Claquete 21 de janeiro de 2005
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
O que está em cartaz
Férias, para que te quero… para ir ao cinema, é claro. Neste final de semana, estréiam nada menos que cinco novos títulos, que vão do infantil “Desventuras em Série”, com o camaleônico Jim Carrey, ao drama “Perto Demais”, com Julia Roberts, e, Natalie Portman, que confirma o seu talento dramático. Tem ainda o filme de ação “Elektra”, com Jennifer Garner, a comédia “Entrando Numa Fria Ainda Maior”, que tem, como maior mérito, reunir Robert de Niro, Dustin Hoffman, e, Barbra Streisand, na mesma tela, e, de quebra, o remake “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, como o acrobático Jackie Chan. Nas continuações, o polêmico “Alexandre”, de Oliver Stone, com direito a muitas batalhas e beijos, “Eliana em O Segredo dos Golfinhos”, com a apresentadora infantil Eliana, o divertido “A Lenda do Tesouro Perdido”, com Nicolas Cage, e, grande elenco, numa aventura no estilo Indiana Jones, “Doze Homens e Outro Segredo”, com George Clooney e sua turma, “Meu Tio Matou um Cara”,com Lázaro Ramos e Deborah Secco, os suspense “O Grito”, remake de um famoso filme japonês, e, “O Filho de Chucky”, o Brinquedo Assassino, na segunda geração. Para a criançada, além da maravilhosa animação “Os Incríveis”, parceria da Disney com a Pixar, campeão de audiência nos cinemas americanos, tem também o desenho animado “Bob Esponja”, da Nickelodeon, e, as produções nacionais “Tainá 2 – A Aventura Continua”, e, “Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida”. Boa diversão!
Estréia 1: “Desventuras em Série”
Os fãs da série Harry Potter, certamente já terão ouvido falar desta grife, “Desventuras em Série”, do escritor Daniel Handler. Como as aventuras do bruxinho, desventuras também narra histórias cheias de aventuras e mistérios. Klaus (Liam Aiken), Violet (Emily Browning) e Sunny (Kara Hoffman e Shelby Hoffman) são três irmãos que repentinamente recebem a notícia de que seus pais morreram em um incêndio. Como são menores de idade eles não podem ainda herdar a fortuna de seus pais, o que apenas ocorrerá quando o irmão mais velho completar 18 anos. O trio passa então a morar com o Conde Olaf (Jim Carrey), um parente distante bastante ganancioso, que deseja tomar a fortuna das crianças para si. Para atingir sua meta Olaf não medirá consequências. Para escapar das trapaças e planos maquiavélicos do conde Olaf, as crianças contam com a ajuda da tia Josephine (Meryl Streep). Bem direcionado para o público infantil, o filme tem a direção de Brad Silberling (“Cidade dos Anjos”). “Desventuras em Série” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, e, no Cine 7 do Moviecom. Censura livre. Atenção: todas as cópias são dubladas.
Estréia 2: “Elektra”
Lembram da assassina misteriosa, do filme “Demolidor – O Homem Sem Medo”? Pois bem, a gatíssima personagem, Elektra, está de volta, em um filme todo seu. Torturada pelo passado, Elektra (Jennifer Garner) é obcecada por sua morte e seu misterioso renascimento. Apesar de ter sido treinada na rígida disciplina do ninjutsu, ela não consegue controlar a fúria que sente, pela morte dos pais. Sua ânsia por vingança faz com que parta para o exílio, e, torne-se uma perigosa assassina profissional. Quando Elektra é enviada em missão para matar Mark Miller (Goran Visnjic), ela descobre que o seu alvo é um homem legal, e, que a verdadeira bandida é exatamente a sua protetora, Kirigi. Enquanto namora sua ex-vítima, protege a filha dele, Elektra luta contra sua antiga chefe. Sem gostar nada do fato de sua melhor assassina ter virado menina boazinha, protegendo os fracos e oprimidos, os chefes do clã decidem eliminar a moça. Mais uma grande atuação do veterano Terence Stamp (“Priscilla, a Rainha do Deserto”). Jennifer Garner atua na série “Alias”. Direção de Rob Bowman. “Elektra” estréia nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.
Estréia 3: “A Volta ao Mundo em 80 Dias”
Em 1956, um trio inusitado estrelou um dos melhores filmes de todos os tempos. “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, inspirada no famoso romance de Julio Verne, era levada às telas, tendo o fleugmático David Niven, o comediante Cantinflas, e, a novata Shirley MacLaine. O filme, que foi o primeiro exibido a cores em nossa televisão, conquistou cinco Oscars. Para repetir a façanha, Jackie Chan revive Passepartout, com direito às suas lutas acrobáticas. Na Inglaterra vitoriana, um excêntrico inventor, Phileas Fogg (Steve Coogan) diz a Lorde Kelvin (Jim Broadbent), o diretor da Academia Real de Ciências, que é capaz de dar a volta ao mundo em 80 dias, com a ajuda de seus companheiros Passepartout e Monique La Roche (Cécile de France). Lorde Kelvin aceita o desafio, e, com isso, o trio parte em uma aventura, que irá passar pelos cinco continentes. O filme, dirigido por Frank Coraci, conta com participações de Arnold Schwarzenegger, Owen Wilson, Kathy Bates, John Cleese, Luke Wilson, Mark Addy e Rob Schneider. Foi o último filme em que Schwarzenegger atuou, antes de ser eleito governador da Califórnia. Estréia nesta sexta-feira, no Cine 5 do Moviecom. Para maiores de dez anos.
Estréia 4: “Entrando Numa Fria Maior Ainda”
Em 2000, o filme “Entrando Numa Fria” contava a história de Greg Focker (Ben Stiller), um atrapalhado noivo, que mete-se nas maiores confusões, ao passar um simples final de semana na casa dos futuros sogros. Pelo jeito, a história agradou, pois Greg e Jack Byrnes (Robert De Niro) estão de volta, e, aparentemente, se dando muito bem. Greg e Pam (Teri Polo) estão animados, com os preparativos do casamento, mas, há ainda uma pendência a ser resolvida: os futuros sogros precisam passar um fim de semana juntos. Para resolver o problema Greg, Pam, Jack e Dina (Blythe Danner) viajam, no moderno trailer de Jack, rumo à ilha Focker, em Cocoanut Grove. Ao chegar, os Byrnes conhecem Bernie (Dustin Hoffman), e, Roz (Barbra Streisand), pais de Greg. Porém, o modo liberal como os Fockers levam a vida, entra em conflito com os rígidos valores pregados por Jack. Rara oportunidade de ver tantos talentos da velha guarda juntos. Com direção de Jay Roach, “Entrando Numa Fria Ainda Maior” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 1 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.
Estréia 5: “Perto Demais”
Anna (Julia Roberts) é uma fotógrafa bem sucedida, recém divorciada. Ela conhece, e, seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista, que ganha a vida escrevendo obituários, mas, casa-se com Larry (Clive Owen). Por sua vez, Dan mantém um caso secreto com Anna, mesmo após ela se casar, enquanto usa Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora, para ganhar confiança, e, tentar conquistar o amor de Anna. “Perto Demais” ganhou dois Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Clive Owen), e, Melhor Atriz Coadjuvante (Natalie Portman). Natalie Portman, a princesa Amídala, da série “Guerra nas Estrelas” chegou a filmar uma cena onde aparecia nua, mas, pediu ao diretor Mike Nichols (“A Primeira Noite de um Homem”) para retirá-la da edição final. Quem sabe, na edição em DVD… “Perto Demais” estréia nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.
Diga não ao piratão
Está cansado de ver a enxurrada de produtos piratas invadindo o mercado? Pois saiba que já existem órgãos sérios para combater isto. Se quiser fazer alguma reclamação, procure o Conselho Nacional Anti-Pirataria do Ministério da Justiça (http://www.mj.gov.br/pirataria/default.asp), ou, a Associação Brasileira de Empresas de Software – ABES (http://www.abes.org.br/antipirataria/), através da própria internet, ou, de telefones disponíveis nos sites.
Festival de Cinema na Internet abre inscrições
O Fluxus – Festival Internacional de Cinema na Internet, está recebendo inscrições, até o dia 23 de fevereiro, para a sua edição 2005. Poderão participar audiovisuais, produzidos em qualquer formato (vídeo, filme, dv, flash), com duração de até 15 minutos, e, que tenham sido produzidos entre 2003 e 2005, de qualquer gênero (ficção, documentários, experimentais, e, animações). O festival recebe, também, inscrições de trabalhos produzidos especialmente para a internet, como web-arte, mídia-arte, ou, sites interativos. As inscrições, e, o regulamento completo, estão disponíveis no site www.fluxusonline.com. No site, é possível, também, ver todos os trabalhos que participaram das quatro edições anteriores do festival.
Clássicos em DVD
No próximo mês, serão lançarão vários clássicos em DVD, inclusive alguns filmes inéditos, em vídeo, como “Vinhas da Ira”, de John Ford, que ganhou o Oscar de direção. Outros títulos, da Fox, são “Adeus às Armas” (com Rock Hudson e Jennifer Jones), e, “Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras”. A Continental promete, nada menos, que a versão restaurada do inesquecível “Metropolis”, de Fritz Lang, de 1927. A Playarte lançará “Rio Vermelho”, um dos grandes faroestes de Howard Hawks, enquanto a Paramount trará “Duelo de Titãs”, de John Sturges, e, “A Selva Nua”, com Charlton Heston e Eleanor Parker. É ver, para crer.
Filme recomendado: “Verão de 42”
Viagem ao verão de nossos sonhos
Um dos períodos mais confusos, na vida de qualquer pessoa, é, sem dúvida, a adolescência. É uma fase onde não somos mais meninos, mas, ainda não somos homens. Os hormônios estão em ebulição, despertando desejos, antes adormecidos, e, por isso mesmo, nebulosos. A excitação, por uma bicicleta nova, pode ser tão grande quanto a visão de uma garota bonita. E, o que dizer das fantasias, galopantes, e, ensandecidas, onde somos os primeiros, e, únicos heróis. Não sei se outros podem dizer isso, mas, para a minha adolescência, “Verão de 42” foi a materialização das fantasias que dominavam a nossa geração.
Lançado nos cinemas brasileiros com o título “Houve Uma Vez um Verão”, o filme conta a história de um verão mágico, vivido por um garoto de quinze anos, numa pequena ilha americana, durante a Segunda Guerra Mundial. Este verão significou, para Hermie, a passagem para o mundo adulto, com todas as coisas boas, e, ruins, que este pode oferecer.
Hermie era o lado intelectual do trio formado por Oscy, um garoto grandão com cérebro de azeitona, e, Benjie, o “água-me-leva-agua-me-traz”, do grupo. Juntos, exploravam a ilha, jogavam futebol, caçavam inimigos nazistas imaginários, e, espiavam as moças na praia. Se, para os amigos, qualquer coisa que usasse saias já era interessante, para Hermie, uma pessoa, em especial, era alvo de adoração.
A pessoa em questão era Dorothy, uma mulher de vinte e poucos anos, que vivia, com o marido, numa casa isolada, na praia. Hermie costumava espiar os dois, e, se a mulher era a sua musa romântica, a visão do homem despertava-lhe sentimentos antagônicos, de admiração, e, inveja. Ele era forte, bonito, era um soldado, e, acima de tudo, era o dono de Dorothy! Poderia existir alguém com maiores benefícios no mundo?
Enquanto as fantasias de Hermie ocorriam num plano onírico, as de Oscy, e, Benjie, aconteciam muito mais terra à terra. Benjie descobriu, em sua casa, um livro que falava sobre sexo, e, os amigos interessaram-se, de imediato. Uma seção do livro descrevia uma relação sexual, como se fosse uma receita de bolo, que eles copiaram cuidadosamente. Agora só faltavam as parceiras…
Na entrada do cinema, conheceram suas candidatas. Oscy, o líder, fazendo às vezes de relações públicas, escolhe logo a lourinha, Miriam. Hermie fica com a tímida Aggie, enquanto Benjie foge do encontro, como o diabo foge da cruz. A sessão de cinema mostra um confuso Hermie tentando bolinar a menina, para diversão de Oscy e Miriam.
Se com Aggie Hermie não teve tanto sucesso, o acaso fez com que se aproximasse de Dorothy. Atrapalhada com vários pacotes de supermercado, aceitou de bom grado a ajuda do garoto, para chegar em casa. Maravilhado, por estar perto de sua musa, Hermie ficou com vergonha quando encontrou os amigos na rua, retrato de sua confusa transição menino-homem.
Pouco preocupado com romantismos, Oscy quer perder a virgindade a qualquer custo. Organizando uma noitada na praia, insiste com Hermie para que este compre camisinhas, o que proporciona uma das seqüências mais divertidas do filme. Enfim, equipados com preservativos, e, com a fantástica receita, copiada do livro, os garotos partem para sua noite memorável, que termina sendo a realização de Oscy.
O destino, novamente, conspirará a favor de Hermie. Todo enfatiotado, resolve visitar Dorothy, numa noite. Ao chegar, estranha encontrar a casa silenciosa, e, deserta. Enquanto um disco gira, sem som, na vitrola, um telegrama chama a atenção do rapaz: o marido de Dorothy morrera no front. Sua musa aparece, aturdida, e, confusa, tentando, ela mesma, entender o que acontecia. Neste clima confuso, acontecerá a tão fantasiada primeira vez de Hermie.
A trama simples do filme não deve desestimular quem ainda não o assistiu. A história é conduzida com muita delicadeza, e, humor, como se víssemos tudo pela ótica de Hermie. As confusões, e, os sentimentos, que povoam a cabeça do jovem, certamente serão reconhecidas, por quem viveu a adolescência numa época em que a permissividade era totalmente diversa do que ocorre nos dias de hoje.
Mais ainda, num ambiente onde, ser macho, era freqüentar um cabaré, era doloroso, para alguém, mais romântico, ou, mais sensível, a dissociação de sexo e amor. Se, por um lado, os novos tempos permitem que os jovens casais tenham uma vida sexual ativa, por outro lado, a banalização do erotismo, e, a instabilidade dos relacionamentos, fazem a balança pender, para o outro lado. Talvez, o Hermie, de hoje, esteja tão confuso, e, perdido, quanto o do filme.
“Verão de 42” é uma pérola escondida numa ostra encardida. Com um roteiro simples, mas, bem elaborado, atores desconhecidos, locações singelas, e, a bela música de Michel Legrand, o diretor Robert Mulligan construiu um clássico do romantismo cinematográfico. Para ter um termo de comparação, o péssimo “American Pie” versou, sobre o mesmo tema, com um gosto duvidoso…
A seleção do elenco chama a atenção. A não ser pela bela Jennifer O’Neill, todos têm o aspecto de pessoas comuns. Quero dizer, se compararmos com “Malhação”, ou, qualquer filme para adolescentes americanos, todos são estéticamente perfeitos, recém-saídos de academias, ou, salões de beleza. Não é o caso de Hermie, Oscy, Aggie, Miriam, e, Benjie, que são pessoas normais, nem bonitos, nem feios, apenas, adolescentes.
O sucesso do filme, porém, parece ter sido entrave para seus participantes. Uma continuação foi feita (“Class of ’44”), mas, além de ter sido mal recebida pelo público americano, não passou em nossos cinemas. Nenhum dos personagens principais fez novos papéis importantes. Jennifer O’Neill (que nasceu no Rio de Janeiro) continuou atuando, na TV americana. Jerry Houser, o Oscy, especializou-se em dublagens, inclusive a do Ban-Ban (não o do Big Brother, mas, sim, do filho adotivo de Barney e Beth Rubble) da série Flinstone.
A edição latina de “Verão de 42”, se não foi excepcional, ao menos, não foi mutilada, como tantas outras. O formato de tela foi mantido em widescreen original, e, o áudio, veio em inglês e francês (mono, infelizmente). Nada de extras, também.
Costumo sempre dizer que, o filme que emociona, é o que nos faz identificar, seja com o ambiente, seja com os personagens. Se isso já ocorreu comigo, na época em que assisti, no saudoso Cine Avenida, lá em Santa Rita, quando tinha a mesma idade de Hermie, trouxe agora não só as lembranças do personagens, mas as minhas próprias. Independente disso, considero “Verão de 42” um dos filmes mais românticos do cinema americano. Se você não se importar de reviver o seu lado adolescente, curta o filme, pois não há pieguices, ou, falsos moralismos. Apenas um filme muito, muito bonito. Experimentem.