Água para Elefantes
Paquiderme polonês
Na minha vida de cinéfilo já vi alguns filmes sobre a Grande Depressão americana, outros sobre circos e muitos dramas e romances. Mas, foi uma surpresa encontrar tudo isso em um único filme, o belo drama “Água Para Elefantes” (“Water for Elephants”, EUA, 2011), baseado no livro homônimo de Sara Gruen.
Quando o pessoal do circo encontra um senhor de 90 anos no estacionamento, a primeira impressão foi de era mais um velhinho que havia fugido de um asilo. Mas, quando o gerente do circo descobre que aquele simpático senhor, Jacob Jankowski (Hal Holbrook) não apenas vivera em um circo, como também vivenciara o desaparecimento de um dos circos mais famosos, quis saber mais sobre ele.
A história de Jacob iniciara em 1931, quando os Estados Unidos viviam sob os efeitos da Grande Depressão, após a quebra da Bolsa de Nova York, que desencadeara uma crise econômica sem precedentes, gerando falências em série e muito, muito desemprego.
O jovem Jacob (Robert Pattinson) era filho de imigrantes poloneses, que haviam se estabelecido nos Estados Unidos. Uma trágica coincidência muda totalmente a vida de Jacob: no dia em que iria fazer a prova final do curso de Veterinária na renomada universidade de Cornell, seus pais morrem em um acidente de trânsito.
Além da morte dos pais, Jacob descobre que eles haviam empenhado todos os bens para pagar a sua universidade, de modo que ele ficou absolutamente só e sem nada de seu.
Completamente atordoado pelas inúmeras perdas, Jacob decide ir para a cidade grande, para conseguir um emprego. Ao pegar carona em um trem, ele descobre que este transportava um circo inteiro, com todo o pessoal, artistas e animais.
Fascinado pelo espetáculo do circo e pela possibilidade de conseguir um emprego, ele vai falar com o poderoso August (Christoph Waltz), o dono do circo e da vida de todos que giram em torno dele. A primeira impressão não é boa, mas quando August descobre que Jacob é veterinário, decide contratá-lo.
O primeiro animal que ele tem de cuidar é um cavalo utilizado por Marlena (Reese Whiterspoon), a principal atração do circo e mulher de August. Entendendo que o animal sofria demais, ele decide sacrificá-lo, mesmo indo contra as ordens do chefão.
Apesar desse primeiro desentendimento, August e Marlena adotam Jacob em seu reduzidíssimo circulo de amizade. As atitudes de August, que vão da extrema brutalidade ao encanto gentil e sedutor deixam Jacob sempre confuso, principalmente porque ele sente-se cada vez mais atraído por Marlena.
A situação do circo fica pior, obrigando a suspensão dos salários e à demissão de funcionários. Esta é feita da forma mais brutal possível: os demitidos são simplesmente atirados do trem em movimento.
A aquisição de uma elefanta promete dar uma revigorada nas combalidas finanças do circo. O problema é que o animal não corresponde às expectativas de August, que se agride brutalmente o animal, quando este foge do picadeiro.
O acaso faz com que Jacob descubra a verdadeira razão da elefanta não entender as ordens de seus últimos donos. O animal fora treinado por poloneses, e só entendia as ordens nesta língua.
Com a nova atração funcionando a contento, o circo revive dias de glória, com casa cheia novamente. Mas, a crescente atração entre Jacob e Marlena não passa despercebida para August, e o confronto agora é só questão de tempo.
Baseado em um livro de sucesso, “Água Para Elefantes” traz ao público atual uma nova visão dos Estados Unidos na década de 1930, quando o país e o mundo viviam os efeitos desastrosos da quebra da Bolsa de 1929. Mendigando por um emprego temporário, milhares de pessoas vagavam pelo país, em busca de uma oportunidade.
Mesmo assim, o mundo do entretenimento ainda sobrevivia a duras penas, para ajudar a aguentar a dureza da realidade. Nesse contexto, o cinema e o circo eram as diversões que sobravam, já que até os bares eram proibidos, em função da Lei Seca, que proibia o consumo de bebidas alcoólicas.
Este universo foi levado às telas com notável fidelidade pelo diretor Francis Lawrence, servindo de pano de fundo para o estranho triângulo amoroso vivido por Pattinson, Reese Whiterspoon e Waltz. Destes, o ponto fraco Robert Pattinson, mais à vontade como o vampiro de “Crepúsculo”. Reese, por sua vez, encarna com perfeição a sofrida esposa, enquanto que o austríaco Christoph Waltz repete sua performance de “Bastardos Inglórios” (“Inglorious Basterds”, EUA, 2009), e mais uma vez concorre ao título de Melhor Vilão do cinema desde a madrasta da Branca de Neve.
A produção do filme é brilhante, trazendo com perfeição não só o universo do circo, mas, o circo de uma época específica, que transitava para um público familiar, ao invés das aberrações grotescas. O filme também traz uma bela trilha sonora, que embala uma fotografia bem feita, principalmente pela grande quantidade de cenas noturnas.
“Água Para Elefantes” é um belo filme, com elementos suficientes para agradar tanto os fãs de filmes românticos quanto os apreciadores das histórias de ação. Assistam e confiram.