Claquete – 14 de março de 2008

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Enfim, o grande vencedor do Oscar chega a Natal. A bola da vez é “Onde os Fracos Não Tem Vez”, ganhador da estatueta de Melhor Filme. As outras estréias são o suspense “Ponto de Vista” e o infantil “Horton e o Mundo dos Quem”. Continuam em cartaz: a aventura “10.000 A.C.”, e os dramas “O Caçador de Pipas” e “Juno”. Nas programações exclusivas, o Cinemark exibe “Sangue Negro”, “Antes de Partir”, “Meu Monstro de Estimação” e, na Sessão Cult, “A Vida dos Outros”. No Moviecom, mantém-se em cartaz “Piaf – Um Hino ao Amor” (veja em Filme da Semana) e “Rambo IV”. Na próxima quinta-feira, os filmes “As Crônicas de Spiderwick” e “Um Amor de Tesouro” farão suas pré-estréias.

Estréia 1: “Onde os Fracos Não Tem Vez”

Texas, década de 80. Um traficante de drogas é encontrado no deserto por um caçador pouco esperto, Llewelyn Moss (Josh Brolin), que pega uma valise cheia de dinheiro, mesmo sabendo que, em breve, alguém irá procurá-lo devido a isso. Logo, Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino psicótico sem senso de humor e piedade, é enviado em seu encalço. Porém, para alcançar Moss ele precisará passar pelo xerife local, Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones). O filme é baseado no romance do americano Cormac McCarthy, “Onde os Velhos Não têm Vez”, premiado com o Pulitzer. Adaptado e dirigido pelos irmãos Ethan e Joel Coen, este filme ganhou os Oscars de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Javier Bardem) e Melhor Roteiro Adaptado, além de outras quatro indicações. “Onde os Fracos Não Tem Vez” estréia nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom e na Sala 5 do Cinemark. Classificação indicativa 16 anos.

Estréia 2: “Ponto de Vista”

O presidente dos Estados Unidos, Ashton (William Hurt), participará de uma conferência mundial sobre o combate ao terrorismo em Salamanca, na Espanha. Thomas Barnes (Dennis Quaid) e Kent Taylor (Matthew Fox) são os agentes do Serviço Secreto encarregados de protegê-lo durante o evento. Entretanto, logo em sua chegada, o presidente é baleado, o que gera um grande tumulto. Na multidão que assiste ao atentado está Howard Lewis (Forest Whitaker), um turista americano que estava gravando tudo para mostrar aos filhos quando retornasse para casa. A partir da perspectiva de diversos presentes no local, antes e depois do atentado, é que se pode chegar à verdade sobre o ocorrido. A direção é de Pete Travis. “Ponto de Vista” estréia nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom e na Sala 6 do Cinemark. Classificação indicativa 14 anos.

Estréia 3: “Horton e o Mundo dos Quem”

Horton (voz de Marcos Moreira) é um elefante que, um dia, ouve um pedido de socorro vindo de uma partícula de poeira que flutua no ar. Surpreso, ele passa a desconfiar que possa existir vida dentro daquela partícula. Trata-se dos Quem, seres que ignoram a existência de vida fora da cidade em que vivem, a Quemlândia. Mesmo com todos à sua volta acreditando que perdeu o juízo, Horton decide ajudar os moradores de Quemlândia. Tom Cavalcante dubla o prefeito da cidade. “Horton e o Mundo dos Quem” estréia nesta sexta-feira, nos Cines 6 e 7 do Moviecom e nas Salas 2 e 3 do Cinemark. Classificação indicativa livre. Cópias dubladas.

Sessão Cult: “A Vida dos Outros”

Nos anos 80, quando a Alemanha ainda era dividida, o bem-sucedido dramaturgo Georg Dreyman (Sebastian Koch) e sua companheira, a famosa atriz Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), vivem em meio à elite intelectual da Alemanha Oriental. Quando o Ministro da Cultura (Thomas Thieme) se interessa pela atriz, o agente do serviço secreto Wiesler (Ulrich Mühe) recebe a missão de observar o casal, mas sua vida o seduz muito mais do que sua missão. Ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A direção é de Florian Henckel Von Donnersmarck. A partir desta sexta-feira, na Sala 5 do Cinemark, na sessão de 15h. Classificação indicativa 12 anos.

Pré-Estréia 1: “As Crônicas de Spiderwick”

Fatos estranhos começam a acontecer no momento em que a família Grace muda-se de Nova York para um velho e isolado casarão herdado de um tio-avô, Arthur Spiderwick. Sem conseguir explicar os estranhos desaparecimentos e acidentes que ocorrem diariamente no novo lar, os irmãos Jared, Simon e Mallory investigam o que realmente está acontecendo e descobrem uma extraordinária verdade sobre a casa. A partir daí, cara a cara com criaturas mágicas e às vezes assustadoras, eles irão viver uma grande aventura. Baseado na série de livros homônima de Tony DiTerlizzi e Holly Black. A direção é de Mark Waters. “As Crônicas de Spiderwick” terá pré-estréia na quinta-feira, no Cine 2 do Moviecom e na Sala 7 do Cinemark. Classificação indicativa livre. Cópias dubladas.

Pré-Estréia 2: “Um Amor de Tesouro”

Ben “Finn” Finnegan (Matthew McConaughey) é um surfista amante da natureza que é obcecado por sua busca a um lendário tesouro perdido no mar desde 1715. Em sua procura, Finn deixa de lado tudo que é importante em sua vida, incluindo seu casamento com Tess Finnegan (Kate Hudson). Ela está disposta a reconstruir sua vida e começa a trabalhar no iate do bilionário Nigel (Donald Sutherland). Quando tudo parecia estar perdido para Finn, ele descobre uma pista importante, que pode levá-lo direto ao tão sonhado tesouro. Tess passa ajudá-lo e, nesta aventura, eles irão redescobrir o amor que os uniu. Porém, outras pessoas estão interessadas em achar o tesouro. A direção é de Andy Tennant. “Um Amor de Tesouro” terá pré-estréia na quinta-feira, na Sala 4 do Cinemark. Classificação indicativa 12 anos.


Lançamentos em DVD

“Viagem a Darjeeling”, em DVD

Francis (Owen Wilson), Peter (Adrien Brody) e Jack (Jason Schwartzman) são irmãos, mas não se falam a um ano. Eles decidem realizar uma viagem de trem pela Índia, na intenção de acabar com a barreira existente entre eles e, também, para autoconhecimento. Entretanto, devido a incidentes envolvendo a compra de analgésicos sem prescrição médica, o uso de xarope para tosse indiano e um spray de pimenta, a viagem logo muda de rumo e faz com que o trio fique perdido no meio do deserto, tendo apenas onze malas, uma impressora e uma máquina plastificadora. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1. Nas locadoras.

“Chumbo Grosso”, em DVD

Nicholas Angel é um policial tão bom que faz todos os outros parecerem incompetentes. Por isso seus superiores decidiram mandá-lo para uma cidadezinha. Angel se esforça para adaptar-se à nova situação. Quando tudo parecia perdido, uma série de acidentes horríveis motiva Angel a entrar em ação. Convencido de que há algo de errado, ele percebe que Sandford talvez não seja tão tranqüila quanto parece. Arrastando o seu novo parceiro devoto, Angel luta para provar que seus instintos estão corretos e descobrir a verdade sobre a cidade. Qualquer que seja a verdade, a tranqüila cidade vai explodir de ação e imprevistos. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital. Nas locadoras.

“O Sobrevivente”, em DVD

Dieter Dengler (Christian Bale) é um piloto nascido na Alemanha, e que emigrou para os EUA depois da 2ª Guerra Mundial, ganhando a cidadania norte-americana para realizar o sonho de tornar-se piloto militar. Dieter foi abatido com seu caça logo em seu primeiro vôo, quando realizava bombardeios secretos sobre o Laos, uma operação ligada à guerra do Vietnã. Capturado por guerrilheiros locais, o piloto sofre torturas, fome, sede e é enviado para um campo de prisioneiros cercado pela selva mais inóspita. Deste campo, ele escapa, meses depois, e é um dos poucos a sobreviver a um período perdido na mata, até ser resgatado por aviões norte-americanos. Posteriormente, foi condecorado por bravura. A direção é de Werner Herzog, com Christian Bale e Steve Zahn no elenco. O disco traz o filme com formato de tela cheia e áudio Dolby Digital 5.1. Nas locadoras.

Eventos

“Matar ou Morrer”, no Cine Café

O Cineclube Natal, em parceria com o Nalva Melo Café Salão, apresenta nesta sexta-feira, o longa-metragem “Matar ou Morrer”, do diretor austríaco Fred Zinnemann. No dia do seu casamento, o xerife Will Kane recebe a notícia de que um criminoso que ele havia mandado para a cadeia está livre em condicional e quer cumprir uma antiga vingança. Uma particularidade importante do filme é que a ação acontece praticamente em tempo real. Este filme ganhou os Oscars de Melhor Ator (Gary Cooper), Trilha Sonora, Canção e Montagem. A exibição começa às 20h, no espaço do próprio café (Rua Duque de Caxias, 110, Ribeira). A entrada custa R$2,00. Para todas as idades.

“Senhores do Crime”, no Cine Vanguarda

O Cineclube Natal, em parceria com o Teatro de Cultura Popular (TCP), apresenta neste domingo, dia 16, o longa-metragem “Senhores do Crime”. Após uma jovem morrer durante um parto realizado no Natal, uma parteira decide avisar sua família pessoalmente. Só que, em sua busca pela identidade da falecida, ela entra em choque com uma estranha e perigosa família. A família faz parte da irmandade do crime Vory V Zakone, dirigida por Semyon, proprietário de um charmoso restaurante russo, que encobre a real origem de sua fortuna. Dirigido por David Cronenberg e com Naomi Watts, Viggo Mortensen, Vincent Cassel e Armien Mueller-Stahl no elenco. A exibição começa às 17h, no TCP, ao lado da Fundação José Augusto. Os ingressos custam R$ 2,00.

Fiocruz Audiovisual

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai premiar com R$ 480 mil, seis filmes sobre Saúde Pública: um de ficção, em média-metragem, com R$ 100 mil; dois documentários e três animações de curta-metragem, com R$ 60 mil cada. As inscrições serão aceitas durante a semana de 10 a 17 de abril. Os editais estão disponíveis na página www.fiocruz.br/. Outras informações: fiocruzvideo@fiocruz.br/.


Filme da Semana: “Piaf – Um Hino ao Amor”

O pequeno pardal

Reza a lenda que, para uma atriz bonita ganhar o Oscar, ela precisa ser enfeada através de maquilagem. Deu certo para Charlize Theron em “Monster”, Nicole Kidman em “As Horas”, e, agora, para Marion Cottilard, a francesa que ganhou como Melhor Atriz por sua atuação em “Piaf – Um Hino ao Amor”. Só isso? Não, além de ter sido uma justíssima premiação para a moça, o filme é realmente muito bom.

É possível que as novas gerações não tenham idéia de quem foi Edith Piaf, e, muito menos, da importância que teve no mundo da música, não apenas na França, sua terra natal, mas, em todo mundo. Muitas das músicas que estão no filme são velhas conhecidas nossas, algumas, que ficaram famosas pelas versões gravadas por cantores brasileiros, como é o caso da que completou o título nacional, “Um Hino ao Amor”. A canção, que aparece no momento mais emocionante do filme, era uma das favoritas do meu pai, e, toda uma geração irá reconhecê-la (“Um punhado de estrelas / No infinito irei buscar / E aos teus pés, esparramar…”).

Edith, como tantos artistas de sua geração, teve uma existência breve e marcada por sucessos e tragédias. Pequenina, rosto redondo, sem atrativos físicos, cabelos em desalinho, vestido longo escuro, seria reprovada em qualquer concurso de beleza. Mas, sob a luz do palco ela era indomável, irresistível, arrebatadora, dominava o público com a sua voz marcante, com uma interpretação absolutamente sua.

O filme resgata fatos da infância de Piaf pouco conhecidos do público em geral. Enquanto o pai, Louis Gassion (Jean-Paul Rove) lutava na Primeira Guerra Mundial, a menina vivia com a mãe, que cantava pelas ruas e feiras. A mãe, um dia, decide abandonar tudo, e quando o pai regressa, leva-a para a casa da sua mãe, dona de um bordel na Normandia. Lá, Edith (Pauline Burlet) viverá os melhores anos de sua infância, embora uma estranha doença a deixe completamente cega por algum tempo. A doença sumiu tão misteriosamente quanto viera.

Um dia, o pai regressa e a obriga a partir com ele. Os dois acompanham um circo até que ele decide trabalhar sozinho. É quando a menina descobre o poder de sua voz, que garantirá o seu sustento, cantando nas ruas de Paris.

Aos 15 anos, consciente de sua bela voz, ela abandonou as apresentações com o pai e passou a cantar em dupla com sua amiga Simone Berteaut, apelidada Momone (Sylvie Testud). Esperta e sagaz, Momone iniciou Edith nos usos e costumes da vida noturna da Paris marginal. A aparência de Edith era péssima, mas, a voz poderosa despertava a atenção. Cantava pelas ruas, em troca de algumas moedas que lhe atiravam das janelas e assim ia levando a vida…

Aos 17 anos, ela se apaixonou por Louis Dupont, que instalou Edith e Momone em um quartinho de hotel. Em fevereiro de 1933, Edith deu à luz a Marcelle, apelidada de Cécelle. Mais tarde, Edith e Louis se separaram e ele levou a filha. Em 1935, Louis trouxe uma triste notícia: a menina estava gravemente enferma. Edith correu ao hospital, mas, a criança morrera, de meningite. Tinha 2 anos e cinco meses de idade e sua mãe, apenas 19 anos e meio.

Aos vinte anos, Edith (Marion Cottilard) é descoberta por Louis Leplée (Gérard Depardieu), gerente do elegante Cabaré Le Gerny’s. Com a sua ajuda, ela começa a ter uma atividade mais profissional. Foi ele quem deu o nome pelo qual ela ficaria famosa, o pequeno pardal (môme piaf, em francês).

Edith saiu das ruas, mas, as ruas não saíram dela. Ao longo de uma curta existência (47 anos), ela viveria várias paixões e casos arrebatadores, e, a boemia, as privações na infância, o vício da morfina e o hábito do álcool, iriam debilitar a sua saúde a ponto de não conseguir mais quase andar.

O filme segue mais ou menos uma linha cronológica, embora ocorram vários flashbacks (e, outros tantos flashforwards), mostrando cenas do passado e outras já perto do final de sua vida, mas, nada que impeça o correto entendimento da história. Dos traços de sua infância, que influenciaram a sua postura independente e livre, a história pula para meados dos anos 30, quando ela, já uma jovem mulher, começa a fazer sucesso, embora sempre esteja envolvida com elementos do submundo parisiense.

No pós-guerra, quando o mundo e, principalmente, a França ocupada, se refazia dos horrores do conflito, Edith firma-se como uma estrela maior, graças à parceria com a grande amiga Marguerite Monnot (Marie-Armelle Deguy) e Raymond Asso (Marc Barbé), um ex-legionário que decidira entrar nos meios musicais parisienses. Tratando-a com disciplina digna dos quartéis da Legião Estrangeira, ele conseguiu lapidá-la, criando a artista integrada, que finalmente unia a voz a uma impressionante interpretação gestual.

Edith teve muitos amantes, mas, uma das pessoas mais importantes na sua vida foi o pugilista franco-argelino Marcel Cerdan (Jean-Pierre Martins). Marcel era casado, tinha filhos, que viviam com a mulher em Casablanca. Nessa época, os dois estavam em Nova York, cada um se firmando em seu meio. O romance terminou tragicamente, com a morte de Marcel em um acidente de avião, em 1949. É nesse ponto que é mostrada a já citada música “Hino ao Amor”, num dos momentos mais emocionantes do filme.

À insuportável dor da perda, juntou-se uma intensa dor física, provocada pelo reumatismo, que se apresentou de forma exacerbada, o que levou os médicos a prescrevem morfina. Um grave acidente de carro debilitou, ainda mais, a saúde da cantora. Poucos meses depois, de volta ao palco, Piaf desmaiou no meio de um espetáculo em NY. Foi hospitalizada e submetida a uma cirurgia de emergência. Indiferente aos conselhos dos médicos e amigos, Piaf se recusava a abandonar os palcos, embora voltasse a desmaiar em meio aos espetáculos, repetidas vezes. Ela viria a falecer no dia 11 de outubro de 1963.

O filme “Piaf – Um Hino ao Amor”, além da interpretação fenomenal do elenco – em especial, Marion, que diziam parecer “possuída” – fez uma maravilhosa recriação de época, mesmo em se tratando de diferentes períodos históricos. Mas, o mais importante é trazer à tona o espírito inquebrantável de uma mulher que viveu a vida intensamente. Como diz a letra de uma de suas mais famosas canções, “Je ne regrette rien”: Non. Je me regrette rien/ Je me fous du passé, Não me lamento de nada/ Eu me lixo para o passado.