Eu ainda juntando as ideias sobre as absurdas cotas raciais para a universidade e os seus reflexos na educação brasileira, quando fui surpreendido pela notícia da decisão do STF sobre a não-obrigatoriedade de diploma para o exercício da profissão de jornalista. Enquanto escutava a notícia, percebi que ali estava a saída para o problema da educação no Brasil.
Achei curiosos os argumentos de que a necessidade do diploma tolhia a liberdade de expressão, pois, nos quatro anos que cursei a faculdade de jornalismo, sempre me disseram que, se uma matéria expressar opinião, ou é o editorial, que representa a voz (do dono) do jornal, ou, então, é um mero panfleto ideológico, seja de que tipo for. Ou seja, não é jornalismo.
Uma declaração atribuída ao presidente do tribunal, Gilmar Mendes, faz um paralelo entre a nossa profissão e a de chefe de cozinha. Considerando-se que eu mal sei fritar um ovo e só faço café na cafeteira elétrica, sou obrigado a reconhecer a minha incompetência como jornalista, mesmo tendo o execrado retângulo de papel.
Mantendo o orgulho ferido longe do raciocínio lógico, resolvi me ater à nossa Carta máxima, em nome da qual a decisão do STF foi tomada. Em seu Artigo 5º, o mesmo que assegura a liberdade de expressão que motivou a decisão dos juízes, também fala na igualdade de direitos.
Ora, se qualquer pessoa que saiba ler e escrever pode se candidatar ao cargo de jornalista, porque esse direito não é estendido a todos? Começarei pela minha outra profissão, a de engenheiro civil, para a qual, por analogia, os técnicos em edificações e estradas podem se candidatar ao título, e, por que não, também os mestres de obras e pedreiros, reservando-se os serventes de pedreiros, até que estes adquiram experiência suficiente para se candidatarem.
E o título de médico, para que se gastar os neurônios competindo por uma dificílima e concorrida vaga, ou gastar uma fortuna em universidades particulares. Os auxiliares de enfermagem podem se candidatar ao título, não é mesmo? Pensando bem, qualquer pessoa que faça um bom curativo já está a meio caminho andado.
Se generalizarmos o raciocínio, chegaremos à conclusão de que não há necessidade de curso superior para nada, e – touché! – podemos lotear os campi universitários e vendê-los para os gringos, ganhando duplamente, com a grana da venda e com o que deixaremos de gastar com coisas inúteis como aulas e livros.
E, já que não teremos universidades nem vestibulares, acaba essa discussão boba sobre cotas raciais e sociais, e podemos estender, acabando também todos os colégios, com mais uma grande onda de economia para o país.
Obviamente que nunca poderemos deixar de ter o curso de alfabetização, para que as pessoas possam ler e escrever. Afinal de contas, as pessoas precisam ter essa habilidade, para serem jornalistas.
Newton Ramalho Júnior é jornalista (com diploma da UFRN), engenheiro civil e crítico de cinema.