Claquete 10 de junho de 2005
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
O que está em cartaz
Enquanto a Cidade do Sol se transforma em cidade das chuvas, resta, aos natalenses, na falta de praia, correr para os cinemas, ou, ficar no aconchego do lar, vendo aquele DVD legal. As estréias da semana ficam por conta de “Sr. e Sra. Smith”, com Brad Pitt e Angelina Jolie, e, “Operação Babá”, com o durão Vin Diesel bancando a ama-seca. Continuam em cartaz, o épico, estrelado por Orlando Bloom, o terceiro episódio de “Guerra nas Estrelas”, “A Vingança dos Sith”, de George Lucas, a divertida aventura “Sahara”, com Matthew McConaughey e Penélope Cruz, “A Intérprete”, suspense com a gatíssima Nicole Kidman, e, as produções nacionais “A Selva”, com Maitê Proença, e, “Jogo Subterrâneo”, com Felipe Camargo e Maria Luisa Mendonça. Na sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, a produção italiana “Um Coração Para Sonhar”.
Estréia 1: “Sr. e Sra. Smith”
John (Brad Pitt) e Jane Smith (Angelina Jolie) trabalham como assassinos de aluguel. Eles são casados, mas, um não sabe do trabalho do outro, e, vivem, atualmente, umas vidas entediadas. A situação entre eles muda de rumo, quando cada um recebe um novo trabalho, que é justamente matar o outro. “Sr. e Sra. Smith” é a adaptação, para o cinema, da série “Mr. and Mrs. Smith”, que foi exibida na TV americana em 1996. Um dos maiores atrativos do filme, além dos tiros e explosões, é que teria começado, nas filmagens, o romance entre Brad Pitt e Angelina Jolie, que culminou com o fim do casamento de Pitt com Jennifer Anniston. A direção é de Doug Liman, que dirigiu o ótimo “Identidade Bourne”. “Sr. e Sra. Smith” estréia, pra valer, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, nos Cines 4, e, 6, do Moviecom. Para maiores de 16 anos.
Estréia 2: “Operação Babá”
Vin Diesel, quem diria, açucarou… O valentão, que distribuía porradas em “Velozes e Furiosos”, “Eclipse Mortal” e “XXX”, agora toma conta de criancinhas. Repetindo a fórmula inaugurada por Schwarzenegger, em “Um Tira no Jardim de Infância”, Vin Diesel estréia em um novo e divertido filme, uma mistura de comédia, drama e ação, comandada pelo simpático troglodita. Shane Wolfe (Diesel) é um agente do Serviço Secreto, que tem a missão de proteger um cientista do governo. Após falhar em sua missão, Shane descobre que, não apenas o cientista estava em perigo, mas, também, toda a sua família. Querendo recuperar seu prestígio na agência, ele concorda em proteger também os filhos do cientista, sem saber os problemas que esta decisão lhe trará, pois, além dos bandidos, precisará enfrentar fraldas sujas e chatices de adolescentes. Com direção de Adam Shankman, “Operação Babá” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.
Nacional 1: “A Selva”
Com direção de Leonel Vieira, estreou, no final de semana passado, o filme “A Selva”, de produção luso-brasileira. A história se passa na Amazônia de 1912, em plena era de ouro da borracha. Alberto (Diogo Morgado) é um jovem português que está exilado em Belém, no Pará, por ter participado de uma rebelião contra a república, em Portugal. Para não ser preso, foge para o Brasil, e, através de seu tio, ele é contratado para trabalhar no seringal de Juca Tristão (Cláudio Marzo), em pleno coração da Amazônia. Já no seringal, Alberto fica sob a proteção de Firmino (Chico Diaz), indo trabalhar no armazém local, e, enfrentando dificuldades para se adaptar. Logo, ele se envolve com Dona Yayá (Maitê Proença), a esposa do gerente local. Além da trágica história de amor, este conturbado mundo também sofre com os efeitos da própria natureza, além da violência dos índios, revoltados contra a invasão de suas terras. Em cartaz, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 16 anos
Nacional 2: “Jogo Subterrâneo”
Produção nacional, que estreou na semana passada, “Jogo Subterrâneo” é uma inusitada história de amor. Martín (Felipe Camargo), um pianista da noite, se submete obsessivamente ao jogo que inventou para encontrar a mulher de sua vida. O jogo é muito difícil, quase impossível. Em suas constantes, e, frustradas tentativas, Martín se depara com personagens que irão mudar sua vida: Tânia (Daniela Escobar) que se apaixona por ele e que tem uma filha autista – a pequena Victória (Thávyne Ferrari), aparentemente insensível a qualquer afeto e com quem Martín irá estabelecer laços através da música. Laura (Júlia Lemmertz), uma escritora cega que vive à caça de personagens nos subterrâneos da cidade, e, que vampiriza a história de Martín como mais uma de suas ficções. Em seu jogo contínuo e obsessivo, Martín acaba encontrando Ana (Maria Luisa Mendonça) – uma mulher que o fascina de tal forma, que o leva a trair as duras regras que criou para si. Ana é uma mulher misteriosa que pouco revela de sua vida. Mas apesar do medo e da desconfiança mútua, nasce entre os dois uma paixão que irá se equilibrar no tênue fio dos segredos. Em cartaz, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.
Filme de Arte: “Um Coração Para Sonhar”
A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, traz esta semana a produção italiana “Um Coração Para Sonhar”, do diretor Pupi Avati. Nello Balocchi (Neri Marcoré), 35 anos, é um homem tímido, e, inteiramente voltado para o mundo acadêmico. Seu pai (Giancarlo Giannini), um empresário pragmático, manda-o dar aulas numa escola secundária, em Bolonha, na esperança de que, vivendo numa cidade grande, ele finalmente encontre uma mulher com quem queira se casar. Chegando lá, ele passa a dividir um quarto com um barbeiro napolitano. Enquanto vai descobrindo que tem um talento nato para o magistério, a busca pela alma gêmea segue frustrada. Um dia, ele conhece Angela Gardini (Vanessa Incontrada), uma mulher exuberante, e, cega. As duas famílias desaprovam o relacionamento, mas, a essa altura, Nello já está completamente apaixonado, e, vira sua vida de cabeça para baixo. “Um Coração Para Sonhar” terá sessão única, às 21h do dia 14 de junho, terça-feira, no Cine Natal 1. Para maiores de 12 anos.
Falha nossa
Na semana passada, Claquete noticiou que não haveria estréias. Na verdade, por problemas técnicos, a programação da rede Moviecom não chegou a tempo do fechamento da coluna, o que levou ao engano. Dois filmes, por sinal, nacionais, estrearam no final de semana passado: “A Selva”, de Leonel Vieira, e, “Jogo Subterrâneo”, de Roberto Gervitz.
MacGyver, Magnum e Mulher-Maravilha, em DVD
Quem foi adolescente nos anos 70, certamente lembrará, com saudades, de alguns dos heróis da telinha. Três deles estão sendo relançados, em DVD. “Mulher-Maravilha”, com Linda Carter, traz as duas primeiras temporadas, em boxes de cinco e oito discos, respectivamente. Num box com seis discos, “MacGyver” traz a primeira temporada do espião que nunca usava armas, mas era capaz de construir uma bomba com um canivete. O outro lançamento é “Magnum”, um oficial da Marinha que se torna investigador particular no Havaí. Estrelado pelo bigodudo Tom Selleck, o box, com seis discos, traz os dezoito episódios da primeira temporada. Para quem não sabe, Selleck foi convidado para ser o Indiana Jones, mas, por estar atuando em “Magnum”, o papel ficou para Harrison Ford. Nas locadoras.
Adeus a Mrs Robinson
Na última terça-feira, uma notícia entristeceu os fã da Sétima Arte. Anne Bancroft, uma das mais respeitadas atrizes do cinema e do teatro americanos, faleceu, vítima de câncer uterino. Casada com o diretor Mel Brooks, Anne atuou em inúmeros filmes, sendo indicada cinco vezes ao Oscar, ganhando a estatueta por sua atuação em “O Milagre de Anne Sullivan”, em 1962. Dentre os inúmeros filmes que participou, alguns são especiais, como “A Primeira Noite de um Homem”, “O Homem-Elefante”, “Agnes de Deus”, “Nunca te vi, Sempre te Amei”, e, “Grandes Esperanças”. Vale à pena, conferir alguns destes títulos, em homenagem a esta grande mulher.
Filme recomendado: “A Liga Extraordinária”
Salada de heróis
Um dos chavões mais ouvidos, na saída do cinema é “o livro era melhor”. Realmente, fazer a adaptação de um livro para as telas de cinema sempre vai ofender o fã do texto original. Bem, e, o que diriam estes fãs, se, um filme for adaptado de uma graphic novel, ou um quadrinho de luxo, baseado em personagens famosos da literatura? Este samba do crioulo doido existe, realmente, e, se não segue fielmente os traços de seus autores originais, resultou em um filme de ação bem divertido. Estou falando de “A Liga Extraordinária”.
A idéia que foi levada às telas é a mesma do graphic novel criado por Alan Moore (de Watchmen), e, ilustrada pelo talentoso Kevin O’Neill (de Marshall Law). Baseada nos grandes clássicos da literatura fantástica do final do século XIX, “A Liga Extraordinária” faz uso de imensas licenças poéticas para colocar, lado a lado, personagens famosos, dotados de estranhos poderes, para combater o mal, e, salvar o mundo, naturalmente.
Em 1899, no final da era vitoriana, o mundo vive grandes transformações, e, ao mesmo tempo, a Europa toda vive nervosa, eternamente à beira da guerra. É neste ambiente que dois ataques acontecem, um, na Inglaterra, e, o outro, na Alemanha. Um governo põe a culpa no outro, ameaçando desencadear uma guerra entre os dois países.
Para solucionar o problema, o famoso explorador Allan Quatermain sai de sua aposentadoria, em sua querida África, para liderar um grupo de pessoas que constituiriam a denominada Liga Extraordinária. Ao chegar, é recepcionado por M, uma misteriosa autoridade, que o apresenta ao resto do grupo: Capitão Nemo, Skinner, e, Mina Harker. Os quatro seguem para a casa de um outro membro do grupo, Dorian Gray, onde acontece um ataque do perigoso Phantom, o cérebro criminoso por trás dos ataques. Este ataque termina sendo a apresentação dos poderes dos membros do grupo. Tony tornou-se invisível, graças a uma poderosa solução química. Dorian Gray é imortal, não sendo ferido por nenhuma arma. E, Mina Harker, é a viúva do homem que ajudou a caçar o terrível Conde Drácula, que a transformou em vampira. O grupo recebe a inesperada ajuda de um jovem americano, o impetuoso Tom Sawyer.
Após o confronto com Phantom, que foge, ao ser acuado, o grupo embarca no monumental submarino do Capitão Nemo, o Nautilos. Após uma escala em Paris, onde a Liga captura Mr Hyde, a deformada transformação do pacato Dr. Jeckyll, o grupo segue para Veneza, onde os líderes das nações européias irão reunir-se, para por fim à crise. Por suspeitar de que Phantom pretende atingir a reunião dos governantes, a Liga corre contra o tempo, para chegar em Veneza antes que o criminoso consiga o seu intento.
No meio do caminho, fatos estranhos acontecem no submarino, e, logo, a suspeita de que o grupo oculta um traidor, mostra-se verdadeira. Um ato de sabotagem põe em risco a vida dos aventureiros, mas, após muito sacrifício, conseguem chegar ao esconderijo de Phantom, para o confronto final. Ponto. Para saber mais, aluguem o filme.
Quem estiver preocupado com realismo histórico, ou mesmo, uma cópia fiel dos personagens literários, pode desistir. “A Liga Extraordinária” é um exercício de imaginação que reúne seres estranhos em busca do bem da humanidade.
O mais interessante, nisto tudo, é reconhecer figuras emblemáticas, de antigas histórias, tomar corpo, em uma aventura renovada, parecendo fugir das páginas emboloradas de livros esquecidos em uma velha estante.
O líder do grupo, Allan Quatermain, vivido magistralmente por Sean Connery, foi criado por H. Rider Haggard, no livro “As Minas do Rei Salomão”, que já rendeu dois filmes. O belo e perverso Dorian Gray vem das páginas de “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, sobre um homem que fez um pacto com o diabo para conservar-se jovem, enquanto que sua imagem no retrato envelhecia e refletia todos os seus vícios e malefícios. O retrato, inclusive, entra na história do filme.
O homem invisível, por questões autorais, não teve o mesmo nome do personagem original do livro homônimo de H. G. Wells, Hawley Griffin, mas manteve as mesmas características. Mina Harker, personagem secundária do romance “Drácula”, de Bram Stoker, ganha aqui uma maior importância, como uma ética vampirona. O Capitão Nemo, de “Vinte Mil Léguas Submarinas”, de Julio Verne, aparece aqui, com suas máquinas sofisticadas e estilosas, além de um exército particular de servis indianos.
O único personagem que não aparecia na novel de Alan Moore, foi acrescentado para agradar o público americano. Tom Sawyer, personagem mais conhecido do escritor americano Mark Twain, trouxe a imagem da impetuosidade irresponsável do jovem americano, arremessando-se ao perigo, para salvar o mundo, embora à força de balas…
O filme é cheio de cenas de ação, muita computação gráfica, e, efeitos sonoros que fazem o subwoofer funcionar constantemente. As incoerências da história (Nemo, por exemplo, no livro de Verne, era inimigo mortal do Império Britânico) não atrapalham muito, principalmente para quem gosta de um filme cheio de ação.