Z: A Cidade Perdida
No início dos anos 1970, quando eu estudava na Escola Técnica Federal da Paraíba, um dos meus lugares favoritos era a biblioteca da escola. Certamente eu era um dos leitores mais frequentes, pois naquela época a leitura estava em baixa como diversão. Entre os inúmeros livros que peguei, um deles me chamou a atenção: Exploração Fawcett, escrito por um explorador britânico chamado Percival Fawcett. Imaginem então a minha surpresa ao descobrir que o filme “Z: A Cidade Perdida” era baseada na vida do próprio.
Confesso que jamais ouvira falar dele antes, o que também deve ser o caso da imensa maioria dos brasileiros. Esse inglês, que veio no início do Século XX ao interior do Brasil para fazer trabalhos de demarcação de fronteiras, ficou obcecado pela ideia de que teria existido uma avançada civilização numa região remota de Mato Grosso, e que haveria uma cidade inteira a ser descoberta e estudada por lá.
No filme, Fawcett (Charlie Hunnam) é descrito como um militar que nunca teria atuado em combate real, e que buscava restabelecer a honra da família, prejudicada por seu pai, que se envolvera com bebida e jogatina. Por conta disso, ele aceita a missão de demarcar a fronteira entre Brasil e Bolívia, e assim evitar uma guerra entre os dois países.
Na primeira viagem que faz, em 1906, Fawcett tem a ajuda de Henry Costin (Robert Pattinson, quase irreconhecível) e Arthur Manley (Edward Ashley), dois ingleses que se aventuram com ele mato adentro. Fawcett conseguiu alcançar um lugar totalmente inexplorado, onde encontrou alguns resquícios arqueológicos anômalos.
De volta à Inglaterra, ele tenta convencer a Real Sociedade Geográfica a financiar uma nova expedição, desta vez com o objetivo de encontrar a misteriosa cidade, que ele chama de “Z”. O único que se interessa é James Murray (Angus Macfadyen), que já participara de expedições na Antártida. A expedição acontece, mas é um fracasso, principalmente devido ao próprio Murray.
Após a Primeira Guerra Mundial, Fawcett novamente parte em busca de sua cidade misteriosa, desta vez acompanhado pelo filho Jack (Tom Holland), e nunca mais os dois serão vistos.
Como eu já conhecia a figura histórica, até por seu próprio relato no livro que mencionei, ficou estranha a imagem construída pelo filme. Isso se explicaria pelo fato do filme ser baseado no livro “The Lost City of Z: A Tale of Deadly Obsession in the Amazon”, de David Grann, que obteve certa rejeição da crítica especializada.
O filme tem alguns problemas de roteiro, mostrando diálogos e situações que seriam normais nos dias de hoje, mas impensáveis na conservadora sociedade do início do Século XX, além de outras incoerências históricas.
É uma pena que o filme tenha ficado na terra de ninguém entre o relato histórico e uma aventura livremente baseada no personagem real. O desaparecimento de Fawcett até hoje é assunto de debates no mundo científico, sem que nunca se tenha chegado a uma conclusão definitiva.
É estranho até a informação no final do filme, de que “NO INICIO DO SECULO XXI, OS ARQUEOLOGOS DESCOBRIRAM UMA SURPREENDENTE REDE DE ESTRADAS ANTIGAS, PONTES, INSTALAÇÕES AGRICOLAS POR TODA A SELVA AMAZONICA”. Eu, pelo menos, nunca ouvi falar de uma descoberta tão fabulosa.
Duas cenas curiosas me despertaram a atenção. A primeira é a ópera em plena selva, uma referência ao filme “Fitzcarraldo” (1982), de Werner Herzog. A outra é a cena em que Fawcett perde o chapéu, fato que é descrito por ele em sua última carta à mulher.
“Z: A Cidade Perdida” merece ser visto mais pela curiosidade sobre uma figura histórica controvertida, que encarnou o sonho de aventuras de muitas pessoas em todo o mundo, embora nunca tivesse encontrado a sua tão sonhada cidade de ouro.
Título Original: “The Lost City of Z”