Voyagers

 

Viagem em busca da maturidade

 

Ninguém duvida que 2020 foi um ano muito difícil para a indústria do cinema, não apenas pelo fechamento das salas de exibição, como também para a produção de filmes, que exige a atuação de muitas pessoas em um ambiente de proximidade. Contudo, algumas produções conseguiram ser feitas, e algumas com um razoável nível de criatividade, como é o caso da ficção-científica “Voyagers” (EUA, 2021).

A história, a princípio, não parecia muito original. Um grupo de astronautas seria enviado ao espaço em uma viagem com várias décadas de duração para colonizar um planeta semelhante à Terra. A diferença é que a tripulação seria constituída por trinta crianças literalmente nascidas para esta viagem.

Devido a uma situação não explicada de deterioração da Terra, havia sido criado este projeto para enviar este grupo a um planeta distante. As crianças, geradas in vitro e mantidas em ventres artificiais, nunca tiveram contato com o mundo externo, sendo educadas desde a mais tenra idade para esta missão.

A única pessoa com quem elas mantinham um relacionamento próximo era Richard (Colin Farrell), o cientista que chefiava o projeto. Quando a nave ficou pronta, como os tripulantes ainda eram crianças, Richard decide partir com eles, deixando para trás sua vida e a família, numa viagem sem volta.

Dez anos depois, as crianças já eram adolescentes e assumiam totalmente as funções requeridas para operar a espaçonave. Richard continuava como líder, orientando todos e mantendo o comando operacional.

Dois jovens destacavam-se entre os demais, Christopher (Tye Sheridan) e Zac (Fionn Whitehead). Os dois, mais ativos e curiosos, procuram entender não só os detalhes da missão que os espera como também quaisquer segredos não relatados para eles. É assim que eles descobrem que um líquido azul que todos tinham que beber diariamente era um inibidor sensorial, tornando a pessoa mais dócil e eliminando qualquer desejo sexual.

Os dois decidem deixar de beber o líquido, e experimentam sensações que nunca haviam sentido antes, especialmente em uma idade em que os hormônios estão à flor da pele. Isso cria atritos de Zac com Richard, e quando este precisa fazer uma manutenção fora da nave, é vitima de um acidente fatal.

Desolados, os jovens fazem uma eleição e escolhem Christopher como o novo líder. Isso deixa Zac extremamente irritado, e após revelar aos outros para que servia o liquido azul, lidera um grupo amotinado que toma conta da nave.

Com  a ajuda de Sela (Lily-Rose Depp) e uns poucos membros que ficaram ao seu lado, Christopher tenta descobrir o que matou Richard, se foi algum alien misterioso ou algo pior, um companheiro deles. A verdade logo será revelada, mas o instinto desenfreado de um bando de jovens sem nenhum adulto ameaça a própria existência do grupo.

Talvez tenha sido coincidência, mas a composição do elenco pareceu bem apropriada para esta época de pandemia, já que praticamente o único adulto em cena era Colin Farrell. O elenco jovem, contudo, já tinha bastante experiência em filmes e séries. Tye Sheridan já havia atuado em “Jogador Nº 1” (“Ready Player One”, EUA, 2018) e “X-Men: Fênix Negra” (“Dark Phoenix”, EUA, 2019). Fion Whitehead havia atuado em “Dunkirk” (EUA, 2017) e “Um Ato de Esperança” (“The Children Act”, EUA, 2017). Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp e da atriz e cantora francesa Vanessa Paradis, também havia atuado em “A Dançarina” (“La danseuse”, FRA, 2016) e “Crisis” (EUA, 2021), provando ser tão versátil quanto os pais.

O filme impressiona pelos cenários, quase sempre no interior da espaçonave, com muitos efeitos gráficos, parecendo sempre um laboratório industrial. Fiquei ainda mais curioso ao saber que todas as filmagens foram feitas na Romênia, onde se imagina castelos de vampiros e não ambientes de ficção-científica.

“Voyagers” parece ser um projeto pessoal do diretor Neil Burger, que também assina o roteiro. Burger tem intimidade tanto com ficção-científica como com atores jovens já tendo dirigido o ótimo “Divergente” (“Divergent”, EUA, 2014).

“Voyagers” é um filme interessante, que foge um pouco da linha tradicional da ficção-científica dos últimos tempos. Mais que uma aventura espacial, o filme levanta questões interessantes sobre o comportamento dos homens quando livres da autoridade, mas dando vazão aos instintos mais básicos da natureza humana.

Este filme faz parte do acervo do streaming Amazon Prime Video.