Filme da Semana: “Seu Nome” (“Kimi no na wa”)

O público brasileiro já foi privilegiado com dois ótimos filmes que brincam com a ideia de troca de corpos entre um homem e uma mulher, “Se Eu Fosse Você”, com Tony Ramos e Glória Pires. Mas, e se essa troca ocorresse com duas pessoas que jamais e se viram, e pior: fossem adolescentes! Esse tema foi magicamente transportado para as telas pelo diretor japonês Makoto Shinkai, na animação “Seu Nome” (“Kimi no na wa”, JAP, 2016).

Mitsuha Miyamizu (voz de Mone Kamishiraishi) é uma jovem que mora em uma pequena cidade espremida entre o mar e a montanha, em algum lugar remoto do Japão. Mitsuha vive com a avó e a irmã mais nova, pois que o pai saiu de casa após a morte da mãe das meninas. Mitsuha tem uma vida normal, e divide-se entre a escola e as tradições da religião, da qual a avó procura passar para as meninas a filosofia e as tradições, que incluem a dança, a tecelagem e a produção primitiva de sakê. Como todos os jovens da cidade, Mitsuha sonha em mudar para um grande centro.

Bem distante dali, na moderna Tóquio, vive Taki Tachibana (Ryûnosuke Kamiki), um jovem secundarista que sonha ser arquiteto. Taki vive com o pai, e divide-se entre a escola e o trabalho em um restaurante italiano. Como todos os colegas do trabalho, Taki sente-se atraído pela Senhorita Okudera, um linda jovem um pouco mais velha que eles.

Um dia, o impossível acontece: os dois jovens trocam de corpo, e são obrigados a viver o dia a dia do outro sem ter a menor ideia de como isso aconteceu. A coisa fica ainda mais estranha pois são jovens ainda em crescimento, como todos os problemas, sonhos e dificuldades desta difícil fase de transição entre a infância e a maturidade.

O fenômeno acontece outras vezes, e eles precisam estabelecer entre si algumas regras de convivência, para não atrapalhar a vida do outro mais do que já estão sendo obrigados a suportar. Essa estranha comunicação leva ao nascimento de uma amizade que desperta nos jovens o desejo de se encontrarem face à face. Mas, um certo dia a troca de corpos e a comunicação deixam de acontecer, o que preocupa os dois.

 Como acontece com a maioria das animações japonesas, a qualidade é primorosa, tanto de som quanto de imagem. As paisagens da cidade da menina são excelentes, mas, as de Tóquio parecem ser mais reais do que a própria realidade. Podemos dizer que este é um produto de Makoto Shinkai, que escreveu o livro e o roteiro, dirigiu e editou. Foi também a primeira animação japonesa de grande sucesso fora dos Estúdios Ghibli.

Mas, o que encanta mais neste filme é a condução narrativa, que até a metade mostra de maneira lúdica a vida dos adolescentes japoneses com suas tradicionais fardas, mas depois vai assumindo tons de mistério, aventura, suspense, e até mesmo sobrenatural.

O filme trata de alguns conceitos interessantes, como o da palavra “musubi”. Este era o nome do guardião divino da região de Mitsuha. Musubi também pode significar a manipulação dos fios para tecer as tramas do tecido, mas também a conexão das pessoas, e mesmo o passar do tempo. A avó da menina resume dizendo que Musubi são todas as forças de Deus. E nestas forças é que os personagens encontram o necessário para mudar os seus destinos. Outra leitura que podemos fazer é que se nos colocamos no lugar do outro isso torna mais fácil a compreensão e a convivência.

No fundo, “Seu Nome” é totalmente romance, mas de um romantismo sutil, tímido e delicado, num retrato perfeito da própria cultura japonesa. É perfeitamente crível o nascimento de um amor entre duas pessoas com tamanho grau de separação, e não é surpresa o espectador se dar conta que está torcendo muito para que eles se encontrem.

Claro que não é para todos os gostos. Quem está acostumado com as comédias de high scholl americanas, com bebedeiras e pegações, é melhor permanecer com elas. Filmes como “Seu Nome”, principalmente sendo animações, está destinado ao espectador que desde criança ama os desenhos japoneses, e principalmente as produções da Ghibli. É para aqueles adultos que nunca deixaram de ter o coração de criança.

Título Original: “Kimi no na wa”

 

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