Claquete 01 de julho de 2005
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
Foram-se as festas juninas, junto com os balões e os fogos, mas, ficaram as fortes chuvas, que fazem Natal parecer uma filial de Veneza. Nas estréias, a nova versão de “Guerra dos Mundos”, dirigido por Spielberg, e, estrelado por Tom Cruise, e, “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”, narrando os momentos finais do ditador. Continuam em cartaz, “Batman Begins”, a nova versão do Homem-Morcego, dirigido por Christopher Nolan, o diretor de “Amnésia”, com Christian Bale, no papel-título, “A Casa de Cera”, refilmagem de um clássico de terror, no estilo mata-mata de adolescentes, os filmes de ação “Sr. e Sra. Smith”, com Brad Pitt e Angelina Jolie, e, o ótimo desenho animado “Madagascar”, da Dreamworks. Na próxima quinta-feira, acontece a pré-estréia de “Quarteto Fantástico”. Não haverá sessão de arte nesta semana.
Pré-Estréia: “Quarteto Fantástico”
Mais um desenho da Marvel chega às telas de cinema. A vez, agora, é do “Quarteto Fantástico”, criado em 1961, por Stan Lee e Jack Kirby. Um desastre atinge uma nave espacial, fazendo com que os quatro tripulantes sofram modificações em seus organismos, ganhando poderes especiais. Reed Richards (Ioan Gruffudd), o líder do grupo, passa a ter a capacidade de esticar seu corpo feito borracha. Sue Storm (Jessica Alba), sua namorada, ganha poderes que a permitem ficar invisível, e, criar campos de força. Johnny Storm (Chris Evans), irmão de Sue, pode aumentar o calor do seu corpo, enquanto que Ben Grimm (Michael Chiklis) tem seu corpo transformado em pedra, e, ganha uma força sobre-humana. Ao retornar a Terra, eles passam a lidar com seus novos poderes, decidindo formar o grupo de super-heróis, Quarteto Fantástico, para combater os vilões que ameaçam a Terra. Este filme chegou a ter cenas alteradas, devido à animação “Os Incríveis”, que tinha muitas semelhanças. Houve uma outra versão, de 1994, que nunca chegou aos cinemas, pois a única intenção da empresa era manter os direitos de adaptação. Stan Lee, que apareceu em algumas pontas em “Hulk” e “Homem-Aranha”, interpreta, desta vez, um personagem, Willy Lumpkin, velho carteiro que trabalha para o grupo. A direção é de Tim Story. A pré-estréia de “Quarteto Fantástico” acontece nesta quinta-feira, no Cine Natal 1, e, nos Cines 3 e 7, do Moviecom. Para maiores de 12 anos.
Estréia 1: “Guerra dos Mundos”
Um dos livros mais famosos de H.G.Wells, “Guerra dos Mundos”, retorna às telas do cinema, desta vez com a dobradinha Steven Spielberg, na direção, e, Tom Cruise, no papel principal. Ele vive Ray Ferrier, um homem divorciado, que trabalha nas docas. Ele não se sente à vontade no papel de pai, mas, precisa cuidar de seus filhos, Robbie (Justin Chatwin) e Rachel (Dakota Fanning), quando eles lhe fazem uma de suas raras visitas. Pouco após eles chegarem, Ray presencia um evento que mudará para sempre sua vida: o surgimento de uma gigantesca máquina de guerra, que emerge do chão, e, incinera tudo o que encontra. Trata-se do primeiro golpe de um devastador ataque alienígena à Terra, que faz com que Ray pegue seus filhos e tente protegê-los, levando-os o mais longe possível das armas extra-terrestres. O livro de Wells serviu para o evento mais famoso no meio da indústria de comunicação: a famosa transmissão radiofônica de Orson Welles, em 1938, que levou ao pânico boa parte da população americana. Apesar do caráter ficcionista do livro, o autor embutiu uma forte crítica ao imperialismo e à beligerância das nações ocidentais. Esperemos que algo desta mensagem tenha permanecido neste filme, já que estamos tão necessitados de uma boa dose de pacifismo, nos dias atuais. “Guerra dos Mundos” está em cartaz, no Cine Natal 2, e, nos Cines 6 e 7 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.
Estréia 2: “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”
Na noite de novembro de 1942, quando Traudl Junge (Alexandra Maria Lara) foi selecionada para trabalhar como secretária pessoal de Hitler, a sua felicidade na poderia ser maior, já que serviria um dos homens mais poderosos do mundo. Três anos depois, em abril de 1945, o cenário era outro. Uma Alemanha dizimada resistia, como podia, ao avanço dos Aliados. Berlim sucumbia ante as tropas russas. Em meio a tudo isso, Hitler mantinha a sua pose e arrogância, ainda acreditando em uma hipotética vitória. O filme narra as últimas horas do ditador, do ponto de vista da jovem Traudl, que sobreviveu, para contar o que viu. A direção é de Oliver Hirschbiegel. “A Queda – As Últimas Horas de Hitler” terá apenas uma sessão diária, após 21h, até quarta-feira, no Cine 2, e, na quinta-feira, no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.
“Ray”, em DVD
Chega às locadoras a premiada cinebiografia do músico Ray Charles, que rendeu um merecido Oscar ao ator Jamie Foxx. O próprio Ray participou da seleção musical do filme, embora não tenha sobrevivido até o lançamento nos cinemas. É exposta, com muita crueza, toda a vida do cantor, desde a infância pobre, sem pai, ao lado da mãe e do irmão menor. Uma tragédia irá marca-lo para sempre. Apesar da cegueira, Ray enfrenta todos os obstáculos para levar a sua música, tocando de igrejas a bordéis. O talento para os negócios, e, a sua música de excepcional qualidade, o levaram ao sucesso. A fama e o dinheiro, porém, trouxeram outros malefícios, como as drogas, que o afastaram da família. A redenção chegou, mais uma vez, graças à sua extraordinária força de vontade. O DVD duplo traz, além do filme (com formato de tela widescreen anamórfico e som Dolby Digital 5.1), diversos extras: Cenas Excluídas, comentadas pelo diretor, Cenas Musicais ampliadas, os documentários “Preparando-se para o papel”, “Lembrando-se de Ray”, “Bastidores”, “Ray – Trilha Original do filme”, e, “Genius: Um Tributo a Ray Charles”, além do trailer de cinema.
Abertas inscrições para o 3° Festival Curta Santos
A Oficina Regional Pagú está com as inscrições abertas, até o dia 20 de agosto, para o 3º Festival Curta Santos. Os participantes deverão apresentar curtas-metragens com temas livres, com no máximo 25 minutos de duração, nos formatos: ficção, documentário, ou, animação. O único requisito é que o trabalho não tenha participado das edições passadas no festival. Para maiores informações, inscrições, e, regulamento, entrar em contato com a Oficina Cultural Regional Pagú – Praça dos Andradas, s/nº – Santos – SP – Telefones: (13) 3219-7456/ 3219-2036.
Abertas inscrições para o Festival do Rio 2005
Estão abertas inscrições para PREMIÈRE BRASIL – Mostra Competitiva de Curta e Longa-Metragem Brasileiros, do Festival do Rio 2005, que, este ano, acontecerá de 22 de setembro a 6 de outubro. Poderão participar do Festival do Rio filmes de longa e curta-metragem, sendo os curtas-metragens produzidos entre 2003 e 2005, com cópia em 35mm ou digital (HDCam, Digi-beta Pal ou Mini DV, DVCam). A data limite para as inscrições, e, postagem dos filmes, é dia 20 de julho. Regulamento e inscrições online, no próprio site do festival www.festivaldorio.com.br.
“Garrincha – Estrela Solitária”, em DVD
Um dos heróis brasileiros, que, devido a suas qualidades e fraquezas, talvez melhor represente o espírito de nosso povo, foi Garrincha, jogador de futebol do Botafogo, e, da Seleção Brasileira, que, com suas pernas tortas, alucinava os adversários. Chega agora, em DVD, o filme “Garrincha – Estrela Solitária”, do diretor Milton Alencar, baseado no livro homônimo, de Ruy Castro. A vida de Garrincha, o “demônio das pernas tortas”, dentro e fora do campo, confrontando o mito do futebol mundial ao homem humilde do interior. Em 1980, a escola de samba Mangueira homenageia Garrincha, que desfila em um carro alegórico, especialmente preparado para ele. As várias facetas de Mané Garrincha são mostradas, a partir das lembranças de pessoas que lhe foram muito próximas, e, que o amaram, de diferentes maneiras. As histórias que Elza Soares, Iraci, Sandro Moreyra e Nilton Santos viveram com Garrincha compõem uma visão multilateral de sua personalidade, e, de seu destino, de glórias e tragédias. Nos papéis centrais, André Gonçalves (Garrincha), e, Taís Araújo (Elza Soares). Nas locadoras.
O que vem por aí
Para o pessoal que gosta de clássicos, ou, mesmo, de filmes difíceis de encontrar, nas locadoras, a mídia DVD está dando uma “mãozinha”. Nos próximos dias, chegarão às prateleiras coleções como: Charles Bronson (“Kinjite – Desejos Proibidos”, “O Vingador”, “O Mensageiro da Morte” e “Desafiando o Assassino”), Steve McQueen (“Quando Explodem as Paixões”, “Mesa do Diabo”, “Os Implacáveis – Ed. Especial”, e, “Tom Horn”); Gangsteres – Volume Um (“Alma no Lodo”, “A Floresta Petrificada”, “O Inimigo Público nº 1”); Gangsteres – Volume Dois (“Anjos de Cara Suja”, ”Heróis Esquecidos”, “Fúria Sanguinária”); Errol Flynn (“Capitão Blood”, “Uma Cilada que Surge”, “Meu Reino por um Amor”, “Gavião do Mar”, “O Intrépido General Custer”); Fletch (“Assassinato por Encomenda” e “Fletch Vive”). Tem, ainda, a coleção Jurassic Park (“O Parque dos Dinossauros”, “O Mundo Perdido”, e, “Jurassic Park III”). Aguardem.
“Closer – Perto Demais”, em DVD
Anna (Julia Roberts) é uma fotógrafa bem sucedida, que se divorciou recentemente. Ela conhece, e, seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista, que ganha a vida escrevendo obituários. Apesar do romance, ela se casa com Larry (Clive Owen). Dan mantém um caso secreto com Anna, mesmo após ela se casar, e, usa Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora para ganhar confiança e tentar conquistar o amor de Anna. Essa inteligente, e, estranha, história de amor, é baseada em uma consagrada peça teatral de Patrick Marber. O DVD traz som Dolby Digital 5.1 e formato de tela em widescreen. Como extras, apenas o videoclipe “The Blower´s Daughter”, apresentado por Damien Rice, e, trailers de cinema. Por enquanto, só nas locadoras.
Curta Brasil, na TV Educativa
O “Curta Brasil”, programa patrocinado pela Petrobrás, é dedicado à exibição de filmes brasileiros, nos formatos de curta e média-metragem. Por meio de entrevistas, o programa abre espaço para realizadores, e, personalidades da cultura brasileira, e, discute os aspectos ligados à linguagem e à produção cinematográficas. O programa é veiculado, em rede nacional, pelas afiliadas da TVE BRASIL sendo exibido sábado, à meia noite, com apresentação de Ivana Bentes. Neste sábado, serão exibidos “Cega Seca”, de Sofia Federico, e, “A História da Eternidade”, de Camilo Cavalcante.
Filmes da Semana
Guerra(s) dos Mundos
É curioso, como um diretor do quilate de Steven Spielberg, consegue dar umas derrapadas em sua carreira, alternando produtos brilhantes, com outros, de qualificação duvidosa. Também, não ajuda muito, se o astro principal, o megastar Tom Cruise, prefere falar de sua religião, a cientologia, do que promover o filme. O fato é que, a maioria das pessoas, ao sair de uma sessão de “Guerra dos Mundos”, fica perguntando para o vizinho: “O que foi que aconteceu com os alienígenas, no final do filme?”. Bem, o final desta versão é o mesmo da primeira, de 1953, que é o mesmo do livro, escrito por H.G.Wells, em 1898 (calma, não vou contar o final, pelo menos, não no primeiro parágrafo…).
A história retratada nos dois filmes, e, no livro, é exatamente a mesma. Um belo dia, sem aviso, seres vindos do espaço invadem a Terra, e, começam a matar e destruir tudo o que os seus raios mortíferos alcançam. O que eles querem? Dominar a Terra, tomar os seus recursos naturais, e, escravizar os habitantes, supõe-se. Se este resumo parece familiar, o leitor estará coberto de razão, e, para nossa tristeza, vemos que a Humanidade não mudou muito, da época de Wells, para cá.
O escritor inglês Herbert George Wells, ou H.G.Wells, como é mais conhecido, foi um dos precursores da moderna Ficção Científica. Entre suas obras mais conhecidas, estão “A Máquina do Tempo”, “A Ilha de Dr. Moreau”, “O Homem Invisível”, e, talvez a sua mais popular novela, “A Guerra dos Mundos”, publicada em 1898. O que poucos lembram é que Wells era um ferrenho crítico do imperialismo, numa época onde metade do mundo era constituída de colônias dos países europeus. Através de seus escritos, e, em particular, “A Guerra dos Mundos”, Wells passava a sua impressão do que era ser invadido, espoliado, e, escravizado, dentro de seu próprio país.
Na versão de 1953, dirigida por Byron Haskin, o mundo vivia, então, em plena Guerra Fria, enquanto o macartismo atiçava a paranóia dos americanos, que imaginavam que um comunista, comedor de criancinhas, poderia aparecer a qualquer instante, para soltar uma bomba atômica. Os abrigos nucleares estavam em moda, na época, com incentivo e propaganda do próprio governo. Isso parece ter vindo a calhar com este filme, que contribui para a paranóia do pós 11 de setembro, onde o medo dos cidadãos favorece o sonho armamentista dos governantes…
Mas, interpretações à parte, voltemos à vaca fria, isto é, ao filme de Mr Spielberg. Deixando de lado os alienígenas bonzinhos de “ET”, “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, e, “Inteligência Artificial”, o filme mostra os novos visitantes da Terra, como seres que, além de destruidores, e, impiedosos, são sugadores de sangue, com um requinte de deixar o Drácula morto de inveja.
Por algum motivo, que não é explicado no filme, os alienígenas deixaram suas máquinas de destruição enterradas nas profundezas da Terra, milhares de anos antes de existir qualquer tipo de civilização humana. Um belo dia, resolvem retornar, pegar suas máquinas de destruição, e, saem matando e queimando tudo o que vêem.
No meio de tudo isso está Ray Ferrier, um operador de guindaste, que viu-se obrigado a tomar conta dos filhos no final de semana. Divorciado, Ray não tem boa relação com os filhos, principalmente com o mais velho, Robbie, um adolescente rebelde. A menina, ainda tenta manter um relacionamento acima do superficial, o que é prejudicado pela própria maneira de ser de Ray.
De uma hora para outra, o mundo muda radicalmente. Máquinas gigantescas, operadas por seres desconhecidos, saem do chão, e, iniciam uma jornada de destruição, com raios mortíferos, que reduzem as pessoas a pó (embora poupem as roupas, sabe-se lá porque…).
Apavorado, Ray rouba um carro, fugindo da destruição com os filhos. Em meio ao caos em que as cidades se transformaram, a civilização parece ter se desfeito, num fogo cruzado entre os alienígenas, os militares, e, a própria população, desesperada para fugir da morte.
Fugindo do campo de batalha, com a filha, Ray encontra abrigo na casa de Ogilvy, cuja família fora inteiramente massacrada pelos alienígenas. Ray tem que controlar os próprios temores, o descontrole do novo companheiro, e, de quebra, fugir dos ets, que capturam os seres humanos para roubar-lhes o sangue. Só resta uma alternativa, continuar fugindo, para buscar a sobrevivência de qualquer maneira. Ponto. Não falo mais nada, para não estragar a surpresa, para os que não conhecem a história.
O principal pecado de Spielberg parece ter sido o de não decidir o papel do seu herói. No livro, o personagem principal é um observador, um cronista dos fatos, que apenas relata, ao leitor, o que vê, deixando, para este, o julgamento. Na versão de 1953, o herói é um cientista, que lidera a sua equipe na luta contra os invasores. No filme atual, Ray é um homem confuso e aterrorizado, mas, que é capaz de lidar com granadas, notar coisas que mesmo os militares não percebem, e, até matar outro ser humano. Embora tenha sido uma excelente atuação de Tom Cruise, seu personagem não é fácil de se identificar, principalmente quando o imaginamos em “Missão Impossível”, ou, “Minority Report – A Nova Lei”, do mesmo Spielberg.
Como se poderia esperar, o filme é repleto de efeitos especiais, muito bem feitos, por sinal, com seqüências de ação estonteantes. Os furos do roteiro atrapalham, mas, não invalidam o filme, como resgate de uma das mais conhecidas histórias de ficção científica. Para se ter uma boa idéia, seria interessante dar uma conferida na versão de 1953, disponível em DVD, ou, melhor ainda, dar uma lida no livro original. Lembrem que, muito antes das versões cinematográficas, um ousado jovem, Orson Welles, aterrorizou os Estados Unidos, com uma transmissão radiofônica da história, levando milhares de pessoas a crer que realmente estava ocorrendo uma invasão alienígena.