Claquete 03 de setembro de 2004

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Desde o impacto do 11 de setembro, muita coisa mudou, no mundo, infelizmente, nem tudo para melhor. Talvez por isto, simbolicamente, esteja estreando “Alien x Predador”, onde duas raças malvadas trazem terror aos humanos. A outra estréia, “A Vila”, de M. Night Shyamalan, traz um suspense sobre uma vila cercada de seres malignos, que trazem terror aos humanos… Fora isso, continuam em cartaz “Colateral”, com Tom Cruise estreando seu lado malvado, com um assassino profissional, “Olga”, a impressionante biografia da mulher do líder comunista Luis Carlos Prestes, “Mulher-Gato”, filme de ação estrelado pela gatíssima Halle Berry, “Eu, Robô”, ótimo ficção-científica, estrelada pelo rapper Will Smith, e, o infantil “Garfield”, com o gato mais folgado do mundo. Esta semana, também, não terá Filme de Arte. E, o 11 de setembro que queríamos, “Fahrenheit 11 de Setembro”, ainda parece longe das telas potiguares.

A Vila

O diretor e roteirista M. Night Shyamalan, de “Sexto Sentido” e “Sinais”, está de novo na praça. O filme da vez é “A Vila”, que, como as outras obras de Shyamalan, desperta críticas ácidas e elogios rasgados. Em 1897, uma vila parece ser o local ideal para viver: tranqüila, isolada, e, com os moradores vivendo em perfeita harmonia. Porém, este local perfeito passa por mudanças, quando os habitantes descobrem que, o bosque que o cerca, esconde uma raça de misteriosas e perigosas criaturas, por eles chamados de “Aquelas de Quem Não Falamos”. O medo, de ser a próxima vítima destas criaturas, faz com que nenhum habitante da vila se arrisque a entrar no bosque. Apesar dos constantes avisos de Edward Walker (William Hurt), o líder local, e, de sua mãe Alice (Sigourney Weaver), o jovem Lucius Hunt (Joaquin Phoenix) tem um grande desejo de ultrapassar os limites da vila, rumo ao desconhecido. Lucius é apaixonado por Ivy Walker (Bryce Dallas Howard), uma jovem cega, que também atrai a atenção do desequilibrado Noah Percy (Adrien Brody). O amor de Noah termina por colocar a vida de Ivy em perigo, fazendo com que verdades sejam reveladas, e, o caos tome conta da vila. “A Vila” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4, do Moviecom. Para maiores de 14 anos.

Alien x Predador

Dois dos maiores ícones dos Ets malvados estão de volta, e, acredite se quiser, em um mesmo filme, sob a batuta do diretor Paul W. S. Anderson. Da série Alien, iniciada em 1979 com “Alien – O 8º Passageiro”, vem o estranho alienígena, que passa por várias metamoforses, antes de virar um assassino imbatível. No outro canto do ringue, está o Predador, cuja primeira aparição foi em 1987, lutando contra Schwarzzenegger. Desta vez, as duas raças alienígenas se enfrentam em uma pirâmide, até então desconhecida, localizada na Antártida. Quando um misterioso sítio arqueológico é detectado, através de satélites, uma equipe de cientistas e aventureiros é enviada, para investigar o local. Lá, entretanto, eles fazem uma descoberta aterradora: a pirâmide serve de abrigo para duas raças alienígenas, extremamente violentas, que estão em guerra. No fogo cruzado, os inocentes humanos, que se julgavam a maior inteligência do planeta. Além dos filmes de origem, o espectador irá encontrar, também, referências a “Stargate”, e, “Resident Evil”, este último também dirigido por Paul W.S. Anderson. Preparem-se para muitos tiros, sustos, e, ação desenfreada. “Alien x Predador” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, e, nos Cines 6 7, do Moviecom. Para maiores de 14 anos.

Pollyana, em DVD

Sabe o que é o “jogo do contente”? Quem levantou a mão, certamente leu os livros “Pollyana” e “Pollyana moça”, de Eleanor H. Porter, e, talvez até tenha assistido o filme “Pollyana”, de 1960, produzido pela Disney. Pois este filme está sendo lançado agora, em DVD, pela Buena Vista. Numa pequena cidade americana, Pollyana, uma pequena órfã, ilumina a vida de todos que a conhecem. Sua tia Polly, preocupada com aparências, política, e, posses, tem problemas para aceitar a alegria da sobrinha. Somente quando a cidade quase perde a sua habitante mais querida, é que tia Polly entende a importância do amor e da esperança. O formato de tela é widescreen anamórfico, e, o som, disponível em Inglês (Dolby Digital 5.1), espanhol e português (2.0). Boa diversão!

Nove vezes Alien

E já que o Alien está em plena forma, nos cinemas, que tal rememorar toda a sua trajetória, num maravilhoso pacote, com nove discos, reunindo os quatro filmes da série? Uma das mais famosas séries de ficção da história do cinema foi iniciada quando, em 1979, o diretor Ridley Scott (de Thelma & Louise) realizou “Alien – O Oitavo Passageiro”. Sigourney Weaver (de “Uma Secretária de Futuro”) interpreta a Tenente Ripley, que, ao longo da série, enfrenta perversos alienígenas. A história teve seqüência dirigida por James Cameron (de Titanic): “Aliens – O Resgate”, em 1986. Seis anos depois, foi a vez do cineasta David Fincher (responsável por “Clube da Luta”) dirigir “Alien 3”. O último filme da saga de Ripley foi realizado em 1997, pelo francês Jean-Pierre Jeunet (de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”), com o título de “Alien – A Ressurreição”. Os extras da COLEÇÃO ALIEN apresentam menu interativo, seleção de cenas, galeria de fotos, cenas excluídas e muito mais. Os quatro filmes da série ALIEN também são encontrados em DVDs individuais.

Promoções: “Dr Jivago”, “Cidadão Kane”, “Casablanca”

Fique antenado nas promoções, das grandes lojas locais. Estão à venda, por menos de trinta reais, edições duplas, recheadas de extras, de filmes famosíssimos, como “Dr. Jivago”, “Cidadão Kane”, “Casablanca”, “O Nome da Rosa”, e, “A Volta ao Mundo em 80 Dias”. A maioria destes filmes traz trilha sonora remasterizada, em Dolby Digital, e, o formato de tela widescreen, apresentando toda a fotografia original das fitas.

Fellini – Volume 2

A Versátil está lançando um novo box da coleção Fellini, com os seguintes títulos: “Julieta dos Espíritos”. Primeiro filme em cores de Fellini, conta a história de uma mulher que, ao descobrir a traição do marido, começa a ser acometida por visões, embarcando numa jornada de auto-descoberta em que os sonhos se misturam a realidade. “Abismo de um Sonho”. Recém-casados, Ivan e Wanda viajam à Roma para passar a lua-de-mel. Enquanto Ivan conhece a cidade, com os parentes ricos, Wanda sai em busca de seu maior sonho: conhecer o Sheik Branco (Alberto Sordi), herói de sua fotonovela favorita. “A Doce Vida”. O jornalista Marcello vive entre as celebridades, ricos, e, fotógrafos, que lotam a badalada Via Veneto. Neste mundo, marcado pelas aparências, procura um novo sentido para a vida. “Nino Rota, Entre o Cinema e o Erudito”. Este filme, inédito, mostra a trajetória do genial Nino Rota, compositor das músicas de quase todos os filmes de Fellini, incluindo os célebres temas de “Amarcord”, “A Doce Vida”, “A Estrada da Vida”, e, “Fellini 1 ½”. Todos os filmes trazem extras, como galeria de fotos, pôsteres, criticas da época, biografias, depoimentos, etc…

3ª Nóia: Festival Universitário de Cinema e Vídeo

Estão abertas, até 17 de setembro, as inscrições para a 3ª Nóia – Festival Sul-Americano de Cinema e Vídeo Universitários, que será realizado em Fortaleza, de 9 a 13 de novembro. Serão aceitos trabalhos para a mostra competitiva para vídeos universitários, nas categorias ficção, documentário, publicitário e experimental. Para vídeos não-universitários e outros, tem também a mostra não-competitiva. Maiores informações com o Grupo TRILHA de Cinema, Av. Antônio Justa, 3309/ sala 303 – Meireles CEP 60165-090 Fortaleza CE, ou, pelo email festival_noia2003@yahoo.com.br.

Filme recomendado: “11/9”

11 de setembro: O dia em que o mundo parou

A Arte, por definição, imita a Vida. Quando o inverso ocorre, os resultados são absolutamente surpreendentes. Este foi o caso do atentado de 11 de setembro de 2001, quando o mundo inteiro assistiu, pela televisão, a destruição das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Desde então, muitos especiais e documentários foram produzidos, sobre o assunto, explorando o tema até à exaustão. Será? Se você pensa desta maneira, então procure assistir “11/9”.

Quando dois franceses, os irmãos Jules e Gédéon Naudet, procuraram o Corpo de Bombeiros de Nova York, foi para produzir um documentário sobre um bombeiro iniciante, e, o seu primeiro contato com um incêndio real. Jamais passaria, pela cabeça deles, ou, a de qualquer cidadão do mundo ocidental, que o que eles iriam documentar ultrapassaria qualquer produção de Hollywood.

Procurando entre os inúmeros recrutas, os irmãos Naudet selecionaram o jovem Tony Benetatos para ser a sua “estrela”, mais pelo entusiasmo e idealismo do rapaz, do que qualquer outra razão. No melhor estilo “Big Brother”, a equipe acompanhou o jovem desde o início do período probatório de nove meses, pelo qual todo neófito tem que passar, antes de ser efetivado como bombeiro.

Durante os primeiros minutos do filme, são registrados os treinamentos, as rotinas, e, as brincadeiras, a que o estagiário é submetido. Num momento premonitório, Tony recebe a incumbência de colocar a bandeira a meio-pau, devido à morte de um bombeiro novato, durante um incêndio. Nervoso, o rapaz resmunga esperar ser esta a última vez que faz isso em sua vida. As semanas se passam, e, nada de acontecer o batismo de fogo de Tony. Ansioso por participar de um incêndio real, o máximo que lhe acontece é um carro pegando fogo. Por gozação, já estava sendo apelidado de “nuvem branca”, que é como chamam o bombeiro que dificilmente vê um incêndio.

No dia 11 de setembro de 2001, os bombeiros recebem um chamado, comunicando um vazamento de gás. Operação de rotina, um grupo de bombeiros vai verificar o caso, indo com eles o chefe do posto, Joseph Pfeifer, e, Jules Naudet com sua câmera. Quando estavam examinando o vazamento, presenciam o primeiro avião chocando-se com a Torre Um do World Trade Center (este, de fato, é o único registro do primeiro choque). Mais que depressa, Pfeifer reúne a equipe e dispara para o local do que achava ser um acidente, enquanto alarmava os demais grupos de bombeiros, através do rádio.

Em pouco tempo, eles chegam ao WTC, e, encontram um quadro desolador: vidros arrebentados, pessoas queimadas ou desfiguradas pela violência do choque. Outros grupos de bombeiros vão chegando, e, subindo as escadas, enquanto os chefes organizam um posto de comando, no saguão do edifício. De vez em quando, escuta-se o som de corpos chocando-se no solo. São as pessoas que estão acima do 80º andar, e, que não tem mais esperança de salvamento, preferindo abreviar o sofrimento.

Enquanto isso, ao novato Tony coubera a incumbência de permanecer no quartel, recebendo as ligações. Com ele, ficou o outro irmão Naudet, Gédéon, que ainda não tinha idéia do que acontecia de verdade. Como o jovem recruta não podia sair, Naudet pegou a câmera, e, foi andando, em direção ao WTC, registrando a reação das pessoas. Foi aí que o segundo avião atingiu a outra torre.

Nessas alturas, centenas de bombeiros subiam as escadas, pois nenhum dos elevadores funcionava. Devido ao seu projeto peculiar, todos os elevadores e escadas ficavam agrupados no centro do edifício. Quando o avião chocou-se com a torre, bloqueou a única via de escape dos que estavam acima, e, ainda, despejou milhões de litros de combustível incandescente pelos poços dos elevadores.

Quando ocorreu o segundo choque, o alerta foi dado aos bombeiros para abandonar o conjunto do WTC. Aos poucos, os que podiam procuravam as suas rotas de fuga, embora a maior parte ainda estivesse muitos andares acima. Em pouco tempo, ruía a primeira torre, e, logo depois, a segunda.

Conseguindo, a muito custo, escapar do edifício, o chefe Pfeifer e o cinegrafista francês correram, junto com os demais sobreviventes, para longe do acidente, mas a queda da primeira torre pegou-os no caminho. Praticamente às cegas, conseguiram sair da imensa nuvem de poeira e detritos que se formou. Logo, conseguiram chegar no quartel, e, contar as baixas. Pouco a pouco, todos foram retornando, faltando somente o novato, Tony, que saíra com um velho comandante aposentado que se apresentara, ao saber do acidente. Quer saber o que houve com ele? Assista ao filme.

“11/9” recebeu algumas críticas, por não ter analisado mais profundamente o que ocorreu naquele dia em Nova York. Mas, paradoxalmente, esta é sua maior qualidade. O documentário mostra exatamente o ponto de vista dos bombeiros, e, habitantes da cidade que testemunharam os fatos. O nome Osama Bin Laden não fazia sentido para ninguém, e, não faz falta no filme. Contudo, o registro dos fatos ocorridos foi feito com um realismo inédito, sem nunca escorregar para o escatológico ou sensacionalista. Até porque, seria impossível ser mais sensacionalista do que o próprio ataque.

Um outro ponto altamente positivo do documentário é a ausência de juízo de valor. Não se questiona a crueldade dos terroristas, ou, as suas motivações. O que se mostra é a reação das pessoas, perante os fatos, e, suas conseqüências. Voltando a seus propósitos originais, os irmãos Naudet registraram o encontro de Tony Benetatos com o seu primeiro incêndio, mas também brindaram a História, com um testemunho fiel, de um dos dias mais apavorantes da América.

Tecnicamente, “11/9” está primoroso. Os editores conseguiram transformar um documentário real em uma apresentação que prende a atenção do espectador, levando-o a momentos de suspense, comparáveis aos de uma ficção de Hollywood. Os minutos iniciais contextualizam o espectador no ambiente dos bombeiros, fazendo-o criar uma empatia com o jovem Tony e o seu destino. Quem for assistir deve preferir a versão em DVD, pois além das duas horas do documentário, ainda tem mais 42 minutos de entrevistas, que ajudam a preencher lacunas, e, completar a visão de inferno que foi o 11 de setembro.