Claquete 04 de junho de 2004
O que está em cartaz
Depois de um longo e tenebroso inverno, eis que as forças mágicas chegam em todos os lugares do mundo, trazendo a fantasia do mundo de Harry Potter, através do terceiro filme de série, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”. Para prazer de quem é criança no coração, mas gosta de assistir o som original, o Moviecom destinou uma das salas para exibição de cópia legendada. Palmas para eles! E, se o mundo das bruxarias e seres fantásticos não faz o seu gênero, restam o filme catástrofe “O Dia Depois de Amanhã”, a aventura mitológica “Tróia”, com Aquiles & Cia, a comédia romântica “Como Se Fosse a Primeira Vez”, com Drew Barrymore, o politeratológico “Van Helsing – O Caçador de Monstros”, e, o drama nacional “Benjamim”, com Paulo José e Cléo Pires. Na outra sexta-feira, acontecem duas pré-estréias, a comédia romântica “Show de Vizinha”, e, do drama nacional “Cazuza – O Tempo Não Para”, ambas no Moviecom. No Filme de Arte, do Cine Natal 1, “Swimming Pool – À Beira da Piscina”.
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban
Provavelmente, nem a própria Joanne Kathleen Rowling, ou simplesmente J. K. Rowling, imaginaria o alcance que seus personagens teriam, no que se configura como o maior sucesso literário dos últimos tempos. Os cinco livros da série já ultrapassaram os cem milhões de cópias em todo o mundo, e, ainda tem fôlego para mais dois. Como seria de se esperar, o cinema não ficaria de fora deste suculento filão, e, chega agora, aos cinemas do mundo inteiro, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, baseado no terceiro livro da série. Em seu terceiro ano na Escola de Bruxarias de Hogwarts, Harry Potter e seus amigos são avisados de que um perigoso criminoso fugiu da prisão de Azkaban, e, ronda a escola. Para proteger a escola são enviados os Dementadores, estranhos seres que sugam a energia vital de quem se aproxima deles, que tanto podem defender a escola, como piorar ainda mais a situação. Como sempre, seres fantásticos e magias estranhas criam forma nas telas, graças aos fantásticos efeitos especiais. E, o filme conta também com um fantástico elenco de apoio, a começar pelo excelente Gary Oldman, que viverá Sírus Black, o prisioneiro do título. Continuam no elenco, e já trabalhando no quarto filme da série, Daniel Radcliffe (Harry Potter), Emma Watson (Hermione), Rupert Grint (Ronnie), o gradalhão Robie Coltrane (Hagrid) e Alan Rickman (Professor Snape). Este filme é um pouco mais sombrio, não perdendo tanto tempo, como nos dois primeiros, para apresentar os personagens e as situações mágicas do mundo de Hogwarts. Mas, as reações dos que assistiram as pré-estréias tem sido calorosas, já que há uma identidade maior com o público adolescente, com muitas cenas de ação. O filme estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 2 (dublado), e, no Moviecom, nas salas 5 (legendado), 6 e 7 (dublado). Os ingressos podem ser comprados antecipadamente.
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Filme de Arte: “Swimming Pool”
Um belo filme anglo-francês chega aos natalenses, no Filme de Arte do Cine Natal 1: “Swimming Pool – À Beira da Piscina”, com a veterana atriz inglesa Charlotte Rampling (“O Porteiro da Noite”, “Zardoz”). O filme é sobre uma escritora inglesa, madura e desencantada, que, num momento de crise criativa, aceita o convite de seu editor, para passar férias na casa de campo dele, no sul da França. Lá, ela reencontra, não apenas a sua inspiração, mas, também, Julie, a filha do editor. Muito diferentes, os choques não tardam a acontecer, até chegar a um ponto de equilíbrio. Um evento trágico, porém, vai perturbar a vida das duas, culminando com um surpreendente final. A sessão do Filme de Arte é sempre às terças-feiras, às 21h, no Cine Natal1. Quem não quiser esperar, é passar na locadora e alugar o DVD, que foi anunciado nesta coluna, na semana passada. Recomendo.
Pré-Estréia: “Cazuza – O Tempo Não Para”
A vida louca, que marcou o percurso profissional, e, pessoal de Cazuza, do início da carreira, em 1981, até a morte em 1990, aos 32 anos: o sucesso com o Barão Vermelho, a carreira solo, as músicas que falavam dos anseios de uma geração, o comportamento transgressor e a coragem de continuar a carreira, criando e se apresentando, mesmo debilitado pela Aids. A cinebiografia de Cazuza foi dirigida por Sandra Werneck (“Amores Possíveis”), e, Walter Carvalho (“Janela da Alma”). Além de Daniel de Oliveira, que vive o cantor, o elenco conta também com Marieta Severo, Reginaldo Faria, Débora Falabella, Maria Mariana, Leandra Leal, e, Andréa Beltrão. Pré-estréia no dia 10, na Sala 7 do Moviecom, para maiores de 16 anos.
Pré-Estréia: “Um Show de Vizinha”
Também em pré-estréia, a comédia romântica “Um Show de Vizinha”, que conta a história de Matthew (Emile Hirsch), um jovem estudante, que tem planos ambiciosos, e, deseja ingressar na carreira política. Após conhecer sua nova vizinha, Danielle (Elisha Cuthbert), eles se apaixonam imediatamente. Porém a situação se complica quando Matthew, e, boa parte do bairro em que vive, descobre que Danielle foi uma atriz pornô. Comédia besteirol, ao estilo (duvidoso) do adolescente americano. O título nacional perdeu o duplo sentido que tinha o original (“The Girl Next Door”), usado por revistas como Playboy e Hustler. Pré-estréia no dia 10, na Sala 2 do Moviecom, para maiores de 12 anos.
“O Mais Longo dos Dias”, em DVD
Em 6 de junho de 1944, o desembarque dos Aliados na Normandia marcou o início do fim da dominação nazista na Europa. O ataque envolveu 3.000.000 homens, 11.000 aeronaves e 4.000 navios, que compunham a maior armada que o mundo já viu. A superprodução “O Mais Longo dos Dias”, de 1962, que conta uma visão deste histórico dia, chega agora aos cinéfilos, em versão digital. Apresentando um elenco de astros internacionais, e narrado do ponto de vista de ambos os lados, é um olhar fascinante que presencia os enormes preparativos, os erros, e, acontecimentos inesperados, que determinaram o resultado de uma das maiores batalhas da História. Vencedor de dois Oscars (Efeitos Especiais e Fotografia), “O Mais Longo dos Dias” traz um elenco estelar, com John Wayne, Robert Mitchum, Henry Fonda, Robert Ryan, Rod Steiger, Richard Todd, Richard Burton, Robert Wagner, Mel Ferrer, Jeffrey Hunter, Paul Anka, e, Sal Mineo, entre outros. Além do filme, esta edição especial traz um segundo disco, com os documentários “Histórias de Bastidores de Hollywood” e “De Volta ao Dia D”, ambos legendados.
“A Volta ao Mundo em 80 Dias”, em DVD
Um dos mais divertidos filmes de todos os tempos, “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, chega agora ao grande público, em DVD. Entre as inúmeras versões do livro de Júlio Verne, esta, dirigida por Michael Anderson, Kevin McClory e Sidney Smith, foi, de longe, a mais famosa. A história é, por demais, conhecida: um rico inglês, Phileas Fogg, vivido magistralmente pelo saudoso David Niven, aposta 20 mil libras, como conseguiria dar a volta ao mundo em 80 dias. Para acompanha-lo, segue o seu fiel criado Passepartout, encarnado por Cantinflas, cômico mexicano muito popular nos anos 60. Mais adiante, uma jovem Shirley MacLaine completaria o trio, que viveria mil aventuras ao longo do globo, enfrentando desde fanáticos adoradores de Kali, a índios norte-americanos, além de um obstinado inspetor da Scotland Yard. O filme teve participações de muitos outros atores famosos, como Marlene Dietrich, John Carradine, Frank Sinatra e Buster Keaton. Nos próximos meses, chegará aos cinemas uma nova versão, com Jackie Chan no papel de Passepartout.
Filme recomendado: “O Resgate do Soldado Ryan”
Desembarque no mundo real
Sessenta anos atrás, no dia 6 de junho de 1944, o mundo fervia, em plena Segunda Guerra Mundial. Hitler e seus exércitos dominavam toda a Europa Continental, fustigando a Inglaterra com bombardeios incessantes e pagando os pecados na Rússia gelada. Mas, neste dia, apelidado de Dia D, os americanos lideraram a invasão Aliada, numa época em que eles eram os mocinhos, que lutavam contra os nazistas torturadores. Muitos filmes foram feitos sobre este histórico dia, mas um deles pode usar toda a magia dos modernos efeitos especiais, além de um primoroso trabalho de reconstituição histórica. O filme é “O Resgate do Soldado Ryan”, dirigido por ninguém menos que Steven Spielberg.
O que foi o tal “Dia D”?
O filme fala do famoso Dia D e do desembarque na Normandia durante a Segunda Guerra Mundial. Conversando com algumas pessoas mais jovens, constatei uma coisa interessante: poucos sabem o que representou o tal Dia D ou mesmo que diferença tem entre a Segunda Guerra, a Guerra do Golfo ou qualquer outra escaramuça das que vemos todos os dias nos noticiários das tv’s. Acrescentarei mais um ingrediente ao bolo de dúvidas: será que qualquer um de nós tem noção do que seja uma guerra de verdade? Acredito que não.
A Segunda Guerra Mundial foi fruto de uma situação peculiar no mundo, onde uma imensa maioria dos países – o nosso, inclusive – era dominado por ditadores fascistas, que através do populismo e pela força de armas haviam conseguido chegar ao poder. Para quem sobrevivera a um infernal início dos anos trinta, quando a economia mundial fora abalada pelo “crack” de 1929, era tranquilizador ter uma situação estável, mesmo com a maioria dos direitos individuais cerceados. Era assim na Alemanha com Hitler, na Itália com Mussolini, na Espanha com Franco, em Portugual com Salazar, na Argentina com Perón, no Brasil com Vargas e tantos outros mais.
A Alemanha foi o maior expoente dessa era. Submetidos a pesadas reparações da Primeira Guerra, passaram por um período negro, que terminou mostrando-se o nascedouro ideal para o surgimento do nazismo. Um retrato desse período está magnificamente exposto em “O ovo da serpente” de Ingmar Bergman.
Metodicamente, Hitler foi estruturando o país para ser uma potência militar. Aproveitando a inércia de quem podia lhe fazer oposição, Inglaterra e França, foi anexando países vizinhos até que a situação chegou ao ponto onde não havia retorno. Em 1939, foi iniciada a guerra de fato. Durante dois anos, a maior parte das atividades concentrava-se na Europa, com a dominação quase total da Alemanha. Só a Inglaterra resistira à invasão alemã, mesmo sendo submetida a bombardeios infindáveis. Com o ataque do Japão a Pearl Harbour em 1941, os Estados Unidos entraram oficialmente na guerra, participando também das operações na Europa.
Em 1944, apesar de já ter mudado radicalmente a situação ( a Itália capitulara), a França e países vizinhos continuava ocupada pelos alemães. Um grande desembarque foi planejado e era previsto por todos, embora não se soubesse o dia e local exatos. A importância disso era o posicionamento das defesas alemãs, comandadas pelo grande general Rommel, que fizera uma brilhante campanha no norte da África, sendo conhecido como “Raposa do deserto”. Contando com menos recursos, ele teria que deslocar parte das tropas de um ponto para outro em função do ataque.
No dia 6 de Junho de 1944, foi feito o desembarque na Normandia. Imaginem que a invasão é em Natal. As lanchas de desembarque trazem os soldados até próximo da Praia dos Artistas, onde existe uma infinidade de obstáculos, arame farpado, minas, etc. Trinta metros acima, na Av. Getúlio Vargas, estão as casamatas de concreto alemãs, com canhões, morteiros, metralhadoras de grosso calibre, lança-chamas, etc. Os soldados, ao desembarcar, precisam enfrentar o pesado fogo inimigo durante mais de cem metros, antes de poder disparar um tiro que faça algum efeito.
Só no primeiro desembarque, as forças aliadas tiveram 2400 baixas, contra 1200 dos alemães. Contudo, como a capacidade de substituição aliada era maior, a invasão teve êxito. Ao final do dia 06 de junho, 34 mil soldados já tinham desembarcado.
Apesar de ter sido decisivo, o desembarque da Normandia não significou o final da guerra. Vários meses ainda se passaram com sangrentos combates e pesadas baixas para ambos os lados. A Alemanha capitulou em 7 de Maio de 1945, enquanto que o Japão resistiria até 02 de Setembro, sendo dobrado pela força arrasadora de duas bombas atômicas.
A guerra provocou a morte direta de cinqüenta milhões de pessoas e praticamente arrasou os lugares onde aconteceram os combates.
O filme
Em “O resgate do soldado Ryan” é possível ter uma idéia do que foi o desembarque da Normandia e os dias que se sucederam. Ao contrário de muitos outros filmes sobre a segunda guerra, que davam uma visão muito arrumadinha, “Ryan” mostra que uma guerra é um processo lento, sujo e doloroso.
Foram feitos mais de quinhentos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, inclusive “O mais longo dos dias”, que trata do desembarque da Normandia. Infelizmente, como tantos outros, mostra uma guerra asséptica, onde os heróis passeiam e não desmancham nem o penteado. As mortes são românticas e rápidas, os movimentos são organizados, as situações se resolvem rapidamente, os prisioneiros de guerra são bem tratados… Pura balela, dizem os veteranos de combate. Toda situação de guerra é degradante, obscena, caótica e selvagem. O Dia D foi tudo isso e muito mais.
Como diz o personagem de Tom Hanks, “tenho medo de voltar para casa e minha mulher não me reconhecer, devido a tudo o que fiz na guerra…”
Para conseguir o realismo que o diferencia dos outros filmes, Spielberg mostra a ação do ponto de vista dos soldados. Os que estão desembarcando vêem os colegas serem metralhados a todo instante. Da casamata alemã vê-se a devastação que a metralhadora fazia, massacrando os homens que avançavam pela praia.
A grande fonte de inspiração para as cenas do desembarque foram as fotos de Robert Capa, o mais famoso correspondente de guerra, que efetivamente participou das ações na Normandia, armado unicamente com suas câmeras.
A trama do filme é baseada num fato real, a história dos irmãos Niland, do estado de New York. Os quatro irmãos, com idade variando entre vinte e trinta e cinco anos alistaram-se voluntariamente e partiram para a guerra. Dois deles morreram no Dia D, enquanto um outro foi dado como morto em Burma ( antiga Birmânia). Fritz Niland foi localizado na Normandia por um capelão do exército, Reverendo Francis Sampson, e retirado da zona de combate. Após o término da guerra, o Niland desaparecido foi encontrado, tendo sobrevivido a um campo de prisioneiros dos japoneses.
Na ficção, o capitão John Miller ( vivido por Tom Hanks) recebe a missão de encontrar e trazer de volta o soldado Ryan, último sobrevivente de quatro irmãos que estavam na guerra. Ao fazer isso, com um grupo de oito homens, enfrenta um franco-atirador alemão, trava uma pequena batalha numa estação de radar e finalmente encontra o homem procurado, para descobrir que este recusa-se a abandonar o posto.
Resolvido a só voltar com o rapaz, o capitão Miller organiza a resistência de um pequeno vilarejo cuja ponte é de valor estratégico para os alemães. Com poucos recursos humanos e materiais, Miller tem que usar toda a sua experiência de combate para cumprir a missão quase suicida.
A batalha no vilarejo é eletrizante, embora numa ótica diferente do desembarque. Aqui já se cai um pouco no lugar-comum dos filmes de ação, com os heróis atravessando incólumes chuvas de balas, enquanto os inimigos caem como moscas. Mesmo assim, são mostradas as reações humanas comuns num anbiente desse: heroísmo, desprendimento, covardia, auto-imolação, etc.
O DVD
Confesso que esperava muito mais da edição em DVD. Como não poderia deixar de ser, o formato de tela é widescreen, pois de outra forma seria difícil acompanhar todo o envolvimento do filme. O áudio oferece as opções inglês DD 5.1 e português e espanhol 2.1. As legendas estão disponíveis em inglês, português e espanhol. A grande decepção ficou por conta dos extras.
Conforme estava anunciado, veio um disco com o filme e um outro com os extras. Nesse, veio apenas um documentário “Into the breach” com 25 minutos de duração, notas de produção e elenco, trailer original e trailer do relançamento. Para o que se anunciava que viria “recheado de extras”, me parece muito, muito pouco. “Ben-Hur” é mais longo do que “O resgate do soldado Ryan”, tem o mesmo formato e tipo de som e veio com um documentário de uma hora de duração. Ou a Dreamworks está fazendo muito barulho por nada ou logo adiante sairá uma edição para coleciador.
Mesmo assim, para quem não viu no cinema ou quer revê-lo com mais atenção aos detalhes, esta edição em DVD está muito bem produzida, permitindo ao espectador manter o mesmo nível de tensão das salas de cinema. Veja e faça seu próprio julgamento.