Presságio
Crônica do apocalipse anunciado
Ao longo da história do cinema, é possível observar um interesse meio mórbido, tanto do produtor quanto do espectador, pelos filmes apocalípticos, que proporcionam cenas impactantes de destruição, muitas vezes da própria Terra. O filme “Presságio” (“Knowing”,EUA,2009), do diretor Alex Proyas, mantêm-se no gênero, e embora repita muitos clichês da indústria, consegue trazer alguma coisa nova em meio a uma infinidade de mediocridades.
A pergunta mais difícil em relação a este filme seria como classificá-lo, se ficção, suspense, policial, drama e até mesmo especulação científica ou religiosa. Talvez seja porque tem de tudo um pouco. Isso não é novidade na carreira de Proyas, que já nos brindou com “O Corvo” (“The Crow”,EUA,1994), “Cidade das Sombras” (“Dark City”,EUA,1998) e “Eu, Robô” (“I, Robot”,EUA,2004), todos com abordagens pouco comuns, e sempre deixando situações não explicadas.
A história de “Presságio” inicia em 1959, quando, em uma escola primária próxima a Nova York, os garotos recebem a incumbência de fazer desenhos ou mandar mensagens em uma cápsula do tempo, que só seria aberta cinquenta anos mais tarde. A ideia surgiu de uma garota estranha e introvertida, Lucinda (Lara Robinson). Enquanto os outros meninos desenham foguetes e carros do futuro, Lucinda preenche uma página com números, aparentemente desconexos. O papel é armazenado junto com os outros em uma cápsula metálica, que é enterrada no pátio da escola.
Na mesma noite, Lucinda desaparece, para desespero dos pais, que a procuram com a ajuda da polícia e dos professores em todos os cantos do colégio. Finalmente, a professora a encontra, escondida em um armário no porão, pedindo para parar as vozes.
Cinquenta anos mais tarde, encontramos aquele que será o condutor da história, John Koestler (Nicolas Cage), professor de Física do renomado Massachusetts Institute of Tecnology – MIT. John é um homem amargurado pela morte da esposa e como a maioria dos que perdem um ente querido, desencantado com a religião.
Sua maior diversão na sala de aula é provocar os alunos, afirmando que a existência de todos é o resultado de um mero acidente natural. Sua ligação com o mundo é o único filho, Caleb (Chandler Canterbury). Apesar da relação amorosa com o filho, John sente dificuldade em manter-se ligado aos compromissos do garoto, enquanto mergulha no álcool à noite, para fugir das lembranças da mulher morta.
Caleb estuda na mesma escola onde fora enterrada a cápsula do tempo em 1959, e é programado um evento festivo para retirá-la. Os desenhos e mensagens dos garotos do passado são entregues aos alunos atuais, e a Caleb cabe a misteriosa carta escrita por Lucinda.
A partir desse momento, começam a acontecer coisas estranhas, principalmente para o pequeno Caleb. Ele avista um homem misterioso, e reclama que está escutando barulhos estranhos, que atribui ao aparelho que utiliza para corrigir um problema auditivo.
John, por sua vez, fica surpreso ao encontrar a misteriosa carta de Lucinda na bolsa do filho. Com a curiosidade de cientista instigada pela estranha coleção de números, sua atenção é despertada pela data “11 de setembro de 2001”. A data, mundialmente famosa pelos ataques ao World Trade Center, poderia ser uma mera coincidência, não estivesse acompanhada do número exato de pessoas mortas no atentado.
Pesquisando na internet, John descobre que cada grupo de números se refere à data de uma tragédia, queda de avião, inundação, atentado, etc., seguido do número correspondente às pessoas mortas no evento. Até o incêndio que vitimou a sua esposa, mãe de Caleb, estava previsto nos números. Ao final, descobre que faltam se realizar apenas três eventos, todos com datas próximas da atual.
Embora sua visão de cientista não permita acreditar que todos os fatos foram previstos por uma menina décadas atrás, John mergulha de cabeça na busca de uma explicação sobre o que poderia ter acontecido – e o que ainda estava para acontecer.
Na busca por explicações, ele conhece Diana Wayland (Rose Byrne), filha de Lucinda, que vive com a filha Abby (Lara Robinson), da idade de Caleb. Quando Diana descobre que John quer saber sobre Lucinda, ela foge levando a filha, deixando o homem sem explicações.
Mas, as tragédias previstas começam a ocorrer, como a queda de um avião bem próximo onde John estava parado. Os novos fatos terminam reaproximando John e Diana, pois uma das datas mencionadas na carta de sua mãe se referia ao dia em que ela dizia que a moça iria morrer.
Os dois vão até o trailer onde Lucinda vivia, e ao mesmo tempo em que descobrem que a mulher tinha uma fixação no trecho bíblico de Ezequiel e seu encontro com os Querubins, que o encarregaram de transmitir mensagens apocalípticas ao homens.
Nesse momento, os estranhos homens que se comunicam com Caleb e Abby tentam levá-los, sendo impedidos pela chegada de John e Diana. Agora, John corre contra o tempo, para desvendar qual é a tragédia final e como salvar o filho, a si mesmo, e talvez, toda a Humanidade.
O roteiro brinca com o espectador o tempo inteiro, levando-o a pistas falsas e à formação dos questionamentos: quem são os estranhos homens, anjos ou ETs, e, o principal, o que eles querem?
Desde o primeiro momento se percebe que o filme é uma tragédia anunciada. Mas, a tensão vai crescendo, à medida que os fatos novos são acrescentados à história, e muito bem embalados pela trilha sonora perfeita de Marco Beltrami, tanto nos momentos nostálgicos do filme quanto nas cenas mais intensas.
Merece destaque a atuação ímpar de Nicolas Cage, que deixou de lado as caras e bocas de “Cidade dos Anjos” (“City of Angels”,EUA,1998) e consegue manter um delicado equilíbrio em um personagem que não é bandido, nem mocinho, apenas um ser humano normal em uma busca desesperada por respostas.
Os efeitos especiais são excelentes e utilizados nos momentos absolutamente certos, com destaque para a cena onde cai o avião, e o acidente do metrô, que são de uma perfeição assustadora. Bem, sem querer estragar a surpresa de ninguém, como em todo bom filme catástrofe, Nova York é destruída mais uma vez…
“Presságio” é um filme que prende a atenção do espectador até o último minuto e certamente irá gerar muitas de discussões de mesa de bar, pois deixa diversos pequenos mistérios sem solução, gerando mais perguntas do que respostas. E só para aumentar a confusão, o filme traz uma sensação de déjà vu aos garotos da minha geração que leram “Eram os Deuses Astronautas?”, escrito por um suíço maluco chamado Erick Von Daniken nos anos 70.
Este filme está disponível na plataforma Netflix.