Claquete – 07 de março de 2008

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

As mulheres comemoram o seu Dia Internacional, embora eu continue achando que elas deveriam lutar para não precisar de um dia especial… É como os ganhadores de Oscar, que, quando chegam a Natal, não esquentam muito o lugar. Esta semana será a vez dos dramas “Sangue Negro” (só no Cinemark) e “Piaf – Um Hino ao Amor” (só no Moviecom). Estréia, também a aventura “10.000 A.C.”. Continuam em cartaz: “Rambo IV”, com Sylvester Stallone, o drama “O Caçador de Pipas” (veja em Filme da Semana), “Vestida Para Casar”, “Juno” e “Meu Monstro de Estimação”. Nas programações exclusivas, o Cinemark exibe “Antes de Partir”, “Meu Nome Não é Johnny” e, na Sessão Cult, o nacional “Jogo de Cena”. No Moviecom, mantém-se em cartaz “O Gangster”, “A Lenda do Tesouro Perdido 2 – Livro dos Segredos”, “Hitman – Assassino 47” e “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”.

Estréia 1: “Sangue Negro”

“Sangue Negro” é a história da vida e do mundo de Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), que consegue sair da condição de um mineiro derrotado e pai solteiro para magnata do petróleo, graças a seus próprios esforços. Quando Plainview fica sabendo da existência de uma pequena cidade no Oeste onde o petróleo, uma riqueza, ainda pouco compreendida, está transbordando do solo, ele segue para lá com seu filho, H.W. (Dillon Freasier), para tentar a sorte na pequena e empoeirada Little Boston. Mas, quando o ouro negro lhes traz toda a fortuna, nada permanecerá igual, pois uma série de conflitos irá por os valores em perigo, por causa da corrupção, fraude e do petróleo. O filme foi escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson, e ganhou o Oscar de Fotografia e de Melhor Ator (Daniel Day-Lewis), além de ter sido indicado para mais seis categorias. “Sangue Negro” estréia nesta sexta-feira, na Sala 3 do Cinemark. Classificação indicativa 16 anos.



Estréia 2: “Piaf – Um Hino ao Amor”

A vida de Edith Piaf (Marion Cottilard) foi sempre uma batalha. Abandonada pela mãe, foi criada pela avó, dona de um bordel na Normandia. Dos três aos sete anos de idade fica cega, recuperando-se milagrosamente. Mais tarde, vive com o pai alcoólatra, a quem abandona aos 15 anos. Depois de crescida e independente de seu pai, Edith segue inconscientemente os passos da mãe, cantando nas ruas de Paris, em troca de moedas. Em 1935 é descoberta por um dono de boate e, neste mesmo ano, grava seu primeiro disco. A vida sofrida é coroada com o sucesso internacional. Fama, dinheiro, amizades, mas também a constante vigilância da opinião pública. Como suas músicas, a sua vida é repleta de amores e tragédias. O filme ganhou os Oscars de Melhor Atriz (Marion Cotillard) e Melhor Maquiagem, sendo, ainda, indicado para Melhor Figurino. A direção é de Olivier Dahan. “Piaf – Um Hino ao Amor” estréia nesta sexta-feira, no Cine 5 do Moviecom. Classificação indicativa 12 anos.

Estréia 3: “10.000 A.C.”

Ambientado em uma época remota, 10 mil anos antes de Cristo, o filme narra a saga de D’Leh (Steven Strait), um jovem caçador de mamutes, cujo pai supostamente abandonou seu povo. Sua maior vontade é provar sua coragem e conquistar o coração de Evolet (Camilla Belle), por quem é apaixonado. Evolet surgiu na tribo como filha de uma profecia. Ela só poderia se entregar àquele que conseguisse matar o “rei” dos mamutes. Antes que alguém consiga tal feito de verdade, a tribo é invadida por misteriosos guerreiros que seqüestram a moça. D’Leh sai em busca da amada, e, no caminho, ele se depara com tigres dentes-de-sabre, tribos desconhecidas e com seu próprio passado. Ele consegue juntar um enorme exército e não só a vida de Evolet, como a de todo seu povo, vai depender de suas decisões. A direção é de Roland Emmerich. “10.000 A.C.” estréia nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom (dublado) e na Sala 2 do Cinemark (legendado). Classificação indicativa 12 anos.

Sessão Cult: “Jogo de Cena”

Atendendo a um anúncio de jornal, 83 mulheres contaram sua história de vida em um estúdio. 23 delas foram selecionadas, em junho de 2006, sendo filmadas no Teatro Glauce Rocha. Em setembro do mesmo ano, várias atrizes interpretaram, a seu modo, as histórias contadas por estas mulheres. “Jogo de Cena” é o décimo longa-metragem de Eduardo Coutinho, um dos maiores documentaristas brasileiros em atividade. A partir desta sexta-feira, na Sala 7 do Cinemark, na sessão de 15h. Classificação indicativa livre.

Lançamentos em DVD

“Primo Basílio”, em DVD

O clássico de Eça de Queiroz é ambientado em São Paulo, 1958. A jovem Luísa (Débora Fallabela) casada com o engenheiro Jorge (Reynaldo Gianecchini), sofre com as constantes ausências do marido, envolvido na construção de Brasília. O reencontro de Luísa e seu primo Basílio (Fábio Assunção) coloca o casamento da jovem sonhadora em risco, já que ela se envolve num caso extraconjugal. Juliana (Glória Pires), sua invejosa governanta, descobre o romance proibido e faz de tudo para infernizar a vida de Luísa, ameaçando revelar seu segredo. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1. Nas lojas e locadoras.

“Planeta Terror”, em DVD

O casal de médicos William (Josh Brolin) e Dakota Block (Marley Shelton) é surpreendido no hospital por uma multidão de homens e mulheres cheios de feridas e mutilações, que vagam com um suspeito olhar perdido. Entre eles está Cherry (Rose McGowan), uma dançarina de boate cuja perna foi arrancada num ataque noturno. Com uma metralhadora no lugar da perna decepada, ela vai liderar, acompanhada por El Wray (Freddy Rodríguez), um exército de inválidos assassinos. A direção é de Robert Rodriguez. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital. Nas lojas e locadoras.

“O Invisível”, em DVD

Nick Powell, um escritor com uma carreira brilhante, é brutalmente atacado numa noite e abandonado, praticamente sem vida, em um lugar estranho. Preso entre o mundo dos vivos e dos mortos, ele só poderá contar com a ajuda de Annie, a única que consegue vê-lo e ouvi-lo. Para salvá-lo da morte iminente, precisarão trabalhar juntos e descobrir o que realmente aconteceu. Mas, como solucionar um mistério quando a vítima é você mesmo? O disco traz o filme com formato de tela cheia e áudio Dolby Digital 5.1, e, como extras, Comentários em Áudio do Diretor David S. Goyer e da escritora Christine Roum, Cenas Inéditas e Videoclipes. Nas lojas e locadoras.

Eventos

“Festim Diabólico”, no Cine Café

O Cineclube Natal, em parceria com o Nalva Melo Café Salão, apresenta nesta sexta-feira, o longa-metragem “Festim Diabólico”, do diretor Alfred Hitchcock. Dois rapazes matam um colega de escola, apenas para terem a sensação de praticar um assassinato e provar que conseguem realizar o crime perfeito. Para desafiar os amigos e a família, fazem uma festa no apartamento deles, e colocam a comida em cima de um baú onde está o corpo da vítima. A exibição começa às 20h, no espaço do próprio café (Rua Duque de Caxias, 110, Ribeira). A entrada custa R$2,00. Para maiores de 14 anos.

“ALIENAÇÃO” no Projeto Café Teatro 2008

No próximo sábado, 8 de março, em continuidade ao projeto Café Teatro, será encenada a peça “ALIENAÇÃO”, no Nalva Melo Café Salão. O espetáculo é dirigido por Ramona Lina e conta, no elenco, com os atores, Arlindo Bezerra, Daniel Eshofuni, Doc Câmara, Luana Vesceslau e pelos músicos Clóvis Neto e Felipe Serquiz. O Projeto Café Teatro 2008 tem por objetivo apresentar, ao público natalense, trabalhos de atores locais e oferecer um espaço alternativo para as artes cênicas. A exibição começa às 19h30, no espaço do próprio café (Rua Duque de Caxias, 110, Ribeira). A entrada custa R$5,00. Para maiores de 18 anos.

Sessão Maldita da Tapiocaria: “O Estranho Sem Nome”

A Sessão Maldita da Tapiocaria exibe no próximo domingo (09/03) o filme “O Estranho Sem Nome” (1973), de Clint Eastwood. O segundo filme de Clint Eastwood como diretor, ele interpreta um misterioso estranho que emerge do escaldante calor do deserto e cavalga em direção à pecaminosa cidade Lago. Após cometer três assassinatos e um estupro, “O Estranho” é contratado pela cidade para protegê-la de três criminosos fugidos da prisão. Ele manda pintar toda a cidade de vermelho e a rebatiza como Inferno. Dessa forma incomum, ele espera os bandidos para um confronto final. A exibição será no domingo, dia 9, às 17h30, na Tapiocaria do Shopping do Artesanato Popular, ao lado do Praia Shopping. Consumação mínima de R$ 2.

Filme da Semana: “O Caçador de Pipas”

O caçador da redenção

Quando falei para a minha filha Marina que estava lendo “O Caçador de Pipas”, ela disse que parara no meio, o que era estranho, em uma devoradora de livros como ela. É desgraça demais, disse ela, se alguém com depressão ler esse livro, é capaz de se matar. Fui obrigado a concordar com ela, ao terminar a leitura, e fiquei apreensivo quanto ao filme, que estreou a semana passada em Natal. Mas, para a minha grata surpresa, o filme é muito bom, e, a história, embora suavizada, não deixa de cumprir o seu papel, que é o de mostrar ao mundo um pouco da realidade do sofrido Afeganistão.

A história inicia naquele país, no final dos anos 70. O país vive uma onda de inquietação política, com os embates entre os simpatizantes do comunismo e os fanáticos religiosos. Mantendo distância desses grupos, um homem de negócios ganha a vida lidando com a burocracia e a corrupção da máquina do governo. Baba (Homayoun Ershadi) é rico, para os padrões afegãos, e vive, com o seu único filho, Amir (Zekeria Ebrahimi) em uma confortável mansão. Entre os criados vive Ali (Nabi Tanha) que tem um filho da idade de Amir, Hassan (Ahmad Khan Mahmidzada).

Amir é uma criança solitária, que gosta de ler e sonha em ser escritor. Seu único amigo é Hassan, que é desprezado pelos outros meninos por ser pobre e, principalmente, por ser da etnia Hazara, enquanto que a etnia dominante é a Pashtun. Mas, Hassan não se importa com isso, vive feliz ao lado do pai e de Amir, por quem mantém uma devoção a toda prova. Hassan, apesar de analfabeto, adora as histórias de Amir, é excelente no estilingue e tem uma habilidade toda especial para encontrar as pipas que caem do céu.

Como seu país, Amir vive dividido. Apesar da amizade incondicional de Hassan, ele se ressente da atenção que o seu pai dá ao filho do criado. Ele acha que o pai não gosta dele e o culpa pela morte da mãe, durante o parto. Rahim Kahn (Shaun Toub), o melhor amigo do seu pai, tenta demove-lo dessa idéia e o incentiva a continuar escrevendo.

O maior problema de Amir tem o nome de Assef (Elham Ehsas), um esnobe colega de colégio, que tem prazer em aterrorizar os garotos menores, acompanhado de dois asseclas. Quando, um dia, ele ameaça Amir, Hassan vem em seu socorro, usando o estilingue para proteger o amigo.

Esse gesto faz crescer o ódio de Assef por Hassan, que planeja a vingança. Essa acontece durante um torneio de pipas, quando Hassan é encurralado por Assef e seus comparsas. Indefeso, ele é espancado e violentado por Assef, enquanto Amir presencia tudo, escondido, incapaz de fazer nada.

O ocorrido piora a angústia de Amir, que além de se culpar por sua covardia, vê o amigo suportar tudo com estoicismo e silêncio. Juntando tudo isso com o ciúme, ele cria uma situação onde Hassan é acusado de roubo. Apesar do pai de Amir tentar impedir, Ali e Hassan abandonam a casa.

A situação política do país desmorona com a invasão soviética, em dezembro de 1979. No auge da Guerra Fria, com os Estados Unidos envolvidos numa crise com reféns no Irã, mais de cem mil soldados soviéticos impõem um governo comunista e promovem uma destruição sem precedentes no país.

Baba e Amir (Khalid Abdalla) conseguem fugir para os Estados Unidos, onde viverão modestamente, enquanto o jovem se adapta ao modo de vida ocidental. Apesar de sempre estarem em contato com outros afegãos, a dura vida em sua terra natal fica apenas nas lembranças, enquanto as notícias ruins vão chegando, com a substituição do invasor soviético pelos fundamentalistas talibãs, que pregam um retorno às origens, destruindo todo sinal de modernidade e civilização ocidental.

Amir conhece uma jovem afegã, Soraya (Atossa Leoni), por quem se apaixona e casa, com as bênçãos de ambas as famílias. Apesar de não terem filhos, vivem felizes e Amir, finalmente, realiza o sonho de publicar o seu primeiro romance. Nesse momento, ele recebe um telefonema do velho amigo Rahim Kahn, que pede que vá vê-lo no Paquistão.

Atendendo ao pedido do amigo, Amir será colocado a par de revelações que explicam os sentimentos do pai em relação a Hassan. Ele descobre, também, que o antigo amigo morrera, assassinado pelos talibãs, e que o seu único filho estava abandonado à própria sorte em Kabul.

O pacato Amir decide, então, fazer o gesto mais ousado de sua vida. Ele irá penetrar no perigoso Afeganistão dominado com mão de ferro pelos talibãs, para resgatar o filho de Hassan, e redimir um pouco da culpa que o domina desde criança. O maior obstáculo que ele irá encontrar será o seu antigo desafeto, Assef (Abdul Salam Yusoufzai), agora, um importante e cruel oficial talibã.

O maior mérito do filme “O Caçador de Pipas”, além de transformar em imagem a envolvente história de Khaled Hosseini, é o de dar uma visão, mesmo que fugaz, do horror em que se transformou o Afeganistão sob o domínio talibã. O Afeganistão, país montanhoso, com pouca área cultivável e condições climáticas extremas, é muito pobre, e as turbulências políticas e invasões estrangeiras pioraram muito mais essas condições, aumentando a miséria e a mortalidade, a ponto de um terço da população ter fugido para outros países.

Quem leu o livro de Hosseini certamente irá sentir falta de alguns eventos, bem como de uma maior contundência – no sentido literal – do embate de Amir e Assef. Mas, cinema é outra linguagem, as modificações feitas serviram para tornar o filme mais acessível para a maioria dos espectadores, que certamente se interessarão mais pelo assunto. Se conseguir isso, já terá valido o preço do ingresso. Experimentem.