Claquete 11 de março de 2005

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Esta semana, as estréias vêm do outro mundo. O mais esperado, “Constantine”, traz Keanu Reeves, ainda na ressaca de “Matrix”, correndo atrás de anjos e demônios, com uma arma de cruz. Menos emocionante, mas, cheio de sustos, tem Michael Keaton em “Vozes do Além”. Continuam em cartaz, “Menina de Ouro”, drama dirigido e estrelado por Clint Eastwood, que levou quatro Oscars, “O Vôo da Fênix”, aventura estrelada por Dennis Quaid, “Ladrão de Diamantes”, policial com Pierce Brosnan, ex-007, e, a linda Salma Hayek, “O Aviador”, de Martin Scorsese, sobre a vida do lendário Howard Hughes, o suspense “O Amigo Oculto”, com Robert de Niro, a comédia “Hitch – Conselheiro Amoroso”, com Will Smith, dando uma de Cupido, “Eliana em O Segredo dos Golfinhos”, com a apresentadora infantil Eliana, e, “Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida”. A sessão Filme de Arte do Cine Natal 1, traz a produção “Os Sonhadores”, do genial Bertolucci.

Estréia 1: “Constantine”

John Constantine (Keanu Reeves) é um experiente ocultista e exorcista, que, literalmente, chegou ao inferno. Juntamente com Angela Dodson (Rachel Weisz), uma policial cética, ele investiga o misterioso assassinato da irmã gêmea dela, Isabel. As investigações levam a dupla a um mundo sombrio, paralelo à Los Angeles moderna, em que precisam lidar com demônios e anjos malvados. Constantine cruza as ruas de Los Angeles atrás de qualquer coisa que comprometa o equilíbrio das duas “superpotências originais”, o Céu e o Inferno. Desde o início da humanidade, Deus e o Diabo mantêm um pacto: podem influenciar o livre-arbítrio das pessoas, tentando levar suas almas para um dos dois planos. O filme é baseado nos quadrinhos Hellblazer, da DC/Vertigo. O título foi mudado para “Constantine”, pela semelhança do nome da revista com “Hellraiser”. A direção é de Francis Lawrence. “Constantine” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, nos Cines 6 e 7, do Moviecom. Para maiores de 14 anos.

Estréia 2: “Vozes do Além”

EVP (Eletronic Voice Phenomena) é o fenômeno que diz que, caso um rádio esteja mal sintonizado, pode-se ouvir vozes do além, sendo que, caso isto ocorra com uma TV, pode-se ver rostos de pessoas já falecidas. Jonathan Rivers (Michael Keaton) é um arquiteto que enviuvou há pouco tempo, com sua esposa tendo falecido de forma misteriosa. Quando lhe é oferecida a oportunidade de entrar em contato com ela, usando o método do EVP, Jonathan inicialmente recusa mas, esperançoso com a possibilidade de reencontrá-la, acaba aceitando. O que ele não contava era que a situação fugisse do seu controle. A direção é de Geoffrey Sax. “Vozes do Além” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 1 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.

Inscrições abertas para o Festival do Minuto São Paulo

Até o dia 20 de maio, estão abertas as inscrições para o Festival do Minuto São Paulo, para produções em diversos meios, com duração máxima de 60 segundos, créditos inclusive. Podem ser enviados trabalhos realizados em qualquer tipo de equipamento que produza imagens em movimento: câmeras de vídeo, câmeras fotográficas digitais (seqüências de fotos), ou, até mesmo, animações em formato Flash, feitas em computador. Para inscrição, os trabalhos poderão ser entregues em fita de vídeo VHS, miniDV, ou, ainda, em CD, para as produções em Flash. Regulamentos, ficha de inscrição, e, melhores informações, podem ser obtidas diretamente no site do festival: www.festivaldominuto.com.br.

Inscrições abertas para o Festival de Curtas de Belo Horizonte

já está aberto o período de inscrição para o 7º Festival Internacional de Curtas-metragens de Belo Horizonte, que estará ocorrendo entre os dias 21 e 31 de julho. A inscrição é gratuita e pode ser feita até o dia 15 de abril, pelo site www.festivaldecurtasbh.com.br. Apenas poderão ser inscritos curtas-metragens produzidos entre abril de 2003 e março de 2005, sendo que a duração máxima é de 30 minutos. Quatro gêneros farão parte da mostra deste ano: animação, ficção, documentário e experimental.

Morre Zilka Salaberry, a eterna Dona Benta

Morreu, na madrugada de ontem, no Rio de Janeiro, a atriz Zilka Salaberry, de 87 anos. Apesar de ter feito inúmeros trabalhos no cinema, e, na televisão, Zilka marcou definitivamente a sua imagem com uma inesquecível Dona Benta, personagem criada por Monteiro Lobato, em seus livros sobre o Sitio do Picapau Amarelo. Formada em economia, a carioca Zilka Salaberry de Carvalho exerceu a profissão por apenas quatro dias. Vinda de três gerações de atores, o palco tornou-se o caminho natural. Em 1936, fez seu primeiro trabalho profissional, como atriz, no filme “Cidade-Mulher”, de Humberto Mauro. Sua estréia na TV foi em 1957, com a novela “A canção de Bernadete”. Além do “Sítio”, Zilka participou de várias novelas, como “Irmãos Coragem”, “O Casarão”, e, “O Bem-Amado”. Seu último papel, na TV, foi, em 2002, na novela “Esperança”. No mesmo ano, ela fez uma participação no filme “Xuxa e os Duendes 2”.

Filme de Arte: “Os Sonhadores”

A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, traz a produção de Bernardo Bertolucci “Os Sonhadores”. O ano de 1968 mudou o mundo, para sempre. Enquanto o movimento hippie pregava o amor livre, os estudantes, do mundo inteiro, protestavam, contra a Guerra Fria, a guerra do Vietnã, e, contra o próprio modelo estudantil, arcaico e arraigado às velhas tradições. A França explodiu, numa rebelião sem precedentes. É esse cenário, em polvorosa, que Matthew (Michael Pitt) encontra, quando sai dos Estados Unidos, para estudar em Paris. Lá, ele conhece os irmãos gêmeos Isabelle (Eva Green), e, Theo (Louis Garrel), que vivem uma relação incestuosa. Os três tornam-se amigos, dividindo experiências, e, relacionamentos, enquanto Paris vive a efervescência da revolução estudantil. Intrigante e provocante, como a maioria das obras de Bertolucci, o filme divide opiniões, que vão da paixão à ojeriza total. “Os Sonhadores” terá sessão única, às 21h10 do dia 15, terça-feira, no Cine Natal 1. Para maiores de 16 anos.

Buñuel e Dali, em DVD

Dois marcos do cinema surrealista chegam agora, em DVD, para a alegria dos estudiosos de cinema. O primeiro é “Um Cão Andaluz”, curta-metragem de estréia de Luis Buñuel, como diretor e ator. O roteiro foi co-escrito por Salvador Dalí. À luz da psicanálise, Buñuel e Dalí exploram o inconsciente humano, numa seqüência de cenas oníricas, incluindo o célebre momento em que um homem corta, com uma navalha, o olho de uma mulher. O outro filme é “A Idade do Ouro”, onde, em pouco mais de uma hora, Buñuel e Dalí criam imagens surrealistas, que visam libertar o homem das amarras impostas pelo moralismo da sociedade, e, suas instituições. Um sonho polêmico, que chegou a ser proibido em diversos países, na época de seu lançamento. No elenco, destaque para o artista plástico Max Ernst. Além dos filmes, o disco traz, como extras, Depoimentos; O Movimento Surrealista; Galeria de Quadros & Imagens; Biografia de Salvador Dali; Vida e Obra de Buñuel.

Máquinas Voadoras, em DVD

Um filme que marcou a Sessão da Tarde, dezenas de vezes, chega agora, em DVD, para satisfação dos saudosistas. “Estes Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras”, deliciosa comédia de 1965, foi lançado na versão digital. Visão hilária, de uma histórica corrida aérea, de Londres a Paris, em 1910, reúne os maiores aviadores de todo o mundo. Quando um editor jornalístico, pedante, mas, muito rico, decide patrocinar uma corrida aérea através do Canal da Mancha, oferecendo o prêmio de 10 mil libras ao vencedor, aparecem candidatos de todos os lados. As proezas das equipes americana, britânica, francesa, alemã, italiana, e, japonesa, dão origem às mais ousadas e hilárias acrobacias aéreas já registradas em filme. Embora não traga extras, foi mantido o formato de tela original, em widescreen anamórfico.

Filme recomendado: “Shaft”

O retorno da Fênix Negra

Hollywood costuma imitar a lendária ave Fênix, que renascia das próprias cinzas, refilmando grandes sucessos com estrelas do momento. Dificilmente a cópia supera o original, mas, a fama das estrelas já garante uma boa bilheteria. Normalmente, estas refilmagens garantem o sucesso nas bilheterias por conta dos efeitos especiais, e, de uma forte campanha publicitária. Já filmes como “Sintonia de Amor”, e, “Além da Eternidade”, conseguem ser mais que simples cópias, e, usam as referências a grandes filmes, e, músicas do passado, para tornarem-se clássicos per si. E, o que dizer de “Shaft”, um filme policial dos anos 70, onde não cabem efeitos especiais, ou, tramas românticos?

Para quem não lembra, Shaft era um detetive negro, violento e corajoso, que combatia bandidos, policiais corruptos, e, reacionários racistas, no maior sucesso do cinema policial negro, que consagrou atores como Richard Roundtree, e, Fred Willianson. O filme “Shaft” foi lançado em 1971, com duas continuações, sempre com Roundtree no papel-título.

Como refazer um filme que refletia, antes de tudo, a intensa confrontação racial que agitou os Estados Unidos nos anos setenta (lembram do atleta negro, com o punho erguido, e, fechado, na Olimpíada de Munique em 1972)? Não que haja menos racismo hoje, pelo contrário, a desigualdade social, e, a amoralidade dos ricos, ficaram muito mais intensas, no nosso mundo globalizado. E, é aí que a nova versão de Shaft se apóia. Os vilões são o jovem herdeiro de um milonário, e, como não podia deixar de ser, um traficante latino.

A escolha do novo Shaft é que deve ter sido uma escolha delicada. Hoje existem ótimos atores negros, como Denzel Washington, Wesley Snipes, ou, Will Smith, mas todos tem uma “cara” muito atual. Para Shaft, era necessário alguém que parecesse anos 70, sem ser muito velho. Foi natural a escolha por Samuel L. Jackson que conseguiu parecer uma pessoa de trinta e poucos anos, mesmo tendo 52 (ele é de 1948).

A história em si não difere de tantos outros policiais que estamos acostumados: um jovem negro é brutalmente assassinado por Wade, um jovem rico e branco, que consegue fugir da ação da justiça. O policial John Shaft, sobrinho do Shaft original (vivido pelo mesmo Richard Roundtree), lança-se numa cruzada pessoal, para prender, e, levar a julgamento, o assassino.

Por conta de suas atitudes intempestivas, e, seu senso de justiça exacerbado, Shaft sai da elitizada Divisão de Homicídios, e, vai amargar batidas na Divisão de Narcóticos. É lá que trava contato com Peoples, chefe de uma quadrilha dominicana de tráfico de drogas.

Por uma coincidência, Peoples, e, Wade vão parar na mesma cela, onde travam conhecimento, por conta do inimigo comum. Quando Wade ganha liberdade condicional, Shaft se afasta da polícia, para procurar por conta própria a testemunha que poderá incriminar Wade. Este usa o traficante dominicano para encontrar, e, eliminar a testemunha antes de Shaft, que agora só conta com os amigos, entre eles a detetive Vasquez, vivida pela linda Vanessa Willians.

A nova versão de Shaft tem o grande mérito de ter conservado o espírito do filme policial negro dos anos setenta. Muita ação, tiros, e, perseguições de carro, mas, com personagens humanos, sujeitos a fraquezas e virtudes, inerentes de qualquer pessoa. Aqui não existem super-heróis angelicais, acima do bem e do mal. O próprio Shaft é impulsivo, violento e vingativo, mas, dotado de um senso de justiça, e, de indignação, que o torna muito próximo a qualquer um de nós.

A edição latina em DVD vem com formato de tela Widescreen, áudio em inglês DD 5.1, português e espanhol (estéreo), legendas em português, espanhol e inglês. Como extras, treze minutos de entrevistas com atores e produção, Making Of com dezesseis minutos, ambos legendados. Além disso, existem dois clipes musicais, um deles com a trilha do “Shaft” original, composta por Isaac Hayes. Aliás, falando de música negra americana, sou mais os metais dos anos setenta do que a monotonia do rapper atual.

A versão moderna de “Shaft” traz uma boa oportunidade de conhecer uma visão diferente do filme policial americano, trazida para os dias de hoje, longe da Guerra Fria e dos grandes embates pelos direitos civis, dos anos 70. Mas, deve ser interessante uma sessão dupla, com os dois filmes, já que ambos estão disponíveis, em DVD. Boa diversão!