Coluna Claquete – 26 de setembro de 2016 – Filme da Semana: “Sete Homens e um Destino”
Filme da Semana: “Sete Homens e um Destino”
Time que está ganhando não se muda. Embora este ditado venha do futebol, o cinema incorporou-o ao extremo, pois a refilmagem e cópia de um filme famoso sempre vai render alguma bilheteria acima da média, nem que seja pela curiosidade. Embora tenha os seus próprios méritos, este é bem o caso de “Sete Homens e um Destino”.
Para muitos, o filme atual, estrelado por Denzel Washington, é a refilmagem do filme homônimo de 1960, que reuniu algumas das maiores estrelas de Hollywood na época. Na verdade, ambos foram baseados no mais conhecido filme do diretor japonês Akira Kurosawa, “Os Sete Samurais” (“Sichinin no Samurai”).
O filme japonês, lançado em 1954, contava a história de uma pequena aldeia no Japão do século XVI, que recebera a ameaça de ataque de um grupo de bandoleiros, logo após o período da colheita. Desesperados, os aldeões pedem a ajuda a Kambei (Takashi Shimura), um ronin ou samurai sem um líder feudal. Sensibilizado com a situação da aldeia, Kambie busca a ajuda de outros guerreiros como ele, sem lugar na fechada sociedade japonesa por não terem mais um senhor. Os recém-chegados tem que lidar com a desconfiança do locais, enquanto tentam treiná-los para enfrentar os bandidos numa batalha selvagem, que ceifará muitas vidas.
O filme de Kurosawa, considerado o mais “americano” dos diretores japoneses, teve uma grande repercussão no mundo, embora conseguisse apenas duas indicações ao Oscar (Direção de Arte e Figurino) e três para o BAFTA (Melhor Filme e Ator Estrangeiro para Toshiro Mifune e Takeshi Shimura), ganhando o Leão de Prata do Festival de Veneza.
Seis anos mais tarde, era lançado “Sete Homens e um Destino” (“The Magnificent Seven”, 1960), reunindo a nata das estrelas de filmes de ação de Hollywood: Yul Brynner, Steve McQueen, Charles Bronson, Robert Vaughn, James Coburn e Eli Wallach. O filme foi dirigido por John Sturges, um veterano de westerns e filmes de ação, como “Duelo de Titãs” e “Sem Lei e Sem Alma”, passando ainda por “O Velho e o Mar”.
A história é transportada para o México, onde uma pequena cidade é ameaçada pelo bando do temido Calvera (Eli Wallach). Alguns moradores cruzam a fronteira para buscar ajuda, que encontram em Chris (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen). Eles são dois pistoleiros desempregados que se dispõem a ajudar, não pelo dinheiro, mas pela aventura, e reúnem outros cinco foras da lei. Aqui também há dúvidas e desconfianças, mas a união prevalece na sangrenta batalha contra os homens de Calvera.
O filme foi um tremendo sucesso e gerou uma série televisiva de mesmo nome, estrelada por Robert Vaughn, um dos atores do filme, e mais três sequências, “A Volta dos Sete Magníficos” (1966), “A Revolta dos Sete Homens” (1969) e “A Fúria dos Sete Homens” (1972). A mesma ideia foi utilizada em inúmeros filmes, não só westerns, como filmes mitológicos, medievais, ficção-científica, e até a famosa animação “Vida de Inseto”, da Pixar/Disney.
No filme atual, a trama se passa em uma pequena cidade rural onde existe uma mina de ouro. O dono da mina, Bartholomew Bogue (Peter Sarsgaard) não se contenta com o que tem, e quer a propriedade de tudo, incluindo as fazendas em torno do vilarejo. Para demonstrar a seriedade de suas intenções, ele não hesita em matar a sangue-frio homens e mulheres desarmados. Por fim, informa que dentro de três semanas voltará para tomar posse de tudo.
Revoltada com a morte do marido, Emma Cullen (Haley Bennet) decide buscar ajuda. Com o pouco dinheiro que consegue recolher na cidade, ela sai em busca de pistoleiros para lutar contra Bogue. O acaso a leva a Sam Chisolm (Denzel Washington), que decide aceitar o desafio, e para isso convoca outros homens estranhos: Josh Farraday (Chris Pratt), Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke), Billy Rocks (Byung-Hun Lee), Jack Home (Vincent D’Onofrio), Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo) e o nativo Red Harvest (Martin Sensmeier). Sabendo que a tarefa é quase impossível para sete homens apenas, eles precisam convencer a população a lutar, e ainda treiná-los para tanto.
É curioso como os filmes retrataram os momentos históricos da época em que foram feitos. “Os Sete Samurais”, lançado apenas nove anos após o fim da Segunda Guerra, mostra um mundo totalmente marginal, mas onde as pessoas viviam e morriam pelos melhores valores da cultura japonesa. A desprezada classe dos aldeões é salva por ronins, samurais desonrados, que lutam pelo que é certo.
Na versão de 1960, os heróis era brancos e americanos, enquanto os bandoleiros eram mexicanos. É curioso que mesmo o mexicano do grupo tinha todas as características físicas de um caucasiano. Trump ficaria feliz com esta versão.
Na versão atual, tanto foram tomadas liberdades poéticas, como o “políticamente correto”. O grupo está com mais diversidade, e entre os sete membros do grupo estão um índio, um mexicano, um asiático e um negro, que é o líder do bando. O vilão deixou de ser um mexicano rude para se tornar um capitalista branco. Os oprimidos são camponeses e operários da mina, todos explorados pelo capital, na mais crua representação da luta de classes.
É difícil imaginar que um negro, naquela época, conseguiria tal posição de destaque, ou que uma mulher, recentemente viúva, sairia atrás de pistoleiros com uma roupa bem decotada. Mas, quem quer rigor histórico assiste documentários, não filmes de faroeste.
O filme é tecnicamente muito bem feito, com inúmeras cenas de ação, e as belíssimas paisagens do deserto mexicano. A trilha sonora é fantástica, e contém algumas músicas da versão de 1960. O elenco é menos estelar, e à exceção de Washington e Hawke, os demais protagonistas são menos conhecidos, embora cumpram sua função exemplarmente.
“Sete Homens e um Destino” é um filme interessante e divertido, com mais de duas horas de duração, que além de homenagear dois grandes clássicos do cinema, traz um ritmo mais sintonizado com as gerações atuais de espectadores.
Título original: “The Magnificent Seven”
Deveriam fazer um filme desses em Brasília, com destino à Curitiba.
Deveriam fazer um filme desses em Brasília, com destino à Curitiba.