Claquete – 26 de janeiro de 2007
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
O que está em cartaz
Final de férias com muita coisa boa nos cinemas. Se o problema era falta de opções, deixa de existir. Neste final de semana entram em cartaz a produção alemã “Perfume – A História de um Assassino” (veja em Filme da Semana), baseada no livro de Patrick Süskind, a comédia nacional “A Grande Família – O Filme” e um forte candidato ao Oscar, “Babel”, com Brad Pitt e Cate Blachett (este só no Cinemark). Nas continuações, temos a divertida comédia “Uma Noite no Museu”, a animação “O Mar Não Está Para Peixe”, o drama de ação “Diamante de Sangue” e as comédias nacionais “O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili”, com Renato Aragão, e “Xuxa Gêmeas”. Nas programações exclusivas, no Cinemark, tem o suspense “Déjà Vu”, com Denzel Washington, “007 – Cassino Royale”, o romance “O Amor Não Tira Férias”, a animação “Por Água Abaixo” e o terror chinês “Silk – O Primeiro Espírito Capturado”. No Moviecom, continuam em cartaz o musical “Ela Dança, Eu Danço”, o drama nacional “O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias” e o drama futurista “Os Filhos da Esperança”,.
Estréia 1: “Perfume – A História de um Assassino”
Estréia 2: “A Grande Família – O Filme”
Ao retornar do enterro de um colega de repartição, Lineu (Marco Nanini) se sente mal e vai ao médico, de onde sai com a certeza quase absoluta de que morrerá em breve. Deprimido, ele esconde a situação da família e desiste de ir ao tradicional baile onde começou a namorar Nenê (Marieta Severo). Sem entender o que está acontecendo, Nenê decide provocar o marido e convida um ex-namorado, Carlinhos (Paulo Betti), para o baile. A chegada de Carlinhos atiça Agostinho (Pedro Cardoso) e Tuco (Lúcio Mauro Filho), que buscam algum meio de aproveitar dele, além de atrair a atenção de Marilda (Andréa Beltrão), que deseja conquistá-lo. A situação piora ainda mais quando Mendonça (Tonico Pereira), colega de trabalho de Lineu, tenta melhorar seu ânimo ao apresentar uma nova funcionária, Marina (Dira Paes). “A Grande Família – O Filme” estréia nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom e na Sala 2 do Cinemark. Para maiores de dez anos.
Estréia 3: “Babel”
Um ônibus repleto de turistas atravessa uma região montanhosa do Marrocos. Entre os viajantes, estão os americanos Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett). Um tiro atinge o ônibus, ferindo Susan. Este fato afeta a vida de pessoas em vários pontos do mundo: nos Estados Unidos, onde Richard e Susan deixaram seus filhos aos cuidados da babá mexicana; no Japão, onde um homem tenta superar a morte trágica de sua mulher e ajudar a filha surda a aceitar a perda; no México, para onde a babá acaba levando as crianças; e ali mesmo, no Marrocos, onde a polícia passa a procurar suspeitos de um ato terrorista. Este filme recebeu sete indicações ao Oscar. “Babel” estréia nesta sexta-feira, na Sala 7 do Cinemark. Para maiores de 16 anos.
Novidades
“Xeque-Mate”, em DVD
“Cavaleiros do Ar”, em DVD
“Ricardo III – Um Ensaio”, no Projeto Cinema e Literatura
O Cineclube Natal, em parceria com a Livraria Bortolai, apresenta neste sábado, dia 27, a primeira edição de 2007 do Projeto “Cinema e Literatura”. Em cartaz, o documentário “Ricardo III – Um Ensaio”, do diretor e ator Al Pacino, que mergulha na obra de Shakespeare, para mostrar a modernidade da obra do dramaturgo e poeta inglês. Tudo isso com paixão, vivacidade e humor. A programação começa às 18h, no auditório da livraria, na Avenida Afonso Pena, 805, Tirol. O acesso é gratuito. Para maiores de 14 anos.
Semana do Filme Cult – I
O Cineclube Natal, em conjunto com o jornalista Rodrigo Hammer e com a parceria do Teatro de Cultura Popular (TCP), realizará, de 29 de janeiro a 02 de fevereiro, a Semana do Filme Cult. Serão exibidos cinco filmes representativos do movimento cult. São eles: 29/01 – “O Incrível Homem Que Encolheu” (EUA, 1957, Jack Arnold); 30/01 – “Stereo” (Canadá, 1969, David Cronenberg); 31/01 – “The Night of the Bloody Apes”, (México, 1969, René Cardona); 01/02 – “A Meia Noite Levarei Sua Alma” (Brasil, 1964, José Mojica Marins) e 02/02 – “Shanty Tramp” (EUA, 1967, Joseph G. Prieto.). Os filmes serão exibidos sempre às 18h30, no próprio teatro, ao lado da Fundação José Augusto.
Semana do Filme Cult – II
A Semana do Filme Cult também terá na sua programação um curso sobre “A História da Linguagem no Cinema”, ministrado pelo Prof. Máximo Barro da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP/SP). O Curso acontecerá em paralelo à exibição dos filmes, do dia 30 de janeiro a 02 de fevereiro, sempre das 15h às 18h, no Cine SESC, ao lado do restaurante do SESC (Av. Rio Branco, 375, Cidade Alta). As inscrições podem ser feitas gratuitamente pelo e-mail cineclubenatal@grupos.com.br
Se Tom Jobim estivesse vivo, teria completado 80 anos. Entre as inúmeras homenagens, foi lançado um box, “Maestro soberano” (Biscoito Fino Jobim), com três DVDs, dirigidos por Roberto Oliveira, que destacam aspectos essenciais da obra e do gênio de Tom. O primeiro volume, “Chega de saudade”, enfoca a criação da bossa nova, o segundo, “Águas de Março”, a relação de Tom com a ecologia e, o terceiro, “Ela é carioca”, a paixão do mestre pelo Rio de Janeiro.
Filme da Semana: “O Perfume – A História de um Assassino”
O aroma da morte
Nunca um mês de janeiro esteve tão pródigo em oferta de novos títulos nos cinemas de Natal como agora. Entre a semana passada e hoje, poderia recomendar, de olhos fechados, pelo menos cinco filmes, cada um em um gênero e públicos específicos. De cara, “Babel”, indicado para sete Oscars, incluindo Melhor Filme e Diretor; “A Grande Família – O Filme”, deliciosa transposição para as telas de uma série que se mantém seis anos em cartaz, com altos níveis de audiência; o divertido musical “Ela Dança, Eu Danço”, com um ritmo bem familiar aos brasileiros e o delicado e sensível drama “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, que mostra a repressão militar durante a Copa do Mundo de 1970, tudo pela ótica inocente de uma criança. Mas, vou falar um pouco mais sobre “O Perfume – A História de um Assassino”.
O paradigma “o livro era melhor” é uma constante, quando se tenta fazer alguma adaptação literária para as telas do cinema. É compreensível a insatisfação, pois, além de serem linguagens diferentes, os públicos também o são. Mas, se houver reclamação sobre “O Perfume – A História de um Assassino”, será pela fidelidade ao texto, embora, pela questão do tempo disponível, muita coisa teve que ser deixada de lado.
O personagem principal é Jean-Baptiste Grenouille, nascido em um mercado de peixes de Paris, em 1738. Seu nascimento já é uma comoção, já que a mãe o abandona para morrer. Ao ser descoberto o fato, ela é presa, e posteriormente, executada, enquanto que a criança é entregue em um orfanato.
O jovem, já ao nascer, apresenta duas características que o tornariam único. Além de não exalar nenhum odor, possuía um olfato extremamente aguçado, capaz de perceber e reconhecer pessoas apenas pelo cheiro. Como não conseguia distinguir o que era um cheiro agradável de um ruim – para ele, tudo era uma coisa diferente – não lhe foi difícil trabalhar em um curtume, onde os odores fétidos deixavam todos doentes. Introvertido e voltado para o seu universo próprio, a única diversão do rapaz era passear pelas ruas de Paris, conhecendo e identificando novos aromas.
Nessas andanças, ele conheceu Baldini (Dustin Hoffman), um conhecido perfumista, que escondia sua incompetência espalhando maledicências sobre os concorrentes. Quando o rapaz reproduz, facilmente, o perfume de um outro produtor, Baldini percebe que tem um tesouro nas mãos, contratando-o imediatamente.
Sem se importar com dinheiro, Grenouille se adapta à nova situação, tendo a oportunidade de aprender as diversas maneiras de fabricação de óleos, essências e fragrâncias. Aos poucos, vai tomando forma a sua única e secreta ambição, a de criar um perfume que reproduzisse o odor de uma jovem mulher.
Em suas incipientes tentativas, ele tenta destilar um gato. Antes, já havia matado, involuntariamente uma mulher, ao tentar mantê-la quieta, e descoberto os cheiros intoxicantes de seu corpo.
Despedindo-se de Baldini, Grenouille resolve mudar para a cidade de Grasse, a capital mundial dos perfumes, onde tem uma experiência mística, ao perceber que seu corpo não tem um cheiro específico. A partir daí, começa a seqüência de mortes de mulheres, necessário para a criação de sua grande obra. À medida que as mortes acontecem, o pânico se espalha pela cidade.
Enquanto as pessoas se mudam, fogem, ou se trancafiam, para proteger suas filhas, Grenouille tenta criar seu perfume final, uma junção de odores retirados das mulheres que ele persegue e mata. Para o toque final, precisará de uma derradeira vítima, a bela e pura Laure Richis.
“O Perfume”, escrito pelo alemão Patrick Süskind em 1985, alcançou um tremendo sucesso, chegando a vender 15 milhões de cópias em mais de quarenta línguas. Para se ter idéia, até o roqueiro Kurt Cobain, fã de Süskind, compôs a música “Scentless Appretince”, do álbum “In Utero”, baseada nesse livro.
Durante anos, diversos cineastas, como Tim Burton, Martin Scorsese e Milos Forman, interessaram-se em levar o livro às telas. Stanley Kubrick também chegou a considerar o projeto, até concluir que o livro era infilmável. Só em 2001, o produtor Bernd Eichinger conseguiu convencer Süskind, pagando 10 milhões de euros pelos direitos.
O orçamento de “Perfume – A História de um Assassino” foi de US$ 65,8 milhões. Trata-se do filme mais caro já feito na Alemanha até agora. Boa parte dessa dinheirama foi gasta na excelente ambientação do século 18, tanto cenários quanto figurinos. Se o elenco, formado em sua maioria por atores ingleses, é a grande sustentação do filme, a direção segura de Tom Tykwer completa o quadro. Para quem duvidar da competência dele, é bom lembrar de “Corra, Lola, Corra”, o surpreendente clip-movie estrelado por Franka Potente.
Para quem se interessar em ver o filme, e, de repente, ler o livro, uma dica. Enquanto a maioria das obras, literárias ou cinematográficas, expõem sua narrativa através da linguagem visual (formas, cores, belo, feio, claro, escuro, etc.), “O Perfume” inovou, ao alicerçar a sua narrativa na sensação do olfato.