Coluna Claquete – 21 de junho de 2016 – Filme da Semana: “A Três Vamos Lá”


Filme da Semana: “A Três Vamos Lá” 
Nestes tempos estranhos que vivemos, em que as pessoas vagueiam entre a mais pura intolerância e a cobrança pela correção política, é muito agradável assistir um filme em que a única coisa que importa é o relacionamento entre as pessoas – mesmo que este relacionamento seja diferente daquilo que é considerado “normal”. O filme em questão é “A Três Nós Vamos” (“A trois on y va”, 2014) do diretor Jérôme Bonnell.
Como o título sugere, a história gira em torno de três pessoas: Charlotte (Sophie Verbeeck) e Micha (Félix Moati), que estão juntos há quatro anos, e a amiga do casal, Mélodie (Anaïs Demoustier). Os três são jovens e lutam com as dificuldades de um começo de vida.
Charlotte e Micha tem um problema a mais, já que o relacionamento que vivem sofre com o desgaste da monotonia. Isso fez levou Charlotte a ter um caso com Mélodie, situação que já dura alguns meses, mas que também sofre com as dúvidas e problemas das duas mulheres.
Por sua vez, Micha sente-se atraído por Mélodie, e algumas circunstâncias os levam, também, a um novo ângulo deste triângulo amoroso. Apenas Mélodie tem consciência do que está acontecendo, e ela tenta a todo custo evitar que os amigos e amantes sejam magoados, ao mesmo tempo em que tenta sobreviver às suas próprias dificuldades financeiras.
O filme é construído de uma forma leve e divertida, com algumas situações engraçadas, típicas de uma comédia romântica, mas sem nunca descambar para os exageros dos filmes de Hollywood. O espectador fica livre tanto das piadas escatológicas quanto dos clichês e pieguices sentimentais.
As relações entre os personagens, por sua vez, são construídas em cima das paixões que os unem, refletindo um pouco do imediatismo e fragilidade que compõem os relacionamentos de hoje em dia.
O aspecto mais notável do filme é a forma como o assunto é tratado, sem envolver questões morais. O fato de duas mulheres manterem um caso não é visto pela ótica da homossexualidade, assim como não é visto como adultério o envolvimento dos parceiros com uma terceira (e mesma) pessoa. A questão maior é a dos sentimentos dos seres envolvidos.
O trio central está muito bem, o que reflete diretamente o trabalho do diretor francês Jérôme Bonnell. Mas, o sucesso do filme deve-se principalmente à atuação da promissora Anaïs Demoustuer, que já havia brilhado em “Uma Nova Amiga”, já resenhado nesta coluna.
“A Três Vamos Lá” é um filme leve e divertido, obviamente que para um público menos conservador, mas que esteja com o espírito aberto para entender que o que une as pessoas não são as convenções morais, políticas e religiosas, mas, sobretudo, o amor.  
 Título original: “A trois on y va”