Filme da Semana: “Cowboys do Espaço”

 

Idosos fora de órbita

 

Um problema que todos irão enfrentar um dia é a dita “melhor idade”. O que fazer, e, principalmente, o que não se pode fazer, torna-se a maior incógnita. Esse assunto é tratado de forma divertida e bem-humorada no filme “Cowboys do Espaço” (“Space Cowboys”, EUA, 2000), dirigido, produzido e estrelado por Clint Eastwood.

A história inicia em 1958, quando um grupo de jovens oficiais da força aérea americana testa os inovadores aviões-foguetes X-1 e X-2, nos primórdios da exploração espacial. Em virtude de disputas pessoais, influências políticas, e outros azares, o grupo é desfeito, e a recém-criada NASA, um consórcio civil, passa a administrar o programa espacial americano.

Quatro décadas depois, já no clima de cooperação pós-Guerra Fria, os russos pedem ajuda aos americanos, para resgatar o único satélite de comunicações do país, que entrara em uma perigosa rota de colisão com a Terra.

Fruto da espionagem científica, este satélite é uma cópia do Skylab, artefato americano lançado ao espaço no início dos anos 70. Para desgosto do gerente da NASA Bob Gerson (James Cromwell), a única pessoa que entende do sistema utilizado no satélite é Frank Corvin (Eastwood), seu ex-subordinado do Projeto Dédalus. Vendo a chance de realizar seu sonho de ir ao espaço, Corvin usa um pouco de chantagem, convencendo a NASA a enviar sua equipe original, de quarenta anos atrás.

Nessa altura do campeonato, Hawk Hawkins (Tommy Lee Jones) fazia acrobacias aéreas para viver, Jerry O’Neil (Donald Sutherland) testava montanhas-russas, e, Tank Sullivan (James Garner), virara pastor protestante. Não foi preciso muita argumentação para convencê-los a voltar à ativa.

Com muito bom-humor, o filme mostra o treinamento dos “novos” astronautas, suas rivalidades com os jovens profissionais, além dos conflitos não resolvidos do grupo, mesmo após quarenta anos…

Como todo bom filme de ação, o clímax desenrola-se no terço final, numa sucessão de acontecimentos surpreendentes, em plena órbita da Terra. Não é preciso dizer que os efeitos especiais, e as imagens, são absolutamente estonteantes. O final é apoteótico, com uma belíssima paisagem lunar, e a imagem de um astronauta admirando a Terra, ao som de “Fly me into the moon”, clássica canção de jazz interpretada magicamente por Frank Sinatra.

Como foi mencionado, no início, o filme toca em um tema delicado, que começa a tomar uma importância cada vez maior, nos dias de hoje. Além da média de idade da população crescer continuamente, os idosos passam a ter uma importância cada vez maior, no sustento das famílias. Em recente pesquisa do IBGE, mostrou-se que quase um terço das famílias dependem de aposentados para sobreviver.

No filme, apesar de serem quatro pessoas diferentes, Eastwood mostrou uma visão otimista da terceira idade, com facetas diferentes, como se fossem faces de um único cubo. Corvin, engenheiro produtivo, mantinha-se ativo e sempre a par dos avanços da profissão; Hawk, piloto arrojado, só mudara o tipo de aeronave, usando velhos monomotores para manter a adrenalina alta; O’Neil, dividia o tempo entre os testes nas montanhas-russas e os galanteios às mulheres; Tank, voltara-se para a espiritualidade oferecida pela religião.

Certa vez, escutei o grande Mário Sérgio Cortella afirmar que a diferença entre ser velho, e ser idoso, é que o último tem a idade, mas não perdeu a capacidade de aprender e se adaptar. Eastwood parece ser a prova viva disso, e continua a dirigir ótimos filmes, mesmo com 87 anos de vida. “Cowboys do Espaço” ilustra bem essa visão, com galhardia e bom-humor, mesmo que tenha que recorrer a alguns chavões, e situações inverossímeis.

“Cowboys do Espaço” é um filme interessante para assistir com a família, os amigos, ou, mesmo sozinho, principalmente para pensar na própria existência, e refletir sobre os dias que virão.

Título original: “Space Cowboys”