Claquete – 23 de março de 2007
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
O que está em cartaz
O final de semana começa bem com a estréia do primeiro infantil dirigido pelo famoso diretor francês Luc Besson, “Arthur e os Minimoys”. Estréiam, também, a comédia escrachada “Deu a Louca em Hollywood” e a ação “Atirador”, com Mark Wahlberg. Nas continuações, temos “Ponte Para Terabítia” (veja em Filmes da Semana), produção da Disney, “A Rainha”, que deu o prêmio de Melhor Atriz a Helen Mirren, a comédia “Norbit”, onde Eddie Murphy interpreta diversos personagens, a ação “Motoqueiro Fantasma”, com Nicolas Cage, “Letra e Música”, comédia romântica com Hugh Grant e Drew Barrymore, e o desenho de Mauricio de Sousa “Turma da Mônica – Uma Aventura no Tempo”. Nas programações exclusivas, o Moviecom exibe “Turistas” (veja em Filmes da Semana), enquanto que o Cinemark oferece “O Último Rei da Escócia”, que deu o Oscar para Forest Whitaker, e o drama “À Procura Da Felicidade”.
Estréia 1: “Arthur e os Minimoys”
Arthur (Freddie Highmore) é um garoto de dez anos que tem por missão evitar que a casa de sua avó (Mia Farrow) seja destruída. Fascinado pelas histórias de seu avô sobre a terra dos Minimoys, o pequenino povo que habita seu jardim, Arthur decide procurar seus tesouros escondidos. Porém, a terra dos Mimimoys também está ameaçada, o que faz com que Arthur tenha que ajudar a princesa Selenia a enfrentar o vilão Maltazard. A direção é de ninguém menos do que Luc Besson, autor de “Nikita”, “O Profissional” e “O Quinto Elemento”, que se aventura agora no mundo infantil. “Arthur e os Minimoys” estréia nesta sexta-feira, na Sala 1 do Cinemark, e no Cine 6 do Moviecom. Censura livre. Cópias dubladas.
Estréia 3: “Atirador”
Novidades
“Cassino Royale”, em DVD
A mais nova aventura de James Bond, desta vez mostrando o início de sua carreira como 007, traz Daniel Craig no papel do espião mais famoso do mundo. Sua primeira missão que o leva a Madagascar, Bahamas e eventualmente a Montenegro para enfrentar Le Chiffre, um cruel financista que está sendo ameaçado por seus clientes terroristas e que pretende recuperar seus fundos de investimento em um jogo de pôquer de altas apostas no Cassino Royale. Ao seu lado, a belíssima Eva Green. O filme traz formato de tela widescreen anamórfico e som Dolby Digital e DTS. Nas locadoras.
“100 Escovadas Antes de Dormir”, em DVD
Melissa (Maria Valverde) é uma inocente garota siciliana, que tem apenas 16 anos. Ela se sente distante dos pais, já que seu pai vive viajando e sua mãe está concentrada apenas em seu próprio mundo, sem notar as mudanças pelas quais sua filha está passando ao se tornar uma mulher. Na escola Melissa passa o dia sonhando com Daniele (Primo Reggiani), um colega de classe por quem nutre uma paixão adolescente mas que a ignora solenemente. Até que, um dia, Daniele decide convidar Melissa para sair. Encantada, ela aceita de imediato. Seduzida, Melissa é iniciada no sexo e passa a participar dos jogos sádicos de Daniele e de seu amigo Arnaldo (Elio Germano). Desnorteada e sentindo-se humilhada pelo ocorrido, ela passa a se educar sobre o sexo e ter ousados encontros com vários homens.
“Morricone Por Morricone – Para Quem Ama Cinema e Música”
Autor das músicas de quase 400 filmes, o italiano Ennio Morricone é o mais famoso compositor de trilhas sonoras para cinema. Nesse espetáculo inédito, o próprio Morricone rege a conceituada Orquestra Filarmônica de Munique, que executa, com perfeição, suas trilha sonoras mais famosas num concerto inesquecível de quase duas horas. Obrigatório para todos aqueles que amam cinema e música. Incluindo músicas dos filmes “Era uma Vez no Oeste”, “A Missão”, “Cinema Paradiso”, “A Lenda do Pianista do Mar”, “Por um Punhado de Dólares”, “Os Intocáveis”, “Três Homens em Conflito”, entre outros grandes sucessos.
Filmes da Semana: “Turistas” e “Ponte Para Terabítia”
A beleza está nos olhos de quem vê
Gosto da idéia de que o cinema é o olhar de alguém sobre um determinado tema. Partindo disso, notei uma curiosa ligação entre o polêmico filme de suspense “Turistas” e o delicado drama infantil “Ponte Para Terabítia”, as duas estréias do final de semana passado.
Nessa altura da leitura, os meus fiéis leitores já devem estar preocupados com a minha sanidade mental. Como pode, meu caro Newton, comparar um filme mata-mata, que esculhamba o Brasil, com o charmoso e inteligente filme de Gabor Csuco. Você deve realmente estar acreditando que é um crítico de cinema… Calma, queridos amigos, dêem-me um crédito de confiança, antes de jogar o jornal no lixo.
“Turistas” é um filme honesto, no sentido de que entrega aquilo que promete. Um grupo de estrangeiros vem ao Brasil, a passeio. Três americanos, dois ingleses, um casal de suecos e uma australiana formam o grupo. De todos, apenas a australiana fala a nossa língua (“Ah, você fala espanhol?”, pergunta o americano, “Não, aqui se fala português.”).
Os jovens conseguem a façanha de viajar do Rio com destino a Belém em um ônibus urbano, que não completaria o trajeto entre Natal e Macaíba. Obviamente, sofre um acidente e cai ladeira abaixo. Ninguém se fere, mas todos terão que esperar um novo transporte.
Inquietos, os jovens resolvem ir até uma praia próxima. Lá, encontram o paraíso. Na praia paradisíaca, uma galera jovem e animada fazia festa em um bar. Mulheres bonitas, bebidas, música e descontração. “I love Brazil” era o refrão mais repetido.
A alegria dura até acordarem, no dia seguinte, quando descobrem que foram roubados. Sem ter a quem recorrer, terminam entrando em conflito com os moradores locais. Apenas um adolescente, Kiko, resolve ajuda-los, conduzindo-os a um local seguro.
O local é uma misteriosa casa de campo, escondida no meio de uma selva profunda. Lá eles encontram roupas, comida e abrigo. Mas, o dono da casa chega em seguida, e revela as suas intenções: aprisionar os estrangeiros, para retirar os órgãos e transplanta-los em criancinhas brasileiras.
O resto do filme é a luta dos jovens para escapar da casa e de seu terrível dono, que chefia uma quadrilha politicamente correta, com igual número de brancos, negros e índios. Bem, quem já assistiu os filmes das séries “Pânico”, “Premonição” ou “Eu Sei o Que Vocês Fizeram…” não vai estranhar muito. O mais curioso mesmo é o absurdo das situações inventadas, que chegou a provocar a irritação de espectadores e até autoridades.
Claro, se quisessem falar de coisas reais, poderiam falar de ônibus de turistas assaltados no caminho do aeroporto, balas perdidas encontrando alvos, criancinhas sendo arrastadas por carros, etc.. Além do mais, seria muito mais fácil sumir com alguém em uma grande cidade como Rio ou São Paulo, com muito mais recursos para fazer transplantes do que em uma casa isolada no meio do mato. Mas, cinema é ficção, antes de tudo. E cinema, como eu disse acima, é o olhar de alguém.
“Ponte Para Terabítia” não poderia ser mais diferente de “Turistas”, em gênero, número e grau. O filme, produzido pelos Estúdios Disney, é baseado no livro homônimo, de Katherine Paterson, que o escreveu, em 1977, como forma de consolar seu filho mais novo, devido à morte trágica de uma grande amiga.
Jess Aarons (Josh Hutcherson) é filho de uma família americana, que vive em uma pequena cidade da área rural. Jess é um garoto solitário, apesar de ter quatro irmãs e conviver com muitos outros meninos no colégio. Suas únicas diversões são os seus desenhos, frutos de uma imaginação fértil e a corrida, única ambição a que se permite. Em meio às dificuldades financeiras da família, às brigas das irmãs, à indiferença do pai, às implicâncias dos colegas, Jess só consegue paz quando se recolhe no seu solitário mundo.
Sua rotina de vida é quebrada no dia em que conhece Leslie Burke (AnnaSophia Robb), a nova vizinha, que, além de ser mais veloz do que todos na corrida, ainda se revela uma pessoa de uma imaginação tão criativa quanto a dele. O fato de ser filha única, de pais muito envolvidos com os seus próprios trabalhos, faz com que os dois unam suas solidões, em uma amizade sincera e recíproca.
Nos arredores, os dois descobrem um riacho, e, para atravessa-lo, uma corda no estilo Tarzan. Cruzando o obstáculo, os dois descobrem um novo mundo, repleto de seres fantásticos, Terabítia, da qual eles são os senhores. Mas, nem tudo é festa, pois um ser maligno, o Mestre da Escuridão e seu exército, estão à espreita, para dominar o seu mundo mágico.
Entre o mundo mágico e o real, Jess e Leslie precisam lidar com outras situações, como a odiada Janice (Lauren Clinton), uma garota mandona do colégio e a paixão do garoto pela professora de música, Miss Edmunds (Zooey Deschanel), de olhos incandescentes.
O mundo de Jess irá sofrer um forte abalo devido a um trágico acontecimento. A partir daí, ele terá que escolher o lado que quer ficar, o mundo imaginário ou o real, superando a própria dor, para vencer a sofrida transição entre a infância e a maturidade.
Nessa altura, os meus queridos leitores já estarão impacientes para que eu justifique o que prometi no início. Bem, meus caros, os dois filmes baseiam-se na forma de olhar o mundo. Antes que me lancem as pedras, deixem-me explicar.
Queiramos ou não, a maneira como o Brasil aparece em “Turistas” é a maneira como a maioria dos americanos nos vêem. Figuras exóticas, passionais e sensuais, passamos o tempo jogando futebol, bebendo, dançando e namorando. Nada mais do que o “doce fazer nada”. Para quem pouco se interessa pelo que acontece fora do seu condado, essa é a imagem que eles fazem de nós. Imagem essa expressa em filme pelo diretor John Stockwell. Para mudar essa imagem, talvez precisemos mudar algumas coisas em nossa própria casa. Quanto a fazer boicote ou protestos, é uma bobagem maior do que o filme. Se estiver curioso, assista, preparado para o absurdo, e só.
O olhar em “Ponte Para Terabítia” é muito mais complexo. Tudo é mostrado através da ótica do menino Jess, que refugia-se em um mundo que só ele vê, para fugir do frustrante contato com as outras pessoas, que o julgam esquisito e anti-social. Apenas Leslie, com o seu olhar despido de preconceitos, consegue enxergar a pessoa que se esconde atrás da armadura que Jess criou para si. É também através do olhar da imaginação que eles conseguem descortinar um mundo maravilhoso, onde tudo é possível, sonhos e desafios. E, finalmente, Jess precisará mudar a forma de olhar tudo, a partir do acidente que altera profundamente a sua vida.
É difícil imaginar que foi a mesma indústria que produziu os dois filmes. Mas, são obras destinadas a públicos diferentes, e certamente haverá quem ame ou odeie qualquer um dos dois filmes. Faça sua escolha, afie o olhar e deixe as armas do lado de fora do cinema.