Claquete 04 de março de 2005

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Apesar da emoção, não houve muita surpresa nos resultados do Oscar. “Menina de Ouro” arrebatou quatro prêmios, deixando Scorsese, mais uma vez, a ver navios… Nas estréias da semana, “O Vôo da Fênix”, aventura estrelada por Dennis Quaid, e, “Ladrão de Diamantes”, policial com Pierce Brosnan, ex-007, e, a linda Salma Hayek. Nas continuações, “Menina de Ouro”, Oscars de Melhor Filme, Direção, Atriz e Coadjuvante, dirigido e estrelado pelo ótimo Clint Eastwood, “O Aviador”, de Martin Scorsese, Atriz Coadjuvante (Cate Blachet), Direção de Arte, Fotografia, Figurino, e, Montagem, e, “Mar Adentro”, Melhor Filme Estrangeiro. De resto, as comédias “Hitch – Conselheiro Amoroso” (veja a resenha, nesta edição), com Will Smith, dando uma de Cupido, o besteirol “Entrando Numa Fria Ainda Maior”, com Robert de Niro, Dustin Hoffman, e, Barbra Streisand, e, o surpreendente “Em Busca da Terra do Nunca”, drama estrelado por Johnny Depp, que vive o criador de Peter Pan. Para a gurizada, sobrou “Eliana em O Segredo dos Golfinhos”, com a apresentadora infantil Eliana, e, “Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida”. A sessão Filme de Arte do Cine Natal 1, traz a produção americana “Spartan”.


Estréia 1: “Ladrão de Diamantes”

Após um bem sucedido roubo, Max Burdett (Pierce Brosnan) decide deixar o mundo do crime, e, aproveitar a vida em uma paradisíaca ilha, ao lado de sua namorada Lola (Salma Hayek). Porém Stanley P. Lloyd (Woody Harrelson), um agente do FBI que persegue Max há muito tempo, parte também para a ilha, na intenção de assegurar que Max irá cumprir a promessa, de encerrar sua carreira criminosa. Só que, logo depois, Max e Stanley iniciam um novo jogo de gato e rato. O ex-James Bond repete, aqui, o papel que viveu em “Thomas Crown – A Arte do Crime”, o do ladrão refinado e cínico. Uma canção brasileira, “Agora Só Falta Você”, composta por Rita Lee e Luiz Sérgio, aparece no filme, na voz de Maria Rita. A direção é de Brett Ratner, o mesmo dos dois “A Hora do Rush”. “Ladrão de Diamantes” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, no Cine 7 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.

Estréia 2: “O Vôo da Fênix”

Frank Towns (Dennis Quaid) é um piloto de aviões de carga que, juntamente com seu co-piloto A.J. (Tyrese), é enviado para a Mongólia. A dupla tem como missão retirar do local uma equipe de exploração petrolífera, já que o projeto fora interrompido. Pouco após a decolagem, do vôo de volta, sobrevoando o deserto de Góbi, o avião enfrenta uma forte tempestade de areia, que arranca suas antenas, e, destrói um dos dois motores. O avião sofre uma pane geral, e, Frank é obrigado a realizar uma aterrissagem forçada, em pleno deserto. Com o avião avariado, sem chances de conserto, e, sem comunicação, os onze sobreviventes vêem-se presos, no deserto, com pouca água e comida, e, para piorar, cercados de salteadores. Por fim, um dos passageiros, Elliott (Giovanni Ribisi), propõe uma idéia louca: construir um novo avião, com os destroços do primeiro. A proposta é rechaçada por todos, de imediato, mas, com a situação se tornando cada vez mais crítica, eles decidem arriscar e levar o plano adiante. A direção é de John Moore. “O Vôo da Fênix” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.

“Jornada da Alma”: Jung, em DVD

A história do amor proibido entre o famoso psicanalista Carl Gustav Jung e Sabina Spielrein chega às telas, em “Jornada da Alma”, do diretor Roberto Faenza. Em 1905, Sabina (Emilia Fox), uma jovem russa, de 19 anos, que sofre de histeria, recebe tratamento em um hospital psiquiátrico de Zurique, na Suíça. Seu médico, o jovem Carl Gustav Jung (Iain Glen), aproveita o caso para aplicar, pela primeira vez, as teorias do mestre Sigmund Freud. A cura de Sabina vem acompanhada de um relacionamento amoroso com Jung. Após alguns anos, ela volta à Rússia, tornando-se também psicanalista, e, montando a primeira creche, que usa noções de psicanálise para crianças. Em 1942, é morta pelos nazistas. Décadas após sua morte, ela tem sua trajetória resgatada por dois pesquisadores. Breve, nas locadoras.

“Os Incríveis”, em DVD

Parece até coisa do Flecha, o filho rapidinho da família Incrível: mal o filme saiu de cartaz, nos cinemas, e, já está sendo anunciada a venda, em DVD. É, a turma tem que se apressar, porque senão, a pirataria chega na frente… Além da divertida história da família de super-heróis, que ganhou dois Oscars, neste último domingo, a edição dupla de “Os Incríveis”, traz uma porção de extras: Curta Animado: “Pular”, Cenas inéditas, Comentários dos animadores, diretor e produtor, Entrevista com personagens, O Ataque do Zezé, Incríveis erros, Making of, Making of de “Pular”, Top Secret – Arquivos dos super-heróis, Sr. Incrível e Companheiros – História curta comentada pelos próprios personagens, Criando humanos, Criando extras, e, Trailer do próximo lançamento Disney/Pixar: “Carros”. Com entrega para início de abril, o filme já está em pré-venda, em vários sites da internet.

Filme de Arte: “Spartan”

A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, traz a produção americana “Spartan”. Militar de longa carreira em operações secretas, Robert Scott (Val Kilmer) é convocado para encontrar Laura Newton (Kristen Bell), filha desaparecida de um funcionário do alto escalão governamental. Robert passa a ter como parceiro o novato Curtis (Derek Luke). Trabalhando com o apoio do FBI, e, da CIA, a dupla descobre uma rede de exploração de trabalho escravo, possivelmente relacionada com o desaparecimento da moça. As investigações são subitamente interrompidas quando a morte de Laura é divulgada, em uma situação completamente diferente da investigada. Mas, Curtis não se dá por satisfeito e convence o colega de que eles devem seguir por conta própria. O filme, dirigido por David Mamet (“O Assalto”), foge do lugar-comum dos filmes de ação. “Spartan” terá sessão única, às 21h do dia 8, terça-feira, no Cine Natal 1. Para maiores de 14 anos.

“TV Pirata”, em DVD

Nos idos de 1988, um programa mudava o perfil do humorismo na televisão. “TV Pirata”, com um elenco estelar, revolucionou o humor das telinhas, deixando de focar na figura de um único comediante, para privilegiar a inteligência das paródias. Entre as que foram resgatadas, estão Fogo no Rabo, Tela Morna e TV Macho, com Antonio Callón, Cláudia Raia, Débora Bloch, Denise Fraga, Guilherme Karan, Luiz Fernando Guimarães, Marco Nanini, Marisa Orth e Regina Case. “TV Pirata” será lançado em edição dupla, com oito episódios. Quem estiver ansioso para ter a sua cópia, já pode comprar, através da pré-venda, em vários sites na internet.

Filme recomendado: “Hitch – Conselheiro Amoroso”

As aventuras e desventuras dos românticos sonhadores, em busca da verdade

Um dos aspectos mais fascinantes do cinema, é a possibilidade de transmitir mensagens, de forma clara, explícita, ou, de um jeito quase imperceptível, escondido nas filigranas de um filme aparentemente superficial. Uma comédia romântica, bobinha, mesmo, como “Hitch – Conselheiro Amoroso”, pode esconder algumas mensagens interessantes, desde que estejamos com o espírito aberto. Essa, talvez, seja uma das razões do enorme sucesso do filme, alcançando o primeiro lugar nas bilheterias brasileiras, logo na semana de estréia.

Já dizia o imortal Jorge Amado, em sua obra-prima “Os Velhos Marinheiros”, que a verdade está nua, no fundo de um poço. Na minha humilde visão, nosso genial escritor talvez estivesse querendo mostrar, com esta bela e poética imagem, a dificuldade de se encontrar e entender o que é a verdade. Essa dificuldade existe, e, sempre existirá, assim com uma eterna busca pelo verdadeiro, que é o ponto em comum entre os três principais personagens de “Hitch”.

O personagem título, Alex Hitchens (Will Smith), mais conhecido como Hitch, tem uma profissão especializadíssima. Ele ajuda homens tímidos, com dificuldades de relacionamentos, a se aproximar das mulheres que amam, corrigindo os erros, sugerindo gestos, facilitando os encontros, etc.. Muito bem sucedido no que faz, Hitch é discreto, anônimo, quase uma identidade secreta, embora seu nome seja uma lenda, em Nova York.

O cliente da vez, Albert (Kevin James) é um humilde e atrapalhado contador, que tem tudo contra si, para conquistar uma mulher. Gordo, tímido, e, desajeitado, apaixonou-se por uma mulher aparentemente inalcançável: Allegra Cole (Amber Valetta), uma bonita milionária, para quem a empresa em que Albert trabalha fornece consultoria econômica.

A outra ponta do triângulo é Sara Melas (Eva Mendes), uma bela (lógico), e, incansável jornalista, que trabalha em um tablóide especializado em fofocas sobre as celebridades. Bonita, inteligente, e, independente, Sara é o estereótipo da mulher bem sucedida, embora fuja de relacionamentos amorosos como o diabo foge da cruz.

O destino põe todos em contato a partir do momento em que Albert, graças aos conselhos de Hitch, consegue aproximar-se de Allegra. A imagem do gordinho desconhecido, ao lado de uma colunável, desperta a atenção de Sara, que começa a investigar o anônimo consultor amoroso.

Sem saberem nada um do outro, Hitch e Sara conhecem-se, em um bar, iniciando um flerte nada convencional, misturando passeios de jet ski, bisavô criminoso, um galo na cabeça, e, uma camisa seqüestrada. Mesmo que não admitam, há uma atração mútua, que, mesmo a revelação da identidade de Hitch não consegue quebrar. Os acontecimentos, porém, precipitam-se, quando uma reportagem é publicada, baseada em um pretenso cliente de Hitch.

O desenrolar da história só será conseguido, graças à busca da verdade, tão decantada por todos os personagens, mas que, como um caleidoscópio, apresenta uma face diferente para cada um deles. Não se desesperem, queridos leitores. Como toda comédia romântica, tudo acabará bem… Afinal de contas, estamos em Hollywood, não?

Mas, voltando à vaca fria, digo, à busca da verdade, esta parece ser o valor maior de todos os personagens, embora seja contraditório, haja vista a profissão de cada um. Confuso? Vejamos.

Hitch, é um consultor, um profissional que ajuda um terceiro a conseguir os seus objetivos. Numa sociedade onde os fins justificam os meios, Hitch é uma exceção. Ele só atende a quem realmente deseja ficar com a mulher amada. Não lugar para “conquistar, transar, e, partir”. Clientes assim, são desprezados por Hitch. Para ele, só interessa ajudar a conquistar um grande amor, coisa que ele mesmo, no passado, não conseguiu.

Albert é um contador, profissão que é tema de piadas, pela versatilidade com que os balanços podem ser feitos, dando qualquer resultado. Mas, o nosso contador é um homem íntegro, o tempo todo preocupado em revelar o seu verdadeiro eu, para a mulher amada.

E, finalmente, Sara. A nossa brava jornalista trabalha em uma revista sobre celebridades, tradicionalmente mais voltada para a exploração de escândalos, não importando muito a origem, ou, a veracidade das fontes. Mas, Sara é uma profissional dedicada, que acha que a sua missão é revelar os fatos para o público, doa em quem doer.

Todos os estereótipos estão presentes, no filme, como o chefe carrasco, a mocinha ingênua, e, o conquistador cafajeste. Este, para regozijo dos praticantes de Aikido, serviu para Hitch mostrar suas habilidades na arte, aplicando-lhe um belo nikkio, quando começou a mostrar-se incoveniente.

E, onde está a verdade, afinal? No fundo poço, de Jorge Amado. Talvez seja mais provável que esteja dentro de cada um, escondida atrás de barreiras que erguemos, impostas por uma sociedade hipócrita, que vive de aparências, comendo galinha e arrotando peru, cujo maior discurso é o “sabe com quem está falando?”.

Mas, verdades e mentiras, à parte, “Hitch – Conselheiro Amoroso”, é um filme equilibrado, onde a química entre os casais centrais funciona, com perfeição. Will Smith mostra um amadurecimento como ator, muito mais exigido num filme deste tipo, do que nos MIBs ou Independence Day.

O filme, além de mostrar uma história deliciosamente improvável, mas, muito romântica, exibe diversos cartões postais de Nova York, num retorno à sua condição de capital do mundo, imagem brutalmente atingida com os ataques de 11 de Setembro.

É possível que o espectador não concorde com o que foi falado aqui, que tenha uma outra percepção do filme, e, nem mesmo, acredite ter alguma mensagem nele. Mas, seguramente, todos irão concordar que esta deliciosa bobagem é um ótimo passatempo, e, certamente mexerá no romântico escondido dentro de cada um. No fundo do poço, talvez, mas que está lá. Boa diversão!