Claquete 17 de fevereiro de 2006
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
O final de semana começa com a boa notícia da próxima inauguração do cinema no Midway Mall, em meados de março. De estréias, só tem mesmo o remake de “A Pantera Cor de Rosa”, estrelado por Steve Martin e Jean Reno. Nas continuações, “Johnny e June”, a esperada cinebiografia do cantor Johnny Cash, “Syriana – A Indústria do Petróleo”, drama político, com George Clooney e Matt Damon (veja em Filme Recomendado), o infantil “A Terra Encantada de Gaya”, dublado por Marcio Garcia, e, pela equipe do Pânico na TV, os dramas “O Segredo de Brokeback Mountain”, do diretor Ang Lee, e, “Munique”, do diretor Steven Spielberg, o policial “Edison – Poder e Corrupção”, com Morgan Freeman, Kevin Spacey e o cantor Justin Timberlake, as comédias “Vovó…Zona 2”, com Martin Lawrence, “As Loucuras de Dick & Jane”, com o careteiro Jim Carrey, e, o ótimo “Se Eu Fosse Você”, com Tony Ramos e Glória Pires. Tem, ainda, “Didi – O Caçador de Tesouros”, com Renato Aragão, só no final de semana.
Estréia 1: “A Pantera Cor de Rosa”
Jacques Clouseau (Steve Martin) é um atrapalhado policial francês, que trabalha em uma pequena cidade. Após ser chamado a Paris pelo inspetor-chefe Dreyfus (Kevin Kline), Clouseau é promovido a inspetor, e, fica encarregado de investigar a morte de Yves Gluant (Jason Statham), técnico de um time de futebol local. Logo após a morte de Gluant, foi roubado dele o diamante, conhecido como Pantera Cor-de-Rosa, que estava em um anel. O plano de Dreyfus é usar Clouseau, para que ele chame a atenção da mídia, enquanto que outros inspetores, mais gabaritados, consigam resolver o caso. Entretanto, juntamente com seu parceiro Gilbert Ponton (Jean Reno), e, sua secretária Nicole (Emily Mortimer), Clouseau inesperadamente chega perto do assassino. Remake do filme homônimo, de 1963, estrelado por Peter Sellers. A estréia será nesta sexta-feira, no Cine 5 (cópia dublada) e 6 (cópia legendada) do Moviecom. Censura livre.
“A Pantera Cor de Rosa”, em DVD
Quem quiser conferir o filme que deu origem ao remake de Steve Martin, é só passar na locadora. Em sua primeira aventura, o inspetor Clouseau (Peter Sellers) tenta recuperar o diamante Pantera Cor de Rosa. Embora o ladrão, Sir Charles Lytton, interpretado por David Niven, esteja sempre próximo, esta será uma missão muito complicada, para o atrapalhado Clouseau. Personagem que deu projeção ao magnífico Peter Sellers, dono de um humor refinado, muito diferente dos careteiros atuais. A série rendeu mais cinco filmes, todos com Sellers, “Um Tiro no Escuro”, “A Volta da Pantera Cor-de-Rosa”, “A Nova Transa da Pantera Cor-de-Rosa”, “A Vingança da Pantera Cor-de-Rosa” e “A Trilha da Pantera Cor-de-Rosa”. Todos os filmes estão disponíveis em DVD.
Produtores de 007 desmentem boatos sobre Jean Charles
Nos últimos dias, circularam boatos, largamente reproduzidos em jornais de todo mundo, de que o novo filme de 007, “Cassino Royale”, seria baseado na história de Jean Charles, o brasileiro morto por engano, pela polícia inglesa. Os produtores de 007, Michael G. Wilson e Barbara Broccoli, negaram que o roteiro do novo filme tenha qualquer semelhança com a trágica morte do brasileiro. Segundo os boatos, James Bond mataria um cidadão inocente, por engano, e, ao longo do filme tentaria provar a sua própria inocência no caso. Atualmente sendo rodado em Praga, sob a direção de Martin Campbell (“007 contra Goldeneye”), “Cassino Royale” tem estréia marcada para 19 de outubro de 2006.
TV Digital na reta final
Está por um fio a decisão final sobre qual será o padrão adotado para a futura TV digital brasileira. Embora o ministro das Comunicações Hélio Costa defenda ardorosamente o sistema japonês, a decisão final caberá ao presidente Lula. Mais que simples transmissão de tv, o novo padrão permitirá interatividade, com um enorme ganho de qualidade de imagem e som. A indústria e as emissoras estão ansiosas, pois a TV digital implicará em investimentos da ordem de 500 milhões de dólares, só para adequar os equipamentos, enquanto que a substituição das tvs chegará à casa dos quatro bilhões de dólares, até 2017. Os sistemas concorrentes são o japonês (ISDB-T), que só é adotado no próprio Japão, o europeu (DVB), adotado pela Europa e China, e, o americano-coreano (ATSC).
“End Game”, em DVD
Alex Thomas (Cuba Gooding Jr.) é o agente do Serviço Secreto responsável pela segurança do Presidente dos Estados Unidos (Jack Scalia). Quando o Presidente é assassinado, Alex se culpa pela falha de sua equipe, e, é temporariamente afastado do emprego. Obcecado em resolver o crime, Alex passa a buscar pistas, com a ajuda de Kate Crawford (Angie Harmon), uma repórter. Porém, cada suspeito que conseguem encontrar, morre, misteriosamente, logo em seguida. Ainda no elenco, James Woods, Burt Reynolds e Anne Archer.
Cinemark inaugura cinemas no Midway Mall
Após uma longa espera, finalmente chega a boa notícia para os cinéfilos. A rede Cinemark irá inaugurar, na segunda semana de março, sete novas salas de cinema, estilo multiplex, com um total de 1900 lugares. O novo multiplex seguirá a mesma linha adotada nos outros 36, da rede, no Brasil: telas gigantes (de parede a parede), sistema de som digital, isolamento acústico, poltronas reclináveis com braços móveis e suporte para copos nos assentos. A Cinemark, maior rede do país, e, terceira do mundo, conta com mais de trezentas salas, no Brasil, e, 3200, em todo mundo.
Filme Recomendado: “Syriana – A Indústria do Petróleo”
O lado negro do ouro negro
Qualquer garoto de colégio sabe da importância do petróleo na vida cotidiana, não só nos combustíveis, mas, principalmente, na quase totalidade dos produtos que usamos, obtidos da indústria petroquímica. Mas, falar sobre este aspecto ficaria melhor em um documentário. O tema abordado em “Syriana – A Indústria do Petróleo” aborda um lado muito negro do chamado “ouro negro”, a corrupção.
Pouco tempo depois do primeiro poço de petróleo comercial, no final do século 19, logo as grandes corporações, lideradas pela Standard Oil, se digladiavam na exploração, refino, e, distribuição dos produtos. O uso do petróleo, em larga escala, como combustível, fez a procura se estender para outros lugares do globo, como Venezuela e Oriente Médio, que, ainda hoje, são locais de maiores reservas disponíveis.
Enquanto a utilização cresce, cada vez mais, o petróleo, como fonte de energia não-renovável, preocupa os grandes países consumidores, como os Estados Unidos. Não é sem razão, portanto, que já fez duas guerras contra o Iraque, e, fala grosso com o Irã, além de manter uma relação estreita com a Arábia Saudita e outros países da região.
É nesse ambiente que vive, há duas décadas, o agente da CIA Robert Baer (George Clooney). Profundo conhecedor da região, fala línguas locais, domina os costumes, e, mantém contatos com os mais diversos elementos importantes do submundo da região. Como um bom soldado, Baer cumpre as missões com precisão e obediência, mesmo que isto implique em matar pessoas. Na sua mais recente missão, entretanto, fica preocupado com o destino de um míssil, entregue a um egípcio, mas, esta preocupação não é compartilhada pelos seus superiores. Quando seus memorandos começam a incomoda-los, eles resolvem dar ao agente uma nova missão, a de matar o príncipe herdeiro da Arábia Saudita.
O príncipe Nasir (Alexander Siddig) é um reformista, preocupado em utilizar melhor a riqueza proporcionada pelo petróleo, trazendo benefícios para o seu povo. Tendo estudado em universidades européias, tem idéias liberais, como criar uma bolsa do petróleo em países do Oriente Médio, vender o produto por meio de leilões, para evitar cartéis de preço, e, adotar a democracia, coisa rara naquela região. Seu irmão, ao contrário, é um playboy, mais preocupado em gozar dos privilégios de ser uma das pessoas mais ricas do mundo. Ele recebe, com prazer, o convite para se aliar com os barões da indústria do petróleo, e, com os governos ocidentais para manter o clima confuso no Irã, favorecendo, assim, os interesses dos americanos.
Um fato trágico une o príncipe Nasir a Bryan Woodman (Matt Damon), um consultor de energia, cujo filho morre em um acidente na casa do pai de Nasir. Uma forte amizade, consolidada por respeito mútuo, leva Woodman a tornar-se o braço direito de Nasir, que pretende ir às últimas conseqüências, para assumir o poder e levar a cabo as reformas que beneficiem o seu povo.
No outro extremo da escala social está Ali (Keveh Sari), jovem imigrante paquistanês, que tenta sobreviver como trabalhador braçal no Irã, onde, além de viver como um pária, sofre com a recente chegada dos investidores chineses. Vivendo em condições miseráveis, sofrendo com a discriminação dos locais, e, com o desemprego, jovens como ele tornam-se a matéria ideal para o aliciamento de terroristas, já que o único universo onde são aceitos são nas escolas islâmicas, onde sofrem verdadeiras lavagens cerebrais.
No delicado xadrez do mundo dos negócios, duas grandes corporações tentam fazer uma fusão, que as tornará uma das maiores empresas do mundo, o que permitirá manter os chineses à distância, para acumular mais riquezas, com riscos sempre menores.
Neste intrincado universo, Baer tenta cumprir a missão de matar o príncipe Nasir, em Beirute. Seqüestrado por um antigo comparsa, o americano escapa da morte graças ao Hezbolah, movimento palestino baseado no Líbano, que faz oposição a Israel, aliado dos americanos… Por aí já se percebe a complexidade das relações da região.
Intrigado pelo rumo que os fatos tomaram, Baer começa a investigar, por conta própria, o que teria falhado em sua missão, e, se o seu alvo era o que os seus superiores tinham dito que era. Aos poucos, começa a perceber que sempre fora induzido a fazer coisas que beneficiavam as corporações e os governos corruptos, de ambos os lados do Atlântico.
Sempre que pensamos em corrupção, imaginamos – acertadamente – em alguém dando uma propina para obter algum favor. Não importa se é a “bola” para o guarda de trânsito esquecer a multa, uma licitação fraudulenta, ou, como está na moda, os mensalões e caixas dois de campanha. Não importa se são dez reais, ou, alguns bilhões de dólares. Esse dinheiro, certamente, deixará de beneficiar exatamente quem mais precisa dele, a população mais necessitada.
O diretor Stephen Gaghan, o roteirista do ótimo “Traffic”, traz, em “Syriana”, uma visão amarga, e, sem esperanças, do corrupto mundo das corporações e governos. Levantando a bandeira da denúncia, Gaghan evita a passionalidade, explicitando a sua visão através de diálogos profundos, num desfile de testemunhas dos acontecimentos, sem flashbacks, seguindo uma linha de tempo contínua. Isso é bom, porque a enorme quantidade de personagens e situações complica o entendimento para o espectador, que não ficar atento o filme inteiro.
Um dos destaques é George Clooney, um dos atores mais engajados politicamente, que precisou engordar 13 quilos para interpretar o personagem Robert Baer. Sua atuação valeu o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante, além das indicações para o Oscar e o BAFTA, na mesma categoria.
“Syriana” vem ocupar um vazio sobre o tema do petróleo, tão pouco explorado pelos estúdios. Para quem quiser ter uma outra visão, a do início da indústria do petróleo, sugiro “O Poço do Ódio”, com George C. Scott e Faye Dunaway, e, “Assim Caminha a Humanidade”, com Rock Hudson e James Dean.