Claquete – 19 de outubro de 2007
O que está em cartaz
Depois do feriado, o cinema está dominado por “Tropa de Elite” (veja em Filme da Semana), que “pegou geral”. Nas estréias deste final de semana, Kevin Costner passa para o lado do Mal em “Instinto Secreto”, enquanto a garotada tenta descolar em “Superbad – É Hoje”. Continuam em cartaz, também, “Resident Evil 3 – A Extinção”, com Milla Jovovich, e “O Homem Que Desafiou o Diabo”, de Moacyr Góes. Nas programações exclusivas, o Cinemark exibe a animação “Putz! A Coisa Ta Feia”, “Stardust – O Mistério da Estrela”, e, na Sessão Cult, “As Leis de Família”. Por sua vez, o Moviecom exibe a comédia romântica “Ligeiramente Grávidos”, o nacional “Saneamento Básico, o Filme” e o infantil “Vira-Lata”. Neste final de semana acontecem duas pré-estréias, a animação “Tá Dando Onda” e o musical “Hairspray – Em Busca da Fama” (só no Moviecom).
Estréia 1: “Instinto Secreto”
Earl Brooks (Kevin Costner), um executivo de sucesso, marido e pai exemplar, esconde um grande segredo: é um serial killer, conhecido como o Assassino da Impressão Digital. Apesar de estar afastado do mundo do crime há algum tempo, a compulsão de Brooks em matar volta à tona devido ao seu alter ego (William Hurt), o qual considera ser o verdadeiro assassino. Porém, ao realizar mais um assassinato, Brooks comete um erro, sendo notado por um fotógrafo curioso (Dane Cook), que passa a chantageá-lo. Este crime também coloca em seu encalço a detetive Tracy Atwood (Demi Moore), que está obcecada em desvendar o caso. “Instinto Secreto” estréia nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom e na Sala 5 do Cinemark. Para maiores de 18 anos.
Evan (Michael Cera) e Seth (Jonah Hill) são amigos inseparáveis, que estão terminando o colegial. Eles irão para faculdades diferentes e, serão obrigados a se separar. Evan é amável, esperto e normalmente aterrorizado com o que acontece à sua volta, enquanto que Seth é desbocado, frívolo e obcecado pela sexualidade. Cada um de sua forma, eles precisarão superar suas frustrações com as mulheres na nova fase de suas vidas. Dos mesmos idealizadores de “O Virgem de 40 Anos”, “Superbad – É Hoje” estréia nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom e na Sala 6 do Cinemark. Para maiores de 16 anos.
Sessão Cult: “As Leis de Família”
Pré-Estréia 1: “Ta Dando Onda”
Cody Maverick é um jovem pinguim, que tem o lendário surfista Big Z como ídolo. Um dia, ele decide deixar sua família na Antártida, para participar do Big Z Memorial Surf Off, um torneio de surf realizado na ilha Pen-Gu. Cody acredita que, caso vença o torneio, ganhará respeito e admiração, seu grande sonho. Mas, lá ele conhece um veterano surfista chamado Grego, com quem aprende que o campeão nem sempre é aquele que chega em primeiro lugar nas competições. Pré-estréia no sábado e domingo, no Cine 5 do Moviecom (14h40) e na Sala 7 do Cinemark (15h30). Censura livre. Cópia dublada.
Pré-Estréia 2: “Hairspray – Em Busca da Fama”
1962. O sonho de todo adolescente é aparecer no “The Corny Collins Show”, o programa de dança mais famoso da TV. Tracy Turnblad (Nikki Blonsky) é uma jovem gordinha que tem paixão pela dança. Ao fazer um teste ela impressiona os juízes e, desta forma, conquista um lugar no programa. Logo, ela alcança o sucesso, ameaçando o reinado de Amber Von Tussle (Brittany Snow) no programa. As duas passam, também, a disputar o amor de Link Larkin (Zac Efron), enquanto duelam pela coroa de Miss Auto Show. No entanto os conceitos de Tracy mudam quando ela descobre o preconceito racial existente na TV, decidindo usar sua fama para promover a integração. Pré-estréia no sábado e domingo (21h30), no Cine 5 do Moviecom. Censura livre.
Lançamentos em DVD
“Escritores da Liberdade”, em DVD
Quando vai parar numa escola corrompida pela violência e tensão racial, a professora Erin Gruwell (Hilary Swank) combate um sistema deficiente, lutando para que a sala de aula faça uma diferença na vida dos estudantes. Agora, contando suas próprias histórias, e ouvindo as dos outros, uma turma de adolescentes supostamente indomáveis vai descobrir o poder da tolerância, recuperar suas vidas desfeitas e mudar seu mundo. A direção é de Richard LaGravenese. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e som Dolby Digital, e, como extras, comentários do diretor e de Hilary Swank, Cenas Inéditas, Construindo um Sonho, Trailer, A Família de Escritores da Liberdade, Galeria de Fotos e Escritores da Liberdade: A História Por Trás da História. Nas locadoras.
“A Noiva Síria”, em DVD
A fronteira entre Israel e Síria, nas colinas de Golam, é habitada por uma comunidade drusa. Durante a preparação das bodas de uma linda jovem do lado israelense com um astro de tevê, também druso, morador do lado sírio, a noiva tem de atravessar a fronteira, mas, a burocracia kafkiana de cada lado transforma o casamento em uma festa do absurdo. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e som Dolby Digital, e, como extras, Entrevistas, Making Of, Trailer e Versão em mp4. Nas locadoras.
No futuro, é inventado um novo tratamento psicológico que permite aos terapeutas ver os sonhos dos seus pacientes, e, assim, perceber os mais profundos segredos do subconsciente. Mas, o protótipo da máquina é roubado, deixando a comunidade científica em pânico. Nas mãos erradas, a utilização do aparelho pode ser devastadora… O disco traz o filme com formato de tela widescreen e som Dolby Digital, e, como extras, Comentários dos Realizadores, Making of, Uma Conversa Sobre o Sonho, O Mundo CG do Sonho, A Arte da Fantasia e Trailers. Nas locadoras.
Eventos
“A Igualdade é Branca”, no Cine Café
Retrospectiva Jussara Queiroz
A cineasta potiguar Jussara Queiroz, cuja vida foi o tema do documentário “O Vôo Silenciado do Jucurutu”, de Paulo Laguardia, receberá uma justa homenagem, com uma retrospectiva de suas obras, no projeto Goiamum Audiovisual. Entre as obras que serão exibidas, “A Árvore da Marcação”, o mais conhecido da diretora, traz no elenco a atriz Marcélia Cartaxo. A mostra está programada para os dias 20 e 21, sábado e domingo, em sessão das 18h, na Tenda de Cinema da Funcart. Mais informações no fone 3232-8143 ou no site http://www.goiamumaudiovisual.com/.
Filme da Semana: “Tropa de Elite”
O Rio em preto e branco
Cercado de polêmica e com um “lançamento” não autorizado nas bancas de DVDs piratas, “Tropa de Elite”, do diretor José Padilha, finalmente, chega aos nossos cinemas. De imediato, respondo às duas perguntas mais prementes: Não, não tem diferença significativa em relação à versão pirata, e, Sim, vale à pena, e muito, conferir o filme no cinema, não só pelo conteúdo, mas, principalmente, pela qualidade técnica da produção, com som e imagem perfeitos, ao nível, ou, até melhor do que muitas produções hollywoodianas.
Esclarecido isto, vamos ao filme. “Tropa de Elite” exibe um breve momento histórico do Rio de Janeiro, em 1997, sob a ótica do Capitão Nascimento (Wagner Moura), policial durão, lotado no Batalhão de Operações Especiais, o BOPE, da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Depois de dez anos de luta, Nascimento está com os nervos em frangalhos, não só pela tensão do seu trabalho, já que o seu grupo só lida com situações extremas, mas, também, pelo desejo de ter uma vida mais tranqüila ao lado da mulher e do filho que está para nascer.
Nascimento não apenas conta a sua própria história, como também mostra o lado podre do Rio de Janeiro e a funesta simbiose entre o crime organizado e a parte corrupta da Polícia Militar (outras instituições notoriamente corruptas não são sequer mencionadas no filme). Ele também é o narrador da vida de dois oficiais em início de carreira, o vibrante Neto (Caio Junqueira) e o inteligente Matias (André Ramiro), jovens idealistas e desejosos de cumprir a sua missão com honestidade e honra.
O idealismo dos dois esbarra na corrupção em sua corporação, o que os leva a querer enfrentar o sistema, quase provocando uma guerra em uma favela. Isolados em meio ao fogo cruzado, eles são salvos pela equipe do BOPE, do capitão Nascimento, e logo se inscrevem no curso de formação para entrar no famoso batalhão.
Um dos pontos altos do filme é o curso de formação, que, na verdade, é uma peneira, para separar os policiais capazes de suportar tensões extremas. Com diz Nascimento, com orgulho, “de cada cem inscritos, apenas cinco conseguem chegar ao final do curso”. As cenas mostradas, que certamente ficam aquém do curso real, mostram uma dura seqüência de situações rigorosas, que não devem ser novidade para quem já participou de algum curso de formação de oficiais do Exército ou outra arma.
Nascimento tem um interesse a mais, pois ele precisa arranjar um substituto, não apenas eficaz, mas, à sua imagem e semelhança, capaz de manter o nível que ele impôs ao seu grupo. Neto e Matias são os seus preferidos, mas, a paixão com que o primeiro se lança à guerra faz com que a sua escolha penda para ele.
Matias tem os seus próprios problemas, pois, em função das amizades que fez na faculdade de Direito, deparou com situações que se chocavam com a sua maneira de pensar, como presenciar os colegas fumando maconha, ou, a namorada trabalhando em uma ONG patrocinada pelo chefe do tráfico de um morro.
Quando todas essas situações convergem, a guerra é declarada. Nessa hora, a diferença de atitudes entre bandidos e policiais chega a ser apenas a farda que uns vestem.
A pergunta que paira no ar, dos meios acadêmicos às mesas de bar, é: por que este filme tem criado uma legião de fãs apaixonados, já que o herói é um policial que tortura homens, mulheres e adolescentes, matando quando quer e passando por cima de leis e regras de conduta?
Todo filme corresponde a uma visão particular do mundo, e, neste caso, o diretor conseguiu um feito notável. Mesmo que aquilo que é mostrado no filme não seja verdadeiro, já que se trata de uma obra de ficção, “Tropa de Elite” conseguiu exprimir a fantasia da maioria dos seres humanos “normais”, aqueles que não são nem bandidos, nem autoridades. Ou seja, são os cidadãos comuns, honestos e trabalhadores, que sofrem as pressões de ambos os lados, são assaltados, atingidos por balas perdidas, não tem nenhuma importância para os defensores de Direitos Humanos e ainda são submetidos a todas as restrições das leis, já que não são ricos ou poderosos para passar por cima delas.
O capitão Nascimento, com toda a sua brutalidade e parcialidade, é o herói escondido dentro de cada um de nós, que assiste, indignado, as notícias dos crimes bárbaros, da corrupção dos políticos, da rede de proteção de quem está ligado ao poder, que os deixa acima da lei. Lá no fundo, dá vontade que exista um Nascimento, o xerife matador de bandidos, das nossas brincadeiras de infância, quando ser bom e honesto é algo inquestionável.
Essa visão ingênua da realidade, a dicotomia de quem é do Bem e quem é do Mal, é outra faceta mostrada no filme. Do Bem são os policiais honestos e as pessoas comuns, do Mal, são os bandidos, os policiais corruptos e os boyzinhos que consomem as drogas. Aqui não existe o bandido como uma vítima da sociedade ou o usuário de drogas devido à dependência física. Aqui o universo é preto e branco, ou, se está de um lado, ou, do outro.
Se alguma coisa deveria preocupar os nossos governantes em relação a este filme é este sentimento da população. Não pelo filme em si, mas, pela demonstração de que as pessoas estão perdendo a fé no sistema em que vivemos. Quando as pessoas percebem que criminosos da pior espécie e autoridades corruptas se mantêm na impunidade, graças à força de armas ou a rede de influências, surge o desejo de que os capitães Nascimentos da vida se tornem reais. E, não pode existir nada pior, em um Estado de Direito, quando os participantes não dão mais valor a ele.