Claquete 01 de outubro de 2004
O que está em cartaz
A Sétima Arte, esta semana, continua voltada para os “altinhos”. Para a criançada, a única colher-de-chá é a pré-estréia de “Espanta Tubarões”, mesmo assim, apenas no final de semana. Em compensação, estréiam “A Dona da História”, drama nacional, com Marieta Severo e grande elenco, “Rios Vermelhos 2”, filme policial francês, com o ótimo Jean Reno, e, “Paixão à Flor da Pele”, drama com Josh Hartnett. Continuam em cartaz, o nacional “Redentor”, dirigido por Cláudio Torres, com atuação dos pais, Fernando Torres e Fernanda Montenegro, e, roteiro de Fernandinha Torres, o documentário “Fahrenheit 11 de setembro”, do diretor Michael Moore, vencedor de Cannes, “Rei Arthur”, que, apesar de tentar, tem pouco a ver com a famosa lenda inglesa, o filme de ação “Supremacia Bourne”, com Matt Damon retomando o seu personagem de “Identidade Bourne”, a aventura de gosto duvidoso, “Anaconda 2”, com cobras para todos os lados, o excelente drama “O Terminal”, estrelado por Tom Hanks e dirigido por Steven Spielberg, e, “Irmãos de Fé”, produção nacional sobre a vida de São Paulo. No Filme de Arte, do Cine Natal 2, a produção neozelandesa “Chuva de Verão”. Em pré-estréia, “Chamas da Vingança”, com Denzel Washington, e, “Espanta Tubarões”, da Dreamworks.
A Dona da História
Rio de Janeiro, 1968. Carolina (Débora Falabella) dança balé, vai a passeatas, e, descobre o amor, ao lado do idealista Luiz Cláudio (Rodrigo Santoro). Ela sonha com um futuro perfeito, e, mais ainda, quer tornar-se personagem de uma grande história. 32 anos depois, Carolina (Marieta Severo) exercita-se para manter a forma. Ela e Luiz Cláudio continuam casados, e, moram no mesmo apartamento. Os quatro filhos, já adultos, não vivem mais com eles. Carolina, agora com 55 anos, está em crise com a sua própria vida. Passa a questionar, a casa vazia, o casamento, a idade, e, suas escolhas do passado. É quando, através de uma conversa consigo mesma, quando tinha 18 anos, que ela passa a reviver seus sonhos de adolescência, e, cogitar o que poderia ter se tornado, caso tivesse seguido um outro rumo. Mais um exemplar da boa fase do cinema nacional, este filme, dirigido pelo veterano Daniel Filho, mostra o talento excepcional de Marieta Severo, que já viveu a mesma personagem, durante dois anos, no teatro. Na peça, a Carolina jovem era interpretada por Andréa Beltrão, parceira de Marieta em “A Grande Família”. “A Dona da História” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, no Cine 6 do Moviecom. Para maiores de 10 anos.
Paixão à Flor da Pele
Matthew (Josh Hartnett) é um jovem empresário, que acredita ter visto, em um café, a mulher (Diane Kruger) que foi seu grande amor, e que, desapareceu misteriosamente, há dois anos. Ele decide segui-la, descobrindo aonde ela mora. Esta se torna sua rotina durante vários dias, tornando-se uma obsessão para Matthew reencontrá-la. Um dia, ele decide invadir o apartamento dela, para poder esperá-la. Porém, o que ele não sabe, é que, a mulher que segue, não é exatamente quem ele pensa ser, e, que ela sabe exatamente o que está fazendo. Rose Byrne, e, Diane Kruger, atuaram em “Tróia”, enquanto Matthew Lillard viveu o Salsicha, de “Scooby-Doo”. Refilmagem de “L’Appartement”, produção européia, de 1996, estrelada pela bela Mônica Bellucci. “Paixão à Flor da Pele”, com direção de Paul McGuigan, estréia, nesta sexta-feira, no Cine 5, do Moviecom. Para maiores de 12 anos.
Filme de Arte: “Chuva de Verão”
O Filme de Arte do Cine Natal 2, desta semana, é a produção neozelandesa “Chuva de Verão”, dirigida por Christine Jeffs. É verão na Nova Zelândia, início dos anos 70. Aos treze anos, Janey (Alicia F.-Wierzbicki) instala-se, com a sua família, em uma cabana de praia, para mais um perfeito feriado à beira-mar. Enquanto o dia é consumido em pescarias e natação, à noite, os adultos divertem-se em festas repletas de bebidas, dança e paquera. Janey está cada vez mais consciente dos problemas no casamento de seus pais. A mãe tornou-se alcoólatra, e, o pai, virou uma pessoa totalmente alienada. Ao ver sua mãe envolver-se com um fotógrafo, ela começa a descobrir a sua própria sexualidade. Janey decide crescer rápido. Rápido demais… O Filme de Arte terá sessão única, às 21h, no dia 05, terça-feira, no Cine Natal 2. Para maiores de 14 anos.
Rios Vermelhos 2
Em 2000, um interessante filme francês, “Rios Vermelhos”, quebrou a monotonia dos policiais hollywoodianos. Violento e politicamente incorreto, o filme trazia um veterano policial francês em busca de um misterioso serial killer. O comissário Niemans, volta às telas novamente, em “Rios Vermelhos 2”, através do ótimo Jean Reno. Um homem é encontrado morto no Mosteiro de Lorraine, mas não parece ser uma vitima comum. Os sinais esotéricos que o corpo ostenta, e, o ritual de sacrifício, fogem às características de um assassinato vulgar. Quando Reda (Benoît Magimel), um jovem capitão da policia, encontra um sósia de Jesus Cristo, meio-morto, à beira de uma igreja, julga ter salvo um iluminado. Mas, rapidamente, ele vai aperceber-se que este caso está ligado ao crime que Niemans investiga. Com a ajuda de Marie (Camille Natta), uma especialista em história religiosa, eles vão tentar desvendar o mistério dos Monges intitulados “Anjos do Apocalipse”, e, que semeiam o medo e o terror, desaparecendo sem deixar rastros. Um segredo, enterrado durante séculos, está prestes a ser desvendado. “Rios Vermelhos 2” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 7, do Moviecom. Para maiores de 16 anos.
Pré-Estréia: “Chamas da Vingança”
Uma grande onda de seqüestros varre o México, fazendo com que, muitos de seus cidadãos mais ricos contratem guarda-costas, para seus filhos. John Creasy (Denzel Washington) é um desmotivado ex-agente da CIA, que é levado à Cidade do México, por seu amigo Rayburn (Christopher Walken). Sem emprego, ele aceita a proposta de ser guarda-costas da pequena Pita (Dakota Fanning), uma garota de nove anos, que é filha de um industrial (Marc Anthony). Incomodado com as perguntas constantes da garota, John inicialmente vê seu novo trabalho como um fardo, mas, aos poucos, cria amizade com Pita, e, passa a ter um novo ânimo em sua vida. O seqüestro de Pita desfaz esta situação, fazendo com que ele, mesmo ferido, parta para resgatá-la, a qualquer custo. Direção de Tony Scott, que já dirigiu Washington em “Maré Vermelha”. “Chamas da Vingança” terá uma sessão na sexta-feira e outra no sábado, sempre às 21h50, no Cine 1 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.
Pré-estréia: “Espanta Tubarões”
Oscar (voz de Paulo Vilhena) é um pequeno peixe, que tem sonhos grandes, e que, se torna um herói involuntário, após pregar uma grande mentira. Após ser perseguido pelo filho do tubarão-chefe, Oscar presencia sua morte. Querendo bancar o herói, ele assume a autoria do assassinato, e, com isso, se torna uma grande celebridade no mundo aquático. Porém a situação se complica, quando ele é designado para repetir a façanha, eliminando outros tubarões. Produção da Dreamworks, no original, os personagens foram dublados por Will Smith, Robert De Niro, Renée Zellweger, Jack Black, Angelina Jolie e Martin Scorcese. Mas, essa versão, só em DVD… “Espanta Tubarões” tem pré-estréia neste sábado e domingo, no Cine 5 do Moviecom, nas sessões de 13h10 e 15h. Livre.
Filme recomendado: “Laranja Mecânica”
A estética da ultra-violência na laranja de Kubrick
E aí, meu drugue, tudo horrorshow? Eu estava com uma dor na gulliver, mas já estou dobby. Que tal plucarmos um auto, e, yeckate pela nochy? Depois, pegamos umas devotchkas, e, fazemos um lubbilubbing…
Não entendeu nada? Você foi convidado para dar um passeio de carro pela noite, arranjar umas gatas, e, fazer amor com elas. Isso, porque, o seu anfitrião melhorou da dor de cabeça que o afligia. Esses termos não fazem parte do aurélio de nenhum país, é o vocabulário usado por Alex, e, seu grupo de punks, no filme “Laranja mecânica”, de Stanley Kubrick.
Lançado em 1971, o filme transcreve para as telas, com surpreendente fidelidade, o livro homônimo, escrito por Anthony Burgess, nove anos antes. “Laranja mecânica” mostra o mundo através da ótica distorcida de Alex, um jovem inglês, que lidera um grupo de delinqüentes, que buscam o prazer através da ultra-violência.
Inconseqüente, e, cruel, Alex diverte-se, espancando mendigos, brigando com gangues rivais, roubando carros para provocar acidentes nas estradas, invadindo casas para violentar mulheres, e, outras pérolas do comportamento humano (?). O seu prazer é viver por viver, na filosofia de um dia atrás do outro, entremeando a paixão pelas músicas de Beethoven, com sua rotina da ultra-violência. Quando seus amigos começam a ter uma visão mais capitalista, cria-se uma disputa interna no grupo, que termina provocando a prisão de Alex.
Condenado a catorze anos de prisão, pela morte de uma mulher, o jovem esquiva-se do assédio de homossexuais, e, da violência dos outros prisioneiros. Para conseguir um melhor tratamento, auxilia o capelão do presídio nas atividades religiosas. Ao saber que está sendo utilizado um novo método de recuperação de prisioneiros, que garante a liberdade imediata, Alex candidata-se, de imediato, contra a vontade do capelão, e, do diretor do presídio.
Conseguindo a indicação para o programa especial de reabilitação, Alex descobre que virou uma nova versão do cachorro de Pavlov, pois, a “solução” proposta, é associar a violência a um extremo desconforto físico. Acidentalmente, uma das músicas favoritas de Alex, a Nona Sinfonia de Beethoven serve de trilha sonora, tornando-se igualmente nociva para o rapaz.
Terminado o condicionamento, o ex-punk é libertado, para descobrir que, se ele anulara seu passado, o mundo não fizera o mesmo. Sofrendo o mesmo remédio amargo que impusera aos outros, Alex chega a um ponto onde só a morte pode libertá-lo.
Acusado de ser uma apologia à violência, “Laranja mecânica” foi criticado, censurado, e, até banido, em diversos países. Aqui no Brasil, em pleno regime militar, o filme passou nos cinemas com umas bolas pretas escondendo o sexo das pessoas, numa cena de estupro. Revendo o filme hoje, parece-me muito mais ameno do que alguns programas policiais das tv’s abertas… Algumas cenas, que foram cortadas da versão que foi aos cinemas, também não apareceram no DVD. É uma pena, mas, pelo menos, as bolas pretas também sumiram. Vão-se os anéis, ficam os dedos…
De resto, o filme simplesmente não envelheceu. A fotografia é fantástica, com ângulos extremos, e, intenso uso de grandes angulares. O figurino é propositadamente exagerado, com cores berrantes, e, maquiagens estranhas. O mobiliário, consegue trazer, para os ambientes, a sensação de um futurismo de um mau gosto delicioso. Os cenários são extremamente elaborados, com designs que, se hoje são arrojados, o que não se dirá no início dos setenta… Ah! Não podemos esquecer a trilha sonora maravilhosa, alternando os clássicos de Beethoven, Elgar, e, Purcell, com os arranjos eletrônicos de Wendy Carlos (criador das trilhas de “O iluminado” e de “Tron”). O “casamento”, da trilha sonora com as imagens, é algo fora do comum, principalmente numa época em que não existiam efeitos de computador, como hoje.
O DVD latino está bem cuidado, com formato de tela em widescreen 1.85:1, áudio em inglês e francês, remasterizado para Dolby Digital 5.1, e, legendas em inglês, francês, espanhol e português. Como o disco faz parte de um pacote, onde vem um disco só com extras, junto com o filme, vem apenas trailer e premiação. Falando-se em premiações, “Laranja mecânica” teve quatro indicações para o Oscar, e, três, para o Globo de Ouro.
Um aspecto importante do filme, que passa desapercebido para a maioria dos espectadores, é a interessante discussão proposta para a auto-determinação do indivíduo. Afinal, devemos ser bons porque assim o desejamos, ou, porque a sociedade nos impõe, através das leis (ou de lavagem cerebral, como no filme)? De qualquer forma, “Laranja mecânica” será sempre um filme imperdível, fruto da genialidade do seu criador. Na opinião deste humilde cronista, está junto com “2001, uma odisséia no espaço”, e, “Nascido para matar”, como os melhores trabalhos de Stanley Kubrick. Confiram!