“O Resgate”, “Segredo de Estado” e “Cleanskin: Jogo de Interesses”

 

Terrorismo em dose tripla

 

Todos os dias recebemos diferentes informações associadas ao terrorismo, ou atos que se são assim classificados. Por coincidência, revi três filmes que, apesar de óticas diferentes, exploram esse tema de uma forma interessante. Os filmes são os franceses “O Resgate” (“L’Assaut”, FRA, 2010), “Segredo de Estado” (“Secret Défense”, FRA, 2008) e o britânico “Cleanskin: Jogo de Interesses” (“Cleanskin”, UK, 2012).

Embora o fato que mais impactou o mundo nos últimos anos tenha sido o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, os atos terroristas não são nenhuma novidade na história da Humanidade.

Na década de 70 foram frequentes os casos de sequestros de avião, alguns deles acontecidos até mesmo no Brasil. Mas, os mais famosos eram praticados por grupos palestinos, em sua luta por uma pátria.

O filme “O Resgate” conta a história do sequestro de um avião da Air France na Argélia, no final de 1994. Quatro homens do Grupo Islâmico Armado – GIA, fortemente armados, tomaram o avião com mais de duzentas pessoas a bordo, exigindo a libertação de dois companheiros presos.

Proibidos de decolar pelas autoridades argelinas, o avião só saiu do aeroporto após a execução de três passageiros. Com pouco combustível, o avião chegou em Marselha, onde os terroristas exigiram que fosse reabastecido.

Certos de que aquele seria um voo suicida, o avião foi invadido por uma equipe do GIGN (Groupe d’Intervention de la Gendarmerie Nationale), um grupo antiterrorista da polícia francesa, em sua primeira ação de grande porte.

Mais do que uma propaganda do GIGN, que é considerado um dos melhores grupos do mundo neste tipo de operação, o filme mostra o evento de uma forma quase jornalística, embora tenha algumas nuances pessoais, ligadas ao oficial Thierry (Vincent Elbaz), único policial ferido na ação. No mais, há bastante adrenalina nas cenas do assalto ao avião.

O outro filme francês, “Segredo de Estado”, é uma ficção que está muito próxima da realidade. A história é contada do ponto de vista de dois personagens. Diane (Vahina Giocante) é uma universitária que se prostituía para manter os estudos. Pierre (Nicolas Duvauchelle) é um jovem pobre da periferia que se envolve em drogas e vai parar na cadeia.

Meio seduzida, meio chantageada, Diane é recrutada para trabalhar no serviço secreto francês, em parte por seu conhecimento da língua árabe e parte por sua vida anterior. Alex, na prisão, é arregimentado por militantes islâmicos, que o atraem para a religião e posteriormente para o extremismo.

De cada lado, os manipuladores agem nos bastidores. Alex (Gérard Lanvin) era o chefe de Diane, que obrigou a jovem a ir para a perigosa Beirute, onde Al Barad (Simon Abkarian) liderava um grupo de extremistas islâmicos. O ponto em comum entre eles era um atentado suicida planejado para acontecer em Paris.

Embora o filme seja um thriller de ação excelente, o mais interessante é a manipulação das pessoas para que objetivos sejam alcançados, e nem sempre há muita ética de qualquer dos lados em conflito.

O terceiro filme em foco, e o de visão mais atual é o britânico “Cleanskin: Jogo de Interesses”. Esse termo “cleanskin” serve para nomear pessoas que não têm histórico ou antecedentes criminais e, portanto, são desconhecidos dos serviços secretos.

Ewan (Sean Bean) é um agente do serviço secreto do governo inglês. Ao fazer a escolta de um executivo, o mesmo é atacado por desconhecidos, e a carga de explosivos plásticos que transportava é levada.

Quando um restaurante de Londres é explodido em um atentado suicida por um extremista islâmico, Ewan é convocado por Charlotte (Charlotte Rampling), a chefe do serviço secreto, para procurar o grupo responsável e eliminá-lo “sem deixar vestígios”.

A pessoa por trás do roubo dos explosivos era Ash (Abhin Galeya), um estudante de direito inconformado com a visão estreita do Ocidente em relação ao Oriente Médio, que se vê envolvido por Nabil (Peter Polycarpou), o sedutor líder de um grupo radical.

Enquanto Ewan se aprofunda mais nas investigações, e mata pessoas sobre as quais não sabe nada, Ash planeja o que será o maior golpe, com o sacrifício de sua própria vida: um atentado em um hotel onde se reunirá um grupo de pessoas muito influentes.

Embora o foco maior seja na ação, o filme trata com maestria das motivações das pessoas envolvidas no terrorismo e contraterrorismo, chegando à conclusão que os meios e motivações nem sempre são os mais nobres, e onde as pessoas são meros peões.

Estes três filmes exploram o tema terrorismo de uma forma diferente do padrão hollywoodiano, onde tudo é preto e branco, e o herói corajoso e honesto vence a todos. O que se percebe destes três filmes, cuja ficção é tristemente gêmea da realidade, é que a violência e a ambição são duas faces de uma mesma moeda, e que nada tem a ver com o bem comum.