Claquete – 04 de abril de 2008

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Faz tempo que não se vê uma diversidade de estréias com neste final de semana. O único título em comum nos dois cinemas é o suspense “Awake – A Vida Por um Fio”. No Moviecom estréiam o suspense “O Orfanato”, o drama “Não Estou Lá” e a comédia “Espartalhões”. No Cinemark, as novidades são a comédia “Loucas Por Amor, Viciadas em Dinheiro” e o documentário “Rolling Stones – Shine a Light”, de Scorsese. Continuam em cartaz a ficção “Jumper”, o drama político “Jogos do Poder” (veja em Filme da Semana), o suspense “Ponto de Vista”, a fantasia “As Crônicas de Spiderwick”, o infantil “Horton e o Mundo dos Quem” e a aventura “10.000 A.C.”. Nas programações exclusivas, o Cinemark exibe o drama “O Caçador de Pipas”, o nacional “Sexo Com Amor?”, e, na Sessão Cult, “A Espiã”. No Moviecom, mantém-se em cartaz a comédia romântica “Maldita Sorte”.

Estréia 1: “Awake – A Vida Por um Fio”

Clayton Beresford Jr. (Hayden Christensen) parece ter tudo: está noivo da linda Samantha Lockwood (Jessica Alba), tem uma mãe adorável, Lilith (Lena Olin), um trabalho bem-sucedido e todo o dinheiro que um rapaz poderia querer. Mas, a vida de Clay está longe de ser perfeita – seu relacionamento com Sam é um segredo, já que ela é funcionária de sua mãe autoritária, e ele precisa de um transplante de coração. Jack Harper (Terrence Howard) é amigo e cardiologista de Clay. Quando encontra o doador, sua alegria se transforma em terror, e ele experimenta uma situação que poucos imaginaram: apesar de anestesiado, fica completamente acordado durante a cirurgia, sem poder se mexer, mas, percebendo cada detalhe. A direção é de Joby Harold. “Awake – A Vida Por um Fio” estréia nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom e na Sala 6 do Cinemark. Classificação indicativa 14 anos.

Estréia 2: “Espartalhões”

Sátira do épico “300”, “Espartalhões” foi produzido pela mesma equipe da franquia “Todo Mundo em Pânico” e “Deu a Louca em Hollywood”, na mesma linha de comédia que remete à revista MAD. O filme faz brincadeiras com astros famosos, como Tom Cruise, Angelina Jolie e Brad Pitt, além de trazer, como herói, um espartano gordinho, um vilão para lá de bizarro e gozações em cima de sucessos como “Homem-Aranha 3”, “Motoqueiro Fantasma”, “Transformers” e “Shrek Terceiro”. No elenco, nomes conhecidos do público como Carmen Electra, o rapper Method Man, Jim Piddock, Greg Ellis, Martin Klebba e Kevin Sorbo, o “Hércules” do antigo seriado de TV. Provando que nem sempre a crítica e o público olham na mesma direção, a comédia estreou nos Estados Unidos atingiu o primeiro lugar nos mais vistos da semana, embora seja detonado pela imprensa especializada. “Espartalhões” estréia nesta sexta-feira, no Cine do Moviecom. Classificação indicativa 14 anos.

Estréia 3: “O Orfanato”

Laura (Belén Rueda) passou os anos mais felizes de sua vida em um orfanato, onde recebeu os cuidados de uma equipe e de outros companheiros órfãos, a quem considerava como se fossem seus irmãos e irmãs verdadeiros. Agora, 30 anos depois, ela retorna ao local, acompanhada do marido Carlos (Fernando Cayo) e do filho Simón (Roger Príncep), de sete anos. Ela deseja restaurar e reabrir o orfanato, que está abandonado há vários anos. O local logo desperta a imaginação de Simón, que passa a criar contos fantásticos. Entretanto, à medida que os contos ficam mais estranhos, Laura começa a desconfiar que haja algo à espreita na casa. Dirigido por Juan Antonio Bayona, o elenco conta com a participação de Geraldine Chaplin. “O Orfanato” estréia nesta sexta-feira, no Cine do Moviecom. Classificação indicativa 14 anos.

Estréia 4: “Loucas Por Amor, Viciadas em Dinheiro”

Bridget Cardigan (Diane Keaton) é surpreendida ao saber que está preste a perder sua confortável casa, quando seu marido Don (Ted Danson) é demitido do trabalho. Desesperada, ela sai em busca de emprego. Após ter ficado anos sem trabalhar, ela consegue uma vaga no banco da Reserva Federal americana. Aos poucos, ela descobre que tem muito em comum com suas novas companheiras de trabalho: Nina (Queen Latifah), uma mãe solteira com dois filhos para sustentar, e Jackie (Katie Holmes), uma mulher exuberante e livre que não tem nada a perder. Revoltadas com um sistema que não valoriza seus talentos e sonhos, elas decidem virar o jogo. As três amigas acabam se unindo para planejar um roubo à empresa. A direção é de Callie Khouri. “Louca Por Amor, Viciadas em Dinheiro” estréia nesta sexta-feira, na Sala 7 do Cinemark. Classificação indicativa dez anos.

Estréia 5: “Rolling Stones – Shine a Light”

Para comemorar os 45 anos dos Rolling Stones, uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, o premiado diretor Martin Scorsese registrou dois shows muito especiais no Beacon Theater de Nova York, em 2006, com participações especiais de Christina Aguilera, Buddy Guy e Jack White. “Rolling Stones – Shine a Light” traz detalhes dessas apresentações, intimidades de bastidores e fatos da história da banda que encanta gerações. Musicalmente, os Stones, além de terem selecionado um repertório bem próprio, incluindo músicas que não vinham sendo tocadas regularmente na turnê, prepararam versões ligeiramente modificadas para a maioria delas. “Rolling Stones – Shine a Light” estréia nesta sexta-feira, na Sala 1 do Cinemark. Classificação indicativa livre.

Estréia 6: “Não Estou Lá”

Bob Dylan (Christian Bale / Cate Blanchett / Heath Ledger / Marcus Carl Franklin / Richard Gere / Ben Whishaw), ícone musical, poeta e porta-voz de uma geração, sempre viveu em constante mutação ao longo da vida, especialmente durante os anos 60. Musicalmente, fisicamente, psicologicamente, as alterações do seu personagem público dialogaram com acontecimentos sociais e ocasionaram múltiplas repercussões culturais. De jovem menestrel a profeta folk, de poeta moderno a roqueiro, de ícone da contracultura a cristão renascido, de caubói solitário a popstar. “Não Estou Lá” estréia nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom. Classificação indicativa 12 anos.

Sessão Cult: “A Espiã”

Durante a 2ª Guerra Mundial, Rachel Stein (Carice van Houten), uma linda cantora judia, e um grupo de judeus decidem atravessar Biesbosch para chegar ao sul da Holanda, que já está livre da ocupação nazista. Entretanto, o barco deles é interceptado por uma patrulha alemã, que mata todos a bordo com exceção de Rachel. A partir de então, ela se une à Resistência, adotando o nome de Ellis de Vries. Notando o interesse de um oficial alemão, ela se aproxima dele e consegue um trabalho. Enquanto isso, a Resistência elabora um plano para libertar um grupo de prisioneiros, onde a participação de Ellis será fundamental. A direção é de Paul Verhoeven. A partir desta sexta-feira, na Sala 7 do Cinemark, na sessão de 15h. Classificação indicativa 16 anos.

Lançamentos em DVD:

“Encantada”, em DVD

A princesa Giselle (Amy Adams), em busca de seu amor verdadeiro, vive no reino encantado de Andalasia. Mas, ao conhecer o príncipe Edward (James Marsden), ela é banida do seu mundo pela madrasta do príncipe, a malvada Rainha Narissa (Susan Sarandon) e acaba em Nova York, o mundo real, onde irá se meter em muitas confusões. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1, e, como extras, Cenas Inéditas, Erros de Gravação, e os documentários “A Fantasia Ganha Vida”, “A Emergência de Pip” e “Uma Aventura em Pop-up”. Nas locadoras.

“A Companhia”, em DVD

Essa é a história surpreendente de Jack Mccauliffe (Chris O´Donnell), um jovem inteligente e idealista que é recrutado pela CIA e enviado a Berlim para trabalhar com o excêntrico Harvey Torriti (Alfred Molina). Juntamente com o chefe da contra-espionagem, James Angleton (Michael Keaton), eles procuram descobrir quem, dentro da própria CIA, atrapalha suas ações. Os três agentes vão cada vez mais fundo no jogo da espionagem, tentando manter os corações gelados e suas vidas separadas. Mas, Jack, lutando para ficar no controle da situação, acaba se apaixonando por uma bela informante inimiga. Ele agora vai ter que controlar as emoções para não pôr tudo a perder. O disco traz o filme com formato de tela cheia e áudio Dolby Digital 5.1. Nas locadoras.

“Não Amarás”, em DVD

Um dos mais belos filmes do polonês Krzysztof Kieslowski chega em DVD. Tom (Olaf Lubaszenko) é um rapaz de 19 anos que trabalha em uma agência do correio. Tímido , órfão e solitário, mora com uma velha senhora. Para preencher suas noites começa a observar com uma luneta, da janela de seu quarto, sua vizinha Magda (Grazyna Szapolowska). Apaixonado por ela, Tom acompanha sua vida íntima. Totalmente obcecado pela mulher, o jovem começa a enviar bilhetes, telefona sem dizer nada, apenas pelo prazer de ouvir sua voz: seu amor é timído, silencioso, sem objetivos ou grandes pretensões. A concretização do sonho, porém, não será tão boa quanto o próprio sonho. O disco traz o filme com formato de tela cheia e áudio Dolby Digital 5.1. Nas lojas e locadoras.

Eventos

Literatura & Cinema

O Colégio Ciências Aplicadas propõe um projeto de exibição de filmes, o Cine Aplicadas, com acesso livre à comunidade. A cada mês um tema específico: em Abril: Literatura & Cinema; em Maio: Artes Plásticas & Cinema; em junho: Música & Cinema. A programação de abril é: 10/04 – “A Revolução dos Bichos”, de John Stephenson, baseado em livro de George Orwell; 17/04 – “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, baseado na obra de Graciliano Ramos, e 24/04 – “Eles Não Usam Black-Tie”, de Leon Hirszman, baseado na peça Gianfrancesco Guarnieri. Os filmes serão exibidos no auditório do próprio colégio, sempre às 19h30. Mais informações, através do telefone 9983-5667.

“Chove Sobre Santiago”, no Ciclo de Cinema e Ditadura na América Latina

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no ciclo de filmes e debates sobre as ditaduras na história recente, apresenta, na próxima quinta-feira, dia 10, o longa-metragem “Chove Sobre Santiago”, de Helvio Soto. O filme retrata a preparação e o momento do golpe do Chile em 1973, quando o governo de Salvador Allende é derrubado. O golpe de Estado é consumado em 11 de setembro de 1973, na operação sob o nome de “Chove Sob Santiago”, com as Forças Armadas sob o comando do general Pinochet e que contou com o apoio direto da CIA, do governo dos EUA e também dos governos ditatoriais da América Latina. No elenco estão Jean-Louis Trintignant, Annie Girardot e Bibi Andersson. A música é de Astor Piazolla. No Auditório A – CCHLA (Azulão), às 19 horas. Mais informações, através do email gvitullo@hotmail.com.
Filme da Semana: “Jogos do Poder”

Filme da Semana: “Jogos do Poder”

Esquentando a Guerra Fria

É curioso que se travem acirradas discussões sobre acontecimentos históricos ocorridos há séculos, quando, muitas vezes, somos surpreendidos por fatos recentes, de duas ou três décadas atrás. É sobre alguns destes fatos, que contribuíram para o fim da Guerra Fria, que trata o filme “Jogos do Poder”, em cartaz nos nossos cinemas.

Acredito que, para muitas pessoas com menos de trinta anos, a Guerra Fria seja um conceito vago, alguma coisa envolvendo os Estados Unidos e a Rússia. Na verdade, Guerra Fria foi um estado de conflito político-ideológico entre os Estados Unidos, defensores do capitalismo, e a União Soviética, defensora do socialismo, que durou desde o final da Segunda Guerra Mundial (1945) até a dissolução da União Soviética (1991).

A denominação “fria” deve-se a nunca ter ocorrido um confronto direto entre as duas potências, embora sempre que houvesse a participação de uma em um conflito, a outra atuava apoiando a oposição. Foi assim na Guerra da Coréia, do Vietnã, e muitos outros conflitos menores, até a invasão do Afeganistão pela União Soviética, em 1979, quando os Estados Unidos, ainda sob a administração de Jimmy Carter, se dividia entre a defesa de direitos humanos e a revolução iraniana do aiatolá Khomeini.

É neste momento que o filme focaliza, através da pessoa de Charlie Wilson (Tom Hanks), um deputado federal eleito pelo estado do Texas. Apresentado como um político cujo maior feito em seis mandatos foi conseguir ser reeleito cinco vezes, ele parece encarar seu cargo apenas como uma forma viver confortavelmente, com acesso a muitas festas, mulheres, bebidas e cocaína, não necessariamente nesta ordem.

Com a atenção despertada por uma reportagem sobre os refugiados afegãos, Wilson decide dobrar a verba da CIA de operações no Afeganistão. Ele fica surpreso ao saber que são apenas cinco milhões de dólares. Mesmo dobrando, seriam insuficientes para alguma ação mais séria. Quando uma amiga socialite de seu estado, Joanne Herring (Julia Roberts), o convence a ir até o Paquistão, e ele percebe a gravidade da ocupação soviética, ele decide ir a fundo na idéia de ajudar a resistência afegã.

O problema é que, ainda sob a influência apática de Carter, ninguém na administração americana queria se envolver em uma briga contra a União Soviética. O apoio que Wilson esperava veio através de um obscuro agente da CIA, Gust Avrakotos (Philip Seymour Hoffman).

Wilson atuava em várias frentes, desde a comissão de segurança do Congresso, que liberava o dinheiro para a Defesa, até uma inusitada associação de força opostas, conseguindo que um negociante israelense comprasse armas soviéticas do Egito, com dinheiro vindo da Arábia Saudita, para serem contrabandeadas via Paquistão. O detalhe é que estes países viviam em estado de guerra quase constante.

“O Paquistão e o Afeganistão não reconhecem nosso direito de existir, acabamos de sair de uma guerra com o Egito e todos aqueles que já tentaram me matar ou matar minha família foram treinados na Arábia Saudita.”, diz o israelense. “Nem todos, retruca Avrakotos, alguns foram treinados por nós.”

Conseguindo aumentar a verba inicial de 5 milhões de dólares, Wilson convenceu o Congresso a destinar um bilhão de dólares anuais para a compra de armas sofisticadas e equipamentos para os rebeldes afegãos, que foram treinados por agentes da CIA. Obviamente, nenhum desses detalhes podia vir ao conhecimento oficial do mundo, pois estaria se passando da Guerra Fria para um conflito aberto entre as superpotências.

Com um ritmo surpreendente, do diretor Mike Nichols, e diálogos que parecem rajadas de metralhadora, marca registrada do roteirista Aaron Sorkin, o filme consegue manter-se no limiar do drama e da comédia, sem demagogias ou falsos moralismos, mostrando o lado comum de pessoas comuns, que podem alcançar feitos extraordinários. É bem verdade que os traços mais negros de Wilson, como o uso de drogas e bebidas é mostrado de maneira muito mais leve do que foi na realidade. Nada, porém, que tire o valor do filme.

Por outro lado, a atuação de Philip Seymour Hoffman como o cínico analista da CIA é surpreendente, e sou taxativo em dizer que foi injusta a perda do Oscar para Javier Bardem, que, embora seja um grande ator, não fez mais do que uma cara de múmia paralítica em “Onde os Fracos Não Tem Vez”.

O mais interessante de “Jogos do Poder” é a mensagem, sutil, pero no mucho, da desastrada política externa americana, que é capaz de dar um bilhão de dólares para torrar em uma guerra, e negar um milhão para construir uma escola. Não dá para esquecer que foram os próprios americanos que praticamente criaram todas as condições possíveis para que o radical regime talibã subisse ao poder no Afeganistão.