Claquete 27 de maio de 2005

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Enquanto Cavaleiros Jedi e Sith lutam de um lado, e, mouros e cruzados de outro, sobram poucas estréias para os cinéfilos. Pelo menos, chega um título para as crianças, que estavam sem nenhuma opção: “Pooh e o Efalante”, produção dos Estúdios Disney com o simpático Ursinho Pooh (ex-Puff, não me perguntem porque…). A outra estréia é o drama nacional “Quase Dois Irmãos”, que reconta a história política brasileira dos últimos cinqüenta anos. Nas continuações, soberano, “Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith”, sobre o surgimento do maior vilão depois da Madrasta da Branca de Neve. Permanecem em cartaz o épico “Cruzada”, de Ridley Scott, estrelado pelo ex-elfo Orlando Bloom, o ótimo suspense “A Intéprete”, com a linda Nicole Kidman, às voltas com uma trama de assassinato em plena ONU, o terror sino-tailandês “Visões”, com Eugenia Yuan e Philip Kwok, e, “Sahara”, aventura no estilo Indiana Jones, com Matthew McConaughey e Penélope Cruz. Ainda resistindo, com apenas uma sessão no final de semana, “O Filho do Máskara”. Na sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, a produção francesa “Nathalie X”.

Estréia 1: “Pooh e o Efalante”

Despertados por um ruído estranho, que apenas poderia ter sido produzido pelo temível, e, misterioso Efalante, os moradores do Bosque dos Cem Acres decidem sair em sua caça. Deixado para trás, por ser jovem demais, Guru decide iniciar a procura do Efalante por conta própria. Guru tem mais sorte que os amigos, e, encontra um divertido Efalante chamado Bolota, que nada tem a ver com a má fama que a espécie possui. Bolota também tem medo dos outros animais, mas, logo cria uma forte amizade com Guru. Juntos, eles decidem convencer os demais que não há nada de perigoso com os Efalantes. Mais uma aventura do Ursinho Pooh (o que terá acontecido com o nome Puff?) e sua turma, originalmente planejada, pelos Estúdios Disney, para sair direto em vídeo. “Pooh e o Efalante” apresenta quatro canções originais da cantora Carly Simon. E, para quem acha que Pooh é coisa nova, as primeiras histórias do simpático ursinho saíram em 1926, escritas por A A Milne. “Pooh e o Efalante” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 5 do Moviecom. Censura livre. Cópia dublada.

Estréia 2: “Quase Dois Irmãos”

Nos anos 70, quando o país vivia sob a ditadura militar, muitos presos políticos foram levados para a Penitenciária da Ilha Grande, na costa do Rio de Janeiro. Da mesma forma que assaltantes de bancos, os presos políticos eram tratados como criminosos comuns. O encontro entre esses dois mundos é parte importante da história da violência que o Brasil enfrenta hoje. “Quase Dois Irmãos” mostra como essa relação se desenvolveu, e, o conflito estabelecido entre eles. Entre o conflito e o aprendizado, nasceu o Comando Vermelho, que mais tarde passou a dominar o tráfico de drogas. Através de dois personagens, Miguel, um jovem intelectual de classe média preso político na Ilha Grande, hoje, deputado federal, e, Jorge, filho de um sambista, que de pequenos assaltos se transformou num dos líderes do Comando Vermelho, o filme tem como pano de fundo a história política do Brasil nos últimos 50 anos, contada também através da música popular, o ponto de ligação entre esses dois mundos. Hoje, começa um novo ciclo: Miguel tem uma filha adolescente, que fascinada pelas favelas e pela transgressão, se envolve com um jovem traficante. Dirigido por Lucia Murat, o filme ganhou diversos prêmios, inclusive o de Melhor Filme do Público, do Festival Brasileiro de Paris 2005. “Quase Dois Irmãos” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.

“Bambi”, em DVD

Um dos desenhos clássicos da Disney, que ainda não tinha chegado ao mercado de DVD, foi lançado agora, numa edição primorosa, com a imagem e som restaurados, e, diversos extras, inclusive sobre o trabalho de recuperação do filme. Utilizando técnicas mais avançadas, a equipe de especialistas em produção, digitalização e animação contribuíram com mais de 9.600 horas de trabalho e retocaram mais de 110.000 quadros do filme com as próprias mãos. A nova edição, com dois discos, apresenta áudio remixado com o padrão 5.1 Disney Enhanced Home Theater Mix em português, inglês e espanhol. Entre os extras, Curta animado, Cenas inéditas, Jogos e atividades, Conceitos de arte, Esboços da história, e, Trailer original do cinema. A história, por demais conhecida, mostra o nascimento, juventude e maturidade do jovem Bambi e seus amigos da floresta, aprendendo sobre o amor e a vida, além de enfrentar a perda e a morte, causadas pela destruição do Homem. O filme original é de 1942. À venda, nas lojas e hipermercados.

Filme de Arte: “Nathalie X”

A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, traz esta semana a produção francesa “Nathalie X”. Catherine (Fanny Ardant) é uma bela mulher que parece ter tudo na vida: uma carreira de sucesso, e, um sólido casamento de 25 anos. Um dia, ela descobre que Bernard (Gérard Depardieu), seu marido, está tendo um caso. O mundo de Catherine desmorona, e, ela percebe que está levando uma vida de aparências. Decide, então, contratar uma prostituta, para seduzir o marido, e, descobrir tudo sobre ele: quem ele realmente é, porque a está traindo, e, suas preferências sexuais. Sob o pseudônimo de Nathalie (Emanuelle Béart), a prostituta seduz Bernard, e, envia boletins regularmente para sua esposa. Mas, Catherine logo começa a desconfiar que talvez não seja a única a manipular a situação. Este filme traz três dos mais importantes atores franceses da atualidade, sob a direção de Anne Fontaine. “Nathalie X” terá sessão única, às 21h do dia 31 terça-feira, no Cine Natal 1. Para maiores de 16 anos.

Darth Vader assalta cinema

A vida imita a arte. Darth Vader, quem diria, deixou o comando das Forças Imperiais, para assaltar a bilheteria de um cinema. O fato aconteceu em Springfield (nada a ver com os Simpsons), no estado de Illinois. Um homem, fantasiado de Darth Vader, empurrou o funcionário do cinema, e, roubou o dinheiro que havia na bilheteria, fugindo a pé. Não foi revelado o montante do roubo, ou, o paradeiro do assaltante. Imagina-se que tenha usado a Força, já que não portava arma nenhuma.

“Anjos do Inferno”, em DVD

Quem assistiu “O Aviador”, estrelado por Leonardo DiCaprio, viu, no início do filme, o jovem milionário Howard Hughes pilotando aviões, e, dirigindo um filme sobre a Primeira Guerra Mundial. O filme, “Anjos do Inferno” (“Hell’s Angels”) levou anos para ficar pronto, devido ao obsessivo perfeccionismo de Hughes, custando milhões de dólares, tornando-se o filme mais caro da época, até o seu lançamento, em 1930. Quando já estava pronta a primeira versão, foi lançado o cinema sonoro, o que fez que Hughes refizesse todo o filme, para incluir os efeitos sonoros. O filme é sobre dois irmãos, Roy e Monte Rutledge, que alistam-se na RAF, ao começar a Primeira Guerra Mundial. Os dois se voluntariam para uma difícil missão de bombardeio, cujo objetivo é destruir um quartel de armazenamento de armas alemão e retornar a salvo. Mas, quando uma frota de aviões alemães chega para confrontá-los em combate, escapar com vida será uma missão quase impossível… O lançamento em DVD é da cearense Classicline, e, deverá chegar às prateleiras nos próximos dias.

Cinema BR em Movimento

Na segunda etapa do programa BR em Movimento, será exibido o filme “Língua – Vidas em Português”. O Cinema BR em Movimento – patrocinado pela Petrobrás Distribuidora, dentro do programa Petrobras Cultural, é o maior circuito não-formal de exibição gratuita de filmes brasileiros de toda América Latina. O filme “Língua – Vidas em Português”, de Victor Lopes, retrata o cotidiano de 200 milhões de pessoas, de seis diferentes países, que falam a Língua Portuguesa, realizando negócios, escrevendo poemas, brigando no trânsito, ou, declarando seus amores. Filmado em Portugal, Moçambique, Índia, Brasil, França e Japão, o longa-metragem faz um mergulho nas histórias em torno dos povos que falam a Língua Portuguesa, e, na sua resistência a culturas de diferentes países do mundo. As próximas sessões serão no dia 02/06, no auditório da UNP (Nascimento de Castro), às 17h e 19h, e, no dia 03/06, no auditório da FACEN, às 19h. Informações adicionais podem ser obtidas com a coordenadora do programa, a jornalista Edileusa Martins (215-3465).

Filme recomendado: “Limite Vertical”

Diversão nas alturas

Um ponto que sempre me preocupa num filme é a questão da verossimilhança. Quer dizer, como obra de ficção, aquela história não precisa ser verdadeira. Contudo, deve passar a impressão de que poderia ser verdadeira. É o velho ditado: “a mulher de César não deve apenas ser honesta, ela precisa parecer honesta…”. Neste aspecto, o filme “Limite Vertical”, além de ser um excelente entretenimento, também “parece honesto”, ao tratar do tema principal, o alpinismo.

O alpinismo é um esporte para poucos, seja pelos aspectos financeiros envolvidos, seja pela técnica necessária para a simples prática. Quando se fala em grandes escaladas, como o Everest, Anapurpa, ou, o K2, isso é assunto para equipes profissionais, bem estruturadas, e, com alpinistas com vasta experiência. Amador aqui é só para acompanhar as notícias, e, ver as fotos depois.

O K2, que é a montanha retratada no filme, apesar de não ser a mais alta do mundo, certamente é a de mais difícil acesso, seja pela sua forma, seja pela configuração geográfica onde está localizado. De cada cinco expedições que tentam chegar ao pico, quatro têm acidentes mortais. Para cada dez alpinistas que conseguiram chegar ao todo, sete morreram tentando.

Sem o ofuscamento de grandes estrelas, “Limite Vertical” conseguiu mostrar os problemas de uma escalada ao K2, primeiro uma expedição normal, que é soterrada por uma avalanche, e, fica presa numa caverna de gelo. Para socorre-los, um novo grupo é formado, desta vez tendo que correr contra o tempo, para salvar os sobreviventes da primeira expedição. Para não ficar com cara de documentário, foram acrescentados, à trama, dois aspectos emocionais. Uma das sobreviventes (Robin Tunney, de “Supernova”) é irmã do alpinista que organiza o grupo de resgate (Chris O’Donnell, o eterno Robin). A relação entre eles é difícil, pois a moça o culpa pela morte do pai, fato mostrado na seqüência inicial do filme.

O outro imbróglio é entre o arrogante milionário que organizou a expedição ( Bill Paxton, de “Twister”), e, um dos que estão na expedição de resgate ( Scott Glenn, o vilão de “Cortina de Fumaça”), que o culpa pela morte da mulher. O limite vertical, citado no título, refere-se à altitude, onde, o frio e o ar rarefeito, tornam a vida praticamente impossível. É, conforme cita um alpinista real, onde o corpo começa a morrer.

Mas, dois aspectos interessantes, meio encobertos, como os picos nevados, são o mais interessante do filme. O primeiro é a questão da decisão. Muitas vezes, é necessário sacrificar algo muito precioso, como o pai do herói, no início do filme, para salvar algo mais importante, a vida dos filhos. O outro, refere-se à motivação para superar os limites, que, na maioria das vezes, estão embutidos dentro de nós. Certamente, o espectador descobrirá outros pontos igualmente interessantes.

O filme é uma sucessão de acidentes, fendas encobertas, avalanches, deslizamentos, explosões, frio congelante, e, paisagens de tirar o fôlego. Aliás, paisagem de montanha, para quem é leigo, é como japonês para nós: à primeira vista, é tudo igual. Tanto que as filmagens foram feitas na Nova Zelândia, no monte Cook. Mas, conforme disse antes, o filme “fez de conta”, muito bem, de que tudo acontecia no Paquistão.

A edição em DVD para a região 4 está perfeita. Formato de tela widescreen, áudio Dolby Digital 5.1, legendas em português, espanhol e inglês, comentários do diretor e do produtor legendados e uma porção de extras: Making Of, “Contos de busca e resgate”, “A conquista do K2” (National Geographic), filmografias e comentário em áudio do diretor e produtor. Todos os extras, inclusive os comentários, com legendas. Além das tradicionais rasgações de seda, comuns nos documentários de filmes, é possível ter idéia das locações, efeitos especiais, além de documentários reais sobre toda a logística e dificuldades de uma escalada real, com depoimentos de alpinistas experientes, vários deles que deram assistência técnica à produção do filme.