Claquete 16 de dezembro de 2005

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Cada macaco no seu galho, a não ser que seja do tamanho de King Kong, e, por isso, vá ocupar quatro salas, na estréia. É o sonho realizado de Peter Jackson (“Senhor dos Anéis”). Nas continuações, a superprodução da Disney, “As Crônicas de Nárnia”, com batalhas épicas entre personagens lendários, “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, quarto filme do bruxinho mais famoso do mundo, o terror “O Exorcismo de Emily Rose”, a produção nacional “Cidade Baixa”, estrelada por Lázaro Ramos, Wagner Moura, e, Alice Braga. Somente neste final de semana, acontece a pré-estréia da comédia “E Se Fosse Verdade”?

Estréia: “King Kong”

Projeto pessoal do diretor Peter Jackson (“Senhor dos Anéis”), chega aos cinemas a sua mais nova criação, uma nova versão de “King Kong”. Apaixonado, desde criança, pela primeira versão do filme, de 1933, ele usou o seu sucesso na trilogia “Senhor dos Anéis” para fazer a sua (caríssima) visão do macaco gigante. Ambientado no início da década de 30, em plena Depressão, um diretor de cinema inescrupuloso, Carl Denham (Jack Black), encontra Ann Darrow (Naomi Watts), uma atriz de vaudeville desempregada, e, lhe oferece o papel principal em seu próximo filme. O que ninguém sabe, nem mesmo o dramaturgo Jack Driscoll (Adrien Brody), é que o filme será rodado na Ilha da Caveira, uma misteriosa ilha, repleta de animais desconhecidos, e, entre eles, segundo reza a lenda, um macaco gigantesco. Como se poderia imaginar, boa parte dos 207 milhões de dólares gastos na produção do filme foram utilizados nos efeitos de computação gráfica, já que, em 80% das cenas, os atores atuavam em frente a uma tela verde. Para se ter idéia, foram feitas 60 mil construções em maquetes, enquanto, com a ajuda de um levantamento aéreo dos anos 30, foi reconstituída, em 3D, a cidade de Nova York daquela época. “King Kong” estréia, nesta sexta-feira, nos Cines 4, 5, 6 e 7, do Moviecom. Para maiores de 12 anos.

Pré-Estréia: “E Se Fosse Verdade”

Quando David (Mark Ruffalo) alugou um apartamento em São Francisco, o que ele menos esperava – e desejava! – era ter que dividir a sua casa com alguém. Mas, de uma hora para outra, aparece uma bonita médica chamada Elizabeth (Reese Whiterspoon), que insiste que o apartamento é dela. A moça desaparece tão misteriosamente como chegara, e, não adianta David trocar as fechaduras, pois ela continua indo e vindo à vontade. Convencido de que ela é um espírito, David tenta ajudá-la a passar para o “outro lado”, mas, ela não acredita que tenha chegado o seu momento, ainda. Na medida em que tentam descobrir o que Elizabeth realmente é, e, qual o seu destino, os dois vão se envolvendo numa relação amorosa. Infelizmente, o tempo que terão juntos parece destinado a desaparecer… Comédia romântica dirigida por Mark Waters, terá pré-estréia somente nesta sexta-feira e sábado, na sessão de 22h do Cine 3 do Moviecom. Censura livre.

“King Kong”, em DVD – I

Em Nova York, um famoso diretor de cinema não consegue uma atriz para sua próxima produção, pois ninguém quer ir filmar em um lugar não revelado. Assim, ele mesmo começa a vagar pelas ruas, até que encontra uma jovem pobre, mas, muito bonita, a quem imediatamente dá o emprego. A equipe viaja até uma ilha desconhecida, na qual os nativos oferecem “noivas” para Kong, um gigantesco macaco. Após muitos perigos, a equipe de filmagens consegue capturar o macaco, pois pretende levá-lo para Nova York, para ser exibido. Primeira versão de “King Kong”, em preto e branco, fez largo uso de maquetes de papelão, e, bonecos de massa, com a técnica “stop-motion”. Existem várias edições deste filme. A mais antiga, em preto e branco, era da Continental, uma outra, colorizada, horrível, e, aproveitando a estréia do filme de Peter Jackson, uma “edição especial”, com dois discos, com o filme em preto e branco, áudio remasterizado e diversos extras.

“King Kong”, em DVD – II

Um gigantesco gorila é encontrado numa ilha do Pacífico, e, aprisionado, para ser exposto em um show em Nova York. Porém, ao chegar em território americano, ele consegue se libertar, e, passa a trazer terror e pânico à cidade. Dirigido por John Guillermin e produzido por Dino de Laurentis, este filme lançou a bela Jessica Lange no estrelato. Vencedor de um Oscar pelos seus efeitos especiais, quase todos usando gigantescos bonecos mecânicos que simulavam o macaco. Tentativa de modernizar o famoso filme de 1933, levando o embate final, que no filme original era no Empire States Building, para as finadas tôrres gêmeas do World Trade Center, na época, o edifício mais alto do mundo. Este DVD é facilmente encontrado nas bancas promocionais dos hipermercados, com preços a partir de R$13.

“2 Filhos de Francisco”, em DVD

A cinebiografia da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano, “2 Filhos de Francisco”, chega, finalmente em DVD legítimo, depois do pirata ter passeado até de avião presidencial. Numa edição caprichada, produzida pela Sony, o disco traz o formato de tela original do cinema, áudio em português Dolby Digital 5.1 e 2.0, legendas em português, inglês e espanhol, e, além do filme, Making Of, o documentário “Zezé Di Camargo & Luciano”, cenas excluídas, erros de filmagens, e, galeria de fotos. O melhor é que, contrariando a tendência de preços exorbitantes nos lançamentos, o disco pode ser encontrado, facilmente, por trinta reais, tanto na internet, como nas lojas físicas de Natal.

“Vida de Menina”, grande vencedor do FESTNATAL

“Vida de Menina”, dirigido por Helena Solberg, e, com Ludmila Dayer e Daniela Escobar, no elenco, foi o grande vencedor do 15º Festival de Cinema de Natal, o FESTNATAL. O filme, uma adaptação do clássico “Minha vida de menina”, de Helena Morley, ganhou, além de Melhor Filme, os troféus “Estrela do Mar” de Melhor Atriz (Ludmila Dayer), Música (Wagner Tiso), Fotografia (Pedro Farkas), Roteiro Adaptado (Elena Soares e Helena Solberg), e, Direção (Helena Solberg). Os outros longas-metragens premiados foram: “A Máquina” (Ator Revelação, Menção Honrosa, Produção e Montagem), “Concerto Campestre”,(Figurino e Ator Coadjuvante), “Bendito Fruto” (Ator), e, “Celeste & Estrela” (Roteiro Original). Na verdade, merecem o prêmio de persistência a organização do evento, e, em especial, o eterno batalhador Valério Andrade.

Filme recomendado: “As Crônicas de Nárnia”

A disputa do Paraíso

Ao longo de anos convivendo com a Sétima Arte, é sempre curioso ver os intelectuais clamando pelo simbolismo dos filmes, enquanto os fãs defendem o “cinema como a melhor diversão”. O bom é que, de vez em quando, as duas coisas podem ser encontradas em um filme, como é o caso de “As Crônicas de Nárnia”, que estreou sexta-feira passada, em nossos cinemas. Um aspecto do filme, porém, deverá atrair a atenção de um terceiro grupo, o dos religiosos, já que, muito, da mensagem cristã do autor dos livros, C. S. Lewis, foi transportado para a telona.

O filme inicia com os bombardeios alemães sobre Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Para proteger os seus filhos, muitos londrinos os encaminhavam para o interior, onde as crianças ficavam hospedadas em casas de voluntários. Foi assim que os irmãos Lúcia (Georgie Henley), Susana (Anna Popplewell), Edmundo (Skandar Keynes), e, Pedro (William Moseley), foram abrigados na mansão de um misterioso cientista, o professor Kirke.

Irrequietas e brincalhonas, como todas as crianças, os quatro irmãos lutavam contra o tédio, brincando nos inúmeros aposentos da imensa casa. Em uma destas brincadeiras, os jovens entram em um guarda-roupas, que os conduz a um estranho e fantástico universo, repleto de criaturas mágicas. Lucia, a caçula, logo fez amizade com um fauno, Mr. Tunnus, que a apresentou ao seu estranho mundo.

Mas, o novo mundo não era alegre, pois a poderosa Feiticeira Branca, Jadis (Tilda Swinton), mantinha o local em um permanente e pesado inverno. O acaso faz com ela se encontre com Edmundo, e, usando seus poderes, o convence a ficar ao seu lado.

Enquanto isso, os outros três irmãos são levados até Aslan, o leão, que lidera aqueles que não foram enfeitiçados por Jadis. Poderoso e sábio, Aslan revela aos irmãos que uma antiga profecia dizia que o mundo deles seria libertado, com a ajuda de quatro forasteiros, dois homens e duas mulheres.

Edmundo consegue fugir, e, reunir-se aos irmãos, mas, pesa sobre ele a fama de ser um traidor, já que ficou ao lado da feiticeira. Logo, o seu valor e dos irmãos será colocado em xeque, pois terão que enfrentar o poderoso exército de Jadis, com inferioridade numérica, e, tendo que lutar contra os feitiços traiçoeiros da bruxa.

Embora seja uma obra menos conhecida, no Brasil, do que “Senhor dos Anéis” ou, dos Harry Potter, a série “As Crônicas de Nárnia”, do escritor irlandês Clive Staples Lewis, é muito conhecida na Europa, tendo vendido mais de 85 milhões de exemplares no mundo todo. C. S. Lewis, como é mais conhecido, criou o mundo de Nárnia baseado em conversas com o amigo e contemporâneo J. R. Tolkien, autor de “Senhor dos Anéis”. Mas, longe da profundidade obsessiva de Tolkien, Lewis fez uma obra dirigida às crianças, com linguagem fácil, e, descompromissada, pretendendo que fosse mais uma fábula cristã.

A religiosidade de Lewis é evidente em muitos momentos do filme, como tratar as crianças como “filhos de Adão” e “filhas de Eva”. O leão Aslan, o líder sábio e justo, oferece sua vida para salvar os amigos, e, como Cristo, é maltratado, humilhado, e, sacrificado, embora, mais adiante, retorne à vida, para conduzir os exércitos na guerra contra o Mal. O demônio, bem no espírito conservador da época, é personificado por uma mulher, a Feiticeira Branca, que seduz Edmundo com um doce, como a Serpente fez com Eva, no Paraíso.

Nascido protestante, Lewis e sua família foram obrigados a sair de Belfast logo cedo, pois o país era predominantemete católico. Aos dez anos, Lewis perdeu a mãe, fato que influenciou a atitude de declarar-se ateu, aos 21 anos. Posteriormente, os amigos T.S. Eliot e J.R.R. Tolkien, conduziram-no de volta ao cristianismo, vindo ele a se tornar um dos mais influentes escritores cristãos de sua época. Foi também um erudito, ocupando o cargo de professor de literatura inglesa da Universidade de Oxford, e, de Inglês Medieval e Renascentista, na Universidade de Cambridge.

Escreveu mais de trinta livros, dentre os quais estão a série “As Crônicas de Nárnia”, “Os Quatro Amores”, “Cartas do Diabo a seu Aprendiz”, “Cristianismo Puro e Simples”, e, uma trilogia de ficção científica.

Apesar de já ter tido três adaptações para a televisão, o filme dos Estúdios Disney, dirigido por Andrew Adamson, foi o primeiro a vir para a tela grande. Considerado extremamente fiel ao livro, faz um bem cuidado uso da computação gráfica, já que os únicos humanos do filme são os quatro irmãos, e, em especial, com as cenas do leão Aslan, com extremo rigor nos detalhes.

“As Crônicas de Nárnia” chega batendo o favorito das bilheterias, “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, colocando-o em um incômodo terceiro lugar. A explicação para isto talvez seja porque, enquanto os filmes do bruxinho vão ficando mais adultos, “Nárnia” está repleto de elementos que agradam pessoas de todas as idades, desde bichinhos engraçados, batalhas campais, mágicas, elementos religiosos, etc..

Seja qual for o interesse, certamente, “As Crônicas de Nárnia” serão um programa interessante para toda a família, e, em especial para as crianças, dos dez aos cem anos, que não tem receio de viajar através de guarda-roupas mágicos, ao sabor da imaginação. Boa diversão!