Claquete 12 de agosto de 2005
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
O que está em cartaz
As férias escolares terminaram, e, os lançamentos, voltam-se mais para o público adulto. Neste final de semana, estréiam “A Sogra”, comédia de costumes, que marca o retorno de Jane Fonda ao cinema, após um hiato de 15 anos, “Adorável Júlia”, premiada comédia com Annete Benning, num papel que lhe rendeu um Globo de Ouro, e, o drama-comédia-gospel “Diário de Uma Louca”. Nas continuações, a divertida e curiosa comédia chinesa “Kung-Fusão”, com direito a artes marciais, e, muitas risadas, “A Ilha”, ficção-científica, com Ewan McGregor e Scarlett Johansson, numa história de clones, e, muita perseguição, o terror “Amaldiçoados”, do diretor Wes Craven, no mundo dos lobisomens, “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, dirigida por Tim Burton, e, estrelada por Johnny Depp, “As Aventuras de SharkBoy e LavaGirl em 3D”, fantasia de Robert Rodriguez, “O Castelo Animado”, mais uma animação do criador de “A Viagem de Chihiro”, Hayao Miyazaki, “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”, narrando os momentos finais do ditador,”Quarteto Fantástico”, novo filme de ação baseado em personagens de quadrinhos, o drama “Em Boa Companhia”, com Dennis Quaid, e, o ótimo desenho animado “Madagascar”, da Dreamworks. No filme de arte, a produção européia “Jornada da Alma”. Os distribuidores sinalizam que “Sin City” poderá estrear na semana seguinte. Quem viver, verá.
Estréia 1: “A Sogra”
Após anos procurando seu príncipe encantado, Charlotte Cantilini (Jennifer Lopez) se apaixona por Kevin Fields (Michael Vartan). O problema é a mãe dele, Viola (Jane Fonda), que foi recentemente demitida do cargo de âncora de um jornal de rede nacional. Após perder o emprego, Viola teme perder também o filho, e, para evitar isso, decide, então, espantar a futura nora, tornando-se a pior sogra do mundo. Para isso, conta com a ajuda de sua assistente de longa data, Ruby (Wanda Sykes), que faz de tudo para que Viola leve adiante seus planos malucos. Acontece que Charlotte resolve revidar, e, as duas vão ter de disputar, para ver quem é que manda, afinal. Este filme marca o retorno de Jane Fonda às telas de cinema, após quinze anos de afastamento. Jennifer Lopez, loiríssima, foge ao habitual papel de latina. A direção é de Robert Luketic. “A Sogra” estréia, para valer, nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom, e, no Cine Natal 2. Para maiores de 12 anos.
Estréia 2: “Adorável Júlia”
Comédia baseada em peça teatral de W. Somerset Maugham, este é uma trama de erros, movidos pela vingança, situado nos palcos londrinos no final da década de 30. O sucesso, e, a fama, da diva Julia Lambert (Annette Bening), cresce a olhos vistos. Isso incomoda muitos colegas de palco. Ela apaixona-se perdidamente pelo jovem norte-americano Tom (Shaun Evans), com quem vive um tórrido, e, curto romance. Um dia, a diva descobre que o jovem só estava com ela para subir socialmente, e, na verdade, seu interesse era a rival Avice Crichton (Lucy Punch). Julia planeja, então, uma terrível vingança. Refilmagem de um filme homônimo, de 1962, esta versão, do diretor István Szabó, rendeu, para Annete Bening, uma indicação ao Oscar, e, o Globo de Ouro de Melhor Atriz. “Adorável Júlia” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.
Estréia 3: “Diário de Uma Louca”
Helen (Kimberly Elise) é casada com um marido rico, Charles (Steve Harris), e, leva uma vida confortável. O mundo feliz de Helen desaba, quando Charles admite ter um caso com uma mulher perturbada, o que faz com que ela volte a viver com sua avó, Madea (o ator Tyler Perry), e, seu primo Brian (de novo, Tyler Perry). A dupla ajuda Helen a superar a traição do marido, o que é auxiliado pela chegada de Orlando (Shemar Moore) ao local. O roteiro de “Diário de Uma Louca” é baseado em torno da personagem Madea, criada por Tyler Perry para uma série de peças teatrais gospel. O nome Madea é uma contração da expressão “mother dear”. Perry, além de ter criado e interpretado a personagem Madea, cedeu a sua própria casa para as filmagens, além de custear a metade da produção. A direção é de Darren Grant. “Diário de Uma Louca” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.
Filme de Arte: “Jornada da Alma”
A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, traz a produção européia “Jornada da Alma”. A história do amor proibido do famoso psicanalista Carl Gustav Jung, e, Sabina Spielrein, chega às telas, em “Jornada da Alma”, do diretor Roberto Faenza. Em 1905, Sabina (Emilia Fox), uma jovem russa, de 19 anos, que sofre de histeria, recebe tratamento em um hospital psiquiátrico de Zurique, na Suíça. Seu médico, o jovem Carl Gustav Jung (Iain Glen), aproveita o caso para aplicar, pela primeira vez, as teorias do mestre Sigmund Freud. A cura de Sabina vem acompanhada de um relacionamento amoroso com Jung. Após alguns anos, ela volta à Rússia, tornando-se também psicanalista, e, montando a primeira creche, que usa noções de psicanálise para crianças. Em 1942, é morta pelos nazistas. Décadas após sua morte, ela tem sua trajetória resgatada por dois pesquisadores. O filme está disponível, também, em DVD. A Sessão Filme de Arte será no Cine Natal 1, na terça-feira, dia 16, em sessão única, às 21h. Para maiores de 14 anos.
“Todas as Cores do Amor”, em DVD
João amava Teresa que amava Raimundo… Drummond pode ter inspirado os autores do filme irlandês “Todas as Cores do Amor”, lançado, recentemente, em DVD. Comédia romântica passada na Irlanda, mostra diversos relacionamentos amorosos e seus entrelaçamentos. Partindo do pressuposto de que peixes dourados têm uma memória que dura somente três segundos – e, por isso, são felizes -, Tom (Sean Campion) gosta de conquistar as garotas comparando a capacidade de amar dos humanos com a mente dos peixinhos: a cada novo relacionamento, vive o amor como se fosse a primeira vez, tornando tudo novo e excitante. Com esta teoria, Tom conquista muita mulheres. Quando sua namorada, Clara (Fiona O’Shaughnessy), encontra o garanhão beijando Isolde (Fiona Glascott), ela acaba se consolando nos braços de Angie (Flora Montgomery). Quando esaa aventura acaba, é Angie quem se consolar com Red (Keith McErlean), seu melhor amigo. Red, por sua vez, prefere David (Peter Gaynor), descartando uma namorada – que se apaixona perdidamente por um dos amigos de Tom. E, assim, numa ciranda, todos estes jovens habitantes de Dublin apaixonam-se, decepcionam-se, e, depois, começam tudo de novo! O disco traz o filme com formato de tela letterbox, legendas em inglês e português, áudio: inglês (dolby digital 2.0) e português (dolby digital 2.0). Como extras, apenas trailer de cinema. Nas locadoras.
Novos e velhos, em DVD
Muita gente ainda pensa em DVD como as velhas fitas VHS, apenas para alugar na locadora e assistir uma vez. Mas, o disquinho tem uma característica diferente, que é a de ser um item colecionável. Apesar dos lançamentos serem em torno de 40 reais, tanto as lojas virtuais, como as lojas físicas, oferecem muitas opções interessantes, com preços promocionais. Além das promoções “leve 3 e pague 2”, ou “leve 2 e pague 1”, encontra-se filmes de catálogo, com preços muito convidativos. Um dos supermercados de Natal estava oferecendo filmes de John Wayne a treze reais, enquanto “O Cristal Encantado”, um belíssimo filme dirigido por Frank Oz e Jim Henson, em 1982, era encontrado a dez reais. Dê uma garimpada nas prateleiras, e, certamente encontrará muita coisa digna de figurar em sua coleção particular.
Claquete faz três aninhos!
É com imensa satisfação que participo aos leitores de Claquete o terceiro aniversário da coluna. Ao longo deste tempo, tenho recebido críticas, sugestões, e, manifestações de apoio, que sempre alimentam o prazer do contato semanal, tratando de nosso amor mútuo, a Sétima Arte.
Abertas inscrições para o 5º Festival do Vídeo Potiguar
Estão abertas as inscrições para o 5º Festival do Vídeo Potiguar, evento associado ao 15º Festival de Cinema de Natal, para incentivar novas produções de curta-metragem, e, revelar talentos na área. O 5º Festival do Vídeo Potiguar, será realizado na segunda quinzena de setembro. As inscrições podem ser feitas na sede do festival, na Fundação Hélio Galvão, rua Campos Sales, 930, por trás da sede do América, de segunda à sexta-feira das 9h às 11h e das 14h às 17h. Poderão ser inscritas produções nas categorias Ficção e Documentário, com premiação em dinheiro para o Melhor Vídeo. Todos os vídeos podem concorrer, mesmo os que já tenham participado de outros eventos, desde que não tenham sido premiados em outros festivais. O tema é livre, mas, a duração não deve ultrapassar 30 minutos. A única exigência do regulamento é que sejam produções rodadas no Rio Grande do Norte.
Filme recomendado: “Kung Fusão”
Kung fu estilo Papa-Léguas
Já vai longe o tempo em que filme oriental era sinônimo de cinema de carregação, com atuações amadoras, produções paupérrimas, e, rios de sangue, contrapondo-se à ausência de roteiro. Nos últimos anos, tem vindo de lá algumas produções ousadas e inovadoras, como “O Tigre e o Dragão”, “Herói”, e, “Clã das Adagas Voadoras”. Para surpresa geral, chega mais um título, que tem arrastado multidões aos cinemas, em especial por uma abordagem diferente, e, muito, muito divertida. Este filme é “Kung-Fusão”, atualmente em cartaz, nos nossos cinemas.
Classificar este filme como comédia de artes marciais, leva, automaticamente, a uma comparação com os filmes de Jackie Chan. É inegável que existem características em comum, como um humor mais ingênuo, lutas belamente coreografadas, e, a maior ousadia limita-se a um personagem cujas calças vivem quase caindo. Mas, as semelhanças param por aí. “Kung-Fusão” é desenho animado puro, mas, com personagens de carne e osso.
Este filme, que alcançou a maior bilheteria de um filme produzido em Hong Kong, e, foi o título estrangeiro lançado em maior número de salas, nos Estados Unidos, deve-se, quase todo a um homem. Stephen Chow, tornou-se conhecido depois do filme “Shaolin Soccer”, de 2001, lançado, aqui, direto nas locadoras, como “Kung-Fu Futebol Clube”. Em “Kung-Fusão”, Chow protagoniza o papel principal, dirige o filme, participa da produção, e, co-assina o roteiro.
A história se passa em Xangai, no final dos anos 30. O país vive o caos político, entre a invasão japonesa e o início da Segunda Guerra Mundial. Numa terra sem lei, a polícia é um mero fantoche, pois, o verdadeiro poder está concentrado nas mãos das poderosas gangues, e, em especial, a Gangue do Machado.
Sing (Stephen Chow) é um ladrão incompetente, que sonha em integrar a sofisticada e implacável gangue do Machado, que controla o submundo da cidade. Com a ajuda de um amigo, finge-se de gangster, para tentar extorquir dinheiro dos moradores de um pardieiro, que tem o simpático endereço de Beco Chi-Queiro (Ah!, os tradutores nacionais…). A tentativa não dá certo, pois, entre os moradores do gueto, estão alguns mestres de artes marciais.
Por azar, alguns dos verdadeiros membros da Gangue do Machado chegam ao local, mas, são derrotados, por três inquilinos do local, um carregador, um cozinheiro, e, um alfaiate.
Sing não consegue fazer jus a uma fama de mal. Suas tentativas de roubar e matar são de uma incompetência total, e, sempre terminam mal para ele. Para sua sorte, neste filme, como nos desenhos de Papa-Léguas, as pessoas caem de alturas imensas e não se machucam, só racham o chão, são mordidas por najas venenosas, e, apenas ficam com os beiços inchados, e, por aí, vai.
Uma das seqüências mais hilárias é a perseguição que a Senhoria move contra Sing, com direito a ultrapassar caminhões (por cima e por baixo) com velocidades de deixar a Fórmula Um no chinelo.
Aos poucos, vamos conhecendo as motivações de Sing, e, em especial, do trauma de infância, quando foi enganado por um mendigo, que o convenceu a dar todas as suas economias em troca de um manual com a técnica do Kung Fu da Palma de Buda. No primeiro confronto, um desastre total, e, Sing desistiu de ser herói, para tornar-se bandido.
O chefe da Gangue do Machado, após inúmeras derrotas para o Beco Chi-Queiro, contrata Sing para libertar Fera, o maior assassino do mundo, que deverá enfrentar o casal de senhorios do gueto, na verdade, dois antigos mestres de Kung Fu, que abandonaram as lutas, após a morte do filho.
O confronto é terrível, e, não apenas o casal é derrotado, como Sing, que entrara na defesa dos dois, é moído de pancadas pela Fera, tendo todos os ossos do corpo quebrados.
Logicamente, o confronto final ainda está por vir, quando, finalmente, muitas coisas são descobertas e reveladas.
O maior mistério que enfrentei foi descobrir porque a censura nacional ficou para maiores de 14 anos. “Kung-Fusão” está a léguas de distância dos banhos de sangue de “Kill Bill”, ou, de qualquer filme de ação de Hollywood. A violência que existe no filme é a mesma de qualquer desenho animado estilo Looney Tunes. Não existe nenhuma cena de sexo ou nudez, ou, mensagem ideológica de qualquer natureza, a não ser a de que o melhor caminho é o da harmonia.
Por outro lado, a dinâmica de cartoons, obtida, tanto pelos efeitos especiais, como pelo uso da linguagem destes, torna o filme extremamente divertido, lembrando mais uma comédia pastelão dos velhos tempos do cinema mudo. Todos os personagens são feios e caricatos, e, aí está a sua beleza.
Existem muitas referências a outros filmes, como as cartolas e os machados dos bandidos, que lembram “Gangues de Nova York”, ou, os atacantes em série, que remetem aos clones do Agente Smith, de “Matrix”. Mas, de um modo geral, “Kung-Fusão” trouxe um suspiro de originalidade, ao manjado mercado hollywoodiano.
Para quem for assistir o filme – e, recomendo-o a todos – só precisa ir armado de bom humor, e, com o espírito preparado para curtir o absurdo. Muito divertido, por sinal.