Coluna Claquete – 19 de setembro de 2016 – Filme da Semana: ” A Lenda de Tarzan”
Filme da Semana: “A Lenda de Tarzan”
Ontem, enquanto procurava um filme para preencher a preguiçosa tarde do domingo, deparei com esta aventura, que passou fugazmente pelos cinemas, “A Lenda de Tarzan”. Como sou íntimo deste personagem, que aprendi a conhecer nos livros ainda menino, fiquei curioso para ver o que mais podiam inventar com o herói das selvas.
Tarzan deve ser um dos personagens de ficção mais conhecidos no mundo, pois o primeiro livro, “Tarzan, o Filho das Selvas”, foi publicado em 1912. Ele fez tanto sucesso, que logo passou para as telas do cinema, ainda mudo, em 1918, chegando às revistas em quadrinhos em 1928.
Esse sucesso se repetiu ao longo do tempo, e além dos 24 livros escritos por Edgar Ryce Burroughs, existem 236 títulos citados pelo site IMDB.com, entre filmes e episódios de séries televisivas. Nada mal para um personagem criado por um escritor que jamais colocou os pés na África!
Segundo a versão original, os pais de Tarzan, John Clayton e Alice, eram nobres ingleses, que durante uma viagem de navio foram obrigados a desembarcar na costa da África após um motim a bordo. Alice estava grávida, e morreu durante o parto. O garoto sobreviveu, mas logo depois um bando de orangotangos invadiu a cabana em que viviam e matou John Clayton. Kala, uma fêmea do bando cujo bebê morrera, resgata o garoto e o leva consigo, criando-o como seu filho, e chamando-o de Tarzan, que seria “pele branca”, na língua dos macacos.
Anos depois, quando Tarzan já está adulto, ele encontra um grupo de homens brancos, no meio dos quais estão o seu primo e aquela que seria o amor de sua vida, Jane Porter. Vários encontros e desencontros acontecem, até que o casal fique unido e ele assuma o seu lugar de direito na aristocracia inglesa.
A imaginação de Burroughs, aliada ao desconhecimento sobre o continente africano no início do século XX, levou Tarzan a enfrentar não só leões e nativos selvagens, como também alemães nazistas, soldados romanos, cavaleiros medievais, e até seres exóticos como os homens-formiga, animais pré-históricos, e até uma jornada ao Centro da Terra!
Fazendo uma leitura mais crítica, é possível ver que o personagem criado por Burroughs era a imagem da sociedade da época. O herói era branco, de origem nobre, e matava animais e nativos com a mesma naturalidade de quem mata baratas. Em alguns trechos do livro é possível perceber um inegável racismo, que era uma característica comum da época e do meio em que vivia o autor.
Como foram feitos centenas de filmes com Tarzan, é natural que sejam criadas novas situações, mas, na maioria das produções atuais há um embaralhamento dos personagens que deixaria tonto até o próprio autor!
No filme atual, Tarzan (Alexander Skarsgård) já é adulto, casado e mora na Inglaterra, onde usa seu verdadeiro nome e título, John Clayton III, lorde Greystoke. Enquanto que na história original se passava no início do século XX, aqui há um recuo, situando-o em 1889.
Outra liberdade poética foi tomada, fazendo com que Tarzan tenha vivido no Congo Belga (hoje República Democrática do Congo). O explorador belga Leon Rom (Christoph Waltz) é enviado pelo rei da Bélgica Leopoldo II para encontrar a lendária cidade de Opar e pegar diamantes para financiar os mercenários de que ele precisa para dominar a colônia. Os atacantes são dizimados pelos nativos, mas o rei de Opar, Mbonga (Dijimon Hounsou) diz a Rom que ele lhe dará muitos diamantes em troca de Tarzan.
Rom usa todos os artifícios para atrair Tarzan para a África, e este aceita o convite, vindo acompanhado pela mulher Jane (Margot Robbie) e por um explorador americano, George Washington Williams (Samuel L. Jackson).
Ao longo do filme vão acontecendo várias reviravoltas que chegam a um final hollywoodiano, que nada tem a ver com a História real. Mas, o bom é que o Tarzan agora é bem diferente dos livros, respeita a Natureza, é amigo e protetor dos nativos, e não matas nenhum bicho. Desconfio até que ele seja vegetariano…
Uma coisa interessante do filme é apontar para um fato histórico pouco conhecido, o papel do rei Leopoldo II no Congo. Usando artifícios de tratados de comércio, e posteriormente um exército de mercenários, ele manteve a região como possessão pessoal, submetendo os habitantes à escravidão com métodos extremamente brutais, inclusive amputação de membros. A coisa ficou tão feia que 1908, o parlamento belga retirou a região da posse do rei e transformou-a em colônia do país, até sua independência em 1960.
O elenco está bem, e não compromete a história, mas, faz pena ver um ator de altíssimo nível como Christoph Waltz fazer um vilão ridículo e estereotipado. A computação gráfica foi usada bastante, principalmente na elaboração dos gorilas que criaram Tarzan, e que devem ter consumido boa parte dos 180 milhões de dólares do orçamento do filme.
Embora tenha muitas diferenças em relação à versão original, “A Lenda de Tarzan” é um filme de aventuras bem ao estilo dos dias atuais, com muitas cenas de ação e reviravoltas constantes. É desligar o cérebro e curtir.
Título original: “The Legend of Tarzan”