir das cortinas no início da sessão, a exibição de um desenho do Pernalonga – uma tradição nos cinemas americanos – e finalmente o filme principal.
Um filme do 007 já é um deslumbre em qualquer momento, mas imagine-se com um som e imagem perfeitos! Ainda assisti na primeira fila do balcão, lugar favorito dos garotos na minha época de garoto.
Alguns amigos perguntaram se o Cinerama era aquele sistema de tela côncava que era exibido no estacionamento dos shoppings nos anos 80. Na verdade, aqueles sistemas são os tataravôs dos moderníssimos IMAX, outra tecnologia, igualmente envolvente e inovadora, mas bem diferente do velho-novo Cinerama.
Na verdade, a versão tecnológica mais próxima do público é a dos televisores de tela curva, uma miniatura do Cinerama que só pode ser apreciada por uma ou duas pessoas que se posicionem bem em frente ao aparelho. Bem diferente da gigantesca tela do cinema tradicional.
Certamente é muito mais empolgante – e disponível – assistir os blockbusters em um cinema IMAX, tecnologia já bem difundida pelo mundo. Contudo, ter a oportunidade de fazer essa viagem ao passado já valeu o preço da passagem por este rincão pouco popular entre os turistas brasileiros.
Seattle, 30 de novembro de 2015