Coluna Claquete – 16 de fevereiro de 2016
Newton Ramalho
colunaclaquete@gmail.com – www.colunaclaquete.blogspot.com – @colunaclaquete
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Novo formato do blog
A partir de hoje, o blog Coluna Claquete passará a ter no mínimo duas postagens por semana, ao invés da tradicional atualização semanal. Isto permitirá ao leitor saber mais sobre o filme lançado no final de semana anterior, ao passo que a programação da semana seguinte sairá na quinta-feira, como de costume. Postagens adicionais poderão ser feitas a qualquer momento, em função de sua relevância.
A postagem de hoje traz a resenha do ótimo filme “Trumbo:Lista Negra”, que recebeu a indicação para o Oscar de Melhor Ator (Bryan Cranston).
“Trumbo: Lista Negra”
É muito difícil para qualquer pessoa com menos de trinta anos ter ideia do que foi o mundo durante a dita Guerra Fria, onde o mundo dividia-se em dois blocos, um liderado pela União Soviética, e outro pelos Estados Unidos. Embora os blocos tenham se digladiado em vários lugares como Coréia, Vietnã e Afeganistão, nunca houve um confronto direto. Contudo, as influências e reações aconteciam longe dos campos de batalha, como bem mostra o filme “Trumbo: Lista Negra”.
Sempre imaginamos Hollywood como a Meca do cinema, um lugar onde os sonhos transformam-se em filmes que servirão de deleite para fãs do mundo inteiro. Contudo, nas profundezas da Vênus Platinada existe um submundo onde interesses diversos circulam, servindo aos mais obscuros objetivos.
Até a Segunda Guerra Mundial o comunismo era algo indiferente para a maioria da população americana. Os russos eram comunistas, mas haviam sido aliados na guerra contra os nazistas. Contudo, após o conflito, eles passaram a ser vistos como os maiores inimigos dos interesses americanos, já que eram os únicos com potencial para enfrentá-los.
Com o acirramento dessa situação, começaram a despontar nos Estados Unidos movimentos anticomunistas, liderados por políticos oportunistas como o senador Joseph McCarthy, que pregava um pânico entre os eleitores, como se os comunistas estivessem prestes a invadir o país. Isso criou legiões de seguidores, e como não poderia deixar de ser, também em Hollywood.
Dalton Trumbo (vivido magistralmente no filme por Bryan Cranston) foi repórter, romancista e roteirista de sucesso em Hollywood, e por ser um defensor dos direitos dos trabalhadores, uniu-se ao Partido Comunista Americano em 1943.
Em 1947, Trumbo e outros nove diretores e roteiristas foram chamados para depor na comissão parlamentar de inquérito da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos formada para averiguar a suposta infiltração de comunistas na indústria de cinema e presidida pelo senador Joseph McCarthy. Trumbo se recusou a delatar quem eram os comunistas de Hollywood na comissão. Após ser condenado por desobediência civil ao Congresso dos Estados Unidos, ele passou a integrar a primeira lista negra de Hollywood e passou onze meses em uma prisão federal em Ashland, Kentucky.
Após a prisão, Trumbo e mais nove roteiristas, conhecidos como “Os Dez de Hollywood” foram impedidos de trabalhar, e passaram a escrever sob nomes falsos para pequenos estúdios. “Arena Sangrenta”, um dos filmes escritos por ele sob o nome de Robert Rich chegou a ganhar o Oscar de Roteiro Original, mas ninguém apareceu para reclamar o prêmio.
O filme mostra de uma forma clara o envolvimento da imprensa nessa “guerra”, principalmente através da pessoa de Hedda Hopper (Helen Mirren), uma ex-atriz que tornou-se uma das mais poderosas e venenosas colunistas de fofocas de Hollywood. Ela encabeçou o movimento anticomunista na capital do cinema, ao lado de figuras igualmente reacionárias como os atores Ronald Reagan e John Wayne.
Todos morriam de medo de Hedda e seus aliados, pois estes não tinham escrúpulos em chantagear, ameaçar, difamar, ou fazer qualquer outra ação para conseguir os seus objetivos, principalmente tendo o apoio da imprensa, do FBI e do congresso conservador.
Nesse contexto, é absolutamente louvável a atitude de pessoas como o ator Kirk Douglas (Dean O’Gorman), o diretor Otto Preminger (Christian Berkel) e o produtor Frank King (John Goodman), que ousaram desafiar o sistema e apoiar alguns dos homens injustamente perseguidos apenas por pensar diferente.
“Trumbo: Lista Negra” foi magnificamente construído, não apenas fiel aos fatos históricos, mas também mostrando como a sociedade estava envolvida. Bryan Cranston recebeu a indicação ao Oscar 2016 de Melhor Ator por sua participação no filme.
Seria muito bom se estas coisas fossem apenas lembranças de um passado remoto. Contudo, no Brasil atual, vivemos uma situação muito parecida com a Hollywood dos anos 1950, onde ninguém pode ter uma opinião discordante sem ser tachado de “petista” ou “coxinha”, onde a polícia e a justiça investigam apenas um grupo político, tudo isso com a entusiástica participação da imprensa.
Será que os homens não aprendem com os seus próprios erros, ou existem mais coisas entre o céu e a terra do julga a nossa vã filosofia, como dizia o velho William séculos atrás.
Para mais filmes sobre o tema, recomendo os títulos “Boa Noite, e Boa Sorte” (2005) e “Cine Majestic” (2001)