Claquete 02 de dezembro de 2005
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
Finalmente, chegou! Bem, para uns, isso significa Carnatal, enquanto que, para outros, o FESTNATAL, um dos mais importantes eventos de cinema do Nordeste. Nas estréias, o drama “Em Seu Lugar”, com Cameron Diaz, Toni Collette, e, a grande dama Shirley MacLaine, e, o terror “O Exorcismo de Emily Rose”. Nas continuações, “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, quarto filme do bruxinho, continua ocupando quatro das sete salas de exibição disponíveis em Natal. Continuam, também, em cartaz, as ótimas produções nacionais “Cidade Baixa”, estrelada por Lázaro Ramos, Wagner Moura, e, Alice Braga, e, “O Coronel e o Lobisomem”, com Diogo Vilela e Selton Mello (ambos com preço único de R$3), o elogiado suspense “Jogos Mortais 2”, e, a animação da Disney “O Galinho Chicken Little”, com as vozes de Daniel de Oliveira e Mariana Ximenes.
Estréia 1: “Em Seu Lugar”
Maggie (Cameron Diaz) e Rose Feller (Toni Collette) são duas irmãs, que tem em comum, apenas, o fato de calçarem o mesmo número de sapatos. Maggie é festeira, detesta estudar, muda constantemente de emprego, e, acredita que seu melhor talento é atrair os homens. Já Rose é uma advogada bem-sucedida, que trabalha em um dos maiores escritórios da Filadélfia. Aficionada pelo trabalho, Rose enfrenta problemas com o peso, e, sempre se sente desconfortável, nas roupas que usa. Maggie e Rose, apesar das diferenças, são grandes amigas. Após uma grande briga, as duas decidem viajar juntas, com a ajuda de sua avó recém-descoberta, Ella Hirsch (Shirley MacLaine), que acreditavam estar morta. A direção é de Curtis Hanson, de “8 Mile – Rua das Ilusões”. “Em Seu Lugar” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 1 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.
Estréia 2: “O Exorcismo de Emily Rose”
Emily Rose (Jennifer Carpenter) é uma jovem que deixou sua casa, em uma região rural, para cursar a faculdade. Um dia, sozinha em seu quarto no alojamento, ela tem uma alucinação assustadora, perdendo a consciência logo em seguida. Como seus surtos ficam cada vez mais freqüentes, Emily, que é católica praticante, aceita ser submetida a uma sessão de exorcismo. Quem realiza a sessão é o sacerdote de sua paróquia, o padre Richard Moore (Tom Wilkinson). Porém, Emily morre, durante o exorcismo, o que faz com que o padre seja acusado de assassinato. Erin Bruner (Laura Linney), uma advogada famosa, aceita pegar a defesa do padre Moore em troca da garantia de sociedade em uma banca de advocacia. À medida que o processo transcorre, o cinismo, e, o ateísmo, de Erin, são desafiados, pela fé do padre Moore, e, também, pelos eventos inexplicáveis em torno do caso. O filme é baseado na história verídica de Anneliese Michel, uma jovem alemã que passou pela mesma situação, nos anos 70. A direção é de Scott Derrickson. “O Exorcismo de Emily Rose” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.
FESTNATAL – O evento
Começou ontem a 15ª edição do Festival de Cinema de Natal, o FESTNATAL, que irá até o dia 15 de dezembro. O festival inicia com a mostra de documentários “Vidas na Tela”, que vai até o dia 5, num total de sete longas-metragens. No dia 6, terça-feira, começa a Mostra Nacional, onde serão exibidos os seis filmes que concorrerão ao prêmio Estrela do Mar, e, os três longas convidados, fora da competição. A exibição será no Centro de Convenções da Via Costeira. O ingresso custa R$ 1,00. Nos dias 9, 10 e 11 acontece a mostra na zona Norte, no Centro Cultural Chico Miséria. Como é tradição, este ano serão homenageados a atriz Nathalia Timberg, e, postumamente, o saudoso Grande Otelo. Mais informações no site do festival, www.festnatal.com.
FESTNATAL – “Vidas na Tela”
De 1 a 5 de dezembro, o FESTNATAL exibe a Mostra “Vidas na Tela”, com a seguinte programação: dia 2, “O Chamado de Deus”, de José Joffily, sobre a trajetória de jovens que seguem a carreira religiosa (sessões de 10h, 12h, 14h, 16h e 18h). No sábado, é a vez de “Brilhante”, de Conceição Senna, que mostra como um filme foi capaz de mudar uma cidade arruinada pela exploração de pedras preciosas (sessões de 10h, 12h e 14h). Ainda no sábado, “Um Certo Dorival Caymmi”, de Aluisio Didier, sobre Caymmi, um dos mais criativos compositores brasileiros (sessões de 16h, 17h30 e 19h). “Nos que aqui Estamos, por vós esperamos”, de Marcelo Masagão será exibido domingo, dia 4, às 10h, 11h30 e 13h. Filme discute a banalização da morte através dos tempos, usando como imagens recortes de época, ficcionais e reais. Também no domingo estréia “Soldado de Deus”, de Sérgio Sanz, em sessões de 14h30, 16h30, 18h30, sobre a importância do movimento Integralista na história do Brasil. Por fim, “A Pessoa é Para o Que Nasce”, de Roberto Berliner, sobre as três senhoras cegas, que ganham a vida tocando ganzá (dia 5, sessões de 10h,12h, 14h, 16h e 18h).
FESTNATAL – Mostra Competitiva Nacional
A partir do dia 6, o FESTNATAL exibe a Mostra Competitiva Nacional, onde estarão concorrendo ao troféu Estrela do Mar os filmes “Bendito Fruto”, do diretor Sérgio Goldemberg, com Vera Holtz, Zezé Barbosa, Otávio Augusto e Camila Pitanga; “Concerto Campestre”, do diretor Henrique de Freitas Lima, baseado em livro homônimo de Luiz Antonio de Assis Brasil, com Antonio Abujamra e Marieta Severo no elenco. “A Máquina”, do diretor Gustavo Falcão, com Mariana Ximenes, Paulo Autran, Wagner Moura e Lázaro Ramos no elenco; “Bens Confiscados”, do diretor Carlos Reichembach, que ganhou o prêmio de Melhor Filme no Cine PE, e, traz, no elenco, Betty Faria, Antônio Grassi e Marina Person; “Vida de Menina”, da diretora Helena Solberg, com Ludmila Dayer e Daniele Escobar, e, por fim “Celeste & Estrela”, da diretora Betse de Paula, com Dira Paes e Ana Paula Arósio no elenco.
FESTNATAL – Filmes convidados
Junto com a Mostra Competitiva Nacional, o FESTNATAL exibe três filmes convidados. “Jesuíno Brilhante”, em cópia restaurada em 35 mm, do falecido diretor potiguar William Cobbett, o primeiro longa-metragem rodado em solo potiguar em 1972, enfrentando tanto a seca inclemente quanto a repressão do regime militar; “O Quinze”, de Jurandir Oliveira, baseado no mais conhecido romance da escritora Rachel de Queiroz, e, “Dom”, do diretor Moacyr Góes, ‘modernização’ do clássico “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.
Curtas
Já estão sendo vendidos, na rede Moviecom, os ingressos para os filmes “As Crônicas de Nárnia”, que estréia dia 9, e, “King Kong”, que estréia dia 16. # O clássico do cinema russo, “O Encouraçado Potemkin”, dirigido por Sergei Eisenstein, ganhou uma nova trilha sonora, e, quem diria, composta por Neil Tennant e Chris Lowe – dos PET SHOP BOYS. # O filme “Titanic”, de James Cameron, ganhou uma nova edição em DVD, com quatro discos, e, muito material extra. O preço, como o filme, é meio salgado: 99 reais. Por essa grana, dá para comprar um pack com a trilogia “Senhor dos Anéis”, cada um com um disco de extras. # Preste atenção no mercado, pois, com a proximidade do Natal, volta e meia surgem promoções, como desconto de 30% no preço de capa, ou, filmes recentes, como “Batman Begins”, sendo vendidos a R$29,90!
Filmes recomendados: “Tora! Tora! Tora!” e “Pearl Harbor”
O despertar do gigante
No próximo dia 7 de dezembro, um evento que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial completará 64 anos. O acontecimento a que me refiro foi o ataque do Japão ao porto de Pearl Harbor, no Havaí, onde estava concentrada a maior parte da força naval americana do Pacífico. O ataque foi mostrado em diversos filmes, mas, dois deles merecem um olhar mais cuidadoso, por parte dos interessados no assunto. Os filmes mencionados são “Tora! Tora! Tora!”, de 1970, e, o recente “Pearl Harbor”, estrelado por Ben Affleck.
Os dois filmes mostram os acontecimentos daquele fatídico dia, cada um com uma ótica especial, que será discutida adiante. É importante, porém, ter uma breve idéia do que acontecia no mundo, naqueles dias.
O centro das atenções mundiais era a Alemanha, ressurgida do caos após a Primeira Guerra Mundial, e, agora, na década de 30, era uma potência rica, poderosa e imponente, liderada por Hitler, um homem que defendia o expansionismo militar e a supremacia da raça ariana. Apesar do horror que hoje nos causa, naquela época, as suas idéias eram simpáticas aos montes de caudilhos e ditadores que dominavam o mundo, inclusive, com Getúlio Vargas, no Brasil, e, Juan Domingo Perón, na Argentina. O líder da Itália, Mussolini, embarcou na aventura militarista de Hitler, e, a Segunda Guerra iniciou, na Europa, com a invasão da Polônia, em 1939, colocando Alemanha (e a Áustria anexada) e Itália, contra Inglaterra e França.
Os Estados Unidos mantiveram-se fora da guerra, embora abastecessem a Inglaterra com armas, munições, e , equipamentos, e, exercessem a sua influência econômica, para acelerar a resolução do conflito. Essa ação indireta, porém, incomodava o Japão, que, tinha os seus próprios sonhos de dominação da Ásia, e, desde o início da década de 30, haviam invadido parte da China.
Os bens japoneses na América foram então congelados, o intercâmbio comercial entre os dois países foi suspenso e, por fim, acabou sendo decretado o embargo de petróleo para o Japão. No final de novembro, em uma nova rodada de negociações entre a diplomacia dos dois países, Roosevelt exigiu a imediata retirada das tropas nipônicas da China e da Indochina, além do rompimento do Pacto Tripartite, como forma de retomar relações políticas e comerciais plenas. Porém, não houve acordo.
O Japão, por sua vez, vinha de uma cultura extremamente fechada, com castas sociais rígidas, e, sistema feudal, que foi abruptamente rompido, pela ocidentalização imposta pelo imperador Mitsuhito, episódio mostrado no filme “O Último Samurai”. A mudança fortaleceu os militares, agora não mais os cultos samurais, mas, oriundos de qualquer classe, que obtivessem ascensão nas forças armadas.
Os sonhos de expansão japonesa remontavam às suas origens, mas, após derrotar uma potência ocidental, a Rússia, em 1904, aos poucos, foram ampliando os seus horizontes. A decadente China, despedaçada por guerras civis, foram o primeiro alvo, com o estabelecimento de um governo fantoche na Manchúria.
Os japoneses não tinham dúvidas quanto ao poderio americano. O almirante Yamamoto conhecia bem o país, estudara na universidade de Harvard, visitara indústrias, e, entendia as diferenças culturais entre os dois povos. Contudo, ele acreditava que um ataque fulminante à marinha americana, que concentrara boa parte do seus navios, porta-aviões e submarinos em Pearl Harbor, poderia colocar os Estados Unidos em uma situação de fraqueza, já que teriam perdido uma parte importante do seu poderio militar.
E assim, no mês de novembro, uma poderosa frota, bem treinada, partiu secretamente do Japão, enquanto os diplomatas japoneses em Washington faziam um jogo de empurra, ora prometendo, ora recuando, na elaboração de um tratado de não-beligerância. No dia 7 de dezembro de 1941, enquanto o embaixador entregava a declaração de guerra, os aviões bombardeavam o porto de Pearl Harbor. Na verdade, a declaração foi entregue com uma hora de atraso, em relação ao ataque, fato explorado, até hoje, pela propaganda de guerra, e, considerado um desrespeito à Convenção de Genebra.
Olhando-se friamente, seria igualmente ruim um ataque após a entrega da declaração. É curioso que se considere “normal” estraçalhar pessoas com bombas atômicas, mas, não, com armas químicas. Os Estados Unidos, posteriormente, sustentariam uma longa guerra no Vietnã, que nunca foi declarada, usariam napalm e desfolhantes químicos, prenderam centenas de afegãos sem julgamento, em Guantânamo, e, torturaram presos nos cárceres iraquianos…
Mas, voltando a Pearl Harbor, o ataque, por mais vidas e prejuízos materiais que tenha causado, provocou a imediata entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra, unindo-se à Inglaterra, França e Rússia, com recursos materiais e humanos. A opinião pública americana, que antes considerava a guerra um assunto europeu, foi impactada pelo ataque japonês, provocando uma imensa adesão à causa dos Aliados.
Todos estes aspectos são retratados nos dois filmes, embora “Tora! Tora! Tora!”, com uma linguagem quase jornalística, vai construindo linearmente os eventos que precederam ao ataque em si. Apesar de ter sido feito em uma época em que nem se sonhava com computação gráfica, as cenas de ataques foram feitas com um realismo impressionante.
“Pearl Harbor”, de 2001, foi dirigido por Michael Bay, de “Armageddon”. Na nova versão, o diretor romanceou os fatos, colocando o ataque como um pano de fundo para um romântico triângulo amoroso entre os personagens de Ben Affleck, Josh Hartnett, e, Kate Beckinsale. Outros nomes famosos ocupam papéis secundários, como Cuba Gooding Jr, Jon Voight, Dan Aykroyd e Alec Baldwin. Se o rigor com a condução histórica ficou em segundo plano, a seqüência das cenas do ataque é impressionante, principalmente para quem estiver assistindo em um home theater. O subwoofer trabalha sem parar, nas inúmeras cenas de tiroteios e explosões.
Os dois filmes mostram visões em comum, como a dificuldade em localizar a frota japonesa, ou, o erro tático, de concentrar todos os aviões no centro das pistas, tornando-os alvos fáceis para os pilotos japoneses. Isso foi explicado pelo temor de sabotadores, já que milhares de imigrantes japoneses viviam no Havaí. A História, porém, provou que, além de nunca terem feito nada contra as instalações militares, os imigrantes formaram um dos mais aguerridos batalhões que lutaram na Europa, contra os alemães. Eles tiveram tantas baixas em combate, que o símbolo do pelotão, o Coração de Púrpura, foi transformado em símbolo para os soldados feridos em combate.
Independente do enfoque se tenha, e, longe de ser uma ode ao militarismo americano, os dois filmes mostram um pouco da estupidez da guerra, e, da incapacidade dos homens de resolver os seus conflitos com um mínimo de inteligência. Na dúvida sobre qual filme ver, assista aos dois! Em “Tora! Tora! Tora!” será possível ter uma visão cronológica dos fatos mais importantes, e, em “Pearl Harbor”, é possível sentir um pouco do realismo cênico da guerra, ao mesmo tempo em que a trama romântica mantém o interesse no destino dos personagens, bem ao gosto das platéias atuais.