Claquete – 02 de fevereiro de 2007
O que está em cartaz
Volta às aulas e vésperas de Oscar. Essa combinação traz novos títulos aos nossos cinemas. Neste final de semana entram em cartaz o drama de guerra “A Conquista da Honra”, de Clint Eastwood, a animação “Dogão – Amigo Pra Cachorro” (só no Cinemark) e o drama “À Procura da Felicidade”, com Will Smith. Continuam em cartaz a surpreendente produção alemã “Perfume – A História de um Assassino”, a comédia nacional “A Grande Família – O Filme” (veja em Filmes da Semana), a divertida comédia “Uma Noite no Museu”, a animação “O Mar Não Está Para Peixe” e o drama de ação “Diamante de Sangue”. Nas programações exclusivas, no Cinemark, tem o suspense “Déjà Vu”, com Denzel Washington e um forte candidato ao Oscar, “Babel”, com Brad Pitt e Cate Blachett. No Moviecom, continuam em cartaz o musical “Ela Dança, Eu Danço” e as comédias nacionais “O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili” e “Xuxa Gêmeas”. Nesta sexta e sábado acontecerá a pré-estréia de “Rocky Balboa”.
Fevereiro de 1945. Apesar da vitória anunciada dos aliados na Europa, a guerra no Pacífico prosseguia. Uma das mais importantes e sangrentas batalhas foi a pela posse da ilha de Iwo Jima, que gerou uma imagem-símbolo da guerra: cinco fuzileiros e um integrante do corpo médico da Marinha erguendo a bandeira dos Estados Unidos no monte Suribachi. Alguns destes homens morreram logo após este momento, sem jamais saber que foram imortalizados. Os demais permaneceram na frente de batalha com seus companheiros, que lutavam e morriam sem qualquer ostentação ou glória. O competente diretor Clint Eastwood conseguiu um feito impressionante, dirigindo dois filmes sobre o mesmo assunto, sob a ótica de cada um dos lados envolvidos. Este trata da visão americana. “A Conquista da Honra” estréia nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom e na Sala 7 do Cinemark. Para maiores de 16 anos.
Dogão é um cachorro trapalhão que mora em uma pequena cidade, onde todos são amigos. Numa de suas trapalhadas, ele prende sua amiga Duda e liberta Zé do Mal, um feiticeiro cruel. Zé do Mal deseja encontrar três diamantes mágicos, que juntos são capazes de criar uma força capaz de congelar o sol. Isto faz com que Dogão tenha que liderar uma equipe, composta por uma vaca, um coelho, uma lesma e um trem, para tentar impedir os planos de Zé do Mal. O filme é baseado na série infantil de televisão dos anos 60, bastante apreciada pelos ingleses. “Dogão – Amigo Pra Cachorro” estréia nesta sexta-feira, na Sala 4 do Cinemark. Censura livre.
Estréia 3: “À Procura da Felicidade”
Pré-Estréia: “Rocky Balboa”
A glória faz parte do passado para Rocky Balboa (Sylvester Stallone). Dono de um restaurante em Filadélfia, Rocky passa as noites contando aos clientes histórias de sua época de lutador. Rocky Jr. (Milo Ventimiglia), seu filho, não dá muita atenção ao pai, preferindo cuidar de sua própria vida. Sua vida muda após uma simulação de computador colocar Mason Dixon (Antonio Tarver), o atual campeão mundial dos pesos pesados, enfrentando Rocky em seu auge. Dixon fez fama pela facilidade com a qual conseguiu o título, mas, como nunca encarou um oponente que realmente o desafiasse, é considerado por muita gente como um lutador muito técnico, mas, sem alma. A simulação faz com que o agente de Dixon resolva realizar a luta, oferecendo a Rocky uma nova chance de voltar aos ringues. “Rocky Balboa” terá pré-estréia nesta sexta-feira e sábado, no Cine 3 do Moviecom e na Sala 5 do Cinemark. Para maiores de 12 anos.
Novidades
“James Dean – Memórias de um Rebelde”, em DVD
Um ano e três grandes filmes (“Vidas Amargas”, “Juventude Transviada” e “Assim Caminha a Humanidade”). Através de clipes, cenas de bastidores, fotos de arquivo e entrevistas com seus colegas, que compartilharam este último ano de vida, “James Dean – Memória de um Rebelde” revela o homem, seus filmes e sua mítica imortal. Depois de 50 anos, James Dean ainda é o arquétipo de rebelde para muitas gerações. Nas locadoras.
Harry Potter
Julho será um mês importante para os fãs de Harry Potter. O quinto filme da série, “Harry Potter e a Ordem de Fênix”, terá estréia mundial no dia 13 de julho. Uma semana depois, no dia 21, será a vez do lançamento do último livro da saga, “Harry Potter e as Insígnias Mortais”. A ênfase no “último” levou os fãs do bruxinho a especular sobre a possível morte do personagem principal. É esperar para ver.
“O Enigma de Andrômeda”, em DVD
Filmes da Semana: “A Grande Família – O Filme” e “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias”
A família e o sem-família
Quando vemos Hollywood produzir quinhentos filmes por ano e sua versão indiana, Bollywood, o dobro deste número, é meio decepcionante constatar que, no Brasil, nossa produção cinematográfica em 2006 não chegou a sessenta títulos. Alguns deles jamais chegarão ao grande público, devido à logística de distribuição. Mas, se nos falta quantidade, inquestionavelmente, alguns destes filmes são de excelente qualidade. No momento, dois filmes nacionais chamam a atenção do público, “A Grande Família – O Filme” e “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias”.
Não é difícil crer que “A Grande Família – O Filme” será um sucesso de público. A série já está no ar há seis anos, mantendo índices de audiência de 45 pontos, comparáveis aos das novelas mais famosas. Ninguém quis arriscar e o resultado ficou muito parecido com o do programa semanal – o que irá agradar aos fãs da série. Não é para menos que, em sua estréia, o filme conseguiu o primeiro lugar nas bilheterias, com mais de trezentos mil espectadores.
A trama começa quando Lineu (Marco Nanini) precisa ir a um médico, após sentir-se mal no enterro de um colega. Um exame mais detalhado, para investigar uma mancha no pulmão, o deixa apavorado, a ponto de não querer saber o resultado do exame, e, muito menos, contar o problema para a família.
Isso acontece às vésperas de um evento que é tradição familiar, o baile anual onde Lineu e Nenê (Marieta Severo) se conheceram, há quarenta anos. Por coincidência, Nenê reencontra Carlinhos (Paulo Betti), que seria o acompanhante dela no primeiro baile. Carlinhos agora é um próspero gerente de supermercado, o que provoca o interesse de Agostinho (Pedro Cardoso) e Tuco (Lúcio Mauro Filho), assim como Marilda (Andréa Beltrão), a nada discreta solteirona e melhor amiga de Nenê.
Para complicar as coisas, Lineu ainda é enrolado em uma brincadeira por seu chefe, Mendonça (Tonico Pereira), que inventa uma paixão secreta de Marina (Dira Paes) por ele. A brincadeira sai de controle quando Nenê descobre os falsos bilhetes no bolso de Lineu, gerando uma crise familiar. Para provocar ciúmes em Lineu, Nenê aceita o convite de Carlinhos para ir ao baile.
Decidido a recuperar sua mulher e a tranqüilidade do casamento, Lineu vai atrás deles, mas, o seu carro fica preso nos trilhos, com uma locomotiva vindo a toda velocidade em sua direção. Neste ponto, a história recomeça, por mais duas vezes, mostrando o desenrolar dos acontecimentos, a partir de diferentes atitudes de Lineu, depois da notícia de sua possível morte.
A fórmula não é nova. Alguns críticos citam “Roshomon”, de Kurosawa, como o modelo adotado, com uma história sendo recontada de diferentes formas. Na verdade, a semelhança é maior com “Corra, Lola, Corra”, onde a personagem de Franka Potente tem vinte minutos para correr até o centro da cidade e salvar o namorado da morte, e, no meio do caminho, conseguir cem mil marcos! A história é recontada três vezes, com os mesmos personagens e acontecimentos, mas, com desenrolar e desfechos diferentes.
O que funcionou muito bem no filme de Tom Tykwer fica meio forçado em “A Grande Família”. Enquanto o filme alemão é repleto de imagens dinâmicas e uma trilha repleta de pop rock, como se fosse um grande videoclipe, o filme de Maurício Farias apóia-se nos diálogos e situações entre os membros da família, o que fica um pouco monótono, em certos momentos. Mas, como disse antes, este talvez seja o maior atrativo do filme para os fãs incondicionais da série.
“A Grande Família – O Filme” talvez seja um exemplo perfeito para os que acusam o atual cinema brasileiro de ser simplesmente a televisão jogada na tela grande. Embora isso soe mais como uma discussão acadêmica, o outro título da resenha nada tem a ver com televisão. Ao contrário disso, “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias” é cinema na mais pura expressão – e, dos bons.
A história se passa em 1970, mais precisamente a poucos dias do início da Copa do Mundo. O Brasil vive um momento extremamente contraditório. O golpe de 1964, que acontecera em reação ao populismo de Jango, endurecera após 1968, e era controlado com mão de ferro pelos militares, liderados pelo então presidente Garrastazu Médici. Os protestos estudantis e de trabalhadores evoluíram para os movimentos clandestinos, que eram combatidos duramente pelo Estado, lançando mão de tortura, censura da imprensa e outros artifícios.
Ao mesmo tempo, o clima de euforia propiciado pelo milagre econômico, a forte propaganda nacionalista e a expectativa de Copa do Mundo mantinham a maioria da população ignorante da surda batalha que acontecia no país.
É nesse estado de coisas que Bia (Simone Spoladore) e Daniel (Eduardo Moreira) decidem abandonar sua vida em Belo Horizonte para embarcar no movimento clandestino. Mas, para fazer isso, terão que deixar Mauro (Michel Joelsas), o seu filho de doze anos, com o avô (Paulo Autran) que nem conhecia. Preocupados com os seus perseguidores, os pais de Mauro o deixam na porta do prédio do avô, sem saber que o mesmo tivera um ataque cardíaco fulminante, que o levaria à morte.
É assim que Schlomo (Germano Haiut) encontra Mauro. Sem saber o que fazer com ele, Schlomo é aconselhado pela comunidade de judeus a que pertence a tomar conta do garoto até o retorno dos pais. Isso não será fácil para Schlomo, um velho solitário que nunca lidara com crianças, e, mais ainda, para Mauro, que terá que lidar com ausência de qualquer referência familiar.
Aos poucos, Mauro vai se integrando ao ambiente. Para isso é fundamental a ajuda de Hannah (Daniela Piepszyk), uma garota de sua idade, que o ajuda a entender como funciona o mundinho particular do bairro, as brincadeiras com a garotada, as comunidades de judeus e de italianos, os relacionamentos de amizades, etc..
Nesse meio tempo, a Copa do Mundo vai acontecendo, empolgando todos os brasileiros, nascidos ou não aqui. A única coisa que impede Mauro de ficar completamente feliz é a total ausência de notícias de seus pais.
Enquanto as vitórias acontecem nos campos do México, os embates entre os estudantes e a polícia se agravam, o que leva Ítalo (Caio Blat), amigo do pai de Mauro, a abrigar-se com o garoto. Este fica contente por ter mais um companheiro de brincadeiras, sem ter a noção da gravidade dos acontecimentos. Quando, finalmente, Mauro tem notícias de seus pais, isso representa o fim de sua vida na comunidade. Dias incertos virão pela frente.
Certamente, expliquei neste texto muito mais do que é feito no filme. Mas, ao invés de ser um defeito, torna-se a característica mais importante do filme, já que tudo é mostrado pela ótica do garoto, que vê os acontecimentos ao seu redor, mas, é incapaz de entender o real significado.
“O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” consegue a proeza de mostrar, de uma forma magistral, o drama familiar das vítimas da repressão militar e a euforia da Copa do Mundo de 70, de uma forma delicada e tocante, sem cair na armadilha do dramalhão fácil.
Além do roteiro bem amarrado, fotografia maravilhosa e uma admirável recriação de época, o filme contou com um elenco seguro, embora com poucos nomes conhecidos. Vale destacar a atuação das crianças, selecionadas entre mais de mil candidatos.
Além de merecer o Troféu Redentor de Melhor Filme – Júri Popular, no Festival do Rio, o Prêmio do Júri – Menção Honrosa e o Prêmio Petrobras Cultural de Difusão – Melhor Filme de Ficção, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o longa do diretor Cao Hamburger foi selecionado para a mostra competitiva do renomado Festival de Cinema de Berlim, que inicia 8 de fevereiro.