Claquete 24 de junho de 2005
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
O clima de São João está no ar, junto com a fumaça das fogueiras, o pipoco dos rojões, e, a poeira levantada pelos forrozeiros. Talvez, por isto mesmo, as estréias sejam tímidas. Na verdade, a única estréia é o desenho Madagascar, da Dreamworks. Para os que preferirem um cineminha, ao invés da marcação das quadrilhas (juninas, volto a lembrar…), na próxima quarta-feira entra em cartaz o esperado “Guerra dos Mundos”, dirigido por Spielberg, e, estrelado por Tom Cruise. Continuam em cartaz, “Batman Begins”, a nova versão do Homem-Morcego, dirigido por Christopher Nolan, o diretor de “Amnésia”, com Christian Bale, no papel-título, “A Casa de Cera”, refilmagem de um clássico de terror, no estilo mata-mata de adolescentes, os filmes de ação “Sr. e Sra. Smith”, com Brad Pitt e Angelina Jolie, “Operação Babá”, com o durão Vin Diesel bancando a ama-seca, o épico, estrelado por Orlando Bloom, e, o terceiro episódio de “Guerra nas Estrelas”, “A Vingança dos Sith”, de George Lucas. Apenas no sábado e domingo, pré-estréia de “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”. Na sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, a produção canadense “Desafio no Ártico”.
Estréia: “Madagascar”
O leão Alex é a grande atração do zoológico do Central Park, em Nova York. Ele e seus melhores amigos, a zebra Marty, a girafa Melman e a hipopótamo Glória (Heloisa Perissé, que também fez a adaptação do roteiro), sempre passaram a vida em cativeiro e desconhecem o que é morar na selva. Curioso em saber o que há por trás dos muros do zoológico, Marty decide fugir, para explorar o mundo. Ao perceber a fuga do amigo, Alex, Gloria e Melman decidem partir à sua procura. O trio encontra Marty na estação Grand Central do metrô, mas, antes que consigam voltar para casa, são atingidos por dardos tranqüilizantes, e, capturados. Eles são embarcados em um navio rumo à África, onde serão colocados em liberdade, por um grupo de humanos que quer tirar os animais da vida estressante em cativeiro. Após um grupo de pingüins, que também está no navio, sabotá-lo, o grupo vai parar na ilha de Madagascar, onde precisa encontrar meios de sobrevivência em uma selva verdadeira. “Madagascar” estréia, para valer, nesta sexta-feira, nos Cines 4 e 7 do Moviecom. Livre. Cópia dublada.
Pré-Estréia 1: “Guerra dos Mundos”
Um dos livros mais famosos de H.G.Wells, “Guerra dos Mundos”, retorna às telas do cinema, desta vez com a dobradinha Steven Spielberg, na direção, e, Tom Cruise, no papel principal. Ele vive Ray Ferrier, um homem divorciado, que trabalha nas docas. Ele não se sente à vontade no papel de pai, mas, precisa cuidar de seus filhos, Robbie (Justin Chatwin) e Rachel (Dakota Fanning), quando eles lhe fazem uma de suas raras visitas. Pouco após eles chegarem, Ray presencia um evento que mudará para sempre sua vida: o surgimento de uma gigantesca máquina de guerra, que emerge do chão, e, incinera tudo o que encontra. Trata-se do primeiro golpe de um devastador ataque alienígena à Terra, que faz com que Ray pegue seus filhos e tente protegê-los, levando-os o mais longe possível das armas extra-terrestres. O livro de Wells serviu para o evento mais famoso no meio da indústria de comunicação: a famosa transmissão radiofônica de Orson Welles, em 1938, que levou ao pânico boa parte da população americana. Apesar do caráter ficcionista do livro, o autor embutiu uma forte crítica ao imperialismo e à beligerância das nações ocidentais. Esperemos que algo desta mensagem tenha permanecido neste filme, já que estamos tão necessitados de uma boa dose de pacifismo, nos dias atuais. A pré-estréia de “Guerra dos Mundos” acontece na quarta-feira e quinta-feira, no Cine Natal 2, e, nos Cines 5 e 6 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.
Pré-Estréia 2: “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”
Na noite de novembro de 1942, quando Traudl Junge (Alexandra Maria Lara) foi selecionada para trabalhar como secretária pessoal de Hitler, a sua felicidade na poderia ser maior, já que serviria um dos homens mais poderosos do mundo. Três anos depois, em abril de 1945, o cenário era outro. Uma Alemanha dizimada resistia, como podia, ao avanço dos Aliados. Berlim sucumbia ante as tropas russas. Em meio a tudo isso, Hitler mantinha a sua pose e arrogância, ainda acreditando em uma hipotética vitória. O filme narra as últimas horas do ditador, do ponto de vista da jovem Traudl, que sobreviveu, para contar o que viu. A direção é de Oliver Hirschbiegel. A pré-estréia de “A Queda – As Últimas Horas de Hitler” acontece no sábado e no domingo, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.
Filme de Arte: “Desafio no Ártico”
A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, traz, esta semana, a produção canadense “Desafio no Ártico”, do diretor Charles Martin Smith. Charlie Halliday (Barry Pepper) é um arrogante piloto, condecorado por sua participação na Segunda Guerra Mundial. Ele trabalha no gélido Noroeste do Canadá, em uma empresa privada de aviação, transportando passageiros e pequenas cargas. Em uma destas viagens, Charlie é procurado por uma família inuit, que o suborna, para que leve sua filha tuberculosa (Annabella Piugattuk) a um hospital em Yellowknife. Durante um vôo, o avião cai, numa área remota do Ártico Canadense, os dois escapando por pouco. Agora, a única chance de sobrevivência é a jovem passageira, Kanaalaq (Annabella Piugattuk). Aos poucos, com a convivência, Charlie consegue adaptar-se às circunstâncias, pois só assim poderão chegar vivos à civilização. O filme é baseado no conto “Walk Well, My Brother”, de Farley Mowat, que já teve um outro livro levado às telas em “Lobos Não Choram”, de 1983. “Desafio no Ártico” terá sessão única, às 21h do dia 28 de junho, terça-feira, no Cine Natal 1. Para maiores de 14 anos.
SENAC abre inscrições para Concurso Internacional de Quadrinhos
Já estão abertas as inscrições para o 1º Concurso Internacional de História em Quadrinhos, realizado pelo Senac São Paulo, e, pela Editora Devir. O objetivo é eleger o melhor profissional da área. As inscrições poderão ser feitas até seis de julho próximo, por e-mail. O concurso está aberto a todos os quadrinhistas, profissionais, ou, amadores, de todo o território nacional e do exterior, maiores de 16 anos, que deverão ter trabalhos inéditos de história em quadrinhos. Cada autor poderá inscrever até dois trabalhos. Mais informações: http://www.sp.senac.br/quadrinhos.
“Heavy Metal – Universo em Fantasia”, em DVD
Nos anos 80, um título chamou a atenção dos jovens. “Heavy Metal – Universo em Fantasia” trouxe, para as telas de cinema, o clima alucinante da revista Heavy Metal, que mostrava histórias de ficção-científica para adultos, com desenhos elaboradissimos, cheios de loiras peitudas, bem ao gosto dos americanos. Para quem nunca assistiu, o filme é uma seqüência de pequenas histórias, que têm, em comum, uma estranha esfera verde, de origem alienígena, com estranhos e perigosos poderes. O desenho é pobre, comparado às maravilhas da computação gráfica dos dias atuais, mas, o pioneirismo, e, a quebra de paradigmas do filme, explorando o sexo e a violência na mídia desenho animado, tornam este filme um marco. Foi feita uma seqüência, “Heavy Metal 2000”, que só tem em comum com o anterior as mulheres peitudas. No DVD de “Heavy metal – Universo em Fantasia”, além do filme, que vem com som Dolby Digital e Vídeo Anamórfico, traz, como extas, o documentário “Imaginando Heavy Metal”, Cenas Inéditas, Rascunho com Comentários Opcionais de Carl Macek, Fotos de Produção, Galeria de Capas da Revista Heavy Metal, Desenhos a Lápis com Animações, Portfolios, Conceitos de Criação, e, Notas de Produção.
“Nina”, em DVD
Nina (Guta Stresser) é uma jovem que vive em um perturbado mundo suburbano na capital paulistana. Entre baladas, drogas, sexo sem compromisso, e, um emprego medíocre, Nina tranca-se no seu quarto, onde produz um mundo em ilustrações (feitas por Lorenço Mutarelli). Sem ter dinheiro nem para a própria comida, ela é infernizada por Eulália (Myrian Muniz), dona do quarto onde mora. A senhoria é, literalmente, uma bruxa: coloca etiquetas com seu nome dos alimentos da geladeira, viola as cartas da jovem e rouba o dinheiro que a mãe de Nina manda, entre outras coisas. Esse é seu mundo e, dentro dele, ela começa a se perder e idealiza o assassinato como única forma de se libertar. Nina passa a ficar completamente descontrolada, percebendo que, de fato, poucas pessoas realmente se importam com ela. Uma combinação de Crime e Castigo de Dostoiévski, o visual soturno dos filmes de suspense e as animações violentas que lembram os Mangás Japoneses. O longa-metragem de estréia do diretor Heitor Dhalia é um retrato pungente da desintegração psicológica diante um mundo frio e sádico. Nas locadoras.
Filme recomendado: “Batman Begins”
O vôo do morcego
Normalmente, as adaptações de quadrinhos para o cinema, precisam explicar a origem do personagem, já que, as novas gerações, nasceram olhando para a televisão, e não, para as revistas em papel. Contudo, Batman, o Homem-Morcego, talvez por ser extremamente conhecido, furou esta regra. Depois do quase fracasso da série, os produtores resolveram ressuscitar o personagem, e, desta vez, começando pelo princípio do início, ou seja, como surgiu o herói. Para cumprir esta missão, nada melhor que um diretor fora do padrão hollywoodiano, o inglês Christopher Nolan, autor de “Amnésia” e “Insônia”, para dirigir “Batman Begins”, em cartaz em nossos cinemas.
Batman já foi levado às telas muitas vezes. No site IMDB, foram encontradas 32 referências de filmes ou produções para a TV com o personagem, algumas exóticas, como o filme filipino “Batman Enfrenta Drácula”. Isso se deve ao sucesso do herói, que está nas bancas de revista desde 1939. Colega de berço do Superman, Batman tem a seu favor as fraquezas humanas, já que é um herói que não dispõe de superpoderes, mas, tão somente da sua inteligência e habilidades físicas. Essa talvez seja a razão da identificação das pessoas com ele. Claro que na sua identidade secreta ele é um milionário, o que confere muito poder, mas, isso é uma outra história.
A visão mostrada em “Batman Begins” mostra Bruce Wayne como um menino equilibrado, vivendo em uma família feliz, o pai, médico respeitado, apesar de milionário, adorava andar no metrô que ajudara a implantar na cidade. Um acidente na infância, quando Bruce cai em um velho poço abandonado, o leva a um trauma com relação aos morcegos, que iria acompanha-lo até a vida adulta.
Na saída de um teatro, onde fora, com o pai, e, a mãe, para assistir a um concerto, Bruce presencia os dois serem assassinados por um marginal drogado. Chocado, o menino é obrigado a enfrentar uma vida de solidão, onde o único amigo é o fiel mordomo Alfred, vivido, magnificamente, no filme, pelo brilhante Michael Caine.
Bruce amadurece, e, torna-se um jovem forte e inteligente, embora revoltado, com a morte dos pais, e, a situação, cada vez pior, da marginalidade em Gotham City. Para conhecer o mundo dos marginais, tornou-se ele mesmo um, viajando sem destino, enfrentando os agressores com violência, até chegar em algum lugar remoto da China, na encosta do Himalaia. É aí que trava contato com uma misteriosa sociedade, a Liga das Sombras, através de Henri Ducard (Liam Neeson) que o recruta, em nome de Ra’s Al-Ghul (Ken Watanabe), o poderoso líder do grupo.
O jovem passa por um intenso treinamento, que incluem vários tipos de armamentos e formas de lutas. Mas, ao tomar conhecimento do caráter sanguinolento que predomina na Liga, foge do lugar, que é destruído por um incêndio.
De volta a Gotham City, descobre que está pior do que a deixou. O banditismo domina a política e a polícia, restando poucos policiais honestos, entre eles, o idealista Jim Gordon (o camaleônico Gary Oldman). Contando com a cumplicidade de Alfred, Bruce reassume o seu papel de milionário irresponsável e perdulário, ao mesmo tempo em que decide combater o crime de maneira anônima, aterrorizando os criminosos.
Uma ajuda extra vem a calhar, com Lucius Fox, um cientista que trabalha nas empresas Wayne, mas vive relegado a um laboratório de experimentos de novas tecnologias. Lá, Bruce encontra alguns itens preciosos, como uma roupa de combate de kevlar, à prova de balas, um tecido que pode assumir uma forma predeterminada, ou, um poderoso carro de combate, capaz de rivalizar os Hummer do exército americano.
À medida que vai enfrentando os mafiosos e traficantes de drogas, nosso herói vai travando contato com um estranho plano de envenenamento da cidade, idealizado por ninguém menos do que o seu antigo mentor Ducard, que ajudara a escapar da morte no incêndio da Liga das Sombras. Um duelo poderoso, entre Batman, Ducard, e, o Espantalho, irá definir o destino de Gotham. Ponto. Para saber mais, assista ao filme.
Apesar de sua origem no final dos anos 30, Batman renasceu para o mundo em 1966, quando a rede de televisão ABC, após o filme “Batman – O Homem-Morcego” colocou no ar um seriado, que teve três temporadas, com o ator Adam West, e, uma incômoda barriguinha, que encantou os fãs do mundo inteiro. O filme, que deu origem à série, foi lançado, recentemente, em DVD.
A partir de 1989, a indústria voltou ao personagem, com “Batman”, “Batman – O Retorno” (1992), ambos com Michael Keaton, “Batman Eternamente” (1995), com Val Kilmer, e, “Batman & Robin” (1997), com George Clooney. Este último filme foi considerado um fracasso comercial, apesar de ter reunido um elenco estelar, como Shwarzenegger, Chris O’Donnel, Alicia Silverstone, e, Uma Thurman.
O retorno à grife do Homem-Morcego só foi possível graças à visão – acertadissima, por sinal – de explorar o lado humano, e, “realista” do mundo do herói. Não existem superpoderes, os vilões não são os personagens caricatos dos primeiros filmes, a bandidagem pratica o tráfico de drogas, e, o bairro barra-pesada é um favelão, do tipo que existe em qualquer grande cidade do mundo.
Bruce Wayne, diferente dos estereotipados heróis dos quadrinhos, é um homem atormentado pelos traumas de infância, que precisa aprender a dominar os seus próprios medos e impulsos, além da sede de vingança. Esta tênue linha, que separa o vingador do justiceiro, é o que provoca o surgimento do herói.
A escolha do elenco, certamente, é um dos motivos para o sucesso do filme. O Batman de Christian Bale é verossímil, expressando a angústia do personagem, ao mesmo tempo que expõe toda a energia do herói, não um ser indestrutível, mas um homem bem preparado e municiado. Michael Caine, com toda a sua fleugma britânica, faz um Alfred impecável, enquanto que Gary Oldman, surpreendente, como sempre, aparece como o futuro Comissário Gordon. Nos papéis secundários, Liam Neeson, Morgan Freeman, Ken Watanabe (“O Último Samurai”), Katie Holmes (a namorada de Tom Cruise), e, Rutger Hauer completam o time, com atuações impecáveis.
O filme não tem o excesso de efeitos especiais, observados em filmes como “Homem-Aranha”, sendo filmado em locações reais. Isso, ao invés de desmerecer o filme, passa uma maior sensação de veracidade.
Com um pé na tradição dos quadrinhos, e, o outro na visão dos novos espectadores, Nolan conseguiu uma visão equilibrada, fazendo renascer um personagem que faz parte do imaginário de jovens do mundo inteiro. Vale à pena dar uma conferida, seja para relembrar os tempos de infância, ou, simplesmente para curtir um filme de ação. Dos bons, por sinal.