Coluna Claquete – 12 de julho de 2016 – Série da Semana: “Happy Valley”
Série da Semana: “Vale Feliz”
Quem acompanha minha coluna há mais tempo deve estar estranhando que eu esteja comentando – e recomendando – uma série. Realmente, não sou muito adepto de séries, por considerá-las repetitivas e sem criatividade, geralmente tendo os problemas resolvidos por algum herói com um estoque inesgotável de balas. Mas, de vez em quando esbarro em alguma grata surpresa, que foi o caso da minissérie inglesa “Vale Feliz” (“Happy Valley”, 2014).
A mesmice que reclamo nos seriados americanos não se limita à mesmice das roteiros sem frescor, à ambientação nas grandes cidades, à banalização da violência,e até a escolha do elenco, geralmente jovens bonitos, mais apropriados para comerciais de margarina ou pasta de dente.
Bem, em se tratando de “Vale Feliz”, pode esquecer tudo isso. A trama é ambientada em uma pequena cidade do norte da Inglaterra. Embora esteja a anos-luz de distância dos problemas de uma cidade do interior brasileiro, Happy Valley é cada vez mais assolada pelo problema das drogas.
É neste lugar que o pequeno destacamento de polícia é liderado pela sargento Catherine Cawood (Sarah Lancashire). Além dos problemas normais da cidade, Catherine ainda precisa lidar com os próprios fantasmas.
Ela é divorciada e com a irmã Clare (Siobhan Finneran), uma ex-viciada em drogas, e o neto Ryan (Rhys Connah), de oito anos. Ryan é filho de Becky, a filha de Catherine que suicidou-se após o parto. A decisão de Catherine de criar Ryan provocou o divórcio com Richard (Dereck Riddell) e a separação do filho Daniel (Karl Davies).
Além dos problemas familiares, Catherine fica extremamente abalada ao saber que Tommy Lee Royce (James Norton) saiu da prisão. Tommy, que fora preso por tráfico de drogas, tinha sido o responsável indireto pela morte de Becky, já que ela engravidara após ser estuprada por ele.
Fora da cadeia, Tommy não demora a se envolver em mais problemas. O seu novo patrão, Ashley Cowgill (Joe Armstrong), recebe uma estranha proposta de Kevin Weatherill (Steve Pemberton). Ele propõe a Ashley raptar a filha de seu patrão, Nevison Gallagher (George Costigan), por este ter se recusado a dar-lhe um aumento.
Asley encarrega Tommy e seu colega Lewis Whipey (Adam Long) de raptar Ann Gallagher (Charlie Murphy), mas tudo vai se complicando à medida que o tempo vai passando, e a natureza de cada um influencia os seus atos.
A minissérie tem um desenvolvimento interessante, pois o crime principal acontece sem que a maioria dos personagens tenha conhecimento dele. Por outro lado, vemos uma história policial diferente, onde os agentes não usam armas de fogo, embora tenham que lidar com delinquentes de toda sorte.
Mais interessante ainda são os atores escolhidos para os protagonistas, a maioria cinquentões, fora do padrão de beleza hollywoodiano, mas extremamente convincentes em seus papéis. O ponto fora da curva é exatamente James Norton, que encarna o vilão, e cria um interessante contraste entre seus atrativos físicos e a odiosidade de seu personagem. Não é de graça que correm rumores de que ele será o próximo James Bond.
“Vale Feliz” é uma minissérie interessante, que traz uma visão da Inglaterra diferente do padrão multicultural londrino, e bem mais próximo do que imagina-se ser a vida real de uma pequena cidade do interior.
O melhor ainda é fugir da dicotomia tradicional de Hollywood, onde todos são exclusivamente anjos ou demônios. Os personagens da série são humanos, com qualidades e defeitos, não existindo ninguém absolutamente bom ou ruim. Que nem a vida real.
Título original: “Happy Valley”