O Predador: A Caçada
O dia da caça
A década de 1980 ficou marcada pelos heróis musculosos, que dominavam os filmes de ação e aventura. Entre eles, os que mais se destacaram foram Sylvester Stallone, com os personagens Rocky e Rambo, e Arnold Schwarzenegger, que também viveu alguns papéis memoráveis, como Conan e o Exterminador. Mas, em um dos filmes que estrelou terminou se tornando coadjuvante, pois o personagem criou vida própria. Este filme foi “O Predador” (“Predator”, EUA, 1987), que gerou várias sequências, sendo a última o ótimo “O Predador: A Caçada” (“Prey”, EUA, 2022).
A história se passa em torno de 1700, quando a maior parte da América ainda era selvagem e habitada pelos nativos de diversas etnias. Em algum lugar do centro-oeste americano, onde viviam os Comanches, está a tribo da adolescente Naru (Amber Midthunder). Ao contrário da tradição de sua gente, Naru não se conforma com as atividades das mulheres da tribo e quer ser uma caçadora e guerreira, papel restrito aos homens.
Naru conta com o apoio discreto do irmão Taabe (Dakota Beavers) e da curandeira Aruka (Michelle Trhush), mas obviamente sofre a desaprovação do resto da tribo, principalmente dos rapazes. Mesmo assim, Naru insiste em participar de todas as atividades de caça que pode.
É nesse ambiente que a região recebe uma visita inusitada. Um Predador (Dane DiLiegro) é deixado na Terra para uma temporada de caça, onde enfrentará os animais do ambiente.
A primeira a perceber que existe alguma coisa estranha é Naru, que além de encontrar uma pegada anormal, percebe alguns sinais incompreensíveis na região. Contudo, ninguém acredita nela, preferindo acreditar que é apenas um urso a mais.
Mas, quando Naru se embrenha na floresta para investigar, e um grupo é enviado para procura-la, o primeiro contato com o alienígena é assustadoramente mortal. A garota observa atentamente todas a características que pode, pois sente que será preciso usar esse conhecimento para enfrentar o monstro.
Para complicar as coisas, um grupo de caçadores de pele franceses captura Naru e Taabe, para usá-los como isca para matar o Predador. Como seria de se esperar, com suas armas rudimentares, os caçadores não são páreo para o alienígena, e o que se segue é uma carnificina. Caberá aos dois irmãos a batalha final contra o Predador, e somente um dos lados poderá sair vencedor.
Embora a história seja um pouco previsível, “O Predador: A Caçada” é um ótimo filme, não só pela homenagem ao histórico personagem, como também por trazer alguns aspectos inovadores, pouco vistos no cinema. Como exemplo, foi atribuído ao Predador um senso ético, já que ele não atacava aquilo que não representasse uma ameaça para ele. Mas, o mais surpreendente foi ter a protagonista mulher e nativa, duas condições tratadas até hoje como “inferiores”. Quem acha que o mundo evoluiu nesse aspecto não viu as manchetes do Canadá e do Brasil, onde nativos são mortos simplesmente por sua etnia.
Foi muito interessante ver protagonistas nativos e brancos como vilões, para variar. O filme não apenas tem personagens nativos como também a maioria do elenco tem descendência nativa americana ou canadense. Amber Midthunder é neta de uma Sioux, e embora seu sobrenome pareça nativo, na verdade veio de uma adaptação do nome norueguês do avô paterno, Midthund. Como as locações foram em Alberta, no Canadá, boa parte do elenco veio de lá.
O filme traz muitas referências aos filmes anteriores, como o banho de lama do personagem de Schwarzenegger, os cortes no peito autoinflingidos pelo personagem Poncho (Richard Chaves), ou a bomba na manopla no primeiro Predador.
Claro que muito do que é mostrado na tela afronta a realidade, como o fato de que os nativos Comanches nunca encontraram caçadores franceses, pois viviam em regiões muito distantes umas das outras. A hipotermia causada por uma planta que seria a arma utilizada por Naru para ficar “invisível” também a impediria de lutar. Mas, o que vale no final é a diversão, e isso o filme proporciona bastante.
A franquia Predador, além do filme de 1987, também teve “O Predador 2: A Caçada Continua” (“Predator 2”, EUA, 1990), com Danny Glover, “Predadores” (“Predators”, EUA, 2010), com Adrien Brody e Alice Braga, “O Predador” (“The Predator”, EUA, 2018), “Alien Vs. Predador” (“AVP: Alien vs. Predator”, EUA, 2004), “Alien vs. Predador 2” (“AVPR: Aliens vs Predator – Requiem”, EUA, 2007).
Embora a exploração de velhos sucessos muitas vezes leve à exaustão de bons personagens, com o sucesso de “O Predador: A Caçada” não é difícil de imaginar que o quase imbatível caçador alienígena ainda vai ter vida longa nos cinemas.