Coluna Claquete – 04 de julho de 2016 – Filme da Semana: “Iguais”


Filme da Semana: “Iguais” 
Um dos meus gêneros favoritos é a ficção-científica, preferência que herdei de meus pais. Acredito que esta atração se deva ao fato de que estamos falamos de coisas que poderão acontecer, num futuro próximo ou distante. Embora o gênero esteja muito associado à tecnologia, o tema explorado pode ser a forma como a Humanidade se comportará, como é o caso do intrigante filme “Iguais” (“Equals”, 2015).
O mundo mostrado em “Iguais” está em um futuro não especificado, quando a Humanidade sobreviveu a um grande conflito que destruiu 99,6% da área fértil, e buscou uma nova forma de convivência. Este novo mundo é asséptico, organizado, e, acima de tudo, igualitário. Se pensarmos em “1984”, “Admirável Mundo Novo” ou “Fuga do Século 23” veremos alguma semelhança.
Não há diferenciação social, todos tem acesso aos mesmos benefícios de moradia, transporte e saúde, os apartamentos são igualmente dotados de uma tecnologia dedicada ao conforto e à praticidade. As diferenças que existem, nos vestuários, indicam o tipo de trabalho, se é como operário, num escritório, ou numa discreta força policial, que não usa armas e tem o sugestivo nome de “Saúde e Segurança”.
Neste universo que parece ser um comunismo sem ideologia, existe apenas uma restrição: os sentimentos e desejos foram banidos, assim como as relações íntimas de qualquer natureza. Qualquer coisa que remeta a isso deve ser comunicado às equipes médicas, pois é considerado uma doença, com vários níveis de profundidade.
 É neste mundo que vive Silas (Nicholas Hoult), um jovem ilustrador, que cumpre sua rotina todos os dias, até perceber que sente uma atração por uma colega de trabalho, Nia (Kristen Stewart).
Aturdido, Silas busca a ajuda oficial, que consiste em medicamentos e uma classificação Nível 1 da doença. Aos poucos, porém, ele descobre que existem muitos como ele, que se reúnem secretamente numa espécie de grupo de autoajuda, liderados por Jonas (Guy Pearce).
Silas também descobre que sua atração por Nia é correspondida, mas ao mesmo tempo que começam a viver um caso de amor, sentem o cerco da sociedade sufocá-los cada vez mais. A única solução será a fuga para um resto de mundo selvagem fora do opressivo paraíso em que vivem.
Embora já tenha lido ou assistido filmes com propostas intrigantes sobre as sociedades futuras, é difícil não questionar se já alcançamos algo mostrado em “Iguais”. Claro que esta sociedade sem ricos e pobres jamais existirá – os ricos nunca permitirão! Contudo, será que já não chegamos neste patamar de convivência sem emoção.
Pode parecer um paradoxo esta afirmação, pois estamos vivendo um tempo de tremenda intolerância e absoluto desrespeito à opinião do outro. Contudo, é mais fácil alguém se indignar com um acontecimento do outro lado do planeta do que com algo bem próximo.
Estamos nos tornando insensíveis ao sofrimento e às necessidades de pessoas que estão ao nosso lado, mas que fazemos de conta que não vemos. Tanto faz que o objeto seja a vítima da violência diária, o morador de rua, o estudante desassistido, e mesmo as pessoas de nossa família às quais não damos atenção. Viramos autômatos sem emoção, pois esta é toda canalizada para o conflito com aqueles que pensam diferente de nós.
Elucubrações à parte, “Iguais” é um filme tecnicamente muito bem feito, com belíssimas locações no Japão e Singapura. O casal central tem uma química boa, mesmo Kristen Stewart ainda lembrando sua personagem de “Crepúsculo”. Nicholas Hoult mostra mais versatilidade, já tendo feito o Hank na nova geração de X-Men, e até o personagem-título de “Meu Namorado é um Zumbi”. Guy Pearce, embora num papel secundário, sempre rouba a cena quando aparece.
“Iguais” é um filme interessante, que merece ser visto e analisado com calma, mesmo que seja para despertar uma boa discussão de mesa de bar sobre o futuro da Humanidade – e qual papel queremos desempenhar nele.
 Título original: “Equals”