Coluna Claquete – 28 de novembro de 2016 – Filme da Semana: “A Chegada”


Filme da Semana: “A Chegada”
Sempre que me perguntam qual é o meu diretor favorito, respondo que não tenho, pois cada filme deve ser analisado individualmente. Mas, confesso que essa convicção sofreu um abalo com o diretor canadense Denis Villeneuve, cujos filmes sempre têm surpreendido positivamente, como é o caso do recente “A Chegada”.
Hoje em dia se conseguir uma ideia original, principalmente no gênero ficção-científica, é muito difícil. “A Chegada” consegue trazer algo novo ao gênero, principalmente por fugir ao lugar-comum da maioria das produções blockbusters, buscando uma história mais aprofundada e uma mensagem alinhada às necessidades do mundo de hoje.
Na história, o mundo entra em choque ao descobrir que doze naves alienígenas apareceram do nada, e estacionaram em diferentes partes do mundo. Sem esboçar intenção de ataque ou de qualquer natureza, as naves simplesmente pairam a poucos metros do solo, como se aguardassem a iniciativa dos humanos.
Cada país, onde paira uma nave, toma suas iniciativas para fazer contato com os recém-chegados. Mas, a linguagem deles parece ser incompreensível, e a tensão aumenta entre a população civil.
A linguista Louise Banks (Amy Adams) é procurada pelo coronel Weber (Forest Whitaker) para ajudá-los no contato com a nave no espaço americano. O cientista Ian Donnelly (Jeremy Renner) também é convocado para trabalhar em conjunto, cada um em sua especialidade.
O primeiro contato é um choque para Louise, acostumada com o pacífico ambiente acadêmico, e agora exposta a um universo pouco compreensível até para cientistas experientes.
O impasse é rompido quando ela busca uma abordagem através da linguagem escrita, e em resposta a palavras em inglês, ela recebe vários símbolos circulares extremamente complexos, que serão a chave para a comunicação.
Além da difícil tarefa com os aliens, Louise ainda vive uma tragédia pessoal, e o mundo parece encaminhar-se, de forma enlouquecida, para uma guerra interplanetária. A principal pergunta ainda continua sem resposta: quem são os aliens e o que vieram fazer na Terra?
Para que um filme seja bom, além de um bom diretor e um bom roteirista, é preciso que haja uma boa história como base para tudo. No caso deste filme, a ideia veio de um conto de ficção-científica escrito por Ted Chiang em 1998, “The story of your life”. Embora escreva desde 1989, o acervo do autor é de cerca de quinze estórias. O número parece pequeno, mas o escritor já ganhou uma grande quantidade de premiações, inclusive os cobiçados prêmios Nebula e Hugo (com quatro em cada).
No caso específico de “A Chegada” e do conto original, o interessante manuseio das informações sobre linguagem, a natureza do tempo, e humanidade é que tornaram o conto e o filme duas preciosidades.
A Villeneuve coube o mérito de transportar para a linguagem cinematográfica a essência da história original. Os trabalhos anteriores do diretor já demonstravam esse brilhantismo, e entre todos, eu destaco o fantástico “Incêndios” (“Incendies”, 2010), que sempre recomendo a todos os cinéfilos.
“A Chegada” é muito bem feito, do ponto de vista técnico, com um roteiro bem construído, uma montagem concatenada que conduz a um final surpreendente, tudo isso com a belíssima fotografia de Bradford Young, que realça bem as locações na província canadense de Québec.
É possível que os espectadores mais habituados ao space-opera não gostem do ritmo mais lento de “A Chegada”. Contudo, acredito que quem gosta de filmes que remetem a uma boa discussão se sentirá feliz com esta joia da Sétima Arte.
Título original: “Arrival”