Coluna Claquete – 14 de novembro de 2016 – Filme da Semana: “O Cerco de Jadotville”
Newton Ramalho
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Filme da Semana: “O Cerco de Jadotville”
Quando se fala nos infortúnios da África, o que nos vem à mente é a escravidão de seus habitantes pelos europeus, que os levaram à força para vários cantos do mundo para uma vida de sofrimento e servidão. Contudo, os problemas do Continente Negro não se resumem a isso, pois a exploração dos recursos naturais continua até hoje, sem nenhum benefício para os locais, promovendo guerras com grandes perdas de vida. Um pequeno exemplo disso é mostrado em “O Cerco a Jadotville” (“The Siege of Jadotville”, 2016).
Numa crítica recente do filme “A Lenda de Tarzan” pude falar brevemente daquela que foi uma das mais brutais colonizações na África, a região que receberia o nome de Congo Belga, ao se tornar colônia da Bélgica em 1908, mudando de nome sucessivas vezes até chegar ao atual República Democrática do Congo.
Infelizmente, democracia é artigo raro no país, que sempre foi objeto de exploração de companhias belgas, francesas, americanas, além de guerrilhas com apoio dos Estados Unidos e da ex-União Soviética, sempre visando os magníficos recursos naturais da região, com abundância de ouro, diamantes, cobre, cobalto e urânio.
O filme mostra um evento particular do que foi denominada “A Crise do Congo”, um período turbulento, que começou com a independência da Bélgica em 1960, e terminou com a tomada do poder por Joseph Mobutu, em 1966.
A história inicia com o golpe militar liderado pelo general Moïse Tshombe (Danny Sapani), com o apoio da Bélgica, Estados Unidos e França, que sequestrou e executou o primeiro-ministro Patrice Lumumba (Richard Lukunku), líder do movimento de independência, e que havia sido eleito democraticamente. Tshombe assumiu o poder na província de Katanga, no sul do país, região extremamente rica em minérios, com grande atuação de empresas estrangeiras, financistas do golpe.
O secretário-geral da ONU, Dag Hammarskjöld (Mikael Persbrandt), deu permissão para que as forças das Nações Unidas lançassem uma ofensiva militar denominada Operação Morthor contra unidades militares mercenárias em Katanga, em apoio a Tshombe. De acordo com seu mandato, as forças da Operação das Nações Unidas no Congo (ONUC) permaneceriam estritamente imparciais no conflito. Mas, a liderança política do Katanga acreditava que a ONU tinha quebrado seu mandato e suas forças estavam se juntando ao seu oponente, o governo central congolês.
O bode expiatório do caso foi uma pequena unidade do exército irlandês, a serviço da ONU, composta por 155 homens, nenhum deles tendo participado de qualquer situação real de guerra, nem mesmo o comandante Pat Quinlan (Jamie Dornan). O grupo foi designado para proteger a pequena cidade de Jadotville.
O grupo não contava com a simpatia de ninguém, nem mesmo os habitantes locais, que acreditavam que a intervenção da ONU poderia levar ao fechamento das minas, gerando desemprego. Assim, o grupo foi surpreendido por um ataque combinado de mercenários, funcionários das minas e soldados congoleses leais a Tshombe.
Mas, se faltava experiência a Quilan, sobrava espírito de liderança e uma notável mente estrategista. Com reduzido número de soldados e armamentos, ele previu a possibilidade de um ataque, construindo uma rede de trincheiras defensivas que salvou a vida de seus homens.
Cercados por milhares de inimigos, os irlandeses resistiram durante seis dias, sem apoio de ninguém, matando mais de trezentos inimigos, além de um número indefinido de feridos. O grupo da ONU foi atacado não só por terra, mas também pelo ar, sem recursos de defesa antiaérea.
A situação não era confusa apenas no campo de batalha, já que havia interesses políticos e econômicos conflitantes, chegando a culminar com a morte do próprio Secretário-Geral da ONU Dag Hammarskjöld num acidente aéreo sobre o qual até hoje pairam suspeitas de ter sido um atentado.
O filme é muito bem feito, com ótimas atuações de atores pouco conhecidos, e um roteiro bem amarrado, com notável fidelidade aos fatos históricos, além da filmagem em locações na África do Sul.
É sempre bom quando fatos assim são explorados pelo cinema, para lembrar o grande público do horror que paira sobre o continente africano até os dias de hoje. Contudo, dificilmente se foca na perda dos próprios habitantes do país, como neste caso em que o mais importante foi a atuação heroica de soldados brancos contra uma grande força inimiga.
Mas, “O Cerco de Jadotville”, produção da Netflix, cumpre bem o seu papel tanto como narrador da história, quanto de entretenimento, fazendo o espectador identificar-se com os heróis do filme. Recomendo a todos, não apenas assistirem o filme, mas também pesquisarem um pouco sobre a história deste país tão sofrido.
Título original: “The Siege of Jadotville”
Quando se fala nos infortúnios da África, o que nos vem à mente é a escravidão de seus habitantes pelos europeus, que os levaram à força para vários cantos do mundo para uma vida de sofrimento e servidão. Contudo, os problemas do Continente Negro não se resumem a isso, pois a exploração dos recursos naturais continua até hoje, sem nenhum benefício para os locais, promovendo guerras com grandes perdas de vida. Um pequeno exemplo disso é mostrado em “O Cerco a Jadotville” (“The Siege of Jadotville”, 2016).
Numa crítica recente do filme “A Lenda de Tarzan” pude falar brevemente daquela que foi uma das mais brutais colonizações na África, a região que receberia o nome de Congo Belga, ao se tornar colônia da Bélgica em 1908, mudando de nome sucessivas vezes até chegar ao atual República Democrática do Congo.
Infelizmente, democracia é artigo raro no país, que sempre foi objeto de exploração de companhias belgas, francesas, americanas, além de guerrilhas com apoio dos Estados Unidos e da ex-União Soviética, sempre visando os magníficos recursos naturais da região, com abundância de ouro, diamantes, cobre, cobalto e urânio.
O filme mostra um evento particular do que foi denominada “A Crise do Congo”, um período turbulento, que começou com a independência da Bélgica em 1960, e terminou com a tomada do poder por Joseph Mobutu, em 1966.
A história inicia com o golpe militar liderado pelo general Moïse Tshombe (Danny Sapani), com o apoio da Bélgica, Estados Unidos e França, que sequestrou e executou o primeiro-ministro Patrice Lumumba (Richard Lukunku), líder do movimento de independência, e que havia sido eleito democraticamente. Tshombe assumiu o poder na província de Katanga, no sul do país, região extremamente rica em minérios, com grande atuação de empresas estrangeiras, financistas do golpe.
O secretário-geral da ONU, Dag Hammarskjöld (Mikael Persbrandt), deu permissão para que as forças das Nações Unidas lançassem uma ofensiva militar denominada Operação Morthor contra unidades militares mercenárias em Katanga, em apoio a Tshombe. De acordo com seu mandato, as forças da Operação das Nações Unidas no Congo (ONUC) permaneceriam estritamente imparciais no conflito. Mas, a liderança política do Katanga acreditava que a ONU tinha quebrado seu mandato e suas forças estavam se juntando ao seu oponente, o governo central congolês.
O bode expiatório do caso foi uma pequena unidade do exército irlandês, a serviço da ONU, composta por 155 homens, nenhum deles tendo participado de qualquer situação real de guerra, nem mesmo o comandante Pat Quinlan (Jamie Dornan). O grupo foi designado para proteger a pequena cidade de Jadotville.
O grupo não contava com a simpatia de ninguém, nem mesmo os habitantes locais, que acreditavam que a intervenção da ONU poderia levar ao fechamento das minas, gerando desemprego. Assim, o grupo foi surpreendido por um ataque combinado de mercenários, funcionários das minas e soldados congoleses leais a Tshombe.
Mas, se faltava experiência a Quilan, sobrava espírito de liderança e uma notável mente estrategista. Com reduzido número de soldados e armamentos, ele previu a possibilidade de um ataque, construindo uma rede de trincheiras defensivas que salvou a vida de seus homens.
Cercados por milhares de inimigos, os irlandeses resistiram durante seis dias, sem apoio de ninguém, matando mais de trezentos inimigos, além de um número indefinido de feridos. O grupo da ONU foi atacado não só por terra, mas também pelo ar, sem recursos de defesa antiaérea.
A situação não era confusa apenas no campo de batalha, já que havia interesses políticos e econômicos conflitantes, chegando a culminar com a morte do próprio Secretário-Geral da ONU Dag Hammarskjöld num acidente aéreo sobre o qual até hoje pairam suspeitas de ter sido um atentado.
O filme é muito bem feito, com ótimas atuações de atores pouco conhecidos, e um roteiro bem amarrado, com notável fidelidade aos fatos históricos, além da filmagem em locações na África do Sul.
É sempre bom quando fatos assim são explorados pelo cinema, para lembrar o grande público do horror que paira sobre o continente africano até os dias de hoje. Contudo, dificilmente se foca na perda dos próprios habitantes do país, como neste caso em que o mais importante foi a atuação heroica de soldados brancos contra uma grande força inimiga.
Mas, “O Cerco de Jadotville”, produção da Netflix, cumpre bem o seu papel tanto como narrador da história, quanto de entretenimento, fazendo o espectador identificar-se com os heróis do filme. Recomendo a todos, não apenas assistirem o filme, mas também pesquisarem um pouco sobre a história deste país tão sofrido.
Título original: “The Siege of Jadotville”