Padre

 

Exorcista de vampiro

 

Desde que o cinema foi inventado, os temas religiosos ou com elementos relativos à religião tem sido utilizados das mais diversas maneiras, principalmente no gênero terror, onde o sobrenatural impera, e é utilizado para causar sustos. Por isso, se torna curioso como o tema foi utilizado no filme “Padre” (“Priest”, EUA, 2011), do subgênero sociedades pós-apocalípticas, com uma grande dose de criatividade.

Desde que o homem conseguiu organizar-se socialmente e conceber a ideia de deuses, logo surgiram as religiões e suas concretizações corporativas. Ao longo da história da Humanidade, as ideias religiosas foram utilizadas para os mais diversos objetivos, inclusive as guerras – o que acontece até hoje.

Diferentes apelos religiosos serviram de desculpa para as mais absurdas atrocidades, sendo a mais notável a Inquisição, movimento criado pela Igreja católica por conta dos albingenses na França, e que matou e torturou milhares de pessoas ao longo de séculos. Em menor escala, o Estado Islâmico fez a mesma coisa nos territórios que ocupou.

Infelizmente, em todas as culturas encontramos exemplos trágicos resultantes da opinião de alguém prevalecendo sobre os demais. No cinema, porém, quando se mostra filmes de exorcismo, corrupção religiosa, ou outro tema mais polêmico, sempre se mostra em um ambiente católico por ser minoria nos Estados Unidos, com apenas 15% da população.

Todo esse preâmbulo serve para explicar o ambiente de “Padre”, em um mundo como o nosso, que teria desde o início dos tempos um confronto mortal entre os homens e os vampiros, seres bestiais, desprovidos de olhos, que não podem se expor ao sol, e devoram e bebem o sangue dos humanos.

Desde os primórdios, a luta é comandada pela Igreja, que comanda os exércitos em uma luta desigual, apenas contrabalançada pelo uso cada vez maior de armas de destruição, que eliminam vampiros mas vão provocando a destruição do próprio planeta.

A guerra só é decidida quando a Igreja cria um novo tipo de soldado, os Padres, guerreiros altamente treinados, que não usam armas de fogo, mas, conseguem destruir um grande número de vampiros. Acredito que a tradução foi péssima, pois embora a Igreja do filme pareça ser a católica, o termo “priest” pode ser também sacerdote, clérigo, pastor, etc..

Após a derrota, os vampiros remanescentes são confinados em reservas, enquanto os humanos se agrupam em cidades controladas pela Igreja, já que o resto do planeta está reduzido a um deserto inóspito.

Neste mundo pós-apocalíptico, encontramos os Padres, os heróis responsáveis pela vitória, destituídos de suas funções, e relegados a trabalhos braçais, reservados aos que não tinham qualificações. As cidades são dominadas pelas corporações religiosas, que controlam os habitantes com mensagens moralizantes, enquanto a poluição das antiquadas máquinas a carvão transforma a paisagem em um preto e branco estéril.

Na fronteira, em pleno deserto, existem outros homens tentando reconstruir o mundo. Um deles é Owen Pace (Stephen Moyer), que vive com a mulher, Shannon (Mädchen Amick) e a filha, Lucy (Lily Collins), em uma fazenda no meio do nada.

Uma noite, a fazenda é invadida por seres monstruosos. Embora se defenda bravamente, Owen é deixado gravemente ferido ao lado da mulher morta, enquanto a filha é sequestrada pelos atacantes.

O crime leva o xerife local, Hicks (Cam Gigandet) a ir até a cidade para pedir ajuda ao Padre Pace (Paul Betanny), irmão de Owen. Hicks assegura que Lucy foi levada por vampiros, e que Owen sabia que a única chance de sobrevivência de Lucy estava nas mãos do sacerdote-guerreiro.

Mas, embora o Padre procure a permissão dos seus superiores, é terminantemente proibido de partir pelo poderoso Monsenhor Orelas (Christopher Plummer), que se recusa a admitir a possibilidade de existirem vampiros à solta.

Decidido, o Padre parte para o deserto, contando com a ajuda de Hicks, para tentar resgatar a sobrinha, enquanto Orelas envia outros padres para capturá-lo, vivo ou morto.

O mistério que envolve os estranhos e novos vampiros está ligado a um fato do passado do Padre, e ele descobrirá que o seu novo e poderoso inimigo, o Chapéu Negro (Karl Urban), é a chave de tudo o que está acontecendo agora, e que pode significar o fim da espécie humana sobre a Terra.

Embora se assemelhe aos personagens de videogames, “Padre” é baseado em uma história em quadrinhos (manhwa) criada pelo coreano Hyung Min-Woo, que foi a primeira de seu país do estilo ação/terror. Manhwa é uma palavra coreana para designar histórias em quadrinhos, ilustrações e animações. Fora da Coréia, o termo se refere especificamente a histórias em quadrinhos da Coréia do Sul.

Na história original, Ivan Isaacs um padre promissor acabou libertando um anjo caído chamado Temozarela de sua prisão de centenas de anos, causando assim a sua morte e a morte de sua amada, Gena. Uma vez morto, foi-lhe concedida uma segunda chance de vida e de vingança, presente do demônio Belial, que em troca de poder, se torna possuidor da metade de sua alma. Ivan Isaacs segue seu caminho de vingança, eliminando outros Anjos caídos, seguidores de Temozarela.

Apesar do título, não há nenhum aspecto sobrenatural na história, como demônios ou anjos, e os próprios vampiros são apenas monstros que matam e morrem. A Igreja é mostrada como uma organização burocrática e corrupta que luta para manter o poder sobre os sobreviventes da guerra.

A ambientação e os efeitos especiais estão muito bons, e a produção conseguiu unir as atmosferas dos filmes de faroeste italiano e de terror hardcore, com toques dos fantasiosos filmes de kung-fu que tanto encantavam as plateias nos anos 1970.

O elenco cumpre bem o seu papel, em especial Paul Betanny, que se mostra um dos melhores de sua geração. Vale destacar a presença magnífica de Christopher Plummer, que, com oitenta anos, ainda traz o charme que encantou multidões como o galã de “A Noviça Rebelde”.

“Padre” é um filme de ação despretensioso, com muitas “liberdades poéticas”, e que se destina ao público juvenil, consumidor ávido deste tipo de produção.