Claquete – 21 de dezembro de 2007

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Chegamos ao Natal, e espero que Papai Noel traga muita tolerância e alguma sabedoria para toda Humanidade. Teremos estréias interessantes no cinema, mas, todas a partir de terça-feira, dia de Natal. São elas “O Amor nos Tempos do Cólera”, baseado no livro de Garcia Márquez, a fantasia “A Bússola de Ouro”, o drama “P.S. Te amo”, e os nacionais “Os Porralokinhas”, com uma nova aventura do Tio Maneco e “Xuxa em Sonho de Menina”. Continuam em cartaz o policial “Justiça a Qualquer Preço”, com Richard Gere, a fantasia “Encantada”, da Disney, a animação “Bee Movie – A História de uma Abelha” e a fantasia “A Lenda de Beowulf”. Nas programações exclusivas, o Cinemark mantém a comédia romântica “Antes Só do Que Mal Casado”, com Ben Stiller, e, na Sessão Cult, “Crimes de Autor”. Na segunda-feira, véspera de Natal, os cinemas fecharão mais cedo.

Estréia 1: “O Amor nos Tempos do Cólera”

Florentino Ariza (Javier Bardem), ainda jovem, se apaixonou perdidamente por Fermina Daza (Giovanna Mezzogiorno). Entretanto, como Florentino é um simples funcionário dos Correios, não é visto como um bom partido por Lorenzo Daza (John Leguizamo), pai de Fermina. Florentino pede Fermina em casamento, e ela aceita. Ao saber disto, Lorenzo a envia para a fazenda de sua prima Hildebranda Sanchez (Catalina Sandino Moreno), onde fica alguns anos. Florentino aguarda o retorno de sua amada, mas, quando a reencontra, ela diz que nada querer com ele. Fermina passa a ser cortejada por Juvenal Urbino (Benjamin Bratt), um médico que luta para evitar a disseminação da cólera. De início, ela não se interessa, mas, posteriormente, eles se casam e constituem família. Enquanto isso, Florentino aguarda que Juvenal morra, para que possa, enfim, se casar com seu grande amor. A direção é de Mike Newell. Baseado no romance homônimo de Gabriel Garcia Márquez, “O Amor nos Tempos do Cólera” estréia na terça-feira, 25, no Cine 1 do Moviecom e na Sala 1 do Cinemark. Para maiores de 12 anos.

Estréia 2: “A Bússola de Ouro”

Lyra Belacqua (Dakota Blue Richards) é uma órfã que foi criada na Universidade Oxford. No mundo em que vive todas as pessoas têm um “daemon”, ou seja, uma manifestação de sua própria alma em forma animal. Lyra leva uma vida tranqüila até ela e seu daemon, Pantalaimon, descobrirem a existência de uma substância misteriosa chamada “pó”. Isto provoca um estranho efeito nas crianças, o que faz com que as autoridades religiosas se convençam de que representa o mal. Seguindo o misterioso Lorde Asriel (Daniel Craig), seu protetor, Lyra parte em busca de uma resposta. Em Londres, ela descobre que diversas crianças estão desaparecendo, entre elas Roger (Ben Walker), seu melhor amigo. Com a ajuda de um instrumento ancestral, que se parece com uma bússola de ouro, ela parte numa jornada que pode alterar o mundo para sempre. Ela começa a enfrentar manifestações sobrenaturais e descobre um universo paralelo, habitado por bruxas e criaturas incríveis, entre elas, a poderosa Marisa Coulter (Nicole Kidman). Primeira parte da trilogia Fronteiras do Universo, de Philip Pullman. A direção é de Crhsi Weitz. “A Bússola de Ouro” estréia na terça-feira, no Cine 4 do Moviecom (legendado) e na Sala 2 do Cinemark (dublado). Para maiores de 12 anos.

Estréia 3: “P. S. Te Amo”

Holly Kennedy (Hillary Swank) é uma jovem bonita, feliz e realizada. Casou-se com o homem de sua vida, o divertido e apaixonado Gerry (Gerard Butler). Mas, este é acometido por uma doença grave e morre, deixando Holly em estado de choque. Antes de falecer, Gerry deixou para a esposa uma série de cartas. Mensagens que surgem de forma surpreendente, sempre assinadas da mesma forma: “P.S. I Love You”. A mãe de Holly (Kathy Bates) e as melhores amigas dela, Sharon (Gina Gershom) e Denise (Lisa Kundrow), estão preocupadas porque as cartas mantêm a jovem presa ao passado. Mas, o fato é que as mensagens estão ajudando a aliviar sua dor e a guiá-la a uma nova vida cheia de descobertas. A direção é de Richard LaGravenese. “P. S. Te Amo” estréia na terça-feira, no Cine 3 do Moviecom e Sala 7 do Cinemark. Para maiores de 12 anos.

Estréia 4: “Xuxa em Sonho de Menina”

Kika (Xuxa), professora do interior que tem o sonho de ser apresentadora de televisão, resolve viajar para o Rio de Janeiro, onde acontece um concurso promovido por uma grande emissora nacional. Um feitiço faz com que a personagem volte a ser criança e, assim, junte-se a um grupo de estudantes que está a caminho da cidade numa excursão de ônibus. É quando começam as aventuras da personagem, com a trama se desenvolvendo em meio a mensagens positivas sobre importantes questões ecológicas. Com direção de Rudi Lagemann, “Xuxa em Sonho de Menina” estréia nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom e na Sala 2 do Cinemark. Censura livre.

Estréia 5: “Os Porralokinhas”

Numa cerimônia indígena, uma indiazinha é salva da morte pelos poderes de um talismã em forma de sapo. Pretendendo dominar os segredos da floresta, o bandido Pierre Caimão (Lucio Mauro Filho) tenta roubar o objeto, mas, é atingido por uma maldição que o transformará em jacaré. Sua única saída é recuperar o talismã que agora está nas mãos do Tio Maneco (Flávio Migliaccio), na colônia de férias Coração da Mata. É lá que as crianças Bena, Manu, Lulu e Macarrão, além de Escarlete (Heloísa Perissé), uma muambeira que para fugir da polícia se disfarça de monitora de acampamento, caem de pára-quedas, depois da fuga de Maneco provocada pela invasão dos bandidos. Com a floresta e suas vidas em perigo, as crianças, Escarlete e o Tio Maneco vão fazer de tudo para impedir Pierre de se apoderar do talismã. A direção é de Lui Farias. “Os Porralokinhas” estréia na terça-feira, no Cine 3 do Moviecom e Sala 5 do Cinemark. Censura livre.

Sessão Cult: “Crimes de Autor”

Judith Ralitzer (Fanny Ardant) é uma escritora popular, que está em busca de personagens para seu próximo livro. Paralelamente um serial killer fugiu de um presídio de segurança máxima e Huguette (Audrey Dana), a cabeleireira de um luxuoso salão de Paris, decide mudar de vida. Os destinos deles se encontrarão, mudando a vida de todos. A direção é do consagrado francês Claude Lelouch. A partir desta sexta-feira, na Sala 4 do Cinemark, na sessão de 15h. Para maiores de 12 anos.

Eventos

“Cantando na Chuva”, na Sessão Cine Café


O Cineclube Natal, em parceria com o Nalva Café Salão, exibirá “Cantando na Chuva”, considerado um dos melhores musicais de todos os tempos. Na mudança para o cinema falado, Don Lockood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen), o casal mais querido do cinema mudo, prepara-se para rodar um musical. Mas, Lina não só não sabe cantar, como tem uma voz horrível. A estreante Kathy Selden (Debbie Reynolds) é chamada a emprestar sua voz à estrela Lina, que aqui se torna uma espécie de vilã, com medo que seu lugar seja ocupado pela estreante. É deste filme a famosa seqüência em que Gene Kelly dança na chuva. A exibição será nesta sexta-feira, dia 21, às 20h, no espaço do próprio café (Rua Duque de Caxias, 110, Ribeira 3212-1655). A entrada custa R$ 2,00. Sócios do Cineclube e da Adurn não pagam.

Inscrições abertas para concursos literários na Funcart

Os concursos Othoniel Menezes (poeisa) e o Câmara Cascudo (prosa) estão com as inscrições abertas até 29 de janeiro de 2008. O ganhador de cada categoria ganhará R$ 3 mil. As obras concorrentes devem ter no mínimo de 40 páginas e, no caso do prêmio de prosa, devem ser etnográficas ou ficcionais. A participação é gratuita, e os interessados devem procurar a Fundação Cultural Capitania das Artes, na Biblioteca Municipal Esmeraldo Siqueira, no horário das 9h às 13h, até 29 de janeiro. O resultado será divulgado em 6 de março de 2008, e a premiação, tradicionalmente, é realizada em 14 de março, Dia da Poesia. Mais informações no número 3232-4944.

Lançamentos em DVD
“Rise – A Ressurreição”, em DVD

Sadie (Lucy Liu) é uma repórter investigativa que descobre um culto subterrâneo que está atraindo jovens hippies de Los Angeles. Seduzidos pela promessa de grandes festas, esses garotos começam a aparecer mortos, e quando Sadie tenta chegar ao fundo da história, se torna a vítima. Ela acorda no necrotério, transformada em uma vampira. Tentando desesperadamente brigar contra sua sede de sangue, Sadie decide ir atrás daqueles que a tornaram. O disco traz o filme com formato de tela cheia e áudio Dolby Digital 5.1.

“Daunbailó”, em DVD

“Daunbailó” conta a história de três homens diferentes, em uma prisão da Louisiana. Zack (Tom Waits) e Jack (John Lurie) vão para a cadeia por crimes que não cometeram. Na prisão, eles conhecem Roberto (Roberto Benigni), um italiano excêntrico e otimista que lhes proporciona momentos ora cômicos ora de fúria com seu inglês limitado, o único que sabe como fugir dali. Um dos mais importantes filmes do cinema independente americano dos anos 80, “Down by Law”, é uma obra que mostra seres que vivem nos limites da sociedade, longe dos ideais do sonho americano. Dirigido por Jim Jarmusch. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1, e, como extras, Entrevista com Robby Muller, Coletivas em Cannes, Clip com Tom Waits, Fotos (bastidores e locações) e Cenas excluídas.

“Tartarugas Podem Voar”, em DVD

O diretor de “Tempo de Embebedar Cavalos” mais uma vez transita entre a crueldade e a poesia. Aqui, ele retrata um acampamento curdo na fronteira entre o Irã e o Iraque, nos dias que antecedem a invasão dos Estados Unidos, em março de 2003. A guerra iminente afeta a rotina dos mais jovens. Muitos deles meramente sobrevivem, entre desarmar minas terrestres e instalar parabólicas para sintonizar a CNN, outros já perderam as esperanças de alguma paz. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1.

Filme da Semana: “Feliz Natal”

O dia em que as armas se calaram

No dia em que escrevo esta coluna, estamos nos avizinhando do Natal, uma data importantíssima para todos os cristãos, não apenas por ser o nascimento de Jesus Cristo, mas, também, por representar um momento de reflexão para todos, questionando o nosso papel neste mundo.

Claro, estão para estrear filmes importantes, como “A Bússola de Ouro” e “O Amor nos Tempos do Cólera”. Estão em cartaz, também, deliciosos títulos infantis, como “Bee Movie” e “Encantada”. Por que, então, não escolher um destes para comentar, como de costume?

A verdade é que eu queria fazer algo diferente, procurar um filme apropriado para a época, não só contando a história de Jesus, mas, que tivesse alguma mensagem a mais. Quis o acaso (será?) que, ao caminhar para o almoço, eu me deparasse com um DVD intitulado “Feliz Natal”, sobre o qual já ouvira falar, mas, que nunca tivera ao meu alcance.

De posse do disquinho, vi que fizera uma escolha acertada, pois, embora a história tenha se passado quase cem anos atrás, os personagens e as situações continuam atuais. Infelizmente, como certamente os meus leitores irão concordar.

“Feliz Natal” narra alguns fatos acontecidos durante a Primeira Guerra Mundial, ainda nos primeiros meses de conflito, quando, na véspera do Natal, muitos combatentes, de forma espontânea, interromperam as hostilidade e conviveram fraternalmente.

A Primeira Guerra Mundial foi um conflito onde as potências da época, em sua maioria, monarquias absolutistas, entraram em choque, Inglaterra, França e Rússia, de um lado (e, posteriormente, os Estados Unidos) e os impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano, de outro.

Embora o conflito tivesse dimensões mundiais, as ações mais importantes ocorreram na Europa, principalmente na França, parcialmente ocupada pelos alemães, onde se chegou a um impasse que durou praticamente os quatro anos de guerra.

Numa época em que os veículos e estradas eram raridades, e a aviação era incipiente, as grandes batalhas aconteciam nos mares, onde a Inglaterra, com seus navios movidos a óleo eram muito superiores aos movidos a carvão dos adversários, e em terra, onde as infantarias se engalfinhavam homem a homem.
Ao longo de centenas de quilômetros, os exércitos se posicionavam em trincheiras, separadas por alguma dezenas de metros, chamado de terra-de-ninguém, fazendo ataques uns aos outros, enquanto eram fustigados pela artilharia.

Os ataques eram quase suicidas, já que os homens tinham que avançar sob o pesado fogo das metralhadoras inimigas, enganchando-se nos obstáculos de arame farpado, sem conseguir grandes progressos. As perdas de vidas humanas chegaram a nove milhões de soldados, de todas as nações envolvidas. A gripe espanhola alastrou-se pelo mundo inteiro, matando milhões de civis.

O filme “Feliz Natal” mostra um dos pontos desta guerra de trincheiras, no Natal de 1914, quando a guerra mal completava cinco meses de duração. Um tenor alemão, que fora convocado como soldado raso, resolve cantar para os amigos, acompanhado da mulher (Diane Kruger, a Helena de “Tróia”, praticamente o único nome famoso do elenco).

As belas vozes do casal, entoando músicas natalinas, encantam a todos, e logo ecoam sons de instrumentos do lado dos britânicos. De parte à parte, eles vão perdendo a desconfiança, e, antes que os oficiais tenham como impedir, os soldados inimigos estão na terra-de-ninguém, trocando bebidas, alimentos, conversando como podem, e se confraternizando.

A trégua, que só tinha sido combinada para a noite, estendeu-se por todo o dia seguinte, com direito até a partida de futebol.

As conseqüências logo viriam se abater sobre os soldados. Os altos oficiais de ambos os lados indignaram-se com a confraternização, encarando o fato como insubordinação e traição, embora não tenham ocorrido punições extremas. Nos Natais que se seguiram, os exércitos tiveram o cuidado de sempre fazer o rodízio das tropas, para evitar que os soldados mantivessem relações com os “conhecidos” da outra trincheira.

Então, perguntarão os leitores, o que torna este fato tão interessante? Primeiro, porque foi uma iniciativa absolutamente espontânea, indo até contra a orientação dos oficiais superiores. Segundo porque mostrou o quanto as pessoas estavam fartas daquela guerra inútil e despropositada. Terceiro, por mostrar que ainda havia um espírito cristão, nos indivíduos, que superava as diferenças políticas, diferenças estas que um pobre mortal nem tem o conhecimento completo.

Mas, enquanto nos enternecemos com um fato tão bonito, é triste perceber que pouca coisa mudou, nos últimos cem anos. Dirigentes ainda acreditam que fazendo guerras irão resolver os problemas, sem querer entender que só irão criar outros problemas.

A Primeira Guerra Mundial era a Guerra que iria acabar com as guerras. Suas conseqüências favoreceram os grupos políticos que viriam a desencadear a Segunda Guerra Mundial. Fora isto, ocorreram inúmeras guerras internas, na Espanha e em muitos países africanos. Vieram as guerras da Indochina, do Vietnã, da Argélia, dos árabes e israelenses, Irã versus Iraque, Guerras do Golfo, Afeganistão, etc..

Quando será que os homens terão um pouco de bom senso e imitarão aqueles heróis de 1914? Será tão difícil admitir que um pouco de paz e de tolerância são suficientes para conseguir alguns momentos de silêncio das armas?

Espero que todos, de alguma maneira, consigam encontrar as suas respostas a estas perguntas. Meus sinceros votos de Feliz Natal para todos.