Claquete 03 de março de 2006

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Com as águas de março levando o resto do Carnaval, quem sabe, agora, o 2006 inicia, para valer. As estréias ainda são tímidas. Tem o terror “Wolf Creek – Viagem ao Inferno”, baseado em fatos reais, e, o documentário francês “A Marcha dos Pinguins”. Nas continuações, o excelente documentário “Vinícius” (veja em Filme Recomendado), o remake de “A Pantera Cor de Rosa”, estrelado por Steve Martin e Jean Reno, “Johnny e June”, a esperada cinebiografia do cantor Johnny Cash, “Syriana – A Indústria do Petróleo”, drama político, com George Clooney e Matt Damon, o infantil alemão “A Terra Encantada de Gaya”, dublado por Marcio Garcia, e, pela equipe do Pânico na TV, o drama “O Segredo de Brokeback Mountain”, do diretor Ang Lee, e, a excelente comédia nacional “Se Eu Fosse Você”, com Tony Ramos e Glória Pires.

Estréia 1: “Wolf Creek – Viagem ao Inferno”

Liz Hunter (Cassandra Magrath), e, Kristy Earl (Kestie Morassi) são duas mochileiras inglesas que estão em meio a uma viagem, no interior da Austrália, juntamente com Ben Mitchell (John Jarratt). Ao chegar no Parque Nacional Wolf Creek, eles encantam-se com a paisagem da segunda maior cratera do mundo. Mas, quando decidem ir embora, enfrentam problemas, pois seus relógios e o carro param de funcionar. É quando recebem a ajuda de um caminhoneiro, que passa pelo local, e, lhes oferece carona. Porém, o que eles não contavam é que seriam levados a um acampamento localizado em uma mina abandonada, onde a viagem do trio se transforma em um grande pesadelo. O filme é baseado em caso verídico, em que restos humanos foram encontrados na cidade de Snowtown, na Austrália, em 20 de maio de 1999. A estréia será nesta sexta-feira, no Cine 1 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.

Estréia 2: “A Marcha dos Pinguins”

A cada inverno, na Antártica, o local mais inabitável da Terra, milhares de pinguins imperadores abandonam a segurança do oceano, e, sobem para a terra congelada, na intenção de iniciar uma longa jornada rumo o interior. Em fila indiana, os pinguins marcham para o terreno de reprodução tradicional da espécie. As fêmeas permanecem no local apenas o tempo necessário para a procriação, iniciando, logo após, sua viagem de retorno através de duzentos quilômetros de gelo rumo ao mar cheio de peixes. Os imperadores machos permanecem, para guardar, e, chocar os ovos. Após quatro meses, nos quais os machos nada comem, os ovos começam a se partir, e, os filhotes a nascer. Entretanto, eles só conseguirão sobreviver por 48 horas sem comida, dependendo do retorno das fêmeas ao local, que precisam trazer comida do oceano. O documentário, dirigido por Luc Jacquet, recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Documentário. A estréia será nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom. Censura livre.

“Quatro Amigas e um Jeans Viajante”, em DVD

Tibby (Amber Tamblyn), Lena (Alexis Bledel), Bridget (Blake Lively), e, Carmen (America Ferrera) se conhecem desde bebês, já que suas mães faziam aula de aeróbica juntas. Elas nasceram no mesmo mês, e, cresceram juntas, tornando-se grandes amigas. Agora com 16 anos, elas estão prestes a se separar, pela primeira vez, já que Bridget, Lena e Carmen planejam viajar nas férias de verão. Em uma ida às compras, antes da separação, elas encontram uma calça jeans que, estranhamente, cabe, perfeitamente, em todas. As amigas, então, decidem comprá-la, e, iniciar uma irmandade em torno da calça, acreditando que ela seja mágica, pelo fato de se adequar aos diferentes corpos que a vestem. São definidas regras para o uso da calça, sendo que a principal é que cada uma das amigas poderá usá-la durante uma semana. Baseado em livro de Ann Brashares, e, dirigido por Ken Kwapis, é menos bobinho do que aparenta. Nas locadoras.

Oficinas e cursos de cinema em São Paulo

Durante os meses de março e abril, a organização Paulista Cultural irá promover cursos e oficinas sobre cinema. Na programação, estão Oficina de Direção de Arte, Curso-Debate sobre Crítica e História do Teatro, Oficina: Escreva o seu Longa-Metragem, e, Aprenda Inglês através do cinema. Os eventos serão todos em São Paulo, com datas e preços variados. Para melhores informações, ligar para 0XX11 3257-4472, ou, mandar um email para paulista@paulistacultural.com.br.

Conto que inspirou “Brokeback Mountain” é lançado no Brasil

Aproveitando o sucesso mundial do longa-metragem “O Segredo de Brokeback Mountain”, indicado para oito Oscars, a editora Intrínseca está lançando, no Brasil, o livro que traz o conto inspirador do filme. A autora, Annie Proulx, hoje uma senhora de 70 anos, já ganhou o prêmio Pulitzer de ficção pelo livro “The shippings news”. “O Segredo de Brokeback Mountain” foi publicado, pela primeira vez, na revista New Yorker, em 1997. Apesar da própria autora considerar a transposição para as telas bem feita, certamente os leitores irão notar algumas diferenças, já que os personagens, no livro, não são bonitos como os atores escolhidos. Mas, cinema é fantasia, principalmente Hollywood, onde todos são perfeitos…

Oscar 2006, na Globo e na TNT

A TV Globo exibe, ao vivo, neste domingo, dia 5, a cerimônia de entrega do Oscar, diretamente de Los Angeles, nos Estados Unidos. A mais esperada festa do cinema terá narração de Maria Beltrão, com comentários do ator José Wilker, e, reportagens da correspondente Patrícia Poeta, que mostrará a movimentação em torno do prêmio e os bastidores do evento que reúne as maiores estrelas do cinema internacional. O canal pago TNT também vai exibir a premiação, com dublagem simultânea, e, comentários de Rubens Ewald Filho e Maria Cândida. Domingo, dia 5, a partir das 22h.

TV Digital, para quem é mesmo?

Com direito a metáforas do ministro Hélio Costa, que compara a decisão sobre o padrão da futura TV Digital brasileira a um penalty, há uma expectativa muito grande, com uma possível decisão no próximo dia 10 de março. O padrão favorito do ministro Hélio Costa, e, de quase todas as emissoras, é o japonês, ISDB, que, até agora, só foi adotado pelo próprio Japão, e, mesmo assim, em caráter experimental. O curioso é que, o debate fica em torno da altíssima definição, interatividade em alto nível, transmissão de programas para celulares, etc.. Será que alguém já parou para pensar que a imensa maioria da população brasileira ainda assiste as novelas em receptores de 14 e 20 polegadas? É dessa população que se espera arrecadar os dez bilhões de dólares previstos na troca de receptores, nos próximos anos? Vai esperando…

“Huckabees – A vida é uma Comédia”, no Cineclube Natal

O Cineclube Natal programou, para o próximo domingo, dia 05, “Huckabees – A vida é uma Comédia”, do diretor David O. Russell. Albert Markovski (Jason Schwartzman) é um poeta de coração mole, que decide contratar dois detetives, Bernard (Dustin Hoffman) e Vivian (Lily Tomlin), para investigar três coincidências, que, segundo ele, podem ser o segredo da vida. A investigação logo envolve outros clientes da dupla, como o vulnerável bombeiro Tommy Corn (Mark Wahlberg), o executivo de vendas Brad Stand (Jude Law), e, a modelo Dawn Campbell (Naomi Watts), que está em crise de identidade. A situação se complica, quando a sedutora Caterine Vauban (Isabelle Huppert), inimiga da dupla de detetives, passa a seduzir Albert e Tommy, na intenção de que eles passem a ver a vida sob o seu ponto de vista. A exibição começa às 19h, no Teatro de Cultura Popular (TCP), ao lado da Fundação José Augusto (rua Jundiaí, 641, Tirol). O ingresso (taxa de manutenção) custa apenas R$1,00..

Filme recomendado: “Vinícius”

Que seja infinito, enquanto houver memória

Apesar do turbulento início da televisão, quando havia uma briga mortal com a indústria do cinema, logo, os filmes passaram a fazer parte da programação diária, lado a lado com os documentários. Curiosamente, hoje parece haver uma inversão, com os documentários ocupando espaço na tela grande. No caso deste documentário, “Vinícius”, o espectador, apreciador da boa música, certamente ficará muito satisfeito.

Falar sobre Vinícius de Morais é fácil, pois, assunto não falta. Maior expressão da música popular brasileira no século vinte, criador de várias tendências e correntes, poeta de extrema sensibilidade, aliada a uma técnica irrepreensível, exibia, sem falsos pudores, as fraquezas humanas, como o amor à boemia, às mulheres, ao álcool, etc.. Mas, como fazer, para descrever, em pouco mais de noventa minutos, a riqueza de vida que foi Vinícius de Morais?

O formato adotado pelo diretor foi o de um pocket show, apresentado pelos atores Camila Morgado e Ricardo Blat, intercalando os depoimentos de parentes e amigos, com narrações de fatos, poemas, notícias, e, as maravilhosas músicas de Vinícius, interpretadas por vários artistas convidados. A ordem cronológica foi seguida com cuidado, permitindo, ao espectador, acompanhar a trajetória de Vinícius, suas aventuras e desventuras amorosas, até o ocaso da morte.

Co-produzido pela filha de Vinicius, Susana de Moraes, ex-mulher do diretor, o documentário é um retrato fiel, embora respeitoso, do artista, que, demonstrando talento desde a mais tenra idade, formou-se em Direito, seguindo uma tortuosa carreira diplomática no Itamaraty, de onde foi tirado pela ditadura militar.

Vinícius de Morais, nascido e criado no Rio de Janeiro, nutria, pela sua cidade uma grande paixão. Aliás, paixão, como o demonstram os vários depoimentos no documentário, era a sua força motriz, o combustível que alimentava a fonte criativa, que nos legou mais de quatrocentos poemas, publicados em doze livros, além de centenas de músicas, reproduzidas no mundo inteiro.

A vida de Vinícius é reconstruída, na tela, através dos depoimentos de Tônia Carrero, Ferreira Gullar, Chico Buarque, Antônio Candido, Caetano Veloso, Carlos Lyra, Gilberto Gil, Edu Lobo, Tom Jobim (voz e imagem de arquivo), Rubem Braga (texto de crônica recitada), e outros tantos. As músicas, por sua vez, são interpretadas por gente de várias gerações artísticas, como Adriana Calcanhoto, Olívia Byington, Mônica Salmaso, Mart’Nália, e, Mariana Moraes. Além de vídeos caseiros, trechos de reportagens, fotos de família, ou, de revistas, ajudam a montar o quebra-cabeças da vida do artista.

Embora pareça mais apropriado para os “coroas”, que cresceram escutando as belas canções do Poetinha, “Vinícius” é uma deliciosa viagem pela cultura brasileira, em prosa e verso, capaz de agradar pessoas de todas a tribos e idades. Os depoimentos são curtos e selecionados, as músicas e poemas apresentados de forma encantadora (dando um desconto para um certo exagero de Ricardo Blat), e, as imagens fantásticas.

Recomendo apenas, a quem for assistir o documentário, para não sair antes de terminarem os créditos finais. Um “causo” contado por Chico Buarque quebra o tom de tristeza do final do filme, mostrando a curiosa visão de Vinícius sobre a reincarnação.

“Vinícius” é um magnífico retrato de nossa cultura viva, digno de, não apenas, ser visto no cinema, mas, figurar, num lugar de honra, na filmoteca de todo apreciador da boa música brasileira.

Pois, Vinícius, que sejas infinito, em nossos corações, enquanto conseguirmos cultivar a tua lembrança.