Filme da Semana: “Onde Está Segunda?”
Quando li a sinopse de “Onde Está Segunda?” (“What Happened to Monday?”, EUA, 2017), fiquei imediatamente interessado no filme, principalmente ao saber que a atriz principal era Noomi Rapace, a exótica sueca que brilhou na versão original de “Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”. Após conferir o filme fiquei um pouco dividido, sem nenhuma dúvida quanto ao brilhantismo da estrela, mas incomodado com a verossimilhança da história.
Em um futuro não muito distante, encontramos a Humanidade em uma situação pior que hoje. Enquanto a população aumenta continuamente, a degradação ambiental faz com que as áreas produtivas sejam cada vez menores, implicando em uma menor produção de alimentos. A intervenção industrial na forma de transgênicos e outros meios consegue aumentar a produção, mas traz como efeito colateral a inesperada geração de gestações múltiplas. Ou seja, a solução inicial criou outros problemas.
Nesse ponto, a cientista Nicolette Cayman (Glenn Close) propõe uma solução radical: cada casal só pode ter um único filho. Se alguma família desobedecer a esta regra, os filhos excedentes serão congelados para serem despertados quando a situação do mundo estivesse propícia a acolhê-los. Todos os cidadãos tem que usar uma pulseira eletrônica especial, que é constantemente fiscalizada por soldados da Agência de Alocação Infantil, a poderosa agência controlada por Cayman.
Mas, sempre alguém tenta burlar a lei, quando se trata de abrir mão do próprio filho. Foi o que aconteceu com a filha de Terrence Settman (Willem Dafoe), que morreu dando a luz a sete crianças numa clínica clandestina. Settman, que não mantinha boas relações com a filha decide mantê-las e cria um sofisticado esquema para proteger as crianças.
Como só poderia existir uma, oficialmente ela é Karen Settman. Contudo, cada criança recebe o nome de um dia da semana, e será nesse dia apenas que elas poderão sair de casa e interagir com o mundo. Isso traz implicações inesperadas, como no dia em que uma delas foge de casa para andar de skate e sofre um acidente, todas são obrigadas a ter a ponta do dedo amputado, pois as sete deve ser fisicamente idênticas.
Aos trinta anos, as sete continuam mantendo rigorosamente o mesmo esquema. Ainda sob o rigoroso controle da Agência de Alocação Infantil, o mundo não parece ter melhorado, e os filhos clandestinos ainda são capturados e enviados para a criogenia.
Karen Settman (Noomi Rapace) trabalha como executiva de um banco, e está em um momento crucial da carreira, prestes a assumir um novo posto. Sempre trabalhando em conjunto, as irmãs usam suas habilidades individuais para manter sua personalidade exterior sempre em ascensão.
Mas, o inesperado acontece quando, no mesmo dia que participa da seleção para o novo posto, Segunda simplesmente desaparece, não volta para casa nem dá nenhuma notícia. Preocupadas, as irmãs começam a investigar através de Terça, que no seu dia procura informações sobre o paradeiro de Segunda.
Na verdade as irmãs estavam na mira da própria Nicolette Cayman, que quer eliminar todas elas sem usar os recursos oficiais da agência. Daí em diante tudo segue freneticamente numa briga de gato e rato onde nem tudo é o que parece ser, e as consequências podem ser catastróficas.
O filme é muito bem feito, com excelentes efeitos visuais, mas nada em excesso. Noomi Rapace, como se poderia esperar, atua com perfeição dando vida às sete irmãs, cada uma com suas características próprias. Willem Dafoe, em suas pequenas aparições mostra porque é capaz de atuar de Duende Verde a Jesus Cristo sem problemas. Já Glenn Close parece uma sombra da sedutora psicopata de “Atração Fatal”.
Mas, os problemas de “Onde Está Segunda?” não estão no elenco, e sim na história. Fica difícil imaginar um consenso mundial sobre um tema tão polêmico. Conhecendo como funciona a cabeça dos políticos, seria mais provável aplicar essa lei só para os países pobres. Mais difícil ainda imaginar a China voltando a adotar uma lei que já está sendo abolida agora.
Incoerências à parte, “Onde Está Segunda?” é um filme de ação ambientado no futuro, com o diferencial de uma protagonista múltipla, e que pode despertar alguma discussão sobre a real ingerência na vida do cidadão, seja do estado ou de uma empresa comandada por indivíduos com agenda própria.
Já antecipando a pergunta, o filme está disponível no Netflix
Título Original: “What Happened to Monday?”