A Garota da Capa Vermelha
Chapeuzinho e o Lobisomem
Quando Charles Perrault escreveu o conto da Chapeuzinho Vermelho no final do Século 17, não poderia imaginar que sua aterrorizante e moralista história ganharia inúmeras versões, algumas bem mais suaves, e chegaria até nós em uma nova roupagem, como é mostrada no filme “A Garota da Capa Verrmelha” (“Red Riding Hood”, EUA, 2011).
O conceito da Chapeuzinho Vermelho já havia passado pelos cinemas tanto na hermética visão de Neil Jordan, em “Companhia dos Lobos” (“The Company of Wolves”, UK, 1984), como na divertida animação “Deu a Louca na Chapeuzinho” (“Hoodwinked!”, EUA/CAN, 2005), ambos fugindo tanto da versão tradicional de Perrault quanto das versões suavizadas de Hans Christian Andersen e dos Irmãos Grimm. Existem 114 referências no site IMDB de filmes sobre esta famosa personagem.
“A Garota da Capa Vermelha”, dirigido por Catherine Hardwicke, manteve frouxamente os principais elementos do conto de fadas e acrescentou um tom sobrenatural à história, turbinando o lobo na figura do lobisomem.
Em uma aldeia na floresta, provavelmente em algum lugar da Europa, uma comunidade vive em seu pequeno universo, totalmente isolado do resto do mundo. É aí que vive Valerie (Amanda Seyfried), uma jovem alegre e aventureira, que adora desafiar as regras de sua conservadora sociedade.
Desde criança Valerie gosta de Peter (Shiloh Fernandez), que sempre foi o seu companheiro de traquinagens. Mas, a alegria de Valerie se desfaz quando ela descobre que seus pais combinaram o seu casamento com Henry (Max Irons), o filho do ferreiro, cuja família mantém o status social mais elevado dentro da aldeia.
Se essa notícia já era ruim, a situação fica ainda pior quando a moça descobre que sua irmã mais velha foi assassinada pelo Lobo, um ser monstruoso que sempre rondava a aldeia na época de lua cheia, e cuja sanha sempre fora aplacada com a oferta de animais dos aldeões.
Atendendo a um pedido do padre local, a aldeia recebe a pomposa visita do poderoso religioso Solomon (Gary Oldman), que se havia se tornado um caçador de lobisomens, após a sua mulher ter sido morta por um deles. Solomon revela que o monstro não é um lobo comum, mas um humano, um vizinho ou parente, que se transforma durante a lua cheia.
Os métodos de Solomon são próprios da Inquisição, com soldados armados invadindo as casas e procurando qualquer sinais de malignidade e bruxaria – ou seja, qualquer coisa fora do normal.
O monstro invade a aldeia, enfrentando os soldados e espalhando o pânico entre os habitantes, que se refugiam na igreja, o único local onde o lobisomem não pode entrar. Quando o lobisomem encontra Valerie, ele insiste em que ela saia da aldeia e fuja. O problema é que só ela entende o que ele fala.
Esse simples fato transforma Valerie em suspeita de bruxaria, e a jovem é presa e julgada, condenada por todos pela culpa de ter atraído o monstro para a aldeia.
Nesse meio tempo, os dois jovens que disputam o amor de Valerie decidem se unir para salvá-la. Henry usará os seus conhecimentos como ferreiro para abrir os cadeados, e Peter a conduzirá em segurança para fora da aldeia.
Mas, as coisas se complicam e a vida de Valerie tanto é ameaçada pelo lobisomem quanto por Solomon e seus homens. Conseguirá ela provar a sua inocência e salvar a sua vida?
A tradicional historinha de contos de fadas foi adaptada para os tempos atuais, mantendo os principais elementos da história original, mas montada com uma formatação dinâmica, que oscila entre o filme de suspense e o mistério do gênero policial que remete ao mundo hitchcockiano.
Um outro aspecto também associado à personagem, a sensualidade, também está presente no filme, embora não haja nada que possa ofender qualquer espectador mais conservador.
O elenco, a maior parte jovem, não compromete o desenvolvimento do filme, e dois ótimos atores maduros ocupam os papéis secundários, Gary Oldman, como o inquisidor fanático, e Julie Christie, como a misteriosa avó.
Amanda Seyfried vive brilhantemente a personagem central, emprestando a sensualidade necessária, ao mesmo tempo em que fornece ao espectador o ponto de vista de alguém que vive a crise e tenta descobrir o que está acontecendo.
A maior parte do filme foi gravado no Canadá, onde as belíssimas imagens de inverno ganham destaque com a ótima fotografia. É memorável a cena de Valerie andando na neve com sua imensa capa vermelha. A trilha sonora também merece destaque, enriquecendo as cenas de impacto.
“A Garota da Capa Vermelha” conseguiu a notável façanha de unir uma conhecidíssima história infantil e monstros sobrenaturais em uma montagem dinâmica, bem ao gosto das plateias atuais, transformando-o em um bom produto do cinema contemporâneo. O filme está disponível na plataforma HBO MAX.
E, um lembrete: só saia do filme ao final dos créditos, pois ainda há uma última cena surpresa.