Claquete 21 de maio de 2004
O que está em cartaz
Com uma estréia estrondosa, “Tróia” conseguiu superar até mesmo o polêmico “Paixão de Cristo”, arrastando 670 mil pessoa aos cinemas, apenas no final de semana passado. Mas, se a aventura de Brad Pitt e Eric Bana continuam a empolgar outros espectadores, os fanáticos por estréias tem pouco a esperar, neste final de semana. De novidade mesmo, tem o nacional “Onde Anda Você?”, com Juca de Oliveira e José Wilker, a comédia “Louco Por Elas”, e, a pré-estréia de “O Dia Depois de Amanhã”, na próxima quinta-feira. Continuam em cartaz, além da aventura de Aquiles, “Van Helsing – O Caçador de Monstros”, salada mista de vampiros, lobisomens e zumbis, o infanto-juvenil “Scooby-Doo 2 – Monstros à Solta”, com Salsicha e sua turma, a comédia romântica “Como Se Fosse a Primeira Vez”, com Drew Barrymore, e, o drama nacional “Benjamim”, com Paulo José e Cléo Pires. No Filme de Arte do Cine Natal 1, “Sexo Por Compaixão”.
Onde Anda Você?
Se achou familiar este título, saiba que tem mesmo a ver com a belíssima música homônima, composta por Vinícius de Moraes e Hermano Silva. O decadente humorista Felício Barreto (Juca de Oliveira), em busca da alegria perdida, embarca em uma delirante aventura, que o levará da fria metrópole de São Paulo a um paradisíaco lugarejo, perdido no fim do mundo. Nesse lugar, estranhas coisas acontecem. Lá, ele encontra sua ex-mulher e seu antigo parceiro, que o traíam, apesar de já estarem mortos. Encontra também uma menina que poderia ser sua filha, mas não é. Dirigido por Sérgio Rezende, “Onde Anda Você”, é um filme que mostra o efeito do tempo sobre o homem, entrelaçando humor e sensibilidade, com extrema delicadeza. Estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, censurado para menores de 14 anos.
Pré-Estréia: O Dia Depois de Amanhã
Filmes apocalípticos não são nenhuma novidade, e, até as catástrofes repetem-se amiúde. Nova York, então, deve ter sido a cidade mais destruída, no mundo do cinema! A mudança agora é só no tipo de ameaça. A Terra sofre alterações climáticas, que modificam drasticamente a vida da humanidade. Com o norte resfriando-se cada vez mais, no que parece ser uma nova era glacial, milhões de sobreviventes rumam para o sul. Porém, o paleoclimatologista Jack Hall (Dennis Quaid), segue o caminho inverso, e, parte para Nova York, já que acredita que seu filho Sam (Jake Gyllenhaal) ainda está vivo. O diretor deste filme, Roland Emmerich, é um especialista em destruir o mundo. São dele, também “Independence Day” e “Godzilla”. Pré-estréia no dia 27 de maio, próxima quinta-feira, no Cine Natal 1 (sessão única, às 21h), e, nas salas 5 e 7 do Moviecom, sessões normais.
Louco por Elas
Paul (Jason Lee) está na sua despedida de solteiro, sem muita animação. Pelo contrário, está decidido a não fazer nada de que possa se arrepender depois – ou que não possa contar à sua noiva, Karen (Selma Blair). É por isso que ele toma um susto na manhã seguinte, quando acorda, com o telefone tocando, e, uma linda – e nua – desconhecida chamada Becky (Julia Stiles), ao lado dele na cama. Ao ouvir que sua noiva está indo para lá, Paul age rapidamente, expulsando Becky porta afora, enquanto tenta desesperadamente esconder qualquer sinal de que fez algo errado – embora não consiga se lembrar de ter feito qualquer coisa de errado. Quando Karen chega e pergunta como foi a festa, Paul conta uma mentirinha para encobrir o que pode ser ou não a verdade. A mentirinha transforma-se em outra mentira, e, logo, a vida de Paul se torna uma série de mal-entendidos cômicos. Comédia de costumes, bem ao estilo do gosto americano. Estréia nesta sexta-feira, na Sala 5 do Moviecom.
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Filme de Arte: “Sexo Por Compaixão”
Dolores (Elisabeth Margoni) é uma mulher madura, conhecida e admirada por sua generosidade. Quando é abandonada pelo marido, fica sem saber o que fazer com a perda. Dolores decide, então, pecar pela primeira vez, fazendo amor com um desconhecido. Só que, sem mesmo sem quere, ela salva a vida do homem, e, o suposto pecado, converte-se em uma obra de caridade. Agora, sob a alcunha de Lolita, inicia um trabalho de “sexo por compaixão”, como revela o título do filme. Em pouco tempo, seus serviços ganham fama, e, ela passa a ser bastante requisitada. Curiosamente, as outras mulheres passam a gostar quando ela transa com seus maridos, pois eles ficam mais felizes. E, a partir de suas caridades, a cidade ganha novas cores, e, novos ares. O problema é quando o marido retorna, disposto a reconciliar-se com Dolores, causando uma verdadeira comoção na cidade. Em sessão única, do Filme de Arte do Cine Natal 1, na terça-feira, dia 25, às 21h.
Retratos da Vida, em DVD
Um dos mais belos e esperados filmes chega agora ao público, na versão digital. É “Retratos da Vida”, do diretor Claude Lelouch, que conta com a participação de estrelas como James Caan, Geraldine Chaplin, Nicole Garcia, Robert Houssein, Fanny Ardant, e, muitos outros. O filme parte de uma idéia interessante: apesar dos bilhões de pessoas no mundo, existem apenas algumas poucas histórias, que repetem-se sem cessar, independente de acontecer nos Estados Unidos, França, Alemanha ou Rússia. Durante três horas, são contadas histórias muito parecidas, irmãos que se separaram, filhos perdidos, amores desfeitos, estrelas que nascem, sucessos e tragédias. No final, todos os personagens se encontram, em um show pela paz, onde o apoteótico ballet do dançarino argentino Jorge Donn, no alto da Torre Eiffel, transformaria o Bolero, de Ravel, em uma das músicas mais conhecidas do mundo. Infelizmente, não virão extras, mas ao menos foi mantido o formato de tela original do cinema. Lançamento da cearense Classicline. Aguarde!
Enigma da Pirâmide, em DVD
Alguns personagens sobrevivem muito além dos seus criadores, como aconteceu com Sherlock Holmes, criação do genial escritor inglês Arthur Conan Doyle. O infalível detetive já apareceu em filmes e livros de outros autores (até de Jô Soares, no seu “Xangô de Baker Street”), mas uma destas liberdades poéticas mais interessantes chega agora em DVD. É “O Enigma da Pirâmide”, do diretor Barry Levinson, que imagina o que teria acontecido, se Sherlock Holmes, e, o ainda garoto, Watson, tivessem se conhecido na escola. Com efeitos especiais muito inovadores, para a época, mostra o talentoso jovem, em seu primeiro caso. Quando, uma série de bizarros, e, intrigantes crimes acontece na vitoriana Londres, o jovem Holmes e seu amigo recente Watson, acabam inadvertidamente envolvidos num tenebroso mistério. O filme, além da história divertida e empolgante, traz momentos inesquecíveis, como um sacrifício profano, ao som da majestosa Carmina Burana, de Orff. A versão, produzida por Steven Spielberg, foi autorizada pela herdeira de Conan Doyle. Sem extras, o DVD traz som Dolby Digital e formato de tela widescreen anamórfico. Recomendo!
Vetado pela Disney, “Farenheit 9/11” é aplaudido em Cannes
O polêmico documentário de Michael Moore, “Farenheit 9/11”, que traz fortes críticas e denúncias sobre os dois presidentes Bush, suas ligações com a família de Bin Laden, e os atropelos em suas peripécias internacionais, no Afeganistão e Iraque, estreou com sucesso no Festival de Cannes. O filme esteve ameaçado de não ser distribuído nos Estados Unidos, já que a Disney, que tem participação na Miramax, não queria se desgastar com a família Bush, em especial o irmão do presidente, que é o governador da Flórida. O título do filme é uma referência ao famoso filme de François Truffaut, baseado no livro homônimo de Ray Bradbury, sobre uma ditadura do futuro, onde a escrita é proibida, e, os bombeiros existem para queimar livros. 451 é a temperatura, em graus farenheit, que o papel queima. 9/11 traz a situação para os dias atuais, pós-ataque de 11 de setembro.
Filme recomendado: “Lawrence da Arábia”
O homem que sonhava acordado
“Todos os homens sonham, mas não da mesma maneira. Aqueles que sonham à noite nos empoeirados recessos de suas mentes, ao acordar de dia, descobrem que tudo foi em vão. Mas, os sonhadores diurnos são homens perigosos porque eles sonham com os olhos abertos para torná-los possíveis. Isto eu fiz.”
Os Sete Pilares da Sabedoria ( Capítulo Introdutório, suprimido)
Um dos mitos mais populares do Século XX foi T.E.Lawrence, mais conhecido como Lawrence da Arábia. Lawrence, que era inglês, teve um papel importantíssimo na campanha do Oriente Médio, durante a Primeira Guerra Mundial. Personalidade forte e controvertida, nada tinha do padrão do soldado britânico tradicional. Além de destoar dos hábitos militares de seu país, foi um grande defensor de uma Arábia independente. Se considerarmos que a Inglaterra era o maior império colonialista da época, pode-se ter uma idéia do sacrilégio do pensamento de Lawrence.
A história de Lawrence, em especial o período aventureiro em que pelejou no deserto, foi brilhantemente levada às telas, em 1962, por David Lean, após uma produção igualmente difícil e custosa.
Para entender melhor o mito, vamos nos transportar para o ambiente onde Lawrence atuou. No início do Século XX, se a Europa já experimentava o modernismo da Revolução Industrial, o resto do mundo era um universo de colônias subdesenvolvidas atreladas às grandes potências da época: Inglaterra, França, Alemanha e Rússia, esta última já vivendo os estertores da dinastia Romanov. O Oriente Médio era uma terra-de-ninguém, ocupada por tribos nômades, que passavam a maior parte do tempo guerreando entre si.
As comunicações eram péssimas, e, o grande meio de transmissão de notícias ainda era a imprensa escrita. Nesse ambiente, a guerra era um assunto distante para a maioria das pessoas, e, mesmo na Europa, era impossível ter idéia do horror da realidade da guerra de trincheiras que matou e mutilou milhões de homens. O que as pessoas imaginavam da Arábia, por exemplo, era Rodolfo Valentino, vestido de beduíno, galopando pelas dunas de dia, e, conquistando donzelas à noite.
Neste terreno fértil, a intensa cobertura que o jornalista e escritor americano Lowell Thomas fez em 1919, sobre a participação de Lawrence na guerra, elevou o inglês à condição de mito. Profundamente envolvido com a causa da Arábia independente, Lawrence usou seu próprio sucesso para grangear simpatia ao movimento. Esse apogeu da fama coincidiu com a Conferência de Paz em Paris, onde as nações vencedoras decidiam o destino do resto do mundo. Apesar de estar ligado à delegação da Inglaterra, Lawrence vivia junto ao então Príncipe Faissal, batalhando por adeptos à liberdade árabe.
Contrariando promessas feitas durante a guerra, Inglaterra e França mantiveram suas ideologias imperialistas, incorporando a Síria, Palestina e Mesopotâmia (atual Iraque) às suas colônias. Decepcionado, Lawrence dedicou-se a seu primeiro grande livro “Os sete pilares da sabedoria”, onde narrava suas aventuras. Daí até sua morte em 1935, num acidente de moto, Lawrence dedicou-se a atividades dentro e fora do governo, convivendo com a ditadura da fama. Uma de suas últimas e valorosas contribuições foi o desenvolvimento de lanchas rápidas para salvamento de náufragos.
O filme de Lean, apesar de começar com a morte de Lawrence, restringe-se ao período em que a ação do inglês foi mais atuante na Arábia, durante a Primeira Guerra. A atuação de Lawrence na Conferência de Paris foi retratada num filme mais recente, “Um homem perigoso ( A dangerous man)”, de 1990, com Ralph Fiennes (“O paciente inglês) no papel principal.
Apesar de ter sido feito na conservadora década de sessenta, Lean conseguiu transmitir bastante fidelidade aos fatos narrados. Para isso, deslocou toda uma imensa equipe para o deserto da Jordânia, onde levou dois anos e três meses para concluir as filmagens. Foram utilizadas técnicas inovadoras, numa época em que efeitos especiais eram feitos “no braço”, e, nem se sonhava ainda com o uso de computadores. Cidades inteiras foram construídas para locações, enquanto que exércitos de homens e camelos eram selecionados e treinados para as cenas coletivas. O próprio exército da Jordânia foi colocado à disposição da produção, pelo rei.
O elenco foi escolhido criteriosamente. Para o papel de Lawrence, foi procurado um ator de teatro que nunca tivesse feito cinema, recaindo a escolha em Peter O’Toole (que fez recentemente o rei Príamo, em “Tróia”). Alec Guinness, que já havia atuado com Lean no megasucesso “A ponte do rio Kwai”, foi selecionado para o imponente Faissal. O já veterano Anthony Quinn foi o nome americano para participar da produção. Ao procurarem um nome para o papel de Xerife Ali, resolveram testar um desconhecido ator, que fazia sucesso apenas no seu país, o Egito: Omar Sharif. O personagem de Ali, aparentemente secundário, era uma espécie de Grilo Falante de Lawrence, e, possibilitou a Sharif uma indicação para o Oscar, junto com O’Toole.
A edição em DVD para a América Latina veio com a mesma riqueza de detalhes que a edição americana. O filme tem quase meia hora a mais que a versão que chegou nos cinemas, incluso aí a Overture e o Intermezzo, trechos de quatro a cinco minutos só com música, comum nos longa-metragem daquela época. São dois discos, estando a primeira parte do filme num disco, e, a continuação e extras, no outro. O filme vem no formato Widescreen, como seria de se esperar para uma obra destas, e, o áudio, em inglês (DD 5.1 e 2.0), português, francês e espanhol ( 2.0). As legendas estão disponíveis em português, espanhol, inglês, chinês, francês, coreano e tailandês.
O extras existem para os brasileiros, ou seja, a maioria é legendada, incluindo o “Vento, areia e estrela: O Making Of de um clássico”, com mais de sessenta minutos e “Making Of : ‘Romance da Arábia’, uma conversa com Steven Spielberg”, com nove minutos. Além disso, tem quatro cinedocumentários curtos, da época das filmagens, além de trailers de cinema e fotos de época.
Mais uma vez, a mídia DVD oferece a oportunidade de acesso a uma das maiores obras do cinema épico, com imagem e som impecáveis, além de uma edição mais completa do que a que foi passada nos cinemas (e televisão, obviamente). Fora isso, os documentários, com testemunho de atores como Sharif e Quinn (ainda vivo em 2001), dão um brilho especial a esta edição. Se não é o testemunho histórico perfeito, é o retrato do mito que mexeu com a imaginação do mundo nos anos 20. Para completar a programação, alugue “Um homem perigoso”, e, faça uma sessão inesquecível. Não esqueça, porém, de reservar tempo: só “Lawrence da Arábia” vai prender a sua atenção por mais de cinco horas ininterruptas! Boa diversão.