Claquete 11 de novembro de 2005
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
Meus sinceros parabéns ao “Jornal de Hoje”, que completa oito anos de existência. Fico mais feliz, ainda, por ter participado de boa parte desta jornada. E, nos cinemas, as estréias se multiplicam. Neste final de semana, entram em cartaz a animação da Disney “O Galinho Chicken Little”, com as vozes de Daniel de Oliveira e Mariana Ximenes, o drama “Marcas da Violência”, com Viggo Mortensen e Ed Harris, “Mergulho Radical”, ação, com Paul Walker e Jessica Alba, e, o documentário nacional “Doutores da Alegria – O Filme”. Nas continuações, “Cão de Briga”, drama de ação, com Jet Li e Morgan Freeman (veja em Filme Recomendado), o suspense “Jogos Mortais 2”, “Tudo Acontece em Elizabethtown”, com Orlando Bloom e Kirsten Dunst, a aventura capa-e-espada “A Lenda do Zorro”, com Antonio Banderas e Catherine Zeta-Jones, a ótima animação “A Noiva Cadáver”, do diretor Tim Burton, e, “O Coronel e o Lobisomem”, com Diogo Vilela e Selton Mello.
Estréia 1: “O Galinho Chicken Little”
Chicken Little é um franguinho, cheio de imaginação, que vive aprontando as maiores confusões. Um dia, ele provoca pânico generalizado na cidade onde vive, ao confundir a queda de uma avelã com um pedaço do céu que estivesse caindo. Após a verdade vir à tona, Chicken Little perde todo o crédito junto aos habitantes, que não acreditam mais no que ele diz. Porém, quando um pedaço do céu realmente cai em sua cabeça, ele precisa encontrar um jeito de salvar a cidade, sem fazer com que todos entrem em pânico mais uma vez. Este longa-metragem é baseado no curta “Chicken Little”, de 1943. “O Galinho Chicken Little” é a primeira animação da Disney, em computação gráfica, sem a parceria com a Pixar. Na dublagem brasileira, as vozes de Daniel de Oliveira, Mariana Ximenes, Sylvia Salusti, Mário Monjardim e Mauro Ramos. “O Galinho Chicken Little” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom. Censura livre. Atenção: cópia dublada.
Estréia 2: “Marcas da Violência”
Tom Stall (Viggo Mortensen) leva uma vida tranqüila, e, feliz, na pequena cidade de Millbrook, no estado de Indiana, ao lado de sua esposa, Edie (Maria Bello), e, seus dois filhos. Um dia, esta rotina de calmaria é interrompida, quando Tom consegue impedir um assalto, em seu restaurante. Percebendo o perigo, Tom se antecipa, e, consegue salvar seus clientes e amigos, matando dois criminosos em legítima defesa. Considerado um herói, Tom tem sua vida inteiramente transformada, a partir de então. A mídia passa a segui-lo, o que o obriga a falar com ela regularmente, e, faz com que ele deseje que sua vida retorne à calma anterior. Para piorar as coisas, surge, então, em sua vida, Carl Fogarty (Ed Harris), um misterioso homem, que acredita que Tom lhe fez mal no passado. Suspense dirigido por David Cronenberg (“A Mosca”), baseado em graphic novel de John Wagner e Vince Locke. “Marcas da Violência” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.
Estréia 3: “Mergulho Radical”
Estréia 4: “Doutores da Alegria – O Filme”
O natalense terá a oportunidade de assistir um importante documentário, sobre um grupo de profissionais que levam a alegria aos sofridos pacientes dos hospitais infantis. O dia-a-dia dos hospitais que recebem visitas do grupo Doutores da Alegria, formado por atores, que se vestem de palhaços, para alegrar as crianças internadas. A transformação pela qual o ambiente passa, com a simples presença dos palhaços, proporcionando cenas engraçadas, e, ainda, presenciando depoimentos tocantes ao lado dos pacientes, seus pais e médicos. O documentário, dirigido por Mara Roumão (“Avassaladoras”), ganhou o Prêmio Especial do Júri e o de Melhor Documentário – Júri Popular, no Festival de Gramado, e, o prêmio de Melhor Filme, no Festival de Cinema Brasileiro de Nova York. “Doutores da Alegria – O Filme” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 5 do Moviecom, sempre na sessão de 17h. Censura livre.
Começa a venda de ingressos para Harry Potter
A rede de cinemas Moviecom informa que iniciou as vendas dos ingressos para o filme “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, que estréia no próximo dia 25. Na primeira semana, o filme será exibido em quatro salas simultâneas, sendo duas com sessões dubladas (4 e 5), e, duas, com cópias legendadas (6 e 7). Este é o quarto filme da série do famoso bruxinho, iniciado com “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, seguido de “Harry Potter e a Câmara Secreta”, e, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”. E, por falar em Harry Potter, a edição, em português, do último livro da série, “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, estará nas livrarias no dia 26 de novembro, um dia após a estréia do novo filme.
“A Fantástica Fábrica de Chocolates”, em DVD
A excelente releitura de Tim Burton sobre o livro de Roald Dahl, “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, chega agora, em DVD. A história do excêntrico industrial Willy Wonka, que abre a sua fábrica para a visita de cinco crianças, entre as quais será escolhida o seu sucessor, vem numa edição primorosa, com formato de tela widescreen anamórfico, e, áudio Dolby Digital 5.1. No disco de extras, os documentários “Fazendo a Mistura”, “Tornando-se Oompa – Loompa”, “O ataque dos Esquilos”, “O Fantástico Sr. Dahl”, “A Dança Ooompa-Loompa”, “Procure o Bilhete Dourado”, “A Máquina de Inventar”, “A Amêndoa Ruim”, “Rostos Diferentes, Sabores Diferentes”, “A Fantástica Fábrica de Chocolate – Doces Sons”, “Chocolate Especial”, e, “Sob o Invólucro”. Nas locadoras.
Petrobras lança programa de patrocínio cultural para 2006
A Petrobras anuncia hoje a terceira edição do Programa Petrobras Cultural, programa integrado de patrocínio, feito em articulação com o Ministério da Cultura (MinC), e, com a Subsecretaria de Comunicação Institucional da Secretaria Geral da Presidência da República (SECOM), beneficiando projetos de preservação e memória, destinado a museus e outros meios de conservação da memória cultural, e, produção e difusão de filmes, música, e, artes cênicas. Ao todo, será destinada uma verba de 62 milhões de reais. Para saber mais detalhes, regulamento e critérios de seleção de projetos, consulte o site da estatal: www.petrobras.com.br. Segundo o site da empresa, está prevista uma palestra sobre o programa, em Natal, no dia 16 de novembro próximo.
Filme recomendado: “Cão de Briga”
Coleiras e pianos
O que distingue um homem de um animal selvagem? Alguns poderiam citar a fala, o caminhar ereto, a capacidade de pensar, a escrita, a cultura, a tecnologia, etc.. Todas as respostas devem estar certas, nenhuma delas é exclusiva, mas, o diretor francês Luc Besson imaginou um outro ângulo, ao criar o roteiro de “Cão de Briga”, thriller dirigido por Louis Leterrier, e, estrelado por Jet Li.
O roteiro brinca com a idéia do que poderia acontecer com alguém que tivesse sido criado, desde menino, dentro de uma cela, e, sido treinado, como um cão de briga, para lutar selvagemente contra qualquer adversário.
Bart (Bob Hoskins) é um pequeno gangster, que vive de cobrar dívidas em atraso. Como não são simples dívidas bancárias, mas, de perigosos agiotas, Bart também lança mão de meios pouco usuais, para as suas cobranças. Além de três capangas, que lhe dão cobertura, ele dispõe de uma arma secreta. A arma é Danny (Jet Li), um oriental criado por Bart, desde criança, e, treinado com um cão de briga. Nas horas de aperto, o gângster solta a coleira de metal de Danny, que está condicionado para lutar contra qualquer um que apareça em sua frente.
Tratado, literalmente, como um cão, Danny pouco fala, e, seus únicos tesouros são um antigo livro de alfabetização, e, uma foto rasgada. Suas roupas, puídas e sujas, sua propriedade, e, a alimentação, latas de sopa, que ele come com as mãos.
Numa dessas “cobranças”, Danny é observado por um homem que organiza lutas clandestinas, e, oferece, para Bart, muito dinheiro, para que o rapaz participe das lutas. O acaso leva Danny a um antiquário, onde, enquanto Bart e seus capangas extorquem o dinheiro do proprietário, ele conhece Sam (Morgan Freeman), um cego, que ganha a vida como afinador de pianos.
Danny é levado aos ringues clandestinos, e, ganha a sua primeira luta. No retorno para casa, o carro é emboscado por inimigos de Bart, que metralham os ocupantes. Acreditando que Bart morreu, e, sem saber para onde ir, Danny refugia-se no antiquário, onde é encontrado, ferido, por Sam.
Apiedado do rapaz, Sam o leva para a sua casa, onde vive com a filha Victoria (Kerry Condon). Danny estranha o lugar, e, vive mais tempo escondido debaixo da cama do que fora. Aos poucos, os donos da casa vão ganhando a sua confiança, e, trazendo-o para o seu convívio.
O maior incentivo, para Danny, é a música, que exerce um estranho fascínio sobre ele. A foto rasgada, um dos tesouros do rapaz, termina mostrando-se a pista que faltava, para chegar à origem dele. Em um conservatório, descobrem quem foi a mãe de Danny, mas, nada sabem sobre o seu destino, já que desapareceu misteriosamente.
Aos poucos, Danny vai se tornando um membro da família de Sam. Já consegue falar com fluência, aprendeu um pouco de música com Victoria, e, divide o trabalho de afinação de pianos com o seu benfeitor. A vida estava perfeita, para Danny, até que ele encontra um dos capangas do seu antigo “dono”. Temendo por Sam e Victoria, ele decide voltar ao covil de Bart, que tem novos planos para ele.
Feliz por ter reencontrado o seu “cão de briga”, Bart leva Danny para uma nova exibição nos ringues clandestinos. Só que, agora, o rapaz não quer mais brigar, e, recusa-se, terminantemente, a machucar alguém, mesmo que, para isso, tenha que enfrentar cinco lutadores de uma vez.
Furioso, Bart tenta convence-lo a continuar como antes, mas, Danny, tendo provado do gosto de ser um ser humano, não quer mais retornar à condição animalesca em que vivia. O confronto, entre Danny, que quer preservar os seus novos amigos, e, Bart, que reúne a escória de Londres, para enfrentá-lo, termina virando uma batalha campal. Para saber o resultado, assista ao filme.
Como falei no início, a passagem de Danny, de sua condição “animal” para a de um ser humano, envolve todos os aspectos culturais e sociais mencionados acima. Contudo, dois pontos me chamaram a atenção, no roteiro. O primeiro, foi a utilização da música como um traço cultural indelével. Os pássaros emitem sons musicais, mas, só o homem os organiza de modo a serem repetidos e reinterpretados. A memória de uma música, tocada no piano, pela mãe, foi a ponte que ajudou Danny a resgatar o seu passado, e, descobrir o drama que o envolvera.
O outro aspecto interessante, diz respeito ao autocontrole. Na sua condição de cão de briga, Danny não esboçava nenhum movimento, enquanto a sua coleira de metal não fosse retirada. A partir daí, a selvageria dominava. Ao entrar no convívio de Sam e Victoria, ele não permitiu que tocassem na coleira, pois temia ser capaz de praticar algo de errado com os seus amigos. A retirada da coleira terminou marcando o ponto de mutação, a entrada definitiva no estado de humanidade, pois ele se descobriu capaz de controlar todos os seus atos.
Embora seja um ator limitado, Jet Li, o mestre do kung fu, não fez feio, embora o seu personagem passasse metade do filme meio catatônico. Por outro lado, dois gigantes da dramaturgia, Bob Hoskins e Morgan Freeman, conduzem o filme com maestria, cada um interpretando um personagem marcante, capaz de influenciar o jovem lutador.
Faz falta, também, um desenrolar romântico, que fica apenas subtendido, o que é uma constante, nos filmes de Jet Li. Quem lembra de “Romeu Tem que Morrer”, uma releitura de Romeu e Julieta, deve lembrar que não há um beijo. Há uma preocupação muito grande, dos atores orientais, com a influência que isso causa em seus fãs. Uma fã de Jackie Chan tentou suicídio apenas porque surgiu o boato de que ele estava namorando uma atriz japonesa…
Tecnicamente, o filme é perfeito, com transições de cenas maravilhosas, fotografia espetacular, e, uma trilha sonora recheada de musicas ao piano. Este aspecto poderia ter sido mais reforçado, mas, não podemos esquecer que é um filme de ação. E, como se poderia imaginar, as cenas de lutas são impressionantes, minuciosamente coreografadas, mas, sem as tiradas cômicas dos filmes de Jackie Chan.
Alguns espectadores saíram do cinema achando o filme muito violento. Mas, aqui não existem os banhos de sangue de “Kill Bill”, o sadismo de “Paixão de Cristo”, ou, a crueza realista de “Cidade de Deus”. Muito pelo contrário, há uma mensagem muito forte, no sentido do pacifismo ghandiano, quando o herói recusa-se a lutar, mesmo que, para isso, tenha que sacrificar a própria vida.
Talvez a Humanidade esteja aí, no controle da violência, e, constatamos, tristemente, que, de líderes mundiais a motoristas grosseiros, ainda há um longo caminho a percorrer, até que alcancemos, todos, esta condição elevada.