Claquete – 09 de maio de 2008

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Com a abertura da temporada de blockbusters, diminui a chance das produções menores chegarem aos cinemas (de Natal, pelo menos). Neste final de semana, a única estréia é “Speed Racer”, ação baseada no famoso anime dos anos 60, criado por Tatsuo Yoshida. Continuam em cartaz a ação “Homem de Ferro”, a aventura “Um Amor de Tesouro” e a comédia “Super-Herói – O Filme”. Nas programações exclusivas, o Cinemark exibe o policial “Um Plano Brilhante”, a fantasia “As Crônicas de Spiderwick”, e, na Sessão Cult, o drama francês “Ao Lado da Pianista”. No Moviecom, mantém-se em cartaz os nacionais “Polaróides Urbanas” e “Acredite, um Espírito Baixou em Mim”.

Estréia 1: “Speed Racer”

Speed Racer (Emile Hirsch) é um jovem agressivo, instintivo e destemido ao volante, nas pistas de corrida. O único oponente à sua altura é a lembrança de seu falecido irmão, o lendário Rex Racer, o qual idolatrava. Quando Speed dispensa uma lucrativa e tentadora oferta da empresa Royalton Industries isto deixa o dono da companhia, Royalton (Roger Allam), furioso. Logo, Speed descobre que os resultados de algumas das corridas mais importantes da temporada são pré-determinadas por um grupo de magnatas impiedoso, que manipula os principais corredores para aumentar seus lucros. Com isso, a única maneira de Speed salvar os negócios da família é derrotando Royalton em seu próprio jogo. Para tanto, ele recebe a ajuda de Trixie (Christina Ricci), sua fiel namorada, e se junta ao seu antigo rival, o Corredor X (Matthew Fox), para enfrentar o mesmo rally que tirou a vida de seu irmão tempos atrás. A direção é dos irmãos Andy e Larry Wachowski, os criadores de “Matrix”. “Speed Racer” estréia nesta sexta-feira, no Cine 4 (legendado) e 6 (dublado) do Moviecom e nas Salas 1 (legendado) e 2 (dublado) do Cinemark. Classificação indicativa livre.

Sessão Cult: “Ao Lado da Pianista”

Quando tinha apenas dez anos, Mélanie Prouvost (Déborah François), uma talentosa pianista, teve uma grande decepção ao ser reprovada no mais requisitado conservatório musical da França. Uma década depois, ela tem uma nova chance, mas precisará superar o trauma da experiência anterior. Recebeu três indicações ao César, nas categorias de Melhor Atriz (Catherine Frot), Melhor Revelação Feminina (Déborah François) e Melhor Trilha Sonora. A direção é de Denis Dercourt. A partir desta sexta-feira, na Sala 4 do Cinemark, na sessão de 15h05. Classificação indicativa 14 anos.

Lançamentos em DVD

“As Pontes de Madison – Ed. Especial”, em DVD

Após a morte de Francesca Johnson (Meryl Streep), uma proprietária rural do interior do Iowa, seus filhos descobrem, através de cartas que a mãe deixou, do forte envolvimento que ela teve com um fotógrafo (Clint Eastwood) da National Geographic, quando a família se ausentou de casa por quatro dias. Estas revelações chocam os filhos, e os faz questionar seus próprios relacionamentos. Dirigido pelo próprio Eastwood, mereceu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Meryl Streep. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1, e, como extras, Comentários de Joel Cox e Jack N. Green, o documentário “Uma tradicional história de amor: A criação de As Pontes de Madison”, Video musical de Doe Eyes e Trailer de cinema. Claquete recomenda!

“A Bússola de Ouro”, em DVD

Em um universo paralelo, a jovem Lyra Belacqua (Dakota Blue Richards) vive numa Oxford onde existem animais falantes, bruxas, anjos, cientistas e religiosos envolvidos numa batalha de grandes proporções, no qual a maligna Senhora Coulter (Nicole Kidman) impõe a sua autoridade. O elenco conta, ainda, com Daniel Craig, Eva Green, Sam Elliott e Christopher Lee, além das vozes de Kathy Bates e Ian McKellen Adaptação da primeira parte da trilogia Fronteiras do Universo, de Philip Pullman. O disco traz o filme com formato de tela cheia e áudio Dolby Digital 5.1 e DTS.

“Ligados Pelo Crime”, em DVD

Um homem de negócios (Forest Whitaker) aposta todo o dinheiro que tem numa corrida de cavalos; um gângster (Brendan Fraser) descobre que pode ver o futuro; uma cantora pop (Sarah Michelle Gellar) é vítima de um chefe do crime organizado (Andy Garcia); um médico (Kevin Bacon) deve salvar a vida de seu grande amor. Suas histórias – hora chocantes, hora com suspense e doloridas – se cruzam dramaticamente. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1, e, como extras, Comentários com Julie Taymor e Elliot Goldenthal, Galerias de Fotos, Músicas e Cenas deletadas.

Eventos na cidade

Cineclube Natal aniversaria em grande estilo

A Coluna Claquete parabeniza o Cineclube Natal pela passagem do terceiro aniversário. Entre os eventos que marcarão a data, estão a 2ª Mostra de Curtas (veja nota a seguir) e dois cursos sobre cinema ministrados pelo professor da FAAP Máximo Barro, que terão como tema “O Cinema Aprende a Falar”, que acontecerá no SESC da Avenida Rio Branco, e, “A análise do filme ‘No tempo das diligências’, quadro a quadro”, na UNP da Nascimento de Castro. Informações adicionais podem ser obtidas no blog www.cineclubenatal.blogspot.com, na comunidade do Cineclube no Orkut, pelo e-mail cineclubenatal@cineclubes.org.br ou nos fones 9144-7162, 8805-4666 ou 9406-8177.

2ª Mostra Cineclubistas de Curtas Potiguares

Lembra daquele curta-metragem que você fez na universidade e seus amigos não agüentam mais assistir de novo? A sua chance de mostrá-lo a um público maior será na 2ª Mostra Cineclubistas de Curtas Potiguares, que o Cineclube Natal realizará nos dias 17 e 18 de maio. As inscrições já estão abertas com os membros da diretoria do Cineclube Natal, que podem ser feitas através da comunidade Cineclube Natal no Orkut, pelo e-mail cineclubenatal@grupos.com.br, ou, nos telefones 8805-4666 ou 9128-0146.

“A Última Loucura de Mel Brooks”, no Cine Café

O Cineclube Natal, em parceria com o Nalva Melo Café Salão, apresenta nesta sexta-feira, dia 9, o longa-metragem “A Última Loucura de Mel Brooks”, do diretor Mel Brooks. O filme, de 1976, foge ao padrão tradicional da comédia, e conta a história de um diretor decadente, que pretende resgatar a carreira com um filme mudo, com a participação de estrelas famosas, como Paul Newman, Burt Reynolds e Liza Minneli. A exibição começa às 20h, no espaço do próprio café (Rua Duque de Caxias, 110, Ribeira). A entrada custa R$2,00. Classificação indicativa 12 anos.

“Batismo de Sangue”, no Ciclo de Cinema e Ditadura na América Latina

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no ciclo de filmes e debates sobre as ditaduras na história recente, apresenta, na próxima quinta-feira, dia 15, o longa-metragem “Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratton. Frades de um convento de São Paulo, entre eles, Frei Betto e Frei Tito, decidem ajudar o grupo guerrilheiro de Carlos Marighella, sofrendo terríveis conseqüências da ditadura militar nos anos 60. Com Caio Blat, Daniel de Oliveira, Ângelo Antônio, Marcélia Cartaxo e Cássio Gabus Mendes no elenco. No Auditório A – CCHLA (Azulão), às 19 horas. Mais informações, através do e-mail gvitullo@hotmail.com.


Filme da Semana: “2001: Uma Odisséia no Espaço”

Da pré à pós-história: a odisséia da humanidade

O que teriam em comum hominídeos africanos de três milhões de anos atrás, e a civilização do homem do ano 2001? Esse foi um dos questionamentos propostos pelo filme de Stanley Kubrick, “2001: Uma Odisséia no Espaço”, lançado no Brasil há exatos quarenta anos.

Indo na contramão da indústria, o filme não foi baseado no romance homônimo, publicado no mesmo ano do filme. Na verdade, um conto do genial escritor inglês Arthur C. Clarke, publicado em 1951, intitulado “A sentinela”, é que foi a inspiração. No conto, a sentinela era um artefato enterrado na Lua por uma expedição alienígena milhões de anos antes de ser encontrado pelos homens. O resultado do trabalho conjunto de Clarke e Kubrick, na elaboração do roteiro, foi um filme revolucionário e um romance. O livro teria três seqüências: “2010: Odisséia Dois”, que também inspiraria um filme em 1984, “2061: Odisséia Três” e “3001: A Odisséia Final”.
“2001”, diferentemente de outros filmes e livros, traz mais perguntas que respostas. Partindo de uma era remota, em que os antepassados do homem estavam num nível pouco acima dos outros animais, mostra-se que os principais problemas que os afligiam, então, eram a fome e a disputa de território com outros bandos. Adicionalmente, a sobrevivência era ameaçada pelo ataque de felinos predadores. O surgimento de um estranho monólito negro provoca uma mudança de comportamento nos hominídeos. De herbívoros à beira da extinção, passam a carnívoros, ajudados pelo uso de um tacape – a princípio, o fêmur de um animal morto. Com esse armamento rudimentar, não só conseguem encher as barrigas, como defender dos felinos e ainda demarcar seu território, colocando os seus semelhantes para correr. Com algumas porretadas conseguiram a mudança do cardápio e fizeram a primeira guerra de conquista da humanidade.
O filme dá um salto de alguns milhões de anos, mostrando a viagem do diretor da agência espacial americana à Lua, onde um monólito negro fora encontrado. A humanidade atravessa um período intranqüilo, onde a Guerra Fria impera e a fome assola milhões de pessoas no mundo. As coisas não parecem estar muito diferentes da pré-história…

Quando o estranho objeto – sem dúvida alguma, um artefato alienígena – recebe, pela primeira vez, a luz do Sol, uma emissão violenta de rádio ocorre, sendo direcionada para algum lugar próximo a Júpiter.
Um novo corte no filme. Desta vez estamos na espaçonave Discovery, que viaja para Júpiter, com uma tripulação de cinco homens, três dos quais em hibernação artificial. O sexto membro da tripulação, o computador HAL-9000, é quem faz todo o trabalho braçal da nave, servindo ainda de companheiro de jogos de Dave Bowman (Keir Dullea) e Frank Poole (Gary Lockwood). HAL termina enlouquecendo, assassinando Poole e os três tripulantes adormecidos, que tem suas funções vitais desligadas.
Único sobrevivente, Dave Bowman, consegue voltar para a nave e desligar o computador central. Só aí toma conhecimento do verdadeiro objetivo da missão, que seria entrar em contato com uma inteligência alienígena nos arredores de Júpiter. O conhecimento desse objetivo e a ordem para ocultá-la de Bowman e Poole provocaram a pane de HAL, que não pôde suportar uma situação não-lógica. Sozinho, Bowman defronta-se com o desconhecido, numa viagem alucinante, que culmina na sua elevação como humano para um nível muito mais avançado.
O filme é propositadamente pouco explicativo, com lacunas de som e poucas explicações. As possibilidades são sugeridas para que o espectador forme suas próprias conclusões. Não é para menos que o filme já tenha rendido teses de doutorado e milhares de páginas na internet.
Numa época em que os filmes de ficção limitavam-se a mostrar perigosos monstros de borracha ou discos voadores pendurados por fios, a obra de Kubrick foi extremamente criteriosa nos aspectos científicos, sem deixar de instigar a sede pelo desconhecido. Reunindo uma fotografia primorosa e uma trilha sonora impecável, Kubrick promove um verdadeiro balé, onde estrelas, planetas, satélites, espaçonaves e estações espaciais fazem as vezes dos dançarinos. Isso, ao som de “Danúbio azul” de Johann Strauss, “Assim falou Zaratustra” de Richard Strauss e outras magníficas composições de Gyorgy Ligeti (entre elas, a conhecidíssima música da abertura).
“2001” é um filme da década de sessenta, o que implicou em previsões que não se concretizaram. A polarização entre União Soviética e Estados Unidos era fortíssima na época, e creio que nem mesmo os mais otimistas imaginariam que o mundo comunista ruiria antes do final do século. Contudo, a parte espacial foi extremamente acurada até para os padrões atuais, lembrando que, na época do lançamento do filme, o homem não tinha conseguido nem pousar na Lua. A parte do encontro com inteligências superiores foi referenciada em “Contato”, que fez uma bela homenagem ao filme de Kubrick, na viagem alucinante da personagem vivida por Jodie Foster.
O primeiro lançamento em DVD no Brasil foi em uma coleção dos principais filmes de Kubrick, sem nenhum extra específico. Recentemente foi lançada uma edição especial, com dois discos, onde, além do filme, com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1, são encontrados os extras: Comentários de Keir Dullea e Gary Lockwood, Trailer de cinema, “2001: o making of de um mito”, “A perspectiva de Kubrick: o legado de 2001”, “A visão de um futuro passado: a profecia de 2001”, “2001: Uma Odisséia no Espaço – Um olhar atrás do futuro”, “O que tem aí?”, “2001: FX e o início de uma arte conceitual”, “Olhe: Stanley Kubrick!” e Entrevista com Stanley Kubrick de 27/11/1966 (somente áudio).
Independente dos erros de futurologia contidos no filme (alguém se arrisque a imaginar o mundo daqui a quarenta anos!), “2001: Uma Odisséia no Espaço” é a obra-prima de Kubrick, e como tal deve figurar na estante de qualquer apreciador do gênero. Um marco na história do cinema, serve para mostrar que uma superprodução podia ser feita sem a frieza dos computadores, com os efeitos especiais “no braço”, merecedores de um Oscar. Como tudo o mais no mundo, com inteligência atinge-se a qualidade. Assistam e confiram.