Claquete 27 de janeiro de 2006

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Com o fim do veraneio, e, com o iminente início das aulas, começam a chegar filmes mais adultos. O mais esperado é “Munique”, do diretor Steven Spielberg, que sai da área fácil do entretenimento, para penetrar nas raízes de seu povo, narrando a reação ao atentado das Olimpíadas de Munique, em 1972. Estréiam, também, o drama mexicano “A Mulher do Meu Irmão”, de Ricardo de Montreuil, e, a comédia romântica “Dizem Por Aí”, com Kevin Costner, e, Jennifer Aniston, ex-Friends e ex-Brad Pitt. Nas continuações, “O Senhor dos Ladrões”, produção alemã baseada em livro de grande sucesso, “Nanny McPhee, Uma Babá Encantada”, a última loucura de Emma Thompson, “As Loucuras de Dick & Jane”, com o careteiro Jim Carrey, a comédia romântica “Tudo em Família”, estrelada por Diane Keaton e Sarah Jessica Parker, a ótima comédia nacional “Se Eu Fosse Você”, com Tony Ramos e Glória Pires, “Didi – O Caçador de Tesouros”, com Renato Aragão, e, o suspense “Escuridão”, “A Passagem”, drama estrelado por Ewan McGregor e Naomi Watts.

Estréia 1: “Munique”

No início de setembro de 1972, quando o mundo comemorava as Olimpíadas de Munique, um acontecimento abalou os Jogos e a atenção do mundo. O grupo terrorista Setembro Negro, ligado ao grupo Fatah, do finado Yasser Arafat, seqüestrou vários atletas israelenses. Ao perceber que seriam presos, mataram todos os reféns, num total de onze atletas de Israel. Por determinação do governo israelense, o Mossad montou um grupo que iria assassinar participantes do seqüestro, ou, parentes próximos, num ato de vingança política. O esquadrão Cesárea, ou, Fúria de Deus, como ficou conhecido em Israel, é formado por cinco agentes da polícia secreta israelense, liderados por Avner Kauffman. Eles caçam os militantes onde estiverem, e, matam em nome de uma missão patriótica e divina. Esta é a história narrada em “Munique”, do diretor Steven Spielberg. Embora seja baseado em fatos reais, há uma forte dose de ficção, o que garante muita ação, bem ao estilo do diretor. Nos papéis principais, Eric Bana, Daniel Craig, Geoffrey Rush, Mathieu Kassovitz e Kurt Russell. “Munique” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom. Para maiores de 18 anos.

Estréia 2: “A Mulher do Meu Irmão”

Após dez anos de casamento, Zoe (Bárbara Mori) sente-se entediada com a vida, carente de paixão, e, surpresas. Aos poucos, Zoe deixa-se seduzir pelo cunhado. A partir desta situação, desencadeia-se uma série de eventos, que levarão os personagens a um arriscado jogo de vinganças secretas, e, paixões. Dois irmãos e uma mulher: o triângulo se forma, de uma maneira inquietante. É uma bomba que vai desenterrar segredos familiares, o furor contido do desejo, a força sem governo do amor. O filme é baseado no livro homônimo do jornalista Jaime Bayly. A direção é de Ricardo de Montreuil. “A Mulher do Meu Irmão” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.

Estréia 3: “Dizem Por Aí”

Após um longo tempo, Sarah Huttinger (Jennifer Aniston) aceitou casar-se com Jeff (Mark Ruffalo), seu namorado. Mas, na verdade, ela ainda está em dúvida sobre se realmente quer se casar. Sua vida profissional também está confusa, já que Sarah, uma aspirante a jornalista, não consegue deixar a área de obituários do New York Times. Para piorar ainda mais a situação, ela precisa ir ao casamento de sua irmã, o que significa ter que passar muito tempo com sua família, o que sempre a deixou deslocada. Porém, sua vida muda radicalmente quando conhece o milionário Beau Burroughs (Kevin Costner), que a ajuda a conhecer quem realmente é, e, a conhecer melhor a sua própria família. Comédia romântica, dirigida por Bob Reiner (“Harry e Sally – Feitos um Para o Outro”), conta, ainda, com a participação da grande dama do cinema Shirley MacLaine. “Dizem Por Aí” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.

Estúdio perde na justiça o direito de proibir locação de DVD sell-thru

A Warner australiana, que proibia as locadoras de alugar DVDs sell-thru, esses que são vendidos para o usuário final, foi surpreendida com a decisão da justiça daquele país, que deu ganho de causa à Associação Australiana de Videolocadoras (AVRA) em ação movida contra a distribuidora. A ação foi motivada pelo fato da Warner Home Vídeo vender DVDs a dois preços – rental, bem mais caro, que chega primeiro nas locadoras, e, sell-thru, que é vendido, nas lojas. Aqui no Brasil ainda se pratica isso, custando, um lançamento, cerca de cem reais, a versão de locação (rental), e, quarenta a cinqüenta reais, a das lojas (sell-thru). Além de ser uma prática lesiva para as locadoras, é um dos maiores incentivos para os piratões do mercado, Abram o olho, pessoal!

“Traídos Pelo Desejo”, em DVD

Fergus (Stephen Rea), um guerrilheiro do IRA, seqüestra um soldado britânico chamado Jody (Forrest Withaker), e, fica no aguardo de ordens sobre o destino do seu prisioneiro. Mas, com o passar do tempo, os dois acabam se aproximando, e, criando um laço de amizade, que termina fazendo com que Dil (Jaye Davidson), a namorada do soldado, acabe se envolvendo com o guerrilheiro. Muito comentado, e, controverso, na época de seu lançamento, “Traídos Pelo Desejo” traz performances magistrais, em um roteiro intrigante, inteligente, e, repleto de nuances e segredos. Miranda Richardson, Stephen Rea, indicado ao Oscar por seu papel nesse filme; o vencedor do prêmio de melhor ator em Cannes, Forrest Whitaker, e, a intrigante estréia de Jaye Davidson. Um dos melhores e mais polêmicos filmes dos anos 90. Indicado a seis Oscars, incluindo o de Melhor Filme, foi vencedor na categoria Melhor Roteiro Original. O disco traz formato de tela widescreen anamórfico, e, áudio em inglês e português 2.0.

A volta do Superman

Esta notícia não se trata do próximo filme do Superman, que estréia em 2006, ou, dos estrelados pelo saudoso Christopher Reeve, mas, do seriado que passava na televisão, nos anos 50, estrelado por George Reeves. São 661 minutos de aventuras, com todos os episódios da primeira temporada de “As Aventuras de Superman”, produzida por Robert J. Maxwell (que também havia produzido a versão para o rádio), e, Bernard Luber (um veterano dos seriados em Hollywood). Se achar pouco, os filmes de Christopher Reeve estão disponíveis em um pack de três discos, a Coleção Superman, e, tem, também o recente seriado “Lois & Clark”, também disponível, em DVD. É uma overdose do Homem de Aço!

250 do nascimento de Mozart

Hoje, 27 de janeiro, comemora-se 250 anos do nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart, considerado um dos maiores gênios da música de todos os tempos. Nascido em Salzburgo, em 1781, Mozart abandonou sua cidade natal, para fixar-se em Viena, onde se casou, no ano seguinte, com Constance Weber. O compositor passou os últimos dez anos de vida na capital austríaca, deixando um legado de músicas maravilhosas, e, várias lendas sobre a sua vida, e, até sobre a sua morte. Morto precocemente, aos 35 anos, até o seu túmulo é um mistério ainda não resolvido. Sua vida foi romanceada no filme “Amadeus”, do diretor Milos Forman, vencedora de oito Oscars (incluindo o de Melhor Filme), e, que mereceu uma edição especial, em DVD. Que tal comemorar o aniversário dele com uma sessão especial do filme?

Filme Recomendado: “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”

O triunfo do caos

O que existe de mais fascinante, no cinema, é a possibilidade de revisitar um tema, já muito explorado, e, ainda conseguir mostrá-lo sob uma nova ótica. Já foram feitos mais de quinhentos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, mas, a produção alemã “A Queda – As Última Horas de Hitler” ainda consegue surpreender.

Apesar de ser uma obra ficcional, e, ter sido pesquisada de várias fontes, o filme baseia-se fortemente no testemunho de Traudl Junge, na época, uma jovem de 24 anos, que, como secretária pessoal de Hitler, esteve presente, no centro do poder, nos momentos finais da guerra, e, da vida do líder alemão.

O filme inicia, em 1942, quando Traudl, junto com outras jovens, submete-se ao teste para o cargo de secretária, e, conhece Hitler, para elas, o homem mais importante do mundo. Muito nervosa, ela mal consegue datilografar o que ele dita, mas, termina conseguindo o emprego. Apesar da resistência da família, ela está feliz, com o que parece ser o melhor trabalho da Alemanha.

Após este brevíssimo prólogo, a história avança para abril de 1945, quando o panorama já se apresenta totalmente diferente do início do filme. Após seis anos de luta com o resto do mundo, a Alemanha está sendo fustigada, dentro de suas fronteiras, à ocupação russa, de um lado, e, dos americanos e ingleses, do outro. No dia 20 de abril, aniversário de Hitler, as tropas russas fecham o cerco à capital, Berlim, com ataques esmagadores.

A situação é de confusão e desespero totais. Nas ruas, crianças de dez anos, e, velhos octogenários são recrutados, à força, para lutar contra os invasores. Quem se recusa, ou, foge do posto, é caçado como desertor, ou colaborador, e, a única punição é a execução sumária, por enforcamento ou fuzilamento. Não há comida, água, ou, energia para a população civil, que fica acuada, sem saber para onde ir. Mata-se mais alemães do que soldados inimigos.

No bunker, o abrigo subterrâneo da Chancelaria, de Hitler, de onde são comandadas todas as ações, a confusão não é menor. Enquanto escutam o impacto das bombas e da artilharia inimiga, Hitler, entre os espasmos do Mal de Parkinson, e, delírios de grandeza, vocifera ordens e blasfêmias contra os generais, acusando-os de incompetência, exigindo movimentos de tropas imaginárias, e, prometendo vitórias impossíveis.

Alguns dos generais, mais conscientes da realidade, tentam alertar contra os riscos à população civil, mas, Hitler, e, Goebbels, o poderoso Chanceler e Ministro da Propaganda, além de não dar importância a isto, consideram que se o Nazismo se acabar, o povo alemão deve morrer com ele. É como se o povo, e, não ele, Hitler, tivesse decidido guerrear contra o resto do mundo…

Em meio às notícias nervosas sobre a guerra, o bunker vive os seus momentos de frivolidade. Jantares suntuosos, festas, e, muita bebida continuam rolando, enquanto a cidade é destruída pelas bombas, e, os feridos amontoam-se nos hospitais.

Tudo é visto através do olhar inocente de Traudl, que, como a maioria do povo alemão, crescera envolvida pela propaganda nazista, e, não tinha idéia das atrocidades cometidas nos campos de concentração, contra os judeus, comunistas, e, outras minorias.

À medida que os últimos dias de abril se arrastam, mais mortes e destruições acontecem, principalmente pela recusa de Hitler em admitir a derrota. Na sua concepção, a única saída é a morte. No dia 29 de abril, ele se casa com a companheira Eva Brown, e, no dia seguinte, quando os russos invadem a cidade, os dois suicidam-se. Em obediência a suas ordens, os dois corpos foram encharcados com gasolina, queimados e enterrados nos jardins do quartel-general nazista. O fiel seguidor, Goebbels, e, sua mulher, o imitam, não sem antes matar os próprios filhos, “para que não crescessem em um mundo sem o nazismo”, segundo as suas palavras. Esta cena, aliás, é uma das mais impressionantes do filme.

Muita gente criticou o filme, por “humanizar” Hitler, já que mostra o ditador com os sintomas do Mal de Parkinson, trocando gentilezas com pessoas mais próximas, etc. Mas, o filme não deixa de mostrar os rompantes de cólera, e, os valores absurdos, que o tornaram um dos maiores flagelos da Humanidade. Todo tirano, ou, benfeitor, não deixa de ser um homem, o que o torna diferente é a conjuntura que o conduz ao poder, e, o que ele faz, com este poder. No caso de Hitler, a destroçada Alemanha pós-Primeira Guerra foi a massa ideal para trabalhar o nazismo, e, por em prática as suas idéias expansionistas e de expurgo racial.

Se há um pecado no filme, é o de não contextualizar o que acontece ali, a guerra, o momento histórico. Este não é um filme para não-iniciados na história da Segunda Guerra Mundial. Os principais nomes do nazismo, Himmler, Goebbels, Goering, desfilam, ao longo do filme, sem que haja qualquer apresentação sobre os mesmos. O autor presume que o espectador já os conhece bem.

Mas, o que há de mais poderoso no filme é a apresentação, de uma maneira crua, sem os heroísmos hollywoodianos, a face suja da guerra, a ótica de quem está no meio do fogo cruzado, impotente quanto ao seu próprio destino, que é decidido por pessoas com mentes totalmente corrompidas.

A jovem Traudl, como a maioria do povo alemão, era ignorante sobre o que era feito nos campos de extermínio de judeus, e, fora criada sob uma fortíssima propaganda estatal, que endeusava Hitler, e, pregava a superioridade da raça ariana. Para se ter uma boa idéia dessa propaganda, sugiro o filme “O Triunfo da Vontade”, onde o Congresso do Partido Nazista Alemão, de 1934, é documentado, de maneira impressionante, pela cineasta Leni Riefenstahl. Este filme, um importante documento histórico, está disponível em DVD.

Quanto à edição de “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”, em DVD, é de lamentar a pobreza da edição. O formato de tela é letterbox, não-anamórfico, e, o áudio está disponível em alemão e português 2.0. Extras, nenhum. Faz falta, por exemplo, o documentário “Eu Fui a Secretária de Hitler”, de 2002, onde a própria Traudl Junge narra as suas experiências ao lado do ditador. Apesar dos pontos negativos apresentados, “A Queda – As Últimas Horas de Hitler” é um filme interessante, seja do ponto de vista histórico, seja para comprovar, mais uma vez, a inutilidade e a estupidez das guerras. Confira, e, forme a sua própria opinião.